Há 97 anos, em 11/7/1924, nascia o físico César Lattes, um dos mais renomados cientistas brasileiros. Indicado por 5 vezes ao Prêmio Nobel de Física, Lattes foi codescobridor da partícula subatômica méson pi — descoberta que rendeu o Nobel ao britânico Cecil Frank Powell.
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Lattes também foi o fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e um dos criadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal órgão de fomento à pesquisa científica no Brasil.
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Nascido em Curitiba, César Lattes era filho de Giuseppe e Carolina Maroni Lattes, casal de imigrantes judeus italianos oriundos do Piemonte. Refugiou-se com a família na Itália durante a Revolução de 1930, retornando ao Brasil após o término do conflito.
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Residiu por alguns anos em Porto Alegre, onde estudou no Instituto Menegapi. Mudou-se posteriormente para São Paulo, concluindo o ensino básico no Colégio Dante Alighieri. Em 1943, aos dezenove anos, graduou-se em matemática e física pela Universidade de São Paulo (USP).
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Nos anos 40, Lattes integrou um grupo de jovens físicos convidados para trabalhar na Europa com Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini, ex-professores da USP. O grupo englobava futuros expoentes da ciência nacional, tais como Mário Schenberg, Roberto Salmeron e Oscar Sala.
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Ao lado de Jayme Tiomno e de José Leite Lopes, Lattes fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). A instituição se tornaria referência em física teórica e experimental, abrigando nomes de vulto da ciência mundial, tais como Richard Feynman e Léon Rosenfeld.
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Em 1947, por indicação de Occhialini, Lattes mudou-se para o Reino Unido, onde trabalhou no laboratório da Universidade de Bristol, dirigido por Cecil Frank Powell. A equipe de Powell estudava a desintegração de partículas subatômicas utilizando placas fotográficas.
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Lattes teorizou que os raios atômicos, descobertos em 1932 por Carl David Anderson, deveriam gerar partículas subatômicas ao entrarem na atmosfera terrestre.
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Para testar sua hipótese, o brasileiro levou chapas fotográficas aos Montes Pirineus, na França, a cerca de 2.500 metros de altitude. Quando revelou as imagens, Lattes obteve as primeiras evidências da existência da partícula subatômica méson pi (ou píon).
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Para aumentar a precisão das imagens, Lattes introduziu boro na composição das placas de emulsão nuclear e procurou uma altitude mais elevada para potencializar os registros. Montou um laboratório no Monte Chacaltaya, na Cordilheira dos Andes, a 5 mil metros de altitude.
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Bem sucedida, a experiência comprovou a descoberta da nova partícula subatômica. Lattes observou ainda que o píon se desintegrava em outro tipo de partícula, o méson mu (ou múon). Também foi o primeiro a especular o uso da descoberta na medicina, em tratamentos oncológicos
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O resultados foram publicados na revista científica britânica Nature em outubro de 1947, com Lattes como autor principal, seguido pelos colegas Occhialini e Powell.
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Em 1948, em parceria com Eugene Gardner, Lattes detectou a produção artificial de partículas píon no ciclotron do laboratório de Berkeley, durante uma experiência de bombardeio de átomos de carbono com partículas alfa. Lattes também ajudou a calcular a massa da partícula.
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As pesquisas de Lattes revolucionaram o conhecimento sobre física de partículas e comprovaram as teorias sobre partículas portadoras de força nuclear propostas em 1935 por Hideki Yukawa. Em 1950, a descoberta da partícula méson pi foi laureada com o Prêmio Nobel de Física.
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Entretanto, embora Lattes tenha sido o principal responsável pela descoberta e autor do primeiro artigo publicado na revista Nature descrevendo a nova partícula, somente o físico britânico Cecil Frank Powell foi agraciado com o prêmio.
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O motivo era o protocolo adotado pelo Comitê do Prêmio Nobel, que previa laurear somente os líderes dos grupos de pesquisa com o prêmio. Lattes foi indicado para receber o Prêmio Nobel de Física em cinco oportunidades entre 1949 e 1954, mas nunca obteve a honraria.
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Comentando sobre esse fato em entrevista ao Jornal da Unicamp em 2001, Lattes declarou: "O Powell, malandro, pegou o Prêmio Nobel pra ele. Occhialini e eu entramos pelo cano."
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Lattes retornou ao Brasil em 1948, passando a lecionar na USP. No ano seguinte, assumiu a direção científica do CBPF. Também atuou como pesquisador e professor da UFRJ, lecionou nos EUA entre 1955 e 1957 e dirigiu as pesquisas em geocronologia na Universidade de Pisa.
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Em 1963, mudou-se para Campinas, onde fundou o Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), instituição da qual se tornou professor titular. Também assumiu a direção do Departamento de Raios Cósmicos, Altas Energias e Léptons.
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Opositor do golpe de 1964 e crítico da ditadura militar instaurada após a deposição de João Goulart, Lattes passou a sofrer intimidações. Irreverente, chegou a batizar seu cachorro como Costa e Silva, nome do segundo presidente do regime.
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Quando o general José Fonseca Valverde interveio na Unicamp e pressionou o cientista a entregar o nome de colaboradores "subversivos", Lattes confrontou o militar e arremessou um cinzeiro em sua direção, quase acertando sua cabeça.
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Seu prestígio o manteve a salvo de retaliações severas, mas Lattes passou a ser perseguido, isolado e sofreu cortes nas subvenções para as suas pesquisas. Apesar disso, seguiu formando novas gerações de pesquisadores e dando importantes contribuições à ciência nacional.
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Em 1969, coordenou o grupo que descobriu a massa das "bolas de fogo" — fenômeno espontâneo que ocorre durante colisões de alta energia. Aposentou-se em 1986, ocasião em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Unicamp. Faleceu em Campinas em 8/3/2005, aos 80 anos.
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A obra de Lattes teve grande peso no desenvolvimento da física atômica e sua atuação foi fundamental para o fomento da pesquisa científica no Brasil — sobretudo por seu papel na criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Foi homenageado emprestando o seu nome à Plataforma Lattes, o principal banco de dados científico do Brasil. Também é o patrono da biblioteca central da Unicamp. É um dos poucos brasileiros a figurarem na Enciclopédia Biográfica de Ciência e Tecnologia de Isaac Asimov.
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Sua vida e obra foram retratadas no documentário "Cientistas Brasileiros", de José Mariani e lançado em 2002. Foi também homenageado na canção "Ciência e Arte", de Cartola e Carlos Cachaça, regravada por Gilberto Gil.
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*ERRATA*
No primeiro post, leia-se "há 98 anos". É por isso que eu sou de humanas.
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Há 96 anos, cedendo à pressão dos EUA, o exército colombiano abria fogo contra os grevistas da United Fruit, durante o Massacre das Bananeiras — uma das mais sangrentas chacinas de trabalhadores da história. Tratamos desse assunto no @operamundi
Entre o fim do século XIX e o início do século XX, a Colômbia se tornou um dos maiores produtores de bananas do mundo. A produção em larga escala, concentrada na região nordeste do país, era monopólio da multinacional estadunidense United Fruit Company (UFC).
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A empresa respondia por 80% do comércio internacional de bananas e detinha mais de 1,3 milhão de hectares de terras, espalhados pela América Central e Caribe. Também controlava parte substancial das redes ferroviárias, dos portos e sistemas de comunicação da região.
Há 12 anos, o Brasil se despedia de Oscar Niemeyer. Expoente da arquitetura moderna internacional, ele se destacou por seu estilo original, marcado pela inovação no uso do concreto armado. Ele é o tema do artigo de hoje para o @operamundi
Nascido no Rio de Janeiro, Oscar Niemeyer se formou como engenheiro-arquiteto pela ENBA em 1934. Ele trabalhou no escritório de Lúcio Costa, onde integrou a equipe encarregada de desenvolver o projeto de Le Corbusier para o Ministério da Educação e Saúde.
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Assimilou características da estética de Le Corbusier, como a ênfase na funcionalidade, a priorização da planta livre e o uso de pilotis, mas desenvolveu um estilo único, integrado às referências da cultura nacional. Em 1937, projetou a Obra do Berço, seu 1º projeto autoral
Há 13 anos, falecia Sócrates, um dos maiores jogadores de futebol dos anos 80. Ele foi ídolo do Corinthians, capitão do Brasil na copa de 82, militante do PT e líder do movimento Democracia Corinthiana. Esse é o tema do artigo de hoje no @operamundi
Sócrates nasceu em Belém do Pará, em 19/02/1954, como primogênito dos 6 filhos de seu Raimundo e dona Guiomar. O irmão caçula, Raí, também se destacaria como jogador de futebol, atuando pelo São Paulo, onde ganhou o epíteto de "Terror do Morumbi".
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Sócrates mudou-se para o interior paulista ainda criança, acompanhando a transferência do pai, funcionário público federal. Estudou no Colégio Marista, onde desenvolveu seu interesse por futebol, e tornou-se torcedor apaixonado do Santos, time onde atuava o rei Pelé.
A imagem da Coreia do Sul como uma democracia estável, moderna e bem consolidada é uma ilusão criada pela mídia ocidental — uma narrativa forjada para servir como contraponto à Coreia do Norte.
Essa ilusão serve de lastro à propaganda anticomunista ao mesmo tempo em que reforça a doutrinação ideológica exaltando as “democracias” liberais burguesas. A Coreia do Sul seria um baluarte do "progresso", do desenvolvimento", das "liberdades individuais", em contraponto ao "atraso" e ao "totalitarismo" da Coreia do Norte.
Mas a verdade é que nunca houve nada de democrático, estável ou moderno no sistema político da Coreia do Sul. É um país cuja história sempre foi repleta de golpes de Estado, ditaduras brutais, autoritarismo, repressão contra a sua população e uma série interminável de massacres e genocídios.
Nós publicamos uma série de artigos sobre os massacres e atrocidades cometidos pelo governo sul-coreano no @operamundi. Seguem abaixo:
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Os Massacres da Liga Bodo: em 1950, a ditadura que governava a Coreia do Sul iniciou o extermínio sistemático de opositores e cidadãos suspeitos de serem simpatizantes do comunismo. 200 mil pessoas foram mortas.
O Massacre No Gun Ri: durante a Guerra da Coreia, o governo norte-americano, apoiado pelas autoridades da Coreia do Sul, assassinou centenas de refugiados sul-coreanos que buscavam fugir das zonas de conflito.
Há 165 anos, o abolicionista John Brown era enforcado nos EUA. Brown dedicou sua vida a lutar pelo fim da escravidão e foi condenado à morte por tentar articular uma revolta de escravizados. Contamos sua história hoje no @operamundi
John Brown nasceu em 09/05/1800 em Torrington, Connecticut, filho de Ruth e Owen Brown. Seu pai era um destacado abolicionista de Ohio. Owen costumava oferecer abrigo aos escravizados do "Underground Railroad" — uma rede de rotas secretas usadas pelos cativos em fuga.
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Owen também foi um dos fundadores da Sociedade Antiescravagista de Western Reserve. Brown foi influenciado tanto pelas ideias políticas quanto pelos valores religiosos da família. Ele era um devotado calvinista que acreditava que todos os humanos eram iguais perante Deus.
Há 53 anos, falecia Apparício Torelly, o Barão de Itararé. Ele se notabilizou como o pioneiro do humorismo político no Brasil, fazendo um brilhante uso da sátira como instrumento de denúncia e crítica social. Falamos sobre ele hoje no @operamundi
Apparício Torelly nasceu em Rio Grande, RS, filho da uruguaia Maria Amélia Brinkerhoff e do brasileiro João da Silva Torelly. Perdeu a mãe aos dois anos de idade, após Maria Amélia cometer suicídio. O pai então o enviou para o Uruguai, onde Torelly viveu na fazenda do avô.
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Retornou ao Brasil em 1902, sendo posteriormente matriculado em um internato jesuíta na cidade de São Leopoldo. Aos 13 anos, evidenciando um talento precoce para o humor, Torelly criou o jornal "O Capim Seco", dedicado a satirizar os padres e professores do colégio.