#SaudeMental
Sobre o Suicídio, Setembro Amarelo e a individualização do sofrimento psíquico
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Há anos, a campanha do Setembro Amarelo advoga à favor da “conscientização” sobre o suicídio no Brasil. Organizado principalmente pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).
Em 2022, o lema da campanha é “A Vida é a Melhor Escolha”, porém em nenhum momento a campanha coloca o debate sobre as condições de vida da maioria da população brasileira.
Pelo contrário, quando aponta sobre os fatores de risco, traz como centrais o histórico prévio de tentativas (como um comportamento em si mesmo, descontextualizado) e a existência de uma “doença mental muitas vezes não diagnosticada”.
O que a campanha não faz é compreender a totalidade do contexto por trás dessas tentativas prévias e desse diagnóstico. Como é comum da psiquiatria, esses elementos são isolados em si mesmos e individualizados.
O salto (i)lógico de associar casos de suicídio a “doenças mentais não diagnosticadas” serve apenas para eximir a responsabilidade social por conta do sofrimento produzido nos sujeitos, vinculando o sofrimento a fatores subjetivos isolados das suas determinações concretas.
A “doença mental” é atribuída pós-ato e justificada pelo próprio ato, sem nenhuma investigação profunda sobre as motivações e o contexto de vida do sujeito.
Da mesma forma, as intervenções propostas por essas entidades mantém-se no nível individual: o atendimento ambulatorial, a medicalização, a internação e o isolamento.
Intervenções que se mantém quase sempre no âmbito da psiquiatria, não se referindo à interdisciplinaridade dos serviços de saúde mental.
Na própria campanha se coloca que “a maioria dos casos poderia ser evitada se os pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade”, ignorando outros determinantes do adoecimento e que podem levar a uma tentativa de suicídio.
Falar responsavelmente de prevenção ao suicídio e da vida como a “melhor escolha” significa debater concretamente as condições de vida da população brasileira, que tem passado por situações de miserabilidade e insegurança crescente.
É preciso apontar os efeitos da crise econômica produzida pelo capital sobre os sujeitos e sobre os serviços que deveriam ampará-los. Acesso à tratamento e informação - que não são neutros ou imparciais - é apenas um formalismo quando não vamos às causas reais.
Quando se debate o acesso a um tratamento adequado, deveria ser ponto chave denunciar os retrocessos e o desmonte da saúde mental pública, da RAPS, de toda a rede substitutiva que tem sido alvo de políticas reacionárias - muitas com o apoio das entidades que organizam a Campanha.
Sobre isso, nenhuma palavra das entidades responsáveis pela campanha. Qual é a compreensão de acesso a um tratamento adequado que desconsidere o desmonte dos serviços de saúde mental públicos?
Por isso, são necessárias medidas urgentes que garantam a existência material da população, a curto prazo, e a reestruturação e fortalecimento da RAPS, a médio e longo prazo.
Entende-se que os serviços existentes, ainda que fundamentais, são insuficientes para acolher as demandas psicossociais da população.
É necessário a construção de novos equipamentos que tenham como norteadores ético-políticos o cuidado em liberdade, territorializado, com atendimento humanizado e que respeite as particularidades dos sujeitos, tal como preconiza as diretrizes e princípios do SUS.
Se “a vida é a melhor escolha”, então devemos escolher a vida que queremos viver. Não uma vida de miserabilidade, de exploração, mas uma vida para que possamos nos desenvolver plenamente, dispor de tempo livre para lazer e cultura, trabalhar de forma digna.
Para além de um discurso moral, o debate sobre suicídio deve ser um debate sobre a necessidade de uma vida plena para todos os sujeitos.
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Para se falar de forma responsável e consequente sobre conscientização e prevenção ao suicídio é preciso ter no centro do debate as condições de vida materiais e objetivas da maioria da população: a classe trabalhadora.
Por isso, o lema da campanha #setembroamarelo 2022 "A vida é a melhor escolha", precisa levar em consideração que só é possível escolher o cuidado, quando há de fato essa escolha.
E para isso, precisamos combater o desmonte da saúde e dos serviços públicos, desemprego, fome, déficit de moradia, revogar o teto de gasto, a reforma trabalhista e a reforma da previdência.
Se a vida é a melhor escolha, precisamos que a vida das pessoas sejam plenamente humana.
#Psicologia
As Esferas Emocionais
Os Fundamentos da Psicologia Geral de S. L. Rubinstein
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Quando abordamos a questão dos processos e das vivências emocionais, é evidente que não podemos qualificar todas as suas manifestações de forma homogeneizada ou horizontalizada. Há vivências emocionais mais intensas, outras gerais e desvinculadas de objetos específicos, etc.
Os diferentes tipos de vivências emocionais estão associados ao desenvolvimento dos próprios processos e da totalidade da vida do sujeito singular, manifestando-se com maior ou menor intensidade a partir da sua atividade e dos objetos aos quais corresponde.
Hoje é dia do psicólogo e odeio essas datas, mas tava revendo um post antigo e achei que valia a pena trazer pra cá:
Toda forma de atividade social possui uma função dentro da totalidade na qual está inserida, ainda que essa não possua consciência ou intencionalidade. Com a psicologia não seria diferente.
Sofrendo alterações conforme se modificava a estrutura geral da sociedade, a psicologia possui um importante papel ideológico na manutenção ou transformação das subjetividades e da forma como os sujeitos compreendem a si mesmos inseridos em determinadas relações histórico-sociais
Informações importantes sobre o minicurso abaixo 👇
Este minicurso será uma exposição de 2h mais debate sobre a história e o desenvolvimento teórico da concepção de realismo em Lukács. O objetivo é apresentar a concepção de arte em Lukács a partir de 1930.
Serão tratados os primeiros escritos sobre realismo em Lukács, muitos dos quais nunca foram traduzidos para o português. Esta exposição intenciona instrumentalizar os participantes a continuarem o estudo sobre Lukács após o minicurso.
Agora além de neurodivergente a gente tem psicodivergente. Boa segunda-feira à todos.
Vamos lá, gente, o que é divergente? É algo. Que se afasta, se opõe a um referencial. Mas qual é esse referencial psicológico ou neurológico? Mais importante, ele existe efetivamente ou é um produto abstrato e ideológico?
Se a gente se pergunta qual é o referencial, alguns termos acabam surgindo à mente: é o normal, o saudável. Que geralmente é um monolito sem variações. Só há uma maneira de ser normal, mas várias de ser divergente. O normal, nessa visão, não aceita variações.