Qual a relação entre a psiquiatria e a luta de classes? Aqui, A. Pirella destaca a psiquiatria como um estrato da pequena burguesia que, beneficiando-se da organização do aparato repressivo-autoritário do Estado, ainda que componha a classe trabalhadora,
representa os interesses da burguesia dominante e assuma a funcionalidade de prover vestes aparentemente científicas para o uso da repressão.
No entanto, ainda que a crítica tenha sido colocada e tentativas de superação desse aparato repressivo tenham sido feitas, a psiquiatria e o manicômio se mantém como um instrumento de opressão e segregação da classe;
se não de forma evidente, então de formas mais veladas, da rejeição sistemática, dos sedativos farmacológicos: formas que, se insuficientes, se encontram prontas para pedir apoio ao aparato repressivo clássico.
Não se pode desconsiderar que, mesmo dentre os campos progressistas que reconhecem a repressão psiquiátrica, surgem diversas formas de oportunismo.
Destaca-se a recusa a integrar dentro de uma lógica de classe o segregado, o internado, o estigmatizado, o louco. Reconhece seu caráter de “vítima da sociedade”, mas lhe é negado seu caráter e legitimidade como ser humano capaz de reconhecer a violência e denunciá-la.
Da mesma forma, mantém-se uma ideia da loucura associada à periculosidade, alimentada tanto pelos veículos de comunicação quanto pela permanência do hospital psiquiátrico como local de confinamento para que estes sujeitos não se tornem perigosos para si mesmos ou para outros.
Por fim, é oportunista não exigir uma verdadeira prática cotidiana da classe trabalhadora para lidar com estas questões que, se não forem confrontadas a tempo,
produzem ou reproduzem incessantemente – como destacou Fanon – fantasmas de impotência e derrota alternando com fantasmas de identificação com o opressor.
Após as denúncias e lutas pelo fim do aparato repressivo e autoritário da psiquiatria, é necessário, mais do que nunca, vincular estas lutas à luta de classes.
Isto porque a luta pela conquista dos direitos e da emancipação da classe trabalhadora é indissociável da luta contra "a ameaça à saúde mental e ao equilíbrio psicológico" provocada pela desumanização do modo de produção capitalista.
Isso passa também pela negação dos papéis institucionais dos profissionais da saúde. A negação do papel não é apenas uma rejeição da ciência burguesa, mistificada e mistificadora.
É a negação e o repúdio a alinhar-se com a lógica institucional e a promoção de iniciativas de oposição: unificação das reivindicações, participação massiva contra os problemas da repressão, segregação, marginalização e sofrimento psicológico.
Se gostou:
👥 Acompanhe o Kátharsis nas redes sociais
📖 Entre no site para acessar outras traduções e textos
💲 Considere apoiar o projeto financeiramente
linktr.ee/bruno.katharsis
👥 Acompanhe o Kátharsis nas redes sociais
📖 Entre no site para acessar outras traduções e textos
💲 Considere apoiar o projeto financeiramente
linktr.ee/bruno.katharsis
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
