🧶 Um conjunto de ponderações sobre o atual estado da disputa eleitoral no Brasil
1. Entre as empresas que fizeram pesquisas no 1o turno, as seguintes mantiveram-se mais ou menos consistentes na direção/sentido: Atlas, Datafolha, FSB, MDA, Ideia, Ipec, Ipespe, PoderData, Quaest.
2. As demais, ou não fizeram levantamentos sistemáticos, ou mudaram de direção no meio do caminho. Opto por não considerá-las em meus exercícios de análise.
3. Entre as consistentes, a diferença entre L e B, em votos totais, varia, hoje, entre 4 e 6 pp.
4. A 10 dias da batalha final, ainda existe uma barreira de 5 milhões de votos, numa projeção conservadora, interpondo L e B.
5. As últimas pesquisas dão tendência, muito lenta e incremental, de redução da margem.
6. Na atual velocidade e escala, não haverá ultrapassagem. Bolsonaro teria de acelerar.
7. Aqui começa o problema: os votos que serviram para reduzir levemente a margem vieram, segundo as pesquisas, menos de Lula e mais de indecisos/brancos/nulos.
8. O estoque de indecisos/brancos/nulos (5%) não é suficiente para cacifar a virada.
9. Quem vota em Lula, não vota em Bolsonaro. E vice-versa. Há raríssimos casos de conversão. No geral, é isto aqui que o Jairo Nicolau apresenta, com números do 1o turno:
10. Se não há estoque de votos de indecisos/b&n, e se não há muita chance de viragem de voto, qual pode ser a carta na manga do bolsonarismo? As abstenções, claro.
11. Mas notem, também, que aqui o jogo é menos simples para B do que parece.
12. Segundo simulação feita pela Quaest, a distorção, no primeiro turno, foi da ordem 6:4. Em números aproximados, cada ponto adicional de abstenção, a partir do patamar já alto de 21% (1o t), tiraria 0.2 pp da vantagem de Lula. Se bater em absurdos 25%, reduz 1 ponto na margem.
13. Há também atenuantes: não houve mobilização no 1o turno, do lado de Lula, contra a abstenção. Parece já ter havido do lado bolsonarista.
14. Além disso, há a dificuldade imposta pelo feriado de 2 de novembro. Não creio em impacto significativo, mas, se houver, é contra B.
15. Ou seja: ainda que seja incrível que estejamos, a esta altura do campeonato, ainda considerando a real hipótese de vitória de Bolsonaro (e é incrível mesmo), as chances de Lula seguem altas. Consideravelmente mais altas.
16. A 10 dias do fim de um longo ciclo, há que seguir fazendo campanha. Mas é FUNDAMENTAL cuidar da logística antiabstenção. De aspectos institucionais (prefeituras) a caronas solidárias a parentes/amigos (sociedade civil), esta será a última fronteira da disputa.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Qual a razão da aproximação entre L e B nas pesquisas recentes?
Faço algumas considerações:
- Embora avaliação de governo melhore já faz um tempo, e rejeição tenha baixado, Bolsonaro tem dificuldade em subir sua votação total. Nas pesquisas mais consistentes, fica entre 42-44.
- Por outro lado, Lula também parou, quando não diminuiu. Seu teto fica entre 47-49.
- Entendo que B vai melhor na sua campanha negativa (rebaixar o teto de L) do que na positiva. É mais fácil para ele destruir do que propor.
- Lula, por sua vez, não consegue ir muito além, nos votos, com a sua atual estratégia mais positiva. Tampouco tem infligido danos a Bolsonaro, na campanha negativa. A casca do atual presidente é grossa em relação à tática da escandalização. Nada cola.
1/ Muita gente descobrindo nestes dias que o singelo ato de votar embute viés de renda. É importante falar sobre isso. Mostrar como vivemos em um país desigual, em que a pobreza ainda impede o exercício pleno da cidadania.
2/ Num país em que crescem o subemprego e o "precariado" (proletariado em condições laborais precárias), domingo é dia útil, ora pois. Presumir, de resto, a disponibilidade orçamentária para deslocamento até a seção eleitoral é outro equívoco.
3/ Fascinante pensar o estatuto da obrigatoriedade do voto no Brasil. Na prática, essa obrigatoriedade traz consequências mais palpáveis sobre as classes médias, que ficam impedidas de emitir passaporte, tomar posse de cargo público etc. Assim, têm incentivos concretos p/ votar.
Tenho conversado com gente do ramo das pesquisas. Pessoas que ganham a vida com isso. Ouvi o seguinte:
1/ A questão do censo é importante, mas não foi decisiva. Seria legal ter uma base de dados mais robusta, mas a PNAD anualizada, em tese, dá conta do recado.
2/ Abstenção eleitoral tampouco explica tanta divergência. Além de a abstenção de 2022 ter se mantido na média histórica, empresas como Ipec e Datafolha já usam alguns controles (por exemplo, descartar da amostra o eleitor errático) para evitar distorções.
3/ Com muita probabilidade, estamos lidando com um problema de fundo sociológico: o extraordinário engajamento do eleitor bolsonarista. Isso pode ter conexão com as igrejas evangélicas, com os grupos de zap, com a identidade própria do movimento. O fenômeno é ostensivo.
1/ Isto aqui passou abaixo do radar da grande imprensa brasileira, mas me parece bastante sério: congressistas dos EUA, filiados ao partido Democrata, querem vincular ajuda militar fornecida ao Brasil à não-interferência das Forças Armadas em nosso processo democrático.
2/ O texto da emenda proposta lista as formas de intervenção dos militares brasileiros que não seriam toleradas: tentativa de assumir ou interromper contagem de votos; orquestração de campanhas de descrédito público nas eleições; facilitação de protestos violentos nas ruas, etc.
3/ Desnecessário dizer que, a esta altura, mesmo que transcorra bem o processo eleitoral em outubro, o estrago à credibilidade de um país está feito. Com enorme e intransferível contribuição das Forças Armadas do Brasil.
1/ Tenho um palpite. Sujeito a provar-se redondamente equivocado até outubro, mas baseado no monitoramento atento de pesquisas ao longo dos últimos 3 anos: Bolsonaro antecipou seus "recebíveis". Já faturou praticamente todos os votos que poderá vir a conquistar no pleito de 2022.
2/ A antecipação dos recebíveis vem do derretimento da 3a via - linha auxiliar do bolsonarismo. Intenção de voto em Moro et caterva virou "voto útil" em JB. Ciro não pertence ao conjunto. É o único cuja eventual desistência (ou derrota) deixará como espólio votos para Lula;
3/ Não é só isso. Bolsonaro já tentou todas as táticas possíveis. De ameaça de golpe a Auxílio Brasil. Nada funciona. A resposta do eleitor não lhe é favorável. Há mais de 1 ano, a sua rejeição não baixa de 50% (chega a +60% em algumas pesquisas). O teto desce sobre a sua cabeça;