Também vi a fala e fiquei incomodado. A verdade é que existe grande ignorância sobre quem é Celso Amorim. Uma ignorância que, obviamente, não é de todo inocente. Nessas horas, gosto de trazer o factual para a conversa. Alguns traços biográficos de Amorim falam por si sós. 👇🏼🧶

https://twitter.com/GlauciaTorres18/status/1766112074151723401

1/ Estamos falando de um diplomata profissional, concursado, que começou a carreira em 1965. O que Amorim tem de vivência diplomática, a maior parte de seus críticos recreativos não tem de vida;

2/ Amorim chefiou o Itamaraty por mais tempo do que o lendário Barão do Rio Branco;

Vou brincar de contar o futuro. O que vai acontecer nos próximos dias. Vamos lá. 🧶👇🏼

1) Ninguém relevante atenderá ao chamado de Netanyahu e Herzog para condenar Lula e o Brasil, para a tristeza de muitos. Não há interesse político ou econômico em se indispor com um gigante 🇧🇷. 2) Na imprensa e nas redes, aqui no Brasil, manifestações de lobos solitários virão para o mainstream e serão tratadas como representativas do "humor global". Isso aconteceu com irritante frequência em vários momentos da guerra na Ucrânia. Também haverá superinterpretação.

1/ Vamos conversar sobre a tese do 'Lula antiamericano'? Se houvesse um campeonato de grandes equívocos sobre a política externa brasileira, eu ousaria dizer - com máximo respeito a quem pensa diferente - que essa tese é candidata ao título. Vamos aos motivos. 🧶👇🏼 2/ O mundo tem mais ou menos 200 (193, segundo a ONU) Estados territoriais e soberanos. Cada um deles tem como prerrogativa a autonomia para formular a própria norma de conduta nas relações exteriores. Como é razoável supor, a regra vale também para Brasil e EUA.

1/ Para perspectiva menos caricatural de Boric, presidente do Chile, recomendo o programa Hard Talk, da BBC, que foi ao ar ontem. Você não verá o "rival de Lula" na entrevista, e sim um jovem e inteligente político que não quer se passar por queridinho de gringo na América Latina 2/ Na entrevista, que tem 25 minutos, Boric deixa clara a sua condição latino-americana. É um filho do meio em que cresceu. A diferença, segundo ele, é a ênfase que dá a direitos humanos e direito internacional - uma tática para que não se nos confisquem novamente a democracia.

Agora, falando sério: cês sabem por que Maduro veio ao Brasil, né?

Tão sabendo que outros 9 chefes de Estado sul-americanos também vieram?

Estamos redesenhando a integração regional.

É o Brasil tentando recuperar o espaço que perdeu na região para... a China.

Não é distração. Estudo importante da FIESP, divulgado hoje, dá conta de que, entre 2011-2021, o Brasil perdeu mercado em metade de todos os setores econômicos nos países da América do Sul.

Abaixo, no gráfico, o recuo nos mercados de cada país (por % do número de setores).

Vendo aqui o tom blasé das coberturas que UOL, Folha e Globo, dentre outros, fizeram do evento desta tarde, envolvendo Jair Bolsonaro, eu me pergunto: será que não entenderam o que se passou? 😏

Gente, vamos lá:

1/ Jair Bolsonaro ABANDONOU o seu mandato 48h antes do fim; 2/ Viajou em avião oficial da FAB, COM A FAMÍLIA, para os EUA, SEM AGENDA OFICIAL;

3/ Não há qualquer fumaça de perseguição política que pudesse respaldar, nos termos do Direito Internacional, um pedido de ASILO DIPLOMÁTICO feito por Bolsonaro. Viajou a LAZER/TURISMO;

1/ Pedem-me opinião sobre a possível nomeação de Mauro Vieira para a chefia do Itamaraty.

Não o conheço pessoalmente, mas sei de uma ou outra história importante sobre ele - o que ajuda a entender a escolha de Lula. 2/ Esse é o primeiro ponto: a escolha foi feita por Lula.

Outros nomes, inclusive de mulheres, circularam com força nas etapas preliminares, mas Lula decidiu-se por Vieira. A despeito de quadros do PT e do MRE terem apresentado as suas reservas à indicação.

1/ Bolsonaro agradeceu pelos 58 milhões de votos. Ou seja: reconheceu que esse é o seu tamanho na urna. Houve um outro cara, o Lula, que teve 60 milhões.

2/ Bolsonaro disse que os métodos da direita devem ser "ordeiros". Sem dizê-lo, disse para a turma parar de obstruir estrada. 3/ Bolsonaro está acompanhando os eventos nas rodovias de perto. Sabe que a reação popular foi fraca. Os bloqueios não ganharam adesões e, pior, já estão sendo desfeitos pela própria população. O caso da torcida de futebol é paradigmático. Se o lobo assopra, a casa vem abaixo.

🧶 Um conjunto de ponderações sobre o atual estado da disputa eleitoral no Brasil

1. Entre as empresas que fizeram pesquisas no 1o turno, as seguintes mantiveram-se mais ou menos consistentes na direção/sentido: Atlas, Datafolha, FSB, MDA, Ideia, Ipec, Ipespe, PoderData, Quaest. 2. As demais, ou não fizeram levantamentos sistemáticos, ou mudaram de direção no meio do caminho. Opto por não considerá-las em meus exercícios de análise.

3. Entre as consistentes, a diferença entre L e B, em votos totais, varia, hoje, entre 4 e 6 pp.

Qual a razão da aproximação entre L e B nas pesquisas recentes?

Faço algumas considerações:

- Embora avaliação de governo melhore já faz um tempo, e rejeição tenha baixado, Bolsonaro tem dificuldade em subir sua votação total. Nas pesquisas mais consistentes, fica entre 42-44. - Por outro lado, Lula também parou, quando não diminuiu. Seu teto fica entre 47-49.

- Entendo que B vai melhor na sua campanha negativa (rebaixar o teto de L) do que na positiva. É mais fácil para ele destruir do que propor.

1/ Muita gente descobrindo nestes dias que o singelo ato de votar embute viés de renda. É importante falar sobre isso. Mostrar como vivemos em um país desigual, em que a pobreza ainda impede o exercício pleno da cidadania. 2/ Num país em que crescem o subemprego e o "precariado" (proletariado em condições laborais precárias), domingo é dia útil, ora pois. Presumir, de resto, a disponibilidade orçamentária para deslocamento até a seção eleitoral é outro equívoco.

Tenho conversado com gente do ramo das pesquisas. Pessoas que ganham a vida com isso. Ouvi o seguinte:

1/ A questão do censo é importante, mas não foi decisiva. Seria legal ter uma base de dados mais robusta, mas a PNAD anualizada, em tese, dá conta do recado.

https://twitter.com/tcarran/status/1577001200645726208

2/ Abstenção eleitoral tampouco explica tanta divergência. Além de a abstenção de 2022 ter se mantido na média histórica, empresas como Ipec e Datafolha já usam alguns controles (por exemplo, descartar da amostra o eleitor errático) para evitar distorções.

Para começar a tentar entender:

▶️ 2018
* Datafolha (véspera)
Bolsonaro _ 40%
Haddad _ 25%
3a via _ 34%

* Urna
Bolsonaro _ 46% (+6)
Haddad _ 29% (+4)
3a via _ 24% (-10)

▶️ 2022
* Datafolha (véspera)
Bolsonaro _ 36% 
3a via _ 14%

* Urna
Bolsonaro _ 43% (+7)
3a via _ 8% (-6) Seguindo com a tentativa de fazer sentido, agora sobre o segundo turno:

▶️ 2018
* Datafolha (véspera)
Bolsonaro _ 55%
Haddad _ 45%

* Urna
Bolsonaro _ 55%
Haddad _ 45%

1/ Isto aqui passou abaixo do radar da grande imprensa brasileira, mas me parece bastante sério: congressistas dos EUA, filiados ao partido Democrata, querem vincular ajuda militar fornecida ao Brasil à não-interferência das Forças Armadas em nosso processo democrático. 2/ O texto da emenda proposta lista as formas de intervenção dos militares brasileiros que não seriam toleradas: tentativa de assumir ou interromper contagem de votos; orquestração de campanhas de descrédito público nas eleições; facilitação de protestos violentos nas ruas, etc.

1/ Tenho um palpite. Sujeito a provar-se redondamente equivocado até outubro, mas baseado no monitoramento atento de pesquisas ao longo dos últimos 3 anos: Bolsonaro antecipou seus "recebíveis". Já faturou praticamente todos os votos que poderá vir a conquistar no pleito de 2022. 2/ A antecipação dos recebíveis vem do derretimento da 3a via - linha auxiliar do bolsonarismo. Intenção de voto em Moro et caterva virou "voto útil" em JB. Ciro não pertence ao conjunto. É o único cuja eventual desistência (ou derrota) deixará como espólio votos para Lula;

Desbravei o documentário do Oliver Stone sobre Putin. São inúmeras entrevistas gravadas pelo cineasta com o líder russo, entre 2015 e 2017. Não vou comentar muito. Não vai ter fio. Só vou deixar aqui alguns cortes de 2 minutos. Este, o primeiro, é sobre a expansão da OTAN. Vejam. O segundo corte: Putin fala da percepção russa de ameaças ao seu território e da necessidade de buscar-se um balanceamento estratégico de poder. Repito: as falas do documentário foram gravadas entre 2015 e 2017.

1/Como a Crise dos Mísseis de 1962 pode nos ajudar a interpretar a atual guerra na Ucrânia 🇺🇦?

Não há analogia perfeita. Não existe repetição histórica. Mas há dilemas de tomada de decisão assemelhados. Especialmente para 🇺🇸 e 🇷🇺.

No fio, tento mostrar alguns desses aspectos 🧵 2/A Crise dos Mísseis é um dos eventos mais estudados nos cursos de ciência política e relações internacionais em virtude da sua gravidade.

Envolvia o risco de deflagração de conflito nuclear entre as superpotências da Guerra Fria.

É um arquétipo útil para pensar o momento.

1/ Fui entrevistado, ontem, pela rádio Itatiaia, de Minas Gerais, a respeito do que vem pela frente no conflito 🇷🇺🇺🇦. Conversa longa com @pedrorfranco, que foi transcrita na íntegra. Insiro abaixo, no formato de fio, para facilitar a leitura. 2/

1/Se a posição oficial é de "neutralidade", por que o 🇧🇷não tem se abstido nas votações do Conselho de Segurança? Afinal, China e Índia, parceiros nos BRICS, assim o fizeram.

Simples: Bolsonaro está blefando mais uma vez. Faz diplomacia pelo método confuso.

Explico no fio. 🧵

https://twitter.com/Metropoles/status/1498050702001807366

2/O Brasil comemorará 200 anos de independência nacional neste 2022.

Como se sabe bem, os primeiros anos de existência soberana do país foram marcados por relações assimétricas com os europeus.

Inglaterra, França e Portugal foram os nossos grandes parceiros no séc. XIX.

1/Vimos ontem, na cobertura midiática, a repercussão do veto da 🇷🇺 à resolução do Conselho de Segurança da🇺🇳que condenava a invasão da 🇺🇦.

O 🇧🇷 votou em favor da resolução (que não foi aprovada pelo CS). No fim das contas, ficou alinhado a 🇺🇸 e OTAN.

Como funciona isso?

🧵👇 2/Para começar a conversa, é preciso entender a natureza da política internacional.

Diferentemente da política que acontece dentro das fronteiras de um Estado, em que conseguimos identificar com relativa clareza as instâncias de comando, o plano internacional é anárquico.

1/Desde ontem, tenho tentado conversar com gente que conheço em 🇷🇺 e 🇺🇦.

Uma cautela importante é nunca confundir um Estado com o seu povo. As pessoas comuns são aquelas que mais sofrem as consequências desencadeadas por más decisões dos seus líderes.

Não podem ser vilanizadas. 2/Do lado russo, uma amiga mostrou enorme perplexidade com a beligerância.

Disse-me que as pessoas comuns, de Moscou à Sibéria, mal acreditam que uma guerra está em curso.

Disse também que uma coisa que a deixava orgulhosa era a ótima convivência com os "irmãos" ucranianos.