Para quem quiser explicar para alguém a perda de poder de compra do salário mínimo para quem recebe pensão (ou salário mínimo) caso haja desvinculação da inflação, como quer o governo.
Acompanhem o passo-a-passo aqui:
A inflação de 12 meses stá em 7,2%.
Arrendondemos para 7% para simplificar a conta.
O salário mínimo está em R$ 1212. Trabalhemos com R$ 1200 também para simplificar.
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Se o salário mínimo (SM) ficar congelado em janeiro de 2023 e a inflação de 12 meses for 7%:
O poder de compra do SM será igual a 93% do valor de 2022 (isto é, 100% descontada a inflação de 7% = 93%).
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93% de R$ 1200 é $ 1116. Esse será o poder de compra do SM. A perda real é de R$ 84.
Ou seja, a pessoa recebe R$ 1200, mas a inflação comeu um pedaço do poder de compra. R$ 1200 não mais "compram" R$ 1200 em bens e serviços, mas sim R$ 1116, ou R$ 84 a menos.
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Agora consideremos um pensionista que recebe 3 SMs de pensão, ou cerca de R$ 3640, hoje.
Usando o mesmo raciocínio anterior:
Se o SM for congelado e a inflação de 12 meses for de 7% em janeiro de 2023...
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Esse pensionista receberá R$ 3640 que não mais valem R$ 3640.
A pensão agora vale 93% de R$ 3640, ou R$ 3385. A perda real é de R$ 255.
Por que? Porque não houve reajuste para a inflação, logo o governo deixou que ela corroesse o poder de compra.
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Se houvesse reajuste, o governo teria de pagar ao pensionista R$ 3894, que é o valor de R$ 3640 reajustado para a inflação de 7%.
É assim que funciona hoje. É isso que o governo quer mudar.
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Se o governo emplacar a mudança, pensionistas irão perder e muito.
Mas, vejam só, as despesas do governo com a previdência vão diminuir. Esse corte de despesas ajudará a pagar as benesses que hoje compram votos.
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Também ajudará a cobrir o desvio de dinheiro público em benefício de interesses privados secretos. Isso mesmo, o orçamento secreto.
Portanto, quem vai pagar o orçamento secreto? Os pensionistas. As famílias que vivem de salário mínimo. Os 64 milhões de inadimplentes.
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Essa é o lado sombrio da ajuda que muitos pensam estar recebendo. A ajuda é passageira. A conta a pagar, a desvinculação do SM da inflação, se vingar, será permanente.
Mais um subsídio pra vocês explicarem a fala do Guedes (ele não a desmentiu, apenas disse que não ia reduzir o salário mínimo):
Entre as propostas de Guedes está a de reajustas o salário mínimo (SM) pela meta de inflação para o ano seguinte.
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Vejam como isso teria funcionado nos últimos 4 anos:
Partindo do SM de 2018 e aplicando a meta para o ano seguinte, chegaríamos em 2022 com um SM de uns
R$ 1100.
O SM atual é de R$ 1212. Ou seja, pela regra Guediana, teríamos um SM R$ 100 menor do que temos.
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Lembrando que R$ 1100 leva a um aumento acumulado (15%) menor do que a inflação acumulada no período (20%). Ou seja, o SM teria perdido poder de compra.
Assim teria sido para o pensionista e para o aposentado.
"O Orçamento Secreto é o outro lado do Teto de Gastos".
Querem entender a extensão do dano? Querem saber porque o desenho do Teto que temos levou ao orçamento secreto? Ouçam essa conversa com a minha amiga querida e super especialista @elida_graziane :
Explicação breve:
O Teto criado em 2016 tinha por "lógica" forçar uma "discussão racional sobre prioridades alocativas do orçamento". Por isso, foi introduzido um excesso de rigidez.
Contudo...
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O excesso de rigidez levou não à pretendida discussão racional, mas ao seu oposto: a irracionalidade de um orçamento pulverizado, ao uso do dinheiro público para fins privados, ao orçamento secreto.
A resposta rápida é: sim. Contudo, a resposta rápida esconde mais do que revela, como costuma acontecer. Portanto, vamos à resposta longa.
Primeiramente, a que nos referimos quando falamos em planos de governo?
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Embora a expressão seja genérica e possa ser aplicada a contextos distintos, entendam “plano de governo” como aquilo que um(a) candidato(a) e seu partido apresentam como plataforma de suas políticas caso sejam eleitos. Não é necessário um detalhamento minucioso…
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…mas é preciso ter linhas claramente definidas, diretrizes, e alguma contextualização de políticas públicas. Em um mundo ideal, assim seria.
Mas, como é no mundo real? A partir de uma análise de mais de 50 planos de governo de vários partidos em países diversos…
Em 2018, o plano de governo de Bolsonaro foi uma apresentação mal feita em power point. Não havia delineamento de políticas, menos ainda parágrafos. De acordo com um paper meu e de coautores publicado em 2019, planos de governo não correspondem às políticas postas em prática.
Passemos para a próxima falsa polêmica porque essas instigadas por editorial de jornal já nem influência têm. Editorial pra quê no mundo de hoje, aliás? Acesso direto a quem queremos ler já temos. O NYT não tem mais editorial porque percebeu a perda de influência.
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Nada disso diminui a importância da imprensa como fonte confiável de notícias. É para isso que eu, pessoalmente, assino e leio jornais. Editoriais costumo ignorar, sobretudo por representarem a visão de seus donos e acionistas.
São 60 páginas de leitura e recomendo muito que o leiam para entender qual é a pauta da ultradireita. Eu a esmiucei lá no canal pois resgatei hoje esse documento para reler. Em 2018 eu o li e reli várias vezes.
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O que o documento contém? Propostas para reduzir o tamanho do Estado, propostas para o enxugamento de ministérios, propostas para o que chamam de "revolução na educação", propostas de cunho nitidamente nacionalistas, propostas para uma reformulação do sistema jurídico.