Detalhes do "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", inaugurado em São Paulo em 1929. Repleto de referências exaltando o fascismo, o monumento ostenta em seu pedestal uma coluna doada à cidade de São Paulo pelo próprio Benito Mussolini.
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"No bonde, no teatro, na rua, na igreja, fala-se mais o idioma de Dante que o de Camões". A frase do historiador Ernani Bruno atesta a proeminência da comunidade italiana em São Paulo no início do século XX. Em 1916, 37% da população da cidade havia nascido na Itália.
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O enorme fluxo de imigrantes italianos deixou marcas profundas na cultura e nas estruturas sociais, refletindo o quadro de agitação social e as disputas políticas e ideológicas que marcavam a Itália no período.
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As primeiras organizações anarquistas e socialistas em São Paulo foram fortemente impulsionadas pela comunidade italiana. Não obstante, a ascensão do fascismo e a mitificação de Benito Mussolini também tiveram fortes reflexos do outro lado do Atlântico.
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Tamanha era a idolatria por Mussolini em São Paulo que imigrantes italianos solicitaram por duas vezes, em 1924 e 1926, a autorização da Câmara Municipal para erguer um monumento em homenagem ao líder fascista na cidade. Os projetos foram barrados pela oposição.
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Em 1927, entretanto, a façanha de três aviadores italianos daria a Mussolini a oportunidade de erguer em São Paulo um totem de exaltação ao fascismo. Francesco de Pinedo, Carlo del Prete e Vitale Zacchetti realizaram a 1ª travessia aérea sem escalas sobre o Atlântico Sul.
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A travessia fazia parte do chamado "Reide das Américas", sugerido a Pinedo pelo próprio Mussolini. O líder fascista queria inspirar orgulho e cooptar apoio dos imigrantes italianos nas Américas, ao mesmo tempo em estabelecia pontos de apoio para as aeronaves italianas.
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Os pilotos foram exaltados como heróis após amerissarem na Represa de Guarapiranga. Para comemorar o feito, a Sociedade Dante Alighieri — associação internacional de promoção da cultura italiana —propôs a construção do "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico".
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A obra foi concebida pelo escultor italiano Ottone Zorlini, seguindo os padrões estéticos cultuados pelo regime fascista, marcado por referências aos cânones da arte antiga e ao "passado glorioso" do Império Romano.
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Encimando o pedestal em granito, a "Vitória Alada" reproduz a figura mitológica de Ícaro, com o braço estendido na direção do Atlântico. Nas laterais, encontram-se dois "fascios" — representações de feixes atados a um machado de bronze, símbolos do movimento fascista.
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Engastada no pedestal do monumento, há uma coluna com capitel em estilo coríntio esculpido em mármore, supostamente retirada de uma construção milenar descoberta em um sítio arqueológico de Roma. A coluna foi enviada a São Paulo como um presente do próprio Benito Mussolini
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Não há certeza sobre a autenticidade da coluna. Mussolini tinha o hábito de presentear autoridades estrangeiras com supostos artefatos arqueológicos que eram, na verdade, falsificações contemporâneas. Outra suposta coluna romana foi doada por Mussolini à cidade de Natal.
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Ao longo dos anos 30, Mussolini estreitou ainda mais os laços com São Paulo. Apoiado pela burguesia empresarial de ascendência italiana (famílias Matarazzo, Crespi, Scarpa, etc.), o governo italiano estabeleceu uma ampla rede local de órgãos de socialização fascista.
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Essa rede era composta pelos "fasci all'estero", pelos Dopolavoro e pelas Casa d'Italia. Os "fasci all'estero" eram células internacionais do Partido Fascista italiano, responsáveis pelo trabalho de formação política e difusão dos valores fascistas na sociedade.
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Na década de 30, o estado de São Paulo chegou a reunir 54 "fasci", congregando mais de 300.000 militantes. Os Dopolavoro eram organizações recreativas, que buscavam introjetar o ideário do fascismo por intermédio do esporte, do lazer e da cultura.
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Durante as datas comemorativas do calendário fascista, os Dopolavoro organizavam desfiles de camisas-negras e saudações a Mussolini. Já as Casa d'Italia buscavam conquistar apoio popular ofertando serviços gratuitos ou subsidiados como ambulatórios médicos e creches.
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Complementando o movimento de base, o governo italiano mantinha em SP uma forte representação diplomática. Além do consulado da capital, o estado abrigava 4 vice-consulados (Bauru, Campinas, Ribeirão Preto e Santos), 17 agências consulares e 170 correspondentes consulares.
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O tamanho da rede consular, absolutamente incomum para os padrões normais da diplomacia, só poderia ser compreendido como parte de uma estratégia de controle, tutela e cooptação da comunidade ítalo-paulista ao projeto politico do Partido Fascista italiano.
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A arquitetura também foi influenciada pela exportação do ideário fascista. Marcello Piacentini, arquiteto oficial de Mussolini, foi responsável por projetar o Palácio dos Bandeirantes e o Palácio do Anhangabaú — respectivas sedes do governo estadual e da prefeitura de SP
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Marcello Piacentini foi o arquiteto que desenhou o complexo da Exposição Universal Romana, um bairro construído por Mussolini para celebrar os 20 anos da Marcha Sobre Roma e a ascensão do fascismo na Itália.
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A presença massiva dos aparelhos ideológicos fascistas em São Paulo fez com que quase todas as organizações originalmente vinculadas à comunidade ítalo-paulista fossem cooptadas pelo ideário fascista - de fraternidades a escolas, passando por clubes de futebol.
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Fundado pela colônia italiana em 1914, o clube Palestra Itália (atual Palmeiras) era proprietário de uma das arenas mais utilizadas para sediar manifestações ligadas ao Partido Fascista italiano.
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Em 1935, por exemplo, o estádio foi sede da 14ª edição da "Leva Fascista" - um ritual de passagem criado pela juventude fascista italiana. No ano seguinte, o Palestra Itália abrigou uma suntuosa festa em homenagem ao 15º aniversário do regime fascista na Itália.
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E em 1937, por ocasião da visita do senador fascista Luigi Federzoni ao Brasil, o estádio organizou uma impressionante recepção, com direito a um retrato gigante do rosto de Mussolini, uma bandeira da Itália fascista medindo 12 m de altura e desfiles de camisas-pretas.
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