Brian Jones e Patricia Whitney-Jones, um casal de estadunidenses aposentados, protagonizaram uma tragédia comovente em 7 de agosto de 2019.
Às 8h23 da manhã, Brian ligou para o serviço de emergência 911 e informou à polícia que ele e sua esposa cometeriam suicídio.

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Passou aos agentes o endereço em Ferndale, Washington, e desligou o telefone. Quando a polícia chegou ao local, encontrou os corpos ao lado de um bilhete explicando o motivo do suicídio. Patricia estava gravemente doente e o casal não tinha dinheiro para pagar o tratamento.

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Brian tinha 77 anos e Patricia 76.
Não há sistema público de saúde nos EUA. O governo subsidia seguros médicos para alguns grupos específicos. Idosos com mais de 65 anos que tenham contribuído com o sistema por mais de 10 anos podem ser atendidos pelo Medicare.

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Por sua vez, a população de baixa renda requisitar cobertura médica parcial pelo Medicaid. Não obstante, mesmo para esses grupos o atendimento não é garantido, não é integral e nem é gratuito. Além disso, a elegibilidade é extremamente restrita.

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A grande maioria dos procedimentos clínicos não são cobertos e os pacientes precisam pagar caro pelo transporte médico, medicamentos, internações hospitalares e tratamentos especiais.

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Uma grande parcela dos estadunidenses também se encontra em um limbo assistencial — não possui renda suficiente para contratar um plano de saúde particular, mas também não se enquadra nos critérios para obtenção de subsídios governamentais.

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Aproximadamente 33 milhões de estadunidenses não possuem nenhum tipo de cobertura médica. E mesmo entre os assegurados, as despesas são muito elevadas.

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Os custos proibitivos desestimulam a procura pelos serviços médicos, ao mesmo tempo em que incentivam a manutenção do maior mercado de turismo de saúde do mundo.

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Anualmente, 1,4 milhão de estadunidenses viajam para outros países em busca de atendimento médico e remédios mais baratos. México e Canadá são os dois principais destinos.

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A insulina, imprescindível para a sobrevivência de portadores de diabetes tipo 1, é um dos medicamentos mais procurados nos mercados externos.

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Um frasco com 10 ml da substância, fabricado a um custo médio de 5 dólares, é vendido em média por 300 dólares nas farmácias dos Estados Unidos. Os altos preços inviabilizam o atendimento adequado e um quarto dos diabéticos estadunidenses não se tratam.

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Adoecer nos Estados Unidos costuma ser um dilema entre a falência e a morte. Um estudo publicado em março de 2019 pelo American Journal of Public Health mostrou que 66,5% de todos os pedidos de falência feitos no país entre 2013 e 2016 estavam ligados a problemas de saúde.

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É o caso do casal Brian e Patricia Jones, que havia solicitado a falência em outubro de 2016. O casal estava afogado em dívidas com cartões de crédito e já havia hipotecado a casa e o carro.

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Brian e Patricia eram aposentados, mas ambos continuavam trabalhando. Ele fazia bicos com paisagismo e jardinagem, enquanto Patricia e fazia trabalhos esporádicos como escritora e revisora de trabalhos acadêmicos.

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Mesmo assim, o casal não conseguia arcar com os altos custos do tratamento da fibromialgia avançada de Patricia.
Os suicídios de idosos têm aumentado continuamente nos Estados Unidos desde a década de noventa.

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O país tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo desenvolvido: 14,5 mortes por cada 100 mil habitantes — mais do que o dobro da taxa brasileira (6,4 por 100 mil). A maior incidência de suicídios recai sobre a população com mais de 65 anos: 27,7 por 100 mil habitantes.

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Um adendo: Landon Johnson, o rapaz de 23 anos que aparece no vídeo do 10º tuíte dizendo acreditar que morreria antes dos 30 por não ter dinheiro pra comprar insulina, realmente faleceu, vítima de cetoacidose diabética. Saiu uma matéria a respeito ontem.

news.yahoo.com/insulins-price…

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Mar 4
Há 63 anos, em 4 de março de 1960, o navio a vapor francês "La Coubre", carregado de armas adquiridas pelo governo de Cuba, explodia após atracar no porto de Havana, deixando um saldo de centenas de mortos e feridos.

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A explosão do cargueiro, fruto de sabotagem, foi denunciada por Fidel Castro como uma das primeiras agressões bélicas perpetradas pelos Estados Unidos contra o governo revolucionário de Cuba.

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O triunfo da Revolução Cubana em 1959 representou um grande revés para os interesses estadunidenses no Caribe. A queda de Fulgencio Batista retirou a ilha do círculo de influência dos EUA e alimentou o ímpeto nacionalista do povo cubano em favor do ideário de soberania.

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Feb 28
Nos EUA, Lisa Edwards, uma senhora de 60 anos, procurou ajuda após sofrer um derrame e quebrar o tornozelo. Como Lisa não tinha plano de saúde, o hospital se recusou a atendê-la. Lisa seguiu clamando por ajuda e a polícia foi então chamada para prendê-la. Ela morreu na viatura.
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Lisa morava em Knoxville, no Tennessee. Ela buscou ajuda em 2 hospitais da região: o Blount Memorial Hospital e o Fort Sanders Medical Center. Ambos se recusaram a recebê-la, uma vez que Lisa não possuía dinheiro para pagar pelo atendimento nem outro tipo de cobertura médica.
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Lisa foi detida por se recusar a sair do hospital sem ser atendida. Os policiais não acreditaram que ela estava sofrendo um derrame e se negaram a levá-la a outro serviço de emergência. Também se negaram a lhe dar o inalador que estava em sua bolsa.
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Feb 27
Há 34 anos, em 27/02/1989, tinha início o Caracaço — revolta popular que se espalhou pela Venezuela, em protesto contra as medidas neoliberais de Carlos Andrés Perez. O Caracaço pavimentou o caminho para a radicalização da esquerda, prenunciando a Revolução Bolivariana.

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A década de 1980 foi marcada na Venezuela por uma grave crise econômica. A queda abrupta do preço do barril do petróleo nos mercados internacionais havia causado um enorme desequilíbrio fiscal na economia venezuelana, muito dependente da exportação dessa commodity.

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As reservas cambiais secaram, a dívida externa explodiu e a inflação disparou. O país registrou uma fuga de capitais sem precedentes e um grande aumento na taxa de desemprego.

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Feb 26
Há 154 anos, em 26 de fevereiro de 1869, nascia a pedagoga e revolucionária socialista Nadejda Krupskaya. Esposa de Vladimir Lenin, Nadejda foi uma figura central no esforço pela erradicação do analfabetismo e na construção do sistema educacional da União Soviética.

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Nadejda Krupskaya nasceu em São Petersburgo, em uma família empobrecida da pequena nobreza russa. Frequentou o ginásio feminino até os 14 anos, quando teve de interromper os estudos para auxiliar a família após a morte de seu pai.

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Retomou os estudos alguns anos depois, cursando pedagogia numa escola de ensino superior feminina. Já graduada, começou a lecionar em uma escola dominical noturna, frequentada por operários.

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Feb 24
Há 17 anos, em 24 de fevereiro de 2006, um bando armado invadia o Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, e realizava o maior roubo de obras de arte da história do Brasil, subtraindo pinturas de Pablo Picasso, Salvador Dalí, Claude Monet e Henri Matisse.

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O roubo ocorreu em uma sexta-feira de carnaval. A poucos metros do museu, o desfile do Bloco das Carmelitas arrastava uma multidão no bairro carioca de Santa Teresa. Aproveitando-se do evento, quatro homens armados renderam os seguranças, funcionários e visitantes do museu.

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Em seguida, arrancaram as quatro pinturas das paredes, subtraíram um livro raro e fugiram se misturando aos foliões.
A reação ao roubo variou do amadorismo ao desinteresse dos órgãos de segurança, conforme relatado por Cristina Tardáguila em "A arte do descaso".

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Feb 23
Faleceu na última terça-feira, 21/02, a partisan francesa Simone Segouin, aos 97 anos de idade. Simone atuou na Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial, participando da luta armada contra a ocupação nazista da França e o regime colaboracionista de Vichy.

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Simone Segouin nasceu em Thivars, nos arredores de Chartres, em 3 de outubro de 1925. Era filha de um militar ativo na Primeira Guerra Mundial, que a treinou desde cedo no manuseio de armas. Simone tinha apenas 13 anos quando a Segunda Guerra eclodiu na Europa.

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Com a invasão da França pelas tropas nazistas, teve de abandonar os estudos e se refugiou em uma fazenda da família.
Em 1943, então com 17 anos, Simone ingressou na Resistência Francesa, aderindo ao grupo Francs-Tireurs et Partisans, fundado pelo Partido Comunista Francês.

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