"Olho por olho, dente por dente": há 52 anos, em 15 de abril de 1971, o empresário Henning Albert Boilesen, presidente do Grupo Ultra, era executado a tiros por um comando guerrilheiro de São Paulo.
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O justiçamento era uma represália ao envolvimento de Boilesen com a tortura e repressão de militantes que se opunham à ditadura militar.
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Nascido na Dinamarca, Boilesen se mudou para o Brasil na década de 30, estabelecendo uma bem sucedida trajetória empresarial. Figura de destaque da alta sociedade paulistana, foi presidente do Rotary Club e um dos fundadores do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).
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Nos anos 60, assumiu a presidência do Grupo Ultra - conglomerado atuante nos setores de distribuição de combustíveis, do qual fazem parte empresas como a Ultragaz e os postos Ipiranga. Também integrou a diretoria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
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Foram as atividades políticas de Boilesen, entretanto, que o tornaram bem conhecido no país. Anticomunista fervoroso, Boilesen foi um apoiador entusiasmado do golpe de 1964 e da ditadura militar,...
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... justificando o Estado de exceção como uma medida necessária para impedir a alegada "cubanização" do Brasil. Foi um dos primeiros executivos a contribuir financeiramente com o aparato repressivo da ditadura, ajudando a financiar a Operação Bandeirante (OBAN).
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Criada em junho de 1969 e custeada com doações do empresariado paulista (sobretudo por integrantes da FIESP), a OBAN era uma unidade de repressão incumbida de perseguir, torturar e assassinar opositores do regime militar.
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Seu integrante mais conhecido foi o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. A OBAN foi o embrião do Destacamento de Operações de Informações-Coordenação de Defesa Interna (DOI-CODI), os centros de tortura e assassinato da ditadura militar.
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Além de contribuir financeiramente com a OBAN, Boilesen arregimentava outros empresários para patrocinarem a iniciativa, coordenando a principal rede de financiamento do aparelho repressivo.
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Boilesen era amigo pessoal de vários torturadores e agentes da repressão — nomeadamente de Sérgio Fleury, delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).
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Também era próximo da cúpula do regime, em especial do então Ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto, e atuou como informante da Agência Central de Inteligência do governo dos Estados Unidos (CIA). A lealdade ao regime militar rendeu frutos.
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Boilesen foi agraciado com contratos multimilionários do governo federal ao longo dos anos sessenta. Seu apoio à repressão, entretanto, ultrapassava a esfera do fanatismo ideológico ou do interesse econômico. Boilesen era conhecido pelo seu sadismo.
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O empresário tinha o hábito de frequentar as instalações da OBAN para assistir pessoalmente o suplício dos presos políticos e acompanhar as sessões de tortura, espancamentos e assassinatos. Também seguia o amigo Fleury nos "interrogatórios" dos porões do DOPS.
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Boilesen chegou a importar dos Estados Unidos um instrumento de tortura que soltava descargas elétricas crescentes, para contribuir com o aparato repressivo da OBAN — a infame "pianola Boilesen".
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A participação de Boilesen no financiamento da repressão levou a Ação Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) a elaborarem um plano para executá-lo.
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Em 15/04/1971, o empresário foi encurralado na Alameda Casa Branca, bairro paulistano dos Jardins. Boilesen chegou a tentar fugir, mas foi alvejado com 19 tiros e morreu agonizando na sarjeta. O tiro de misericórdia foi dado por Carlos Eugênio Paz, o "Comandante Clemente".
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No local, os guerrilheiros deixaram panfletos assumindo a autoria do justiçamento, onde se lia: “Henning Arthur Boilesen foi justiçado, não pode mais fiscalizar pessoalmente as torturas e assassinatos na Oban. Olho por olho, dente por dente”.
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A imprensa tratou seu assassinato como um episódio de "terrorismo da esquerda" e o retratou como uma vítima inocente, em reportagens recheadas de epítetos como "pai de família", "cidadão de bem", "empresário imbuído de espírito cívico", "torcedor fanático do Palmeiras".
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Uma rua em São Paulo foi batizada em sua homenagem. A história do empresário e seu justiçamento são temas do documentário "Cidadão Boilesen", dirigido por Chaim Lietwski, premiado na edição de 2009 do festival "É Tudo Verdade".
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