Bom dia. Lula se encontra num dos mais importantes dilemas de sua vida política: ou enfrenta de uma vez a reforma radical das forças de repressão do país, ou será ameaçado o tempo todo. Pior: o país será colocado em pânico de tempos em tempos. Lá vai o fio:
1) A saída do comandante do GSI revela o quanto as Forças Armadas estão tomadas por uma ideologia extremista que cria a autoimagem de poder acima da sociedade civil e das instituições democráticas. Pior: vincula-se à soberania dos EUA.
2) As FFAA brasileiras já tiveram um passado tenebroso. Na década de 1930, o Ministério da Guerra, sob comando de Góes Monteiro, tinha um relatório indicando o grau de adesão de oficiais ao intwgralism9
3) Naquela época, 50% da Marinha e 25% dos oficiais do Exército admitiam inclinação para o fascismo brasileiro. As relações subterrâneas do Exército com a tortura e redes de financiamento empresarial na caça à oposição durante da ditadura militar são bem conhecidas.
4) A ideologia haitianista e da Segurança Nacional se rearticulou durante a Missão no Haiti. Lá se forjou a compreensão das forças armadas acima da sociedade civil descontrolada e irracional durante as abordagens violentas das tropas brasileiras nas ruas de Porto Príncipe.
5) Não parece ter sido coincidência que os militares que formaram o staff de Jair Bolsonaro foram comandantes na Missão de Paz do Haiti (MINUSTAH). Assim como a exigência do afastamento do general Heleno encaminhada pela ONU à Lula.
6) Naquela oportunidade, ao longo de um ataque que durou sete horas, suas tropas dispararam mais de 22 mil balas em Cité Soleil, um bairro pobre da capital haitiana. A razão teria sido a busca de Dread Wilme, foi morto. A missão ganhou o nome sugestivo de "Punho de Ferro"
7) Na madrugada de 6 de julho de 2005, tropas da Minustah, comandadas pelo general, invadiram a maior favela da capital haitiana, conhecida como Cité Soleil. 300 homens fortemente armados invadiram o bairro e assassinaram 63 pessoas, deixando outras 30 feridas.
8) O "haitianismo", uma filosofia racista e violenta que se proliferou no Brasil no final do século XIX, foi reavivado durante esta missão militar no Haiti. Trata-se de uma leitura do risco à ordem de multidões pobres, em especial negras, que merecem ser tuteladas pela repressão.
9) O fato é que o Brasil precisa controlar este verdadeiro poder paralelo que adota filosofias absolutamente opostas à ordem democrática. Tentamos conviver, desde a anistia, com a vida na corda bamba e sob ameaças veladas e, às vezes, não tão veladas assim.
10) O caso da exoneração do comandante do GSI é um alerta de como nos encontramos: Lula vive o dilema de ter que escolher entre um oficial democrata, mas que não lidera, e um quase-democrata, que lidera uma base excitada e que desconfia do poder civil.
11) Chegamos neste dilema que lembra o velho provérbio que nos lembra que não se faz omelete sem quebrar ovos. É preciso determinação política para estabelecer uma reforma das FFAA. Castelo Branco fez uma que buscava profissionalizar o mundo militar. Deu no que deu.
12) É preciso colocar na reserva todo comando bolsonarista incrustrado nas FFAA. Temos que desmilitarizar as PMs, retirando o comando das FFAA sobre as forças repressivas estaduais. O poder militar tem que ser totalmente subordinado à força civil, como ocorre nas democracias
13) Os militares precisam ter consciência que são servidores dos cidadãos que pagam seus salários com impostos e definem o que devem fazer a partir do voto e deliberações populares. É preciso, assim, alterar toda formação militar no Brasil.
14) O então ministro da Defesa, José Viegas Filho, esboçou uma mudança na formação militar que se revelou tímida e inacabada. Porém, tentou. Governos civis não podem fingir que nada têm a dizer a respeito da educação distorcida dos militares brasileiros.
15) Num momento que nossa democracia e estabilidade foi posta à prova com atos terroristas, como os de 8 de janeiro e os que afetam nossas escolas neste momento, não há como mudar de assunto.
16) Viver sob pânico é o objetivo dos extremistas de direita. Desestabilizam a vida social para impor propostas de militarização e adoção de governos autoritários. Já está em curso este plano de malucos. Não podemos fechar os olhos. (FIM)
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Bom dia. Posto um fio sobre a caracterização do bolsonarismo como ideário fascista, subversivo à Ordem Democrática e que deve ser colocado na ilegalidade. Vou me basear no livro que publiquei sobre o fascismo brasileiro. Lá vai:
1) Com o indiciamento de Jair Bolsonaro e 25 militares, sendo 24 do Exército (8 generais, 6 tenentes-coronéis, 7 coronéis, 1 capitão, 1 subtenente e 2 majores) na trama do golpe de Estado, o cenário de risco e a fonte de ameaça à democracia brasileira já está nítido.
2) Os líderes do bolsonarismo se autodeclaram de direita. A direita sustenta que a espécie humana possui distinções comportamentais: alguns são mais esforçados que outros; alguns mais inteligentes ou mais ambiciosos ou mais bem preparados.
Bom dia. Comprei o livro de Byung-Chul Han sobre o conceito de esperança num mundo de multicrise (o palavrão é dele). Vou comentar brevemente num fio. Lá vai:
1) Byung-Chul Han é possivelmente o filósofo mais profícuo do mundo. Não consigo nem acompanhar a produção dele. Acreditei que o seu livro “O Espírito da Esperança” seria o último, mas o livreiro me alertou que era o penúltimo. Mas, isso pouco importa.
2) O que importa é que “O Espírito da Esperança” debulha o trigo que Paulo Freire plantou. Esperançar se tornou o verbo mais citado por educadores brasileiros. Freire empregou a palavra para chamar para a ação.
Bom dia. As eleições municipais que acabaram ontem completaram o círculo vicioso do baixo clero. Este é o fio de hoje. Vamos a ele:
1) As eleições de 2024 foram uma volta ao passado político do Brasil. Uma enorme derrota para a esquerda, mas também uma quebra nas expectativas inflamadas da extrema-direita.
2) Não ter a polarização recente como vitoriosa não significou a vitória da tal terceira via, um modelito repaginado do liberalismo sem sentido em nosso país. Não há espaço para liberalismo no mais desigual dos 10 mais ricos do planeta.
Mais uma vez, me assusto com o envelhecimento do PT. Embora tenha eleito jovens para Câmaras Municipais, o comando e a base do partido envelhecem rapidamente. Vamos aos dados:
1) Segundo dados do TSE de 2022, homens de meia idade são o principal perfil dos filiados a partidos. O PT não foge à regra: 19% dos filiados são homens de 45 a 59 anos de idade, índice similar ao do PCdoB. O índice cai para 14% no caso do PSOL. PSTU vai a 24%
2) Mulheres de 18 a 24 anos não chegam a 1% dos filiados do PT. Já os homens nesta faixa etária não perfazem mais que 0,5% dos filiados petistas. Quase 42% dos homens filiados petistas têm entre 35 a 69 anos (17% dos filiados homens têm de 60 a 74 anos).
Bom dia. Enquanto o mundo continua existindo por aqui, cumpro minha promessa e posto o fio sobre Darcy Ribeiro e suas propostas para a educação brasileira. Lá vai:
1) Darcy Ribeiro, sociólogo e antropólogo, foi defensor da escola pública e da educação integral. Costumava dizer que “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”, referindo-se às estruturas sociais segregacionistas presentes no Brasil
2) Sua concepção também foi influenciada pelo movimento Escola Nova, assim como Anísio Teixeira. A idealização dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPS), a partir da experiência da Escola Parque, vem desta filiação.
Bom dia. Ontem, perguntei aqui se deveria continuar os fios sobre educadores e, se sim, quais. Vários sugeriram fazer um mix de teóricos. Então, farei um fio sobre Anísio Teixeira e, mais adiante, sobre Darcy Ribeiro e outros. Começando agora.
1) Anísio Teixeira foi o educador com maior influência política no Brasil. Tanto que seu nome está inscrito no mais importante instituto que realiza exames educacionais, o INEP.
2) O educador baiano seguia o liberal igualitarista John Dewey, pedagogo dos EUA que defendia a democracia e a liberdade de pensamento como elementos para a maturação emocional e intelectual das crianças. Dewey imaginava a educação como base central da formação do cidadão.