1) Jeanne du Barry - Suas virtudes técnicas - e são muitas - não são o bastante para responder por que devemos nos importar com a protagonista ou com suas dores amorosas. 3/5 #Cannes2023
2) Anselm - Wenders prova novamente sua impecável compreensão sobre o 3D ao usá-lo para refletir a imersão crescente do artista-título em sua própria obra. 4/5 #Cannes2023
3) O Reino Animal - Uma alegoria que divide seu foco entre a natureza humana, com seu potencial destrutivo, e um drama familiar tocante fortalecido pelo ótimo elenco. 4/5 #Cannes2023
4) O Retorno - A dinâmica da família que ancora o filme (especialmente as duas irmãs) equilibra-se com o olhar sobre o racismo estrutural e o não-pertencimento, resultando em uma narrativa ao mesmo tempo cética e esperançosa. 4/5 #Cannes2023
5) Monster - A generosidade de Kore-eda em relação à humanidade de seus personagens, normalmente um ponto forte em sua obra, aqui entra em conflito direto com uma estrutura narrativa criada para gerar desconfiança. 3/5 #Cannes2023
6) Simple comme Sylvain - O senso de humor dependente do exagero (na montagem, nas performances, nas cores) da canadense Monica Chokri, que ja me incomodava em Babysitter, fragiliza o filme, que, ainda assim, desenvolve bem sua tese central. 3/5 #Cannes2023
7) Youth (Spring) - Como de hábito, Wang Bing usa o tempo ao seu favor, usando as quase 4 horas de duração do doc para levar o espectador a absorver o cotidiano massacrante que se torna ainda mais trágico em função da vivacidade de seus jovens personagens. 4/5 #Cannes2023
8) Rosalie - Uma premissa curiosa que percorre caminhos inesperados na primeira metade da projeção apenas para se entregar ao melodrama cafona na segunda. 2/5 #Cannes2023
9) Black Flies - Comete um erro de julgamento básico (e fatal) ao confundir o mais absoluto niilismo com aspirações de complexidade dramática. 1/5 #Cannes2023
10) Indiana Jones 5 - Depois do desapontamento do filme anterior, este quinto capítulo da franquia resgata o que esta tem de melhor: a vulnerabilidade e o humor de um personagem que sempre parece surpreso com o sucesso de suas ações. 4/5 #Cannes2023
11) Kuru Otlar Ustune - Estudo de personagem que não faz concessões ao enfocar um indivíduo complexo e com o qual é praticamente impossível simpatizar, este filme de Bilge Ceylan pode facilmente render a Palma ao seu protagonista. 4/5 #Cannes2023
12) The Zone of Interest - Jonathan Glazer constrói uma narrativa que, quanto mais prosaicas as ações que retrata, mais horripilante se torna. 5/5 #cannes2023
13) Perdidos na Noite - O roteiro parece ter sido por uma pessoa diferente a cada dez páginas, as performances são embaraçosas, a direção falha em encontrar qualquer ponto de coesão e o desfecho torna mais ridículo algo que já era em excesso. 1/5 #Cannes2023
14) Retratos Fantasmas - Um documentário que parte de memórias particulares para traçar um pequeno painel histórico, político, social, cultural e mesmo religioso carregado de humor, melancolia e imenso afeto. Kleber Mendonça Filho só faz melhorar. 5/5 #Cannes2023
15) Les filles d’Olfa - A tunisiana Kaouther Ben Hania, já dona de uma filmografia brilhante, concebe um experimento narrativo que, longe de eclipsar a história que conta, potencializa sua força e reforça sua complexidade. 5/5 #Cannes2023
16) Les meutes- A estrutura narrativa definida pelo tempo e pelo “deadline” não é original (ao contrário; tem longa tradição), mas é eficiente pela urgência que cria - e a relação da dupla central potencializa bem o drama. 3/5 #Cannes2023
18) May December - Três estudos de personagem em uma narrativa que emprega convenções do melodrama com humor e cria o espaço necessário para que suas duas brilhantes atrizes possam explorar seus talentos. 4/5 #Cannes2023
19) Anatomy of a Fall - Um drama de tribunal que surpreende não só pela diferença do sistema legal francês e da lógica do julgamento em si, mas que é elevado por uma performance magistral de Sandra Hüller (e do garotinho Milo Machado Graner). 4/5 #cannes2023
20) Firebrand - Visualmente notável e com uma escala de produção ambiciosa, o filme demonstra a competência técnica de Karim Aïnouz, mas é comprometido por um roteiro burocrático e pela performance central inexpressiva de Vikander (e mais eclipsada por Jude Law). 3/5 #cannes2023
21) Amor, Mulheres e Flores - Restauração importante do corajoso documentário de Marta Rodríguez e Jorge Silva (e a este dedicado), o filme segue relevante 35 anos depois, já que as especificidades das indústrias podem mudar, mas a lógica do capitalismo segue a mesma. 4/5
22) Bread and Roses - Produzido por Jennifer Lawrence, o doc é hábil ao evocar o desespero crescente da população feminina diante da dominação do Talibã, mas a montagem tropeça nas prioridades dadas a cada personagem. 3/5 #cannes2023
23) Augure (Omen) - A justaposição entre a secura naturalista da fotografia e a obsessão supersticiosa daquela realidade é interessante, mas a falta de uma âncora narrativa compromete o resultado. 2/5 #cannes2023
24) Acide - Um filme-desastre que flerta com Fim dos Tempos e é tão ridículo quanto. Ou ainda pior. 1/5 #cannes2023
25) Fallen Leaves - A estilização e o senso de humor característicos de Kaurismäki se traduzem em um universo curioso, trazendo cores interessantes para o que poderia ser uma comédia romântica convencional - mas há certa frieza que o prejudica. 3/5 #cannes2023
26) Club Zero - Se em “Little Joe” Hausner encontrou um excelente equilíbrio entre os temas que a interessavam e a estética que a atraía, aqui nem mesmo o design de produção, por melhor que seja, parece entrar em acordo com o problemático roteiro. 2/5 #cannes2023
27) Terrestrial Verses - Uma antologia sobre os diversos tipos de indignidades promovidos pelo autoritarismo do Estado iraniano, o filme é raivoso, bem humorado e tocante na mesma medida. 4/5 #cannes2023
28) Asteroid City - Fã de Wes Anderson desde o princípio, esta é a primeira vez em que me vejo obrigado a reconhecer como seus tiques e maneirismos devoram o filme, que, mesmo plasticamente lindo, não parece conter uma única ideia memorável. 2/5 #cannes2023
29) Kubi - É sempre uma felicidade imensa testemunhar um veterano como Takeshi Kitano encontrando e explorando novas facetas de um gênero no qual é mestre. 4/5 #cannes2023
30) Rapito - Há momentos em que a trilha bombástica e a mão de Bellocchio pesam no melodrama (e as tentativas de leveza - como a animação desastrosa de charges - também constrangem), mas o design de produção, a fotografia e a importância do registro histórico vencem. 3/5
31) The Pot-au-feu - Essencialmente, um filme sobre duas pessoas afetuosas que convivem pacificamente fazendo o que amam enquanto testemunhamos sua dedicação mútua e ao que fazem. Em teoria, não deveria funcionar; na prática, é soberbo. 5/5 #cannes2023
32) L’amour et les forets- Estudo da gênese de um relacionamento abusivo, das sementes iniciais ao desfecho doloroso, o filme se esforça para evitar extremos narrativos que enfraqueceriam sua triste (e importante) verdade: a de como sua história é comum. 3/5 #cannes2023
33) Il sol dell’avvenire - A doçura de Moretti (e de seu alterego Giovanni) torna ainda mais eficaz a acidez com que o filme destroça o conceito de Cinema como “conteúdo” e da algoritmização da Arte. E só a cena da Netflix já vale a experiência toda. 4/5 #cannes2023
34) L’été dernier - A impressão é a de que Breillat sentiu o impulso de contar uma história sem ter certeza do motivo ou do tema que queria explorar, resultando num filme vazio e clichê. 2/5 #cannes2023
35) Salem - Adotando a religiosidade como símbolo de esperança - mas sem qualquer traço de proselitismo -, o filme traz o realismo mágico para um universo seco e cruel, o que por vezes enfraquece tanto o tema quanto sua abordagem. 3/5 #cannes2023
36) Cobweb - Uma brincadeira estrutural interessante que celebra a paixão pelo fazer cinematográfico, este filme de Kim Jee-woon acaba por se estender demais, repetindo situações que, como comédia, passam a obter resultados cada vez menores. 3/5 #cannes2023
37) In Our Day - O minimalismo habitual de Hong Sang-soo continua a extrair drama e humor do que parece ser improviso sem estrutura (uma proeza, já que nada tem de improviso e conta com uma estrutura deliberada), mas aqui falta conexão entre personagens e situações. 3/5
38) La Chimera - Filme melancólico que resiste à própria doçura e traz um protagonista que, mesmo taciturno, aos poucos se expande para o espectador. Pena que a narrativa se espalhe em várias direções sem muito propósito ou eficácia. 3/5 #cannes2023
39) The Old Oak - O Cinema humanista, engajado e otimista (quanto às pessoas, não ao sistema) do mestre Ken Loach ganha mais uma obra que expõe a lógica de uma sociedade que inspira conflito entre os oprimidos para que não se voltem contra os opressores. 5/5 #cannes2023
40) Perfect Days - A performance silenciosa de Kôji Yakusho é magnética e tocante, servindo à estrutura narrativa inteligente de Wim Wenders, que busca e encontra significado na repetição, na rotina e no olhar calmo de seu protagonista. 5/5 #cannes2023
41) Banel & Adama - A estreante Ramata-Toulaye Sy realiza um filme esteticamente belo ao contrastar as cores fortes dos figurinos à secura do ambiente, mas a protagonista, que deveria soar determinada, se apresenta apenas como vítima de uma obsessão pouco saudável.2/5 #cannes2023
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Meus favoritos aos prêmios do @Festival_Cannes são… aliás, primeiro, uma consideração:
Quem ganha a Palma de Ouro não pode vencer outras categorias. Assim, como eu gostaria MUITO que Kôji Yakusho vencesse como Ator, isso tiraria Perfect Days do páreo.
Ao mesmo tempo, o trabalho de direção de Anh Hung Tran merecia distinção, mas isso tiraria La passion de Dodin Bouffant da disputa principal.
Tsc. E eu ficaria feliz com a Palma tanto para La Passion quanto para Perfect Days.
Hum.
Ok, vamos lá:
Melhor Roteiro: About Dry Grasses
Melhor Atriz: Sandra Hüller (Anatomia de uma Queda)
Vi hoje um ressentido trazendo questão de 12 anos atrás como se eu defender paixão na profissão fosse o mesmo que defender que alguém se apresente como profissional sem ter respeito com o leitor para estudar o mínimo sobre o que quer discutir.
Uma pessoa que se apresentava como crítico de cinema e não sabia (juro; está registrado em vídeo) que existe algo chamado… atenção… TEORIA cinematográfica. Sim, “teoria”, no geral assim mesmo. TE-O-RI-A.
E ainda vem com papo de “o que teria acontecido” se a pessoa não houvesse “desanimado” e desistido da profissão? Colega, se a pessoa DESISTE DA CARREIRA por causa de uma crítica, vá me desculpar, mas realmente precisava mudar de profissão. O que já me atacaram nestes 28 anos…
Eu abomino plágio. Abomino. Sinto um ódio absurdo por quem rouba o trabalho alheio - e nunca consegui entender por que alguém faz isso; eu me sentiria humilhado se soubesse que tive que copiar o esforço de alguém em vez de criar algo original.
Comparem.
O pior é que eu tenho certeza de que a pessoa (que publicou “seu” texto num site conhecido, diga-se de passagem) nem se deu ao trabalho de reescrever a minha crítica original: simplesmente a jogou no ChatGPT e o instruiu para fazê-lo. As estruturas das frases são típicas.
Mas fora a tentativa de mudar um pouco pelo ChatGPT (o que torna o CRIME de plágio ainda mais ostensivo), até o número e a ordem temática dos parágrafos se mantêm.
Assisti ontem a dois filmes do início da carreira de Abbas Kiarostami (ou, melhor dizendo, pré-"Onde Fica a Casa do Meu Amigo?", que foi o que realmente o fez ser descoberto pelo resto do mundo): O Viajante, que ele dirigiu em 1974, e Alunos do Primeiro Ano, de 1984.
Em ambos, a sensibilidade de Kiarostami para registrar o olhar infantil já se faz presente. "O Viajante", seu primeiro longa ("A Experiência" tem 53 minutos), acompanha o jovem Qassem (Hassan Darabi), que, morando num vilarejo, decide ir a Teerã assistir a uma partida de futebol.
Com uma abordagem narrativa que remete ao neo-realismo (como parte considerável de sua obra e muito do próprio Cinema iraniano), O Viajante usa esta "trama" como um mero suporte para a observação do universo do protagonista, de sua família e de seus amigos.
Não seja patético. O que me fez mudar de ideia foi sua postura indefensável; o fato de ter te elogiado no passado não me obriga a seguir elogiando se você expõe a SUA desonestidade intelectual ao defender aqueles que fazem discurso golpista.
Chega a ser inacreditável, @ggreenwald, que um cara da sua idade realmente se dê ao trabalho de buscar um tweet antigo de elogio como contra-argumento para críticas à sua postura atual. Mas que sua resposta seja apenas “Você gostava de mim” só indica a fragilidade da sua opinião.
Repito: se você não aceita que apologia do golpismo seja crime, não posso fazer nada; na legislação brasileira É. Mas é fácil você defender quem prega golpe, já que não tem na família (como eu tenho) pessoas que carregam sequelas até hoje dos porões da ditadura.
Greenwald é o típico libertário que se incomoda mais em ver golpistas perdendo conta em rede social do que com a ameaça REAL à democracia, numa proteção à “liberdade de expressão” que ignora que esta vem com consequências quando infringem a Lei.
Como norte-americano acostumado a destruir a democracia dos outros (ele apoiou fervorosamente a invasão do Iraque por Bush), Greenwald quer impor a Constituição dos EUA no Brasil - já que a nossa legislação deixa claro que incitar golpe militar é CRIME.
O Brasil, ao contrário do país de Greenwald, teve que lidar com ameaças autoritárias, golpistas, diversas vezes ao longo do último século - e há menos de 40 anos estávamos sob uma ditadura. Pois é: ao contrário dele, eu NASCI SOB UMA DITADURA MILITAR.