Manto tupinambá do século XVI, conservado no Museu de Arte e História de Bruxelas, na Bélgica. Os mantos tupinambás estão entre as mais importantes peças da cultura material dos povos indígenas do Brasil. Existem apenas 11 exemplares desses mantos — nenhum deles no Brasil.
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Os Tupinambás foram os primeiros indígenas com quem os portugueses tiveram contato quando desembarcaram no Brasil em 1500. Os hábitos e rituais religiosos dos nativos impressionaram enormemente os europeus.
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Os relatos sobre as práticas ritualísticas antropofágicas atribuídas aos Tupinambás por Hans Staden e Jean de Léry, difundidas nas xilogravuras de Théodore de Bry, alimentaram a curiosidade sobre o "Novo Mundo" e moldaram a visão do "homem selvagem" no imaginário europeu.
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A fim de saciar a curiosidade dos europeus, dezenas de Tupinambás foram retirados de suas aldeias e enviados para a Europa. Em 1550, por exemplo, 50 Tupinambás foram enviados para a França, visando servir de "atração" nos festejos da chegada do rei Henrique II a Rouen.
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A fascinação pelo "exótico" alimentou o comércio dos artefatos Tupinambás. Tacapes, coifas e colares de concha se tornaram itens muito apreciados por colecionadores. De reis e príncipes até comerciantes de especiarias, todos queriam objetos que remetessem aos Tupinambás.
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Os suntuosos mantos emplumados utilizados pelos Tupinambás em cerimônias religiosas e festividades, entretanto, eram os artefatos mais cobiçados. Eram objetos sagrados, reservados ao uso do pajé, reconhecido como mediador entre o mundo dos homens e o mundo dos "encantados".
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Possuíam uma fatura esmerada, com uma malha finamente trançada com fibras naturais, geralmente algodão ou tucum, reforçada com cera de abelha. A plumagem era vívida, predominantemente escarlate, constituída por milhares de penas de araras, araúnas, guarás e periquitos.
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Além da beleza, os mantos Tupinambás evocavam os rituais antropofágicos, que tanto fascinavam os europeus. O fato de que o traje era reservado ao uso do pajé também permitia paralelos com os "mantos reais" dos monarcas, contribuindo para sua conversão em símbolo de status.
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Obras de arte produzidas no período atestam o fascínio que os mantos exerciam sobre as cortes europeias. Uma aquarela alemã datada de 1599 retrata membros da corte durante uma cerimônia festiva em Stuttgart, ostentando um exemplar do manto emplumado.
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Essas evidências também são encontradas na retratística oficial do século XVII. Os retratos de Sofia de Hanôver, a Duquesa de Brunsvique-Luneburgo, e Maria Stuart, esposa de Guilherme II, mostram as princesas envergando o manto Tupinambá como símbolo da realeza.
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Todos os mantos tupinambás conhecidos foram enviados para a Europa entre os séculos XVI e XVII. Maurício de Nassau levou um conjunto dessas peças ao retornar para os Países Baixos em 1644.
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Outras foram remetidas a Roma por missionários, como evidências da conversão dos Tupinambás à fé cristã. Herdados das coleções reais e gabinetes de curiosidade, os mantos passaram a integrar os acervos dos museus europeus.
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Onze exemplares de mantos tupinambás chegaram aos nossos dias. Desses, 5 estão na Dinamarca (Museu Nacional, em Copenhague) e 3 na Itália (um na Pinacoteca Ambrosiana de Milão, um na Basílica de São Lourenço e outro no Museu de Antropologia e Etnologia de Florença).
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Os outros mantos estão na Bélgica (Museu de Arte e História de Bruxelas), na França (Museu do Quai Branly em Paris) e na Suíça (Museu das Culturas de Basileia).
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A transformação dos mantos sagrados dos Tupinambás em decoração "exótica" de ambientes palacianos levou progressivamente à perda dos vínculos culturais dessas peças. Os europeus buscaram repaginá-los, adequando a identificação das peças ao gosto de cada época.
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O manto conservado em Bruxelas virou uma "capa de Montezuma" e passou a ser associado a uma origem mexicana. Já a peça mantida na França foi vinculada ao povo Galibi das Guianas.
No Brasil, os Tupinambás sofriam ataques ainda mais severos.
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Malgrado a resistência heroica capitaneada por Aimberê durante a Confederação dos Tamoios, os Tupinambás foram subjugados pelos colonizadores. Foram expulsos de seus territórios, privados de suas tradições, submetidos ao trabalho escravo e todo tipo de violência.
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Entre os séculos XVIII e XIX, o povo Tupinambá quase foi erradicado, vitimado por doenças ou pelos massacres perpetrados por colonizadores. O Estado brasileiro chegou a decretar, erroneamente, a extinção da etnia.
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A retificação da origem cultural dos mantos Tupinambás conservados na Europa ocorreu somente na década de 1930, quando o antropólogo Alfred Métraux empreendeu uma vasta pesquisa sobre os relatos dos viajantes do período colonial.
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No mesmo período, Caboclo Marcelino liderava a resistência Tupinambá contra os ataques da elite cacaueira na Bahia. O lobby dos latifundiários por muito tempo justificou a invisibilização dos nativos. Tupinambás só foram reconhecidos legalmente como etnia indígena em 2001.
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Desde então, os Tupinambás realizam ações de recuperação de suas terras. Uma vitória importante foi obtida em 2009, quando o governo iniciou a demarcação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, em Ilhéus. O processo, entretanto, ainda não foi concluído.
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Além das terras, os Tupinambás também lutam para restaurar sua herança cultural. Um marco desse processo ocorreu no ano 2000, quando o Museu Nacional da Dinamarca emprestou um dos seus mantos para a "Mostra do Redescobrimento", sediada no Ibirapuera, em São Paulo.
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A vinda do manto fomentou um debate sobre a restituição do patrimônio indígena e motivou a comunidade Tupinambá a criar ações de valorização e resgate de sua cultura.
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Glicéria Tupinambá, jovem liderança da Terra Indígena Tupinambá de Olivença, estudou de perto o processo de confecção do manto conservado em Paris. Desde então, Glicéria tem se dedicado a produzir réplicas dos mantos para uso da comunidade.
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Um dos mantos de Glicéria foi doado ao Museu Nacional em 2006 e sobreviveu ao incêndio de 2018. Não houve avanços em relação aos mantos conservados na Europa. Passados 23 anos da Mostra do Redescobrimento, não há nenhuma iniciativa em prol da restituição das peças
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As fotografias nas postagens nº 1 e nº 25 são de Lívia Melzi e foram retiradas do catálogo da exposição "Kwá Yepé Turusú Yuriri Assojaba Tupinambá - Essa é a grande volta do manto Tupinambá"
"Kwá Yepé Turusú Yuriri Assojaba Tupinambá - Essa é a grande volta do manto Tupinambá". Textos de Juliana Gontijo, Juliana Caffé, Glicéria Tupinambá e Augustin de Tugny.
"Expor o sagrado: O caso do manto tupinambá na exposição Kwá Yepé Turusú Yuriri Assojaba Tupinambá". Artigo de Juliana Caffé e Juliana Gontijo na revista "Modos". periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/…
Há 82 anos, em 16 de maio de 1943, as tropas alemãs esmagavam o Levante do Gueto de Varsóvia — a maior insurreição judaica contra as forças nazistas ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial. Contamos essa história hoje, no @operamundi
Até o início do século 20, a Polônia abrigava a maior comunidade judaica da Europa. Comparado às outras nações do continente, o país tinha um histórico de relativa tolerância em relação aos judeus, o que estimulou a imigração das populações perseguidas no Leste Europeu.
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Na capital, Varsóvia, a população judaica era estimada em mais de 400 mil pessoas — quase um terço dos habitantes da cidade.
A invasão da Polônia pela Alemanha nazista em setembro de 1939 trouxe enorme apreensão para a comunidade judaica. O medo era plenamente justificado.
15 de maio é o Dia da Nakba, data em que se rememora o processo de limpeza étnica instaurado na Palestina após a criação de Israel — e que resultou na expulsão de 800 mil palestinos e inúmeros massacres. Contamos essa história hoje no @operamundi
A identidade palestina foi moldada ao longo de milhares de anos e reflete a multiculturalidade da região do Levante. Os palestinos descendem de povos que habitavam o Crescente Fértil desde a Idade do Bronze — incluindo os cananeus, que já viviam nessa área há 4.000 anos.
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Ao longo dos séculos, o povo palestino sofreu influência das ondas migratórias e das mudanças políticas no Levante. Inúmeras culturas semitas, nômades e indo-europeias também se estabeleceram na região e vários impérios dominaram a Palestina — dos egípcios aos romanos.
Há 40 anos, a polícia dos EUA bombardeava o bairro afro-americano de Cobbs Creek, na Filadélfia, visando destruir a sede do movimento negro MOVE. A ação resultou na morte de 11 pessoas, incluindo 5 crianças. Contamos essa história no @operamundi
O MOVE é um movimento negro de inspiração anarcoprimitivista, fundado na Filadélfia em 1972 por John Africa (Vincent Leaphart). O grupo combina ideário revolucionário (inspirado nos Panteras Negras e no movimento Black Power), ativismo ambiental e defesa dos animais.
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O MOVE defende um estilo de vida comunitário, critica o capitalismo e a revolução tecnológica e prega a ideia de "regresso à natureza". A exemplo do fundador, os membros do grupo adotam o sobrenome "Africa", em alusão às raízes ancestrais.
Há 105 anos, em 09/05/1920, nascia a revolucionária cubana Celia Sánchez. Estrategista e coordenadora logística da guerrilha, ela exerceu papel fundamental na viabilização da Revolução Cubana. Contamos sua história hoje, no @operamundi
Celia nasceu em Media Luna, uma cidade na província de Oriente, em uma família de classe média alta. Era filha de Acacia Manduley e do médico Manuel Sánchez. A mãe de Celia faleceu quando ela ainda era pequena, deixando 8 filhos.
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A visão de mundo de Celia foi bastante influenciada por seu pai. Liberal humanista e admirador das ideias de José Martí, Manuel costumava atender gratuitamente os pacientes pobres nos grotões de Cuba e criticava energicamente as injustiças sociais no país.
A União Soviética foi o país que mais contribuiu para a derrota do nazismo. Nenhuma outra nação lutou em tantas frentes e venceu tantas batalhas. E o esforço do Ocidente para apagar esse grandioso legado é descomunal. Leia mais no @operamundi
“Sem os Estados Unidos, a libertação nunca teria acontecido”, disse Donald Trump nesta quarta-feira, na véspera do Dia da Vitória — data em que se celebra a rendição incondicional da Alemanha nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.
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A frase de Trump é apenas a adição mais recente a um extenso catálogo de declarações revisionistas que buscam, ao mesmo tempo, apagar o papel da União Soviética na luta contra o regime nazista e exagerar a contribuição dos Estados Unidos e de seus aliados no Ocidente.
Há 133 anos, nascia Josip Broz Tito, um dos maiores líderes socialistas do século XX. Marechal Tito comandou a luta contra o regime nazista nos Balcãs e liderou o governo revolucionário da Iugoslávia. Contamos sua história hoje no @operamundi
Josip Tito nasceu em 7 de maio de 1892 em Kumrovec, na Croácia, à época parte do Império Austro-Húngaro. Envolveu-se ainda jovem com o movimento operário, filiando-se ao sindicato dos metalúrgicos e ao Partido Social-Democrata da Croácia.
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Em 1913, ingressou no Exército Austro-Húngaro, onde galgou rápida ascensão. Após a eclosão da Primeira Guerra, combateu as tropas da Rússia na Frente Oriental. Ferido em combate, foi capturado pelos russos e enviado para um campo de trabalhos forçados nos Montes Urais.