Ontem, na live, comentei algo que digo há 2 anos: a cultura pop virou arena de aliciamento de extremista de direita. Nessa mesma live, falei da importância dos produtores de conteúdo, que se oponham a isso, estabelecer pontes.
Conforme eu disse (e vai virar corte ainda), cada produtor de conteúdo lutar sozinho contra um movimento articulado e com mta grana tem efetividade ZERO. Pode ajudar pro influencer parecer um herói da resistência, e angariar alguns inscritos, mas a merda segue igual.
Daí a importância de estabelecer redes, nem que seja, num primeiro momento, a nível de recomendação. Isso é necessário pois faz o público transitar entre diferentes criadores com afinidades e produz uma bolha algorítmica importante. Mas claro, isso ainda é pouco.
Contudo, como venho apontando, esse pouco ainda não acontece. Assisti boa parte (confesso que n consegui terminar) do longo vídeo do Load e João Carvalho criticando nerdola. Mas, segundo me disseram, não houve nenhuma menção ao QnS, Ora Thiago, Tralhas do Jon, Jay Mello etc.
Ok, ninguém é obrigado a citar o coleguinha. Mas, repito, em nome da causa e da luta, acho fundamental superar panelinhas e competições a nível individual (a práxis neoliberal por excelência). Isso trago da academia: tudo que a gente diz, alguém já disse antes, e cabe citar.
Inclusive, ninguém fez ainda a historiografia desse processo de luta. Provavelmente existiram canais, antes dos nossos, a ter dado início ao embate. E antes deles, blogs. E antes dos blogs, fanzines. Isso para não falar da produção acadêmica.
Para que fique claro: isso não é treta, mas uma carta aberta para que o lado de cá, elegantemente antifa, seja capaz de se pensar como um grupo. Ninguém precisa virar melhor amigo, ou fazer collab etc. Mas pensar as ações como grupo é urgente. Afinal, o lado de lá pensa assim.
Para que não pareça que falei pelas costas dos outros, vou marcar as pessoas aqui: @LoadComics @assimdisseojoao @orathiago @tralhasdojon @eajaymello
@LoadComics @assimdisseojoao @orathiago @tralhasdojon @eajaymello E sim, já estou arrependido antes mesmo de ter escrito isso pq vai ter uma galerinha inflamando treta, inventando história, dizendo que eu sou isso, aquilo e aquele outro. Mas azar, fica o registro de uma ação que acho importante.
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Érico Assis fez pro Omelete uma coluna sobre o preço das HQs. Comentou o círculo vicioso: HQs caras são para poucos, que cada vez menos compram, diminuindo a tiragem, o que as torna mais caras ainda, com menos público e assim por diante.
Daí a importância de algo que já falei:
o ponto fundamental a ser atacado é a formação de uma "CULTURA DE QUADRINHOS". Muitos dizem que a solução para isso é dinheiro público e quadrinhos nas escolas. Mas não é bem assim. Sem formação de professores habilitados pra trabalhar HQs, gibi é só pilha de papel.
Então, a ação fundamental é formação de professores. Eu já fiz cursos para professores sobre como trabalhar HQs em sala de aula. Tive 700 alunos do Brasil todo. Só que não basta. Os cursos de licenciatura das universidades federais precisam se responsabilizar.
Já que muita gente dá pitaco sobre quadrinhos sem estudar a respeito, resolvi compartilhar uma periodização dos estudos de HQs que apresento aos meus alunos para fins didáticos.
Segue o fio 🧶
1ª onda: 1964 - 1985
Existiram obras sobre HQs antes do ano de 64 (caso da revista Giff-Wiff, de 62). Porém, APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS, de Umberto Eco, acaba sendo uma obra basilar, já que será mto referenciada por todo estudo subsequente no ocidente.
Essa primeira onda tem por característica começar por fanzines de nostalgia no início dos anos 60, e depois amadurecer a partir de estudos nos campos da história, semiótica, sociologia, análise estrutural, psicanálise e crítica marxista.
Vejo com muita descrença ou desconfiança a galera que anda se propondo dialogar com redpirados, incels e extremistas de direita em mesacasts etc.
Vamos aos motivos:
1 - semiótico: qdo uma feminista vai "debater" com um redpirocado, de pronto, a imagem divulgada é a de dois polos de um fenômeno social. Ou seja, produz simetria que, no caso, é falsa. Lutar pela emancipação da mulher ñ é o mesmo que inflar misoginia a partir de pseudo-ciências.
O efeito, portanto, para qualquer pessoa que vê o "debate", está aquém do conteúdo. É na forma que ele se revela ao dizer: "vejam, feministas e masculinistas são dois grupos legítimos, e bem, se vc é homem, tá aqui quem o representa, e se vc é anti-feminista, tb".
Sou professor da área de linguagens. Ou seja, praticamente só trabalho com mulheres. E sou pai de uma menina. Tem um mito que gente de direita e esquerda reproduz por aí: "mulheres são mais inteligentes". Esse povo tira por base o desempenho escolar pra dizer isso.
De fato, o desempenho de mulheres é melhor. Mas isso é um falso ganho. Mulheres são acostumadas desde cedo a serem disciplinadas e subservientes. Daí que se "adaptam melhor" a um sistema de regras como o sistema escolar. Porém isso não vem sem sofrimento.
Muitas das minhas alunas, já adultas, relatam que ser a CDF vinha de uma auto-repressão imensa. E isso estoura no psicológico mais tarde. Mtas caem em depressão.
Para que fique claro: mulheres são inteligentes. Mas não é exatamente a inteligência delas que a sociedade estimula.
Movimentos sociais são muito maiores que o twitter. Apesar de ter gente legal aqui, quer me parecer que essa rede é mais para alpinismo social. Eu não canso de me surpreender com os feedbacks antagônicos que tenho aqui e fora da rede. Por exemplo:
eu mantenho diálogo com algumas figuras importantes do movimento negro. Sempre que lanço um vídeo sobre racismo, a gente troca uma ideia. Eventualmente apontam uma questão aqui ou ali, mas gostam bastante. Já no twitter a coisa é só agressão e gritaria por lugar de falo.
O mesmo acontece com indígenas. Alguns inclusive são apoiadores do canal. E eu já lecionei para indígenas das nações guarani mbya e macuxi. Vídeos como o de hoje geram sempre um feedback positivo, ainda que se aponte alguma falha aqui ou acolá.
Já que volta e meia alguém levanta a bandeira da "humildade", deixa o professor aqui explicar uma parada (professor pode ainda explicar?)
Muitos já discutiram a humildade, mas foram Nietzsche e Freud que chegaram na conclusão que a humildade é a maior das arrogâncias.
Explico:
A humildade é antes de tudo uma operação estratégica e retórica de matriz cristã. Basicamente funciona assim: a pessoa que se diz humilde é aquela que se considera esperta o suficiente para mensurar as inteligências e relações de poder em jogo.
Daí que a pessoa, para não perder a batalha diante de alguém aparentemente mais forte, faz um recuo estratégico: converte sua fraqueza em força moral. Ou seja, consegue sair por cima porque ela detém o que o outro supostamente não teria: "grandeza moral".