"Deucalião e Pirra", tela pintada pelo italiano Giovanni Maria Bottalla em 1635. Conservada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, a obra evoca um episódio da mitologia grega: o repovoamento da Terra, após o dilúvio enviado por Zeus para exterminar a humanidade
1/27
Na mitologia grega, Deucalião era filho de Clímene e do titã Prometeu, apoiador dos deuses olímpicos durante as batalhas da Titanomaquia. Deucalião era casado com sua prima, Pirra, filha de Pandora e de Epimeteu, o negligente irmão de Prometeu.
2/27
Deucalião e Pirra formavam um casal virtuoso, conhecido pela bondade e devoção aos deuses. Ele era "o mais justo dos homens". Ela, "a mais virtuosa das mulheres". Mas se os deuses se agradavam do casal, o mesmo não poderia ser dito de outras criações de seus progenitores.
3/27
Prometeu, o pai de Deucalião, e Epimeteu, o pai de Pirra, foram os titãs responsáveis por criar a humanidade, moldando os primeiros mortais a partir do barro, à imagem e semelhança dos deuses.
4/27
Após esculpirem os corpos na argila e animarem as criações, os irmãos deram aos mortais habilidades únicas, que os diferenciavam de todos os outros seres. Mas Prometeu notou que os seres humanos eram muito frágeis e indefesos — sobretudo quando comparados aos deuses.
5/27
Prometeu roubou então o fogo do Monte Olimpo e o entregou à humanidade, concedendo aos homens o poder de evoluir e de transformar a natureza. Ao descobrir que o titã compartilhou com os mortais um conhecimento que era exclusivo dos deuses, Zeus ficou furioso.
6/27
Como punição, Zeus acorrentou Prometeu a uma rocha no Monte Cáucaso e enviou uma águia para dilacerar seu fígado. A punição deveria durar por 30 mil anos. O órgão se regeneraria todos os dias, apenas para ser novamente devorado pela ave.
7/27
Zeus também castigou a humanidade, instigando Pandora, a primeira mulher, a abrir uma caixa onde estavam contidos todos os males do mundo — submetendo assim a humanidade a uma série de infortúnios. Mas, apesar dos castigos, a humanidade não se curvou.
8/27
Inebriados com conhecimento divino, os mortais passaram as menosprezar os deuses, dando vazão às próprias vontades e desejos mundanos.
Convencido de que a criação dos homens havia sido um erro e que a espécie estava corrompendo o mundo, Zeus decidiu exterminar a humanidade.
9/27
O pai dos deuses convocou o Conselho do Olimpo para informá-los sobre seu plano: enviaria um enorme dilúvio para inundar todo o planeta e dizimar todos os mortais. Em seguida, criaria uma nova espécie, mais digna de viver na Terra, mais obediente e temente aos deuses.
10/27
Provido do dom da clarividência e da profecia, o titã Prometeu descobriu o plano dos deuses. Chamou então seu filho, Deucalião, e o orientou a construir uma arca de madeira para que pudesse sobreviver ao dilúvio junto com sua esposa, Pirra.
11/27
Enquanto o casal construía a arca, os deuses iniciavam o ataque. Éolo mobilizou os ventos, cobrindo a Terra de nuvens carregadas, e Zeus bombardeou os céus com seus raios. Uma chuva torrencial desabou sobre todo o planeta.
12/27
Poseidon invocou maremotos, agitou mares e rios, fazendo a água avançar sobre as praias. A chuva se prolongou incessantemente, cobrindo os campos e as cidades. Logo, o planeta inteiro estava tomado pelas águas. Somente o cume do Monte Parnaso não se encontrava submerso.
13/27
Protegidos no interior da arca, Deucalião e Pirra foram os únicos sobreviventes do dilúvio. Após nove dias navegando a esmo, o casal chegou ao cume do Monte Parnaso. Vendo que os dois eram os únicos sobreviventes, Zeus fez cessar a chuva.
14/27
Desolados e sozinhos em uma Terra desabitada, Deucalião e Pirra consultaram o oráculo de Têmis, a deusa da justiça, para saber o que fazer. O oráculo orientou que saíssem do templo com a cabeça coberta e as vestes desatadas e atirassem para trás "os ossos de vossa mãe".
15/27
Refletindo sobre o enigma, o casal concluiu que, se a Terra era a mãe comum de todos, seus ossos deveriam ser as pedras. Seguindo a recomendação do oráculo, começaram a jogar as pedras para trás. Ao tocarem o solo, as pedras amoleciam e se transformavam em seres humanos.
16/27
As pedras atiradas por Deucalião se transformavam em homens e as jogadas por Pirra em mulheres. Repovoaram assim o planeta, criando toda uma nova geração. O casal também teve vários filhos, incluindo Heleno, ancestral dos povos gregos e fundador da civilização helenística.
17/27
O mito de Deucalião e Pirra é registrado em várias fontes, incluindo as "Metamorfoses" de Ovídio, a "Biblioteca Mitológica" do Pseudo-Apolodoro e as "Fábulas" de Higino. A narrativa, entretanto, tem origem em um arquétipo bem mais antigo, comum a várias civilizações.
18/27
Diversos povos criaram mitos sobre inundações enviadas por deuses para destruir a humanidade, evocando a percepção da água como elemento purificador. Grande parte desses mitos relatam a existência de um herói que sobrevive ao extermínio, simbolizando a resistência humana.
19/27
Na Epopeia de Gilgamesh, poema épico da Mesopotâmia, o herói Utnapistim é orientado por Enqui a construir uma grande embarcação para salvar a humanidade de um dilúvio enviado por Marduque, deus supremo da Babilônia, que estava decidido a exterminar todos os mortais.
20/27
Na mitologia hindu, fontes milenares como o "Satapatha Brahmana" e os "Puranas" mencionam que Matsia, uma avatar do deus Vixnu, orientou Manu, o primeiro homem, a construir um barco gigante para se proteger de uma inundação.
21/27
Na antiga Pérsia, textos do zoroastrismo falam sobre uma disputa entre os deuses Arimã e Mitra que resultou em um grande dilúvio. A inundação destruiu toda a humanidade, poupando um único homem que se abrigou em uma arca.
22/27
Referências a grandes dilúvios ocorrem também nos sistemas de crenças dos povos indígenas das Américas, incluindo os quichés, os chibchas, os ojíbuas e os cheienes.
23/27
Por fim, o arquétipo foi incorporado à mitologia judaico-cristã. O Livro de Gênesis relata a história de Noé, incumbido de construir uma arca para abrigar sua família e os animais durante o dilúvio enviado por Deus para punir a humanidade por seus pecados.
24/27
Alguns estudiosos especulam que os mitos sobre dilúvios nas diversas civilizações antigas poderiam estar relacionados às grandes enchentes ocorridas ao término da última Era do Gelo, há cerca de 10.000 anos.
25/27
A elevação do nível do mar pode ter gerado eventos catastróficos para alguns agrupamentos humanos que habitavam os vales e as faixas litorâneas durante a Idade da Pedra, gerando mitos que se perpetuaram através da tradição oral e foram incorporados pelas civilizações.
26/27
Não há, entretanto, indícios científicos que corroborem a teoria de que tenha existido um dilúvio universal — uma hipótese incompatível com os registros geológicos, paleontológicos e zoobotânicos do nosso planeta.
27/27
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
Há 202 anos, em 2 de julho de 1823, as tropas portuguesas eram derrotadas em Salvador e a Independência da Bahia era proclamada. O triunfo foi fundamental para consolidar a emancipação política do Brasil. Contamos essa história hoje no @operamundi
A independência brasileira foi o capítulo final do processo de emancipação iniciado após a transferência da corte portuguesa para o Rio. A invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão forçou D. João VI a transferir a administração do império português para o Brasil.
2/25
Esse processo culminou com a elevação do Brasil ao status de Reino Unido a Portugal. Com a eclosão da Revolução Liberal do Porto e o retorno de João VI a Lisboa, o Brasil vislumbrou o risco de perder sua relativa autonomia.
Há 24 anos, falecia o geógrafo Milton Santos. Um dos maiores intelectuais do Brasil no século 20, ele foi um dos fundadores da geografia crítica e desenvolveu diversos trabalhos pioneiros nesse campo do saber. Contamos sua história no @operamundi
Filho de Adalgisa Umbelina e Francisco Irineu, Milton Santos nasceu em 3 de maio de 1926, na cidade de Brotas de Macaúbas, na região da Chapada Diamantina. Foi alfabetizado por seus pais, ambos professores, e aprendeu em casa noções básicas de álgebra e francês.
2/25
Aos 10 anos, Milton se mudou para Salvador e ingressou como aluno interno no Instituto Baiano de Ensino. Influenciado pelo professor Oswaldo Imbassay, interessou-se desde cedo pela geografia. Aos 15 anos já atuava como monitor da matéria, auxiliando os colegas mais novos.
Há 113 anos, nascia Alan Turing. Ele é o pai da ciência da computação e ajudou a quebrar a criptografia nazista na 2ª Guerra. E mesmo sendo um herói, foi perseguido por sua homossexualidade e submetido à castração química. Leia mais no @operamundi
Alan Mathison Turing nasceu em 23 de junho de 1912 em Londres, no Reino Unido. Ele era o filho caçula de Julius Mathison Turing, um funcionário do Serviço Civil Indiano, e de Ethel Sara Stoney, descendente de uma família da pequena nobreza britânica.
2/28
Desde cedo, Turing demonstrou enorme curiosidade científica e um talento precoce para a resolução de problemas. Aos 13 anos, ele ingressou na Sherborne School, um prestigioso internato de Dorset. Foi lá que, 3 anos depois, ele conheceu Christopher Morcom, seu primeiro amor.
De tempos em tempos, um país se torna alvo da campanha de satanização movida pela imprensa e pelas potências ocidentais, a fim de justificar guerras e intervenções. O alvo da vez é o Irã. Vamos então aprender um pouco sobre esse país que você está sendo instado a odiar.
1/30
Localizado no Sudoeste Asiático (ou Oriente Médio), o Irã é o 18º maior país do mundo (pouco maior do que o Peru) e o 17º mais populoso (um pouco mais que Alemanha). É um país de alto desenvolvimento humano, com um IDH de 0,799 — maior do que Brasil (0,786) e China (0,797).
2/30
A população iraniana é marcada pela diversidade étnica. Ao contrário do que é frequentemente propalado pela imprensa, o Irã não é uma nação árabe. A maior parte dos iranianos são persas. O país também abriga grupos significativos de azeris, guiláquis, curdos, judeus, etc.
Há 49 anos, as forças policiais da África do Sul assassinavam centenas de crianças e adolescentes durante o Massacre de Soweto — uma das piores atrocidades cometidas pelo regime do apartheid. Contamos essa história hoje no @operamundi
Desde 1948, o governo da minoria branca havia estabelecido na África do Sul o regime do apartheid, institucionalizando a segregação racial e relegando a maioria negra à condição de cidadãos de segunda classe, destituídos de direitos políticos.
2/26
A resistência negra se consolidou em torno de organizações como o Congresso Nacional Africano e líderes como Nelson Mandela, mas a severa repressão do regime sul-africano nos anos 60 levaria à desarticulação da maioria dos grupos,...