"Deucalião e Pirra", tela pintada pelo italiano Giovanni Maria Bottalla em 1635. Conservada no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, a obra evoca um episódio da mitologia grega: o repovoamento da Terra, após o dilúvio enviado por Zeus para exterminar a humanidade
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Na mitologia grega, Deucalião era filho de Clímene e do titã Prometeu, apoiador dos deuses olímpicos durante as batalhas da Titanomaquia. Deucalião era casado com sua prima, Pirra, filha de Pandora e de Epimeteu, o negligente irmão de Prometeu.
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Deucalião e Pirra formavam um casal virtuoso, conhecido pela bondade e devoção aos deuses. Ele era "o mais justo dos homens". Ela, "a mais virtuosa das mulheres". Mas se os deuses se agradavam do casal, o mesmo não poderia ser dito de outras criações de seus progenitores.
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Prometeu, o pai de Deucalião, e Epimeteu, o pai de Pirra, foram os titãs responsáveis por criar a humanidade, moldando os primeiros mortais a partir do barro, à imagem e semelhança dos deuses.
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Após esculpirem os corpos na argila e animarem as criações, os irmãos deram aos mortais habilidades únicas, que os diferenciavam de todos os outros seres. Mas Prometeu notou que os seres humanos eram muito frágeis e indefesos — sobretudo quando comparados aos deuses.
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Prometeu roubou então o fogo do Monte Olimpo e o entregou à humanidade, concedendo aos homens o poder de evoluir e de transformar a natureza. Ao descobrir que o titã compartilhou com os mortais um conhecimento que era exclusivo dos deuses, Zeus ficou furioso.
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Como punição, Zeus acorrentou Prometeu a uma rocha no Monte Cáucaso e enviou uma águia para dilacerar seu fígado. A punição deveria durar por 30 mil anos. O órgão se regeneraria todos os dias, apenas para ser novamente devorado pela ave.
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Zeus também castigou a humanidade, instigando Pandora, a primeira mulher, a abrir uma caixa onde estavam contidos todos os males do mundo — submetendo assim a humanidade a uma série de infortúnios. Mas, apesar dos castigos, a humanidade não se curvou.
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Inebriados com conhecimento divino, os mortais passaram as menosprezar os deuses, dando vazão às próprias vontades e desejos mundanos.
Convencido de que a criação dos homens havia sido um erro e que a espécie estava corrompendo o mundo, Zeus decidiu exterminar a humanidade.
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O pai dos deuses convocou o Conselho do Olimpo para informá-los sobre seu plano: enviaria um enorme dilúvio para inundar todo o planeta e dizimar todos os mortais. Em seguida, criaria uma nova espécie, mais digna de viver na Terra, mais obediente e temente aos deuses.
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Provido do dom da clarividência e da profecia, o titã Prometeu descobriu o plano dos deuses. Chamou então seu filho, Deucalião, e o orientou a construir uma arca de madeira para que pudesse sobreviver ao dilúvio junto com sua esposa, Pirra.
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Enquanto o casal construía a arca, os deuses iniciavam o ataque. Éolo mobilizou os ventos, cobrindo a Terra de nuvens carregadas, e Zeus bombardeou os céus com seus raios. Uma chuva torrencial desabou sobre todo o planeta.
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Poseidon invocou maremotos, agitou mares e rios, fazendo a água avançar sobre as praias. A chuva se prolongou incessantemente, cobrindo os campos e as cidades. Logo, o planeta inteiro estava tomado pelas águas. Somente o cume do Monte Parnaso não se encontrava submerso.
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Protegidos no interior da arca, Deucalião e Pirra foram os únicos sobreviventes do dilúvio. Após nove dias navegando a esmo, o casal chegou ao cume do Monte Parnaso. Vendo que os dois eram os únicos sobreviventes, Zeus fez cessar a chuva.
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Desolados e sozinhos em uma Terra desabitada, Deucalião e Pirra consultaram o oráculo de Têmis, a deusa da justiça, para saber o que fazer. O oráculo orientou que saíssem do templo com a cabeça coberta e as vestes desatadas e atirassem para trás "os ossos de vossa mãe".
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Refletindo sobre o enigma, o casal concluiu que, se a Terra era a mãe comum de todos, seus ossos deveriam ser as pedras. Seguindo a recomendação do oráculo, começaram a jogar as pedras para trás. Ao tocarem o solo, as pedras amoleciam e se transformavam em seres humanos.
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As pedras atiradas por Deucalião se transformavam em homens e as jogadas por Pirra em mulheres. Repovoaram assim o planeta, criando toda uma nova geração. O casal também teve vários filhos, incluindo Heleno, ancestral dos povos gregos e fundador da civilização helenística.
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O mito de Deucalião e Pirra é registrado em várias fontes, incluindo as "Metamorfoses" de Ovídio, a "Biblioteca Mitológica" do Pseudo-Apolodoro e as "Fábulas" de Higino. A narrativa, entretanto, tem origem em um arquétipo bem mais antigo, comum a várias civilizações.
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Diversos povos criaram mitos sobre inundações enviadas por deuses para destruir a humanidade, evocando a percepção da água como elemento purificador. Grande parte desses mitos relatam a existência de um herói que sobrevive ao extermínio, simbolizando a resistência humana.
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Na Epopeia de Gilgamesh, poema épico da Mesopotâmia, o herói Utnapistim é orientado por Enqui a construir uma grande embarcação para salvar a humanidade de um dilúvio enviado por Marduque, deus supremo da Babilônia, que estava decidido a exterminar todos os mortais.
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Na mitologia hindu, fontes milenares como o "Satapatha Brahmana" e os "Puranas" mencionam que Matsia, uma avatar do deus Vixnu, orientou Manu, o primeiro homem, a construir um barco gigante para se proteger de uma inundação.
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Na antiga Pérsia, textos do zoroastrismo falam sobre uma disputa entre os deuses Arimã e Mitra que resultou em um grande dilúvio. A inundação destruiu toda a humanidade, poupando um único homem que se abrigou em uma arca.
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Referências a grandes dilúvios ocorrem também nos sistemas de crenças dos povos indígenas das Américas, incluindo os quichés, os chibchas, os ojíbuas e os cheienes.
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Por fim, o arquétipo foi incorporado à mitologia judaico-cristã. O Livro de Gênesis relata a história de Noé, incumbido de construir uma arca para abrigar sua família e os animais durante o dilúvio enviado por Deus para punir a humanidade por seus pecados.
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Alguns estudiosos especulam que os mitos sobre dilúvios nas diversas civilizações antigas poderiam estar relacionados às grandes enchentes ocorridas ao término da última Era do Gelo, há cerca de 10.000 anos.
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A elevação do nível do mar pode ter gerado eventos catastróficos para alguns agrupamentos humanos que habitavam os vales e as faixas litorâneas durante a Idade da Pedra, gerando mitos que se perpetuaram através da tradição oral e foram incorporados pelas civilizações.
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Não há, entretanto, indícios científicos que corroborem a teoria de que tenha existido um dilúvio universal — uma hipótese incompatível com os registros geológicos, paleontológicos e zoobotânicos do nosso planeta.
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