Nunca vou me esquecer do 11 de setembro de 2001: estava pagando um boquete diante da TV ligada. É um procedimento sagrado, uma espécie de ritual: fecho o quarto, ligo a televisão e aumento bem o volume. (+)
De repente, aparece a musiquinha do plantão da globo. Eu ainda penso fazer uma canção com essa musiquinha. Foi também uma data inesquecível porque naquele momento um fiapo de pentelho ficaria encravado na minha garganta como contraponto àquelas imagens de cinema americano. (+)
Quantos filmes já não vimos retratando aquelas correrias nas ruas, o mar de poeira, o fim do mundo? Diante de tantos enlatados, aquele era mais um.
• • •
Missing some Tweet in this thread? You can try to
force a refresh
O professor enquanto dava a sua aula reparou que os alunos não manifestavam nenhum interesse. Pra ele, a explicação daquele estado de coisas é que muitos, pela primeira vez, estavam entrando em contato com uma nova forma de raciocínio. (+)
O professor se viu então numa encruzilhada: ele poderia tentar adaptar sua linguagem a fim de que seus alunos pudessem fazer aquela travessia de uma forma menos espinhosa - encenar um espetáculo com os alunos, criar debates em sala de aula...; (+)
por outro lado, quanto mais ele criava alternativas para se aproximar do universo de seus pupilos, mais se afastava da matéria. As adaptações que viesse a fazer, a substituição de um léxico tão estranho por palavras mais acessíveis... o distanciavam cada vez mais da matéria. (+)
Silêncio da não comunicação.
Silêncio agudo, em chama.
De quem não aceita, nem reclama.
Silêncio que escorre, se alonga,
como um acorde sem som.
Silêncio da televisão desligada.
Silêncio que parece um parto.
Silêncio da minha mãe em coma.
Silêncio que se concentra,
indiferente a qualquer apelo.
Um silêncio longo, quieto,
em meio ao burburinho da cidade.
Silêncio que espera
(de quem escreve)
a palavra certa que não vem.
Silêncio que erra
entre as palavras
(exala seu cheiro
no interstício delas).
Não é primeira vez que ouço essa ladainha dos nossos comentaristas de futebol: a razão dos jogos nessa copa de 2022 estarem tão disputados e tão sujeitos a zebras fenomenais vem do fato de que os atletas de todas as seleções, em sua grande maioria, jogarem em clubes da Europa.(+)
A perpectiva eurocêntrica no futebol não é camuflada nem por nós, idiotas do terceiro mundo. Mas isso não vem sendo dito só agora. Muito antes de Carlos Eduardo Mansur, José Ignácio Werneck, na TVE, ironizava Nelson Rodrigues. (+)
Era a mesma perspectiva eurocêntrica: o nosso futebol está ultrapassado. Com a emigração dos nossos atletas, teríamos conseguido uma aparente equivalência com os centros mais modernos, além do fato da tecnologia ter aproximado o mundo, nos dando acesso a todo saber de ponta. (+)
Assédio político tem que ser criminalizado. Testemunhamos recentemente situações envolvendo os ministros do STF em Nova York, Gilberto Gil no Catar, personalidades públicas em aeroportos... (+)
Ou se freia isso, e já há movimentações nesse sentido, ou vamos nos deparar com uma multiplicação cada vez maior desses pequenos episódios. Credito essa situação ao desaparecimento do pensamento crítico no Brasil. (+)
A Direita por aqui perdeu completamente o lustre civilizatório. Personalidades como Delfim Neto, Roberto Campos, Carlos Lacerda, desapareceram da nossa paisagem. A direita se emburreceu. Muitos dos nossos empresários são verdadeiros analfabetos. (+)
Quando me disseram que o twitter ia acabar, pensei na minha vó. Já não andava sozinha, ouvia muito pouco e usava frauda geriátrica. Precisava de uma cuidadora o tempo todo. Conversava pouco, quase nada. Mas comia bem. (+)
Uma ocasião desmaiou e teve que ir às pressas para o hospital. Achamos que, dessa vez, ia ter, finalmente, o descanso merecido depois de uma longa vida de lutas. Mas foi alarme falso. Os exames não mostravam nada de expecional. (+)
O custo financeiro daquela longa vida era alto. Minha vó, no entanto, resistia. E viu a morte de sua filha, minha mãe. Os anos iam passando. Já estava com 95 anos de idade. E testemunhou a morte de uma de suas netas. (+)
O obsceno sofre dois processos de aprisionamento na cultura brasileira, processos de naturezas antagônicas.
O primeiro deles é de origem reacionária, violentamente reacionária, implementada nos últimos tempos pela pauta de costumes do bolsonarismo - (+)
é o Brasil medieval, constrangedor, totalmente "cringe", e tão bem expresso nas recentes mobilizações contra o resultado das urnas. São aqueles que, volta e meia, entram nas minhas redes e incomodados com algumas de minhas declarações, sublinham: TRES VEZES!!! (+)
Amantes do bullying e reacionários, são agentes da estrutura racista de nossa sociedade.
Mas o outro processo de aprisionamento do obsceno é, curiosamente, a politização. Nesse sentido, me chamou muito a atenção uma entrevista com a nossa grande Gal Costa: (+)