Vocês lembram do caso do professor Adlène Hicheur? Ele é um renomado físico de partículas argelino que atuou como pesquisador no CERN. Em 2013, ele veio pro Brasil e passou a lecionar na UFRJ. Até ter sua carreira destruída por uma matéria da revista Época, da Editora Globo
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Nascido em Sétif, na Argélia, Adlène Hicheur mudou-se ainda jovem para a França. Cursou mestrado em física na Escola Normal Superior de Lyon. Trabalhou no Laboratório de Física de Partículas de Annecy-le-Vieux, colaborando em pesquisas internacionais sobre o Big Bang.
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Fez seu pós-doutorado no Reino Unido, no Laboratório Rutherford Appleton, onde trabalhou no detector de partículas ATLAS. Atuou também como professor da Escola Politécnica de Lausanne e como pesquisador do CERN — a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear.
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Hicheur foi preso na França em outubro de 2009, sob a alegação de que ele teria trocado e-mails com um recrutador da Al-Qaeda. A identidade desse suposto recrutador é desconhecida e sua conexão com a Al-Qaeda nunca foi comprovada.
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O diretor da Polícia Nacional francesa acusou Hicheur de ter a intenção de realizar um ataque contra um batalhão francês que seria enviado para ajudar os Estados Unidos na Guerra do Afeganistão. Os e-mails, entretanto, não fazem qualquer referência a esse suposto plano.
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Hicheur foi indiciado por "formação de quadrilha" junto à Al-Qaeda, mas seu processo não abarcava nenhuma acusação concreta de ato de terror — planejado ou executado. Também não trazia evidências de que o físico tivesse qualquer ligação com grupos terroristas.
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A polícia da Suíça, onde Hicheur vivia e trabalhava até ser preso, não conseguiu encontrar nenhuma evidência contra ele. Nas palavras de Hicheur, "a única justificativa [para a prisão] foram minhas visitas aos chamados websites islâmicos subversivos".
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"As pessoas não entendem o que significa ser muçulmano na França nestes dias. (...) Eu fui apresentado como como um exemplo de terrorista bem-educado, ativo na internet e que se radicalizou. Eles queriam me punir por minhas opiniões políticas", afirmou o cientista.
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A prisão de Hicheur ocorreu em um contexto de histeria e pânico moral de cariz islamofóbico, deliberadamente incentivado para justificar a adesão dos países europeus às intervenções dos Estados Unidos no Oriente Médio, rotuladas como uma "Guerra ao Terror".
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O caso de Hicheur imediatamente atraiu comparações com o de Lotfi Raissi — piloto argelino que foi preso na Inglaterra após os EUA o acusarem de ser um terrorista da Al-Qaeda. A defesa de Raissi conseguiu comprovar que as provas que o incriminaram eram todas forjadas.
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Hicheur foi condenado a cinco anos de prisão. Cientistas do mundo inteiro reagiram organizando comitê e uma campanha internacional para denunciar o julgamento enviesado e pressionar pela libertação do físico argelino.
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Mais de 100 físicos de vários países subscreveram uma carta aberta direcionada ao presidente da França denunciando a injustiça cometida contra Hicheur. O Comitê de Direitos Humanos da Sociedade Francesa de Física também pressionou por sua libertação.
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Entre os signatários da carta estava Jean-Pierre Lees, do Laboratório de Annecy-le-Vieux, que afirmou que os promotores "sabem muito bem que ele não fez nada". Segundo Lee, Hicheur foi usado como exemplo p/ criminalizar e desumanizar os muçulmanos de alto nível educacional
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Hicheur ficou encarcerado por 949 dias na prisão de Fresnes, em Paris, sendo solto em maio de 2012. Após ser libertado, o cientista argelino resolveu deixar a Europa. Mudou-se para o Brasil onde tentou reconstruir sua vida e retomar sua carreira.
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No Brasil, Hicheur conseguiu emprego como professor visitante do Instituto de Física da UFRJ e passou se dedicar à pesquisa científica. "Tudo caminhava muito bem. Era tudo que eu queria na minha vida e no Brasil encontrei espaço para fazer isso".
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A tranquilidade, entretanto, durou pouco. Em janeiro de 2016, Hicheur tornou-se alvo de uma reportagem sensacionalista publicada pela revista Época. A matéria não escondia o proselitismo antipetista, ao ressaltar no subtítulo que Hicheur recebia "bolsa do governo federal".
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Além de fomentar ataques ao governo Dilma e às universidades públicas, a reportagem também serviu para pressionar o congresso e o executivo a instituírem uma lei antiterrorismo — em consonância com a exigência de longa data dos Estados Unidos.
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Diversas organizações passaram a pressionar o governo a tomar providências, incluindo a Confederação Israelita do Brasil (Conib). Hicheur foi afastado das salas de aula pela UFRJ, passou a ser investigado pela Polícia Federal e a sofrer assédio e perseguição da imprensa.
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A comunidade científica saiu em defesa de Hicheur, denunciando a injustiça e o linchamento moral que o argelino estava sofrendo. Ronald Shellard, diretor do CBPF, afirmou que expulsar Hicheur significaria "a derrota definitiva de tudo por que lutamos durante a ditadura".
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Leandro Salazar de Paula também ressaltou o prejuízo para a ciência nacional, definindo Hicheur como "um pesquisador brilhante". "Será uma grande perda para o nosso programa de pesquisa. (...) Somos nove pesquisadores e estamos perdendo o mais atuante”, lamentou.
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Em julho de 2017, já sob o governo de Michel Temer, o então Ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ordenou que Hicheur fosse expulso do Brasil. O argelino foi escoltado pela Polícia Federal até o aeroporto internacional do Galeão e forçado a embarcar para a França.
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Ao desembarcar na França, Hicheur foi posto em prisão domiciliar. O cientista contestou a medida. "Não escolhi regressar à França, estou aqui contra a minha vontade". Requisitou então a perda da nacionalidade francesa para poder retornar à Argélia, o que foi aceito.
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No Brasil, as investigações abertas pela Polícia Federal e pela Agência Brasileira de Inteligência não encontraram quaisquer evidências de que Hicheur mantivesse atividades relacionadas ao terrorismo ou contato com grupos fundamentalistas.
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O jornal O Globo admitiu que o resultado da perícia com o material recolhido na casa de Hicheur não apontou nenhum tipo de atividade suspeita.
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Fontes e leituras complementares:
"Caso Adlène Hicheur: Quando um cientista é usado como um peão no jogo do terror". Artigo de Florência Costa e Shobhan Saxena no Opera Mundi:
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A perda de apoio político motivou a ditadura a realizar algumas concessões, instituindo um processo de distensão gradual das medidas restritivas. Após a emergência do Novo Sindicalismo e as greves operárias do ABC Paulista, a oposição ao regime foi revigorada.
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Ingressou na política em 1950, após se filiar ao Partido Conservador. Em 1959, foi eleita representante da Câmara dos Comuns, onde frequentemente se posicionou à direita do partido — nomeadamente quando votou a favor da restauração do espancamento como castigo judicial.
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Vinculou-se à vida religiosa por influência da família. Após concluir o ensino secundário, ingressou no curso de sociologia da Morehouse College, instituição vinculada à comunidade afro-americana. Também cursou o Seminário Teológico Crozer, graduando-se em 1954.
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Órgãos subordinados aos militares como o DOI-CODI e o DOPS prenderam, torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Um estudo produzido pela Human Rights Watch estima que mais de 20 mil pessoas foram torturadas pela ditadura no Brasil.