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Jan 29, 2024 20 tweets 8 min read Read on X
Anteontem aconteceu em Jerusalém a convenção "Voltamos à Faixa de Gaza". Com presença de 15 ministros (!) e outros deputados, o evento clamou pela recolonização israelense em Gaza, e pela expulsão da população local. Vai ficar difícil se defender em Haia. Segue o 🧵. Image
As estrelas do evento foram o ministro da Segurança Pública, Itamar Ben-Gvir, e o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, líderes de seus partidos. Mas também estiveram presentes ministros do Likud e até do Judaísmo da Tora (chegaremos lá). (1/19) Image
Ben-Gvir deu seu tradicional show de horrores. Pediu pena de morte para os terroristas (um a um), a reconstrução dos assentamentos judaicos na Faixa de Gaza, e o incentivo à "imigração voluntária" dos palestinos da Faixa de Gaza. Deixou a platéia em êxtase. (2/19) Image
Smotrich disse que o soldado que foi expulso de Gaza quando criança em 2005, deve ter a oportunidade de construir sua casa lá. A Desconexão de Gaza foi um acontecimento muito traumático para os eleitores da extrema-direita religiosa (veja abaixo): (3/19)
Shlomo Kery (Likud), ministro das Comunicações, disse que "o transfer (expulsão) é o único caminho real de cobrar um preço alto aos nazistas do Hamas e trazer segurança, a imigração voluntária." E completou: (4/19) Image
"Mesmo que a guerra transforme a imigração voluntária em uma situação na qual eles sejam obrigados a dizer 'eu quero'". Houve outros discursos do gênero. Na faixa abaixo, um manifestante segura um cartaz: "só o transfer trará a paz". (5/19) Image
Foram mostrados vídeos de soldados em Gaza, pedindo a reconstrução das colônias (o chefe das FFAA vem tentando combater a politização dos soldados). Outros gritavam que não havia inocentes em Gaza. O show de horrores não parava. (6/19) Image
A representante do grupo extremista de colonos Nachalá, Daniela Weiss, disse: "Há duas opções: ou Gaza será judaica e florecerá, ou será árabe e assassina." E emendou: "Milhões de refugiados de guerra vão de um país para o outro em todo o mundo,..." (7/19) Image
"...só esses monstros que precisam estar conectados com a sua terra? Justamente eles têm que ficar nessa faixa de terra que transformaram num inferno? O 07/10 mudou a história, Gaza e o resto do sul serão abertos para o bem-estar da população,..." (8/19) Image
"...os habitantes de Gaza irão para o mundo inteiro, e o povo de Israel se assentará em Gaza."
Bizarro, né?
Enquanto isso, um mapa com os assentamentos hipotéticos era apresentado, e dezenas de famílias se inscreveram para habitá-los (inclusive dentro da Cidade de Gaza). (9/19) Image
A surpresa foi a presença do ministro da Construção, Yitzhak Goldknopf. Os ultraortodoxos geralmente não se envolvem em questões relacionadas ao conflito, uma vez que a maioria de seus grupos não são sionistas. Goldknopf, líder do partido Judaísmo da Tora, foi ao evento. (10/19) Image
E, como se não fosse suficiente, discursou. Se referiu aos palestinos como inimigos, e disse: "Cabe ao governo israelense corrigir a terrível injustiça e regressar a Gush Katif e à Faixa de Gaza, que foram o local de uma colônia judaica na época bíblica." (11/19) Image
Ele também se colocou à disposição, como ministro da Construção, a tocar adiante o plano. Isso é um péssimo sinal, de que ao menos parte da população ultraortodoxa está se envolvendo no tema da pior maneira possível. (12/19) Image
Sabemos que a maioria da população israelense é contrária à recolonização de Gaza. A pesquisa da Iniciativa de Genebra mostra que a população não é favorável nem à presença do exército na região por muito tempo, quanto mais de colonos. (13/19) Image
Mas a vontade da população não é relevante quando o governo está repleto de extremistas com tendências psicopatas. Netanyahu não deu uma palavra sobre o evento ou sobre o que disseram seus ministros. Está a 48 horas em silêncio. A oposição, Gantz e Eizenkott protestaram. (14/19) Image
O mais assustador é ver esse tipo de declaração poucos dias depois do CIJ cobrar que a incitação ao genocídio seja coibida em Israel. Vejam um dos pontos que caracterizam genocídio segundo a Convenção para a Prevenção de Genocídio, do qual Israel é signatária: (15/19) Image
"Submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial"
Agora voltem e vejam o que disse Shlomo Kery. Ele está propondo algo muito semelhante, não? (16/19) Image
O Estatuto de Roma também considera um crime contra a humanidade a "Deportação ou transferência forçada de uma população".
E as resoluções 446 (1979) e 2334 (2016) do Conselho de Segurança da ONU consideram ilegal a construção de assentamentos nos territórios ocupados. (17/19) Image
"Ah, mas isso não tem nada a ver, porque não vai acontecer, os EUA não permitiriam, etc..." Os caras estão falando claramente que vão fazer, armaram um puta lobby, arrecadaram milhões. Vocês vão pagar pra ver? Com esse governo, refém de cada um dos deputados da coalizão? (18/19) Image
A história nos ensina que os sinais devem ser levados a sério. A população razoável tem que se manifestar. Caso contrário, corre o risco de ser cúmplice.
Fim do fio. (19/19)
Falaremos disso no nosso próximo podcast. Já escutou o último?
open.spotify.com/episode/7IA72C…

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Apr 2
Vasco, Bahia, Botafogo, Corinthians, Sport e Inter da Séries A. Além de Remo, Náutico e Souza. 9 times em todo o Brasil, 6 entre 20 da Série A.
Foram esses os que fizeram alguma manifestação sobre os 51 anos do golpe de 1964. Faço aqui um 🧵 com uma reflexão (cada post, uma foto) Image
1. Memória nacional.
Os clubes de futebol têm a obrigação de preservar a memória da ditadura? Como clubes, não. Como sociedade civil, todos têm. No Brasil, isso jamais foi bem trabalhado. Teve a famigerada Lei da Anistia, não há grandes eventos públicos. (1/17) Image
O governo evita tocar nesse ponto com medo dos militares. A educação pública não dá uma direção. Não fossem por algumas manifestações culturais e intelectuais, o tema seria ainda menos lembrado. Há até uma dúvida sobre a data do golpe. E, para piorar, o governo anterior... (2/17) Image
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Mar 17
Netanyahu decidiu demitir Ronen Bar, o comandante-chefe do Shin Bet (ou Shabak - sigla de Serviço de Segurança Geral). Isso é nada menos que o passo mais significativo para a instauração de um regime de exceção em 🇮🇱.
Segue o 🧵 que eu explico e dou o contexto. Image
O Shin Bet é uma agência que atua em Israel e nos territórios ocupados, cuja função é combater crimes contra a nação. Tem prerrogativas legais que a Polícia não tem, além de um complexo e desenvolvido sistema de espionagem. E está alocado no gabinete do primeiro-ministro. (1/24) Image
O comandante do Shin Bet é nomeado pelo primeiro-ministro, mas não se trata de um cargo de confiança. É como o chefe do Estado Maior das forças armadas, trata-se de um cargo do Estado (não do governo), que passa por um escrutínio antes da nomeação. (2/24) Image
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Mar 1
As organizações de ajuda humanitária disseram que o exército de 🇮🇱 já lhes atualizou que não sairá de Gaza.
O Hamas acabou de anunciar que recusou a proposta de extensão da fase 1 do cessar-fogo.
A fase 2 não entrará em vigor amanhã. Segue o 🧵 Image
Israel deveria se retirar do Corredor Filadélfia (fronteira entre Gaza e o Egito) a partir deste domingo, conforme o previsto no cessar-fogo para o início da fase 2. O governo israelense alega que não houve acordo para que essa fase tenha início, e que não se retirará. (1/7) Image
Além disso, Israel avisou às organizações de ajuda humanitária que todo o processo será controlado pelo fiscalizado pelo exército, e que a Passagem de Rafah será fechada. Toda a ajuda deverá ser feita pela passagem de Keren Shalom, e os EUA respaldam a decisão. (2/7) Image
Read 8 tweets
Jan 15
Vocês devem ter percebido que eu não tenho escrito fios ultimamente. Isso é porque eu estou terminando um📖, que me consome bastante.
Mas hoje foi dia de cessar-fogo, finalmente (!), então segue o 🧵aqui para entender melhor os termos do acordo e seus bastidores. Image
Antes de tudo, os termos do acordo: ele é temporário (42 dias), sendo que no dia 16 do acordo começarão as negociações para um acordo permanente.
Durante estes 42 dias, serão libertados 3 reféns israelenses por semana, e 14 na última semana. Começa já no domingo. (1/13) Image
A cada civil israelense mulher ou menor de idade, 30 presos palestinos serão libertados (mulheres e menores, em sua maioria). A cada soldada e homem adulto, 50 presos libertados. Soldados homens não serão libertados neste primeiro estágio. (2/13) Image
Read 16 tweets
Nov 26, 2024
Amanhã às 10h (horário de Israel) entra em vigor o CESSAR-FOGO entre Israel e o Hezbollah.
O confronto teve várias fases, começou no dia 08/10/2023, e se encerra após mais de um ano.
Segue aqui o🧵que eu explico os detalhes, o contexto e faço uma análise. Image
Havia um cessar-fogo em vigor entre Israel e o Hezbollah desde a Segunda Guerra do Líbano, em 2006, com raros momentos de tensão entre os dois lados nos últimos 17 anos. O cessar-fogo fom rompido no dia 08/10/2023, quando o Hezbollah atacou a base de Har Dov. (1/24) Image
O governo israelense estava prestes a atacar fortemente o Hezbollah, temendo ser surpreendido como foram pelo Hamas no dia 07/10/2023, mas o veto dos EUA freou o ímpeto. Desde então, o confronto foi sendo cozido a fogo baixo, reduzido à fronteira. (2/24) Image
Read 25 tweets
Nov 3, 2024
Um novo escândalo no governo Netanyahu, talvez o maior deles, que aparentemente envolve danos à segurança nacional, está sendo revelado aos poucos e pode gerar uma enorme crise em 🇮🇱. Segue aqui o 🧵 e eu comento. Image
Há alguns dias a mídia israelense começou a divulgar a informação de que algumas pessoas, cujos nomes não foram revelados, foram presas por suspeita de vazar documentos secretos, com danos à segurança nacional. Era tudo o que sabíamos. (1/14) Image
Em Israel existe censura militar, que submete qualquer divulgação à inspeção prévia de um censor. A censura existe somente se a divulgação representar um dano à segurança nacional, e, geralmente, a informação é segurada por um período de tempo limitado. (2/14) Image
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