Há 129 anos, em 29/01/1895, nascia o jornalista Apparício Torelly, o Barão de Itararé. Fundador do semanário "A Manha", Torelly se notabilizou como o pioneiro do humorismo político no Brasil, fazendo um brilhante uso da sátira como instrumento de denúncia e crítica social.
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Apparício Torelly nasceu em Rio Grande, RS, filho da uruguaia Maria Amélia Brinkerhoff e do brasileiro João da Silva Torelly. Perdeu a mãe aos dois anos de idade, após Maria Amélia cometer suicídio. O pai então o enviou para o Uruguai, onde Torelly viveu na fazenda do avô.
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Retornou ao Brasil em 1902, sendo posteriormente matriculado em um internato jesuíta na cidade de São Leopoldo. Aos 13 anos, evidenciando um talento precoce para o humor, Torelly criou o jornal "O Capim Seco", dedicado a satirizar os padres e professores do colégio.
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Aos 17 anos, Torelly ingressou na Faculdade de Medicina e Farmácia de Porto Alegre. Seu verdadeiro interesse, entretanto, era a escrita. Em 1916, sob o pseudônimo "Apporelly", publicou "Pontas de Cigarro", um livro de poemas versando sobre a pobreza.
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Dois anos depois, lançou o humorístico "O Chico". Ainda em 1918, Torelly sofreu um AVC, que lhe deixou como sequela a hemiplegia. No ano seguinte, abandonou o curso de medicina, passando a se dedicar exclusivamente ao jornalismo, colaborando em jornais do interior do RS.
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Em 1925, após se mudar para o Rio de Janeiro, passou a escrever para "O Globo". No ano seguinte, estreou no jornal "A Manhã", com a coluna "Amanhã Tem Mais", onde conquistou um público fiel com seu humor cáustico, frases de efeito e trocadilhos com nomes de políticos.
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No mesmo ano, fundou seu próprio semanário, batizado de "A Manha", parodiando o nome e até mesmo a diagramação de seu periódico anterior. Publicado entre 1926 e 1959, "A Manha" se converteria em um marco do jornalismo humorístico brasileiro.
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O jornal se destacou por conseguir harmonizar conteúdo informativo, análise política e verve humorística, realizando críticas contundentes ao governo, à elite brasileira e aos grupos reacionários, ocupando-se ainda da denúncia dos problemas e da defesa das pautas populares.
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Torelly se notabilizou como frasista excepcional, cunhando tiradas que até hoje sintetizam particularidades da política, como a observação de que "o mistério de hoje pode ser o ministério de amanhã", ou de que "dali, de onde menos se espera, é que não sai nada mesmo".
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"A Manha" chegou a ser distribuído como um suplemento do "Diário da Noite", de Assis Chateaubriand, mas era cáustico demais para o gosto dos anunciantes. A parceria durou 5 meses. Desfeita a empreitada, Torelly anunciou: "A Manha não se vende. Apenas se troca por 500 réis"
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Torelly apoiou a Revolução de 1930, que encerrou a política do café com leite e deu início à Era Vargas. O pseudônimo "Barão de Itararé" evoca um episódio desse processo — a especulação sobre uma batalha entre as tropas de Vargas e de Washington Luís na cidade de Itararé.
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Apesar do sensacionalismo da imprensa, a "Batalha de Itararé" nunca aconteceu e Vargas assumiu o governo sem resistência. Ironizando a adesão de última hora de burocratas ao movimento e a absorção de arrivistas no governo Vargas, Torelly se autoproclamou "Barão de Itararé"
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Embora tenha apoiado a Revolução de 1930, o jornalista criticou de forma incisiva todas as medidas autoritárias do Estado Novo. Referia-se a Vargas como "a Gravata Preta", por sua habilidade em "se adaptar a qualquer roupa e a qualquer regime".
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Torelly zombava igualmente dos integralistas, dizendo que seus membros aderiram ao movimento por terem confundido o lema "Deus, Pátria e Família" com "Adeus, pátria e família!". Foi Torelly quem inventou o apelido de "Galinhas Verdes" para se referir aos integralistas.
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Em 1934, Torelly fundou o "Jornal do Povo", onde iniciou a publicação de fascículos contando a história do marinheiro negro João Cândido, o líder da Revolta da Chibata. A iniciativa enfureceu os militares, que reagiram com truculência.
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Torelly foi sequestrado e espancado por um grupo de marinheiros integralistas. No mesmo dia, ao retornar à redação, fez questão de usar o humor para referenciar o episódio, pendurando na entrada de sua sala uma placa com os dizeres "Entre sem bater".
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As ameaças e agressões não intimidaram o jornalista Em 1935, Torelly se tornou membro-fundador da Aliança Nacional Libertadora (ANL) — frente antifascista e anti-imperialista, vinculada ao Partido Comunista do Brasil (antigo PCB) e liderada por Luiz Carlos Prestes.
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Em novembro de 1935, a ANL foi responsável por conduzir o Levante Comunista. A sublevação foi esmagada em poucos dias. Sucedeu-se uma onda de repressão brutal. Acusado de participar do levante, Torelly foi preso, ficando encarcerado por um ano.
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No Complexo da Frei Caneca, Torelly foi companheiro de cela do escritor Graciliano Ramos. O jornal "A Manha", por sua vez, foi tirado de circulação pelos órgãos de censura do governo Vargas.
Posto em liberdade, Torelly trabalhou como cronista no Diário de Notícias.
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Anistiado durante a redemocratização, reagiu definindo a anistia como "um ato pelo qual os governos perdoam generosamente os crimes que eles mesmos cometem". Voltou a publicar "A Manha", atraindo um time destacado de colunistas — de Rubem Braga a Aurélio Buarque de Holanda
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Torelly se filiou ao PCB e fez campanha para Yedo Fiuza, candidato do partido à presidência. Em 1947, candidatou-se a vereador do Distrito Federal pelo PCB. Sua campanha enfocou dois problemas que afetavam o Rio de Janeiro à época: a falta d'água e a adulteração do leite.
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Assim, buscou popularizar o slogan "Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!". A estratégia deu certo e Torelly foi eleito. O mandato, entretanto, foi curto. Ainda em 1947, o registro do PCB foi cancelado. Em 1948, todos os parlamentares do partido foram cassados.
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O jornalista fez um debochado discurso de protesto, que lhe rendeu mais uma prisão.
Com dificuldades para manter seu jornal, Torelly fez uma parceria com o artista gráfico Andrés Guevara para lançar seus "Almanhaques" — os hilários almanaques do "A Manha".
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O jornalista também colaborou com o quinzenário "Para Todos", dirigido por Jorge Amado, e com o "Última Hora", o combativo jornal de Samuel Wainer. Em 1963, a convite do governo revolucionário de Pequim, visitou a China. No retorno, passou pela União Soviética.
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Profundamente angustiado após o golpe de 1964, Torelly sofreu mais um duro baque no ano seguinte — o suicídio da esposa, Aída Costa. Passou seus últimos anos recluso em seu apartamento no Rio, dedicando-se à leitura. Faleceu em 27 de novembro de 1971, aos 76 anos de idade.
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Uma curiosidade da eleição municipal de 1947: além do Barão de Itararé, o PCB elegeu mais 17 vereadores para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Era o partido com a maior bancada: ocupou 18 dos 50 assentos. O dobro da reacionária UDN, que tinha a segunda maior bancada, com 9 vereadores.
Isso no Rio de Janeiro, então capital e maior cidade do Brasil.
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Segue o fio sobre o que o governo Lula está fazendo para expandir e fortalecer o SUS — e que muita gente, pelo visto, não tá sabendo.
O orçamento da saúde que era de R$ 160 bilhões em 2022, no governo Bolsonaro, saltou para R$ 245 bilhões esse ano — 85 bilhões a mais.
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O orçamento discricionário da saúde — isso é, os gastos não obrigatórios — mais do que dobraram entre 2022 e 2024. Passaram de R$ 23,85 bilhões para R$ 55,39 bilhões.
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O governo Lula mais do que dobrou o número de profissionais contratados pelo programa Mais Médicos (aumento de 105%). São 13 mil médicos a mais no SUS, justamente nas regiões de maior vulnerabilidade social.
Há 41 anos, ocorria em SP o comício de encerramento das Diretas Já. O ato levou centenas de milhares de pessoas ao Vale do Anhangabaú e permanece até hoje como a maior manifestação da história do Brasil. Contamos essa história no @operamundi
A insatisfação popular com a ditadura militar ficou escancarada após a eleição parlamentar de 1974, quando o MDB (a legenda de oposição) recebeu a ampla maioria dos votos, relegando a ARENA à condição de minoria no congresso.
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A perda de apoio político motivou a ditadura a realizar algumas concessões, instituindo um processo de distensão gradual das medidas restritivas. Após a emergência do Novo Sindicalismo e as greves operárias do ABC Paulista, a oposição ao regime foi revigorada.
Há 49 anos, Zuzu Angel era assassinada pelos órgãos repressivos da ditadura militar. Pioneira da moda brasileira, Zuzu travou uma luta dramática contra o regime após o desaparecimento de seu filho, Stuart. Contamos sua história hoje no @operamundi
Zuleika de Souza Netto nasceu em Curvelo, Minas Gerais, em 05/06/1921, filha de Pedro Netto e Francisca Gomes Netto. Ainda pequena, Zuzu se mudou para Belo Horizonte, onde estudou no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e cursou o ginásio no Colégio Sagrado Coração de Jesus.
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Desde pequena, Zuzu desenvolveu o interesse pela costura e pela moda. Ela observava a mãe costurando e pedia os retalhos de tecidos para confeccionar roupas para suas bonecas. Aos 18 anos, após se mudar para o Rio de Janeiro, Zuzu passaria a trabalhar como costureira.
Há 12 anos, em 8 de abril de 2013, falecia Margaret Thatcher — e o povo britânico saiu às ruas para celebrar. Hoje no @operamundi, falamos sobre o legado pernicioso da "Dama de Ferro" — e explicamos por que o seu funeral virou uma festa.
Famosa por seus discursos e frases de efeito demonizando o Estado e os beneficiários de programas sociais do governo, Thatcher fez carreira como política, passando 54 anos de sua vida sendo sustentada com fartas regalias pelo Estado.
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Ingressou na política em 1950, após se filiar ao Partido Conservador. Em 1959, foi eleita representante da Câmara dos Comuns, onde frequentemente se posicionou à direita do partido — nomeadamente quando votou a favor da restauração do espancamento como castigo judicial.
Há 57 anos, Martin Luther King era assassinado. Pastor batista e militante do movimento pelos direitos civis, King foi um dos grandes expoentes da luta contra as leis segregacionistas dos Estados Unidos. Contamos sua história hoje, no @operamundi
Martin Luther King nasceu em Atlanta, Geórgia, filho de Alberta e do reverendo Michael King. Cresceu em uma sociedade marcada pela segregação e pelo ódio racial, sob a vigência das Leis de Jim Crow, que submetiam os afro-americanos à condição de cidadãos de segunda classe.
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Vinculou-se à vida religiosa por influência da família. Após concluir o ensino secundário, ingressou no curso de sociologia da Morehouse College, instituição vinculada à comunidade afro-americana. Também cursou o Seminário Teológico Crozer, graduando-se em 1954.
Criada para servir como um centro estratégico da defesa nacional, a Escola Superior de Guerra se consolidou como um instrumento da subordinação dos militares brasileiros aos interesses dos EUA. Falamos sobre isso no artigo de hoje para o @operamundi
Sediada no Rio de Janeiro, a Escola Superior de Guerra (ESG) foi fundada em agosto de 1949, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. A criação da ESG ocorreu em meio ao processo de reconfiguração do cenário geopolítico internacional, marcado pela emergência da Guerra Fria.
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Com o fim da 2ª Guerra, o governo norte-americano buscou reforçar seu domínio político e ideológico sobre a América Latina — e o Brasil, por seu tamanho, população, recursos naturais e potencial econômico, era visto como peça-chave para assegurar o sucesso dessa empreitada.