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O CARNAVAL ASSUSTA
Num mundo cada vez mais individualista, o Carnaval assusta porque afronta a decadência da vida em grupo, reaviva laços contrários à diluição comunitária, fortalece pertencimentos e sociabilidades e cria redes de proteção nas frestas do desencanto. (1/6)
A festa é coisa de desocupados? Fale isso para as trabalhadoras e trabalhadores da folia. O carnaval é também, para muita gente tratada como sobra vivente, alternativa de sobrevivência material, afetiva e espiritual. (2/6)
Escolas de samba, por exemplo, surgem como instituições comunitárias das populações negras. Possuem ainda, mesmo com todos os dilemas, setores orgânicos que a partir delas elaboram sentidos de mundo. (3/6)
Por isso afirmei que o carnaval está sob ataque faz tempo: os higienistas da casa grande querem eliminá-lo, os tubarões do mercado querem gentrificá-lo, os mercadores da fé querem atrelá-lo ao imaginário do pecado.
(4/6)
O Brasil não inventou o Carnaval, é certo, mas o povo brasileiro o vivenciou de tal forma (na pluralidade de suas manifestações) que ocorreu o inverso: foi o Carnaval que inventou um país possível e original, às margens do projeto de horror que nos constituiu. (5/6)
É perturbador para certo Brasil - individualista, excludente, raivoso, intolerante - lidar com uma festa coletiva, inclusiva, alegre, diversa, rueira.
Tenso e intenso como lâmina e flor, o Carnaval assusta porque nos coloca diante do assombro da vida.

l.a simas
(6/6)

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Jan 31
Amizades, em virtude de dois fios que fiz sobre a bateria da Portela no ensaio técnico de domingo e de um vídeo do mestre Vitinho, do Império Serrano, me sugeriram um fio maior sobre toques de orixás para quem não conhece o tema e quer ter noções basicas. Aí vai. (1/18)
O atabaque, em geral, é feito em madeira e aros de ferro que sustentam o couro. Nos candomblés, os três atabaques mais comuns são o rum, o rumpi e o lé. O rum, o maior, possui o registro grave; o rumpi, o do meio, possui o registro médio; o lé, o menor, é mais agudo. (2/18)
Os tambores executam, ao longo do xirê - a festa - , uma série de toques que devem estar de acordo com os orixás que são evocados em cada momento. Para auxiliar os tambores, utiliza-se um agogô ou gã; em algumas casas tocam-se também cabaças e afoxés. (3/18)
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Jan 30
Pra quem gosta de tambor: esse toque que chama o início do ensaio da Portela é o Opanijé e é dedicado a Omolu, o Senhor que reina sobre a doença e a cura. Nos terreiros, Omolu dança o opanijé com as mãos espalmadas, esticando e recolhendo os braços. (1/5)
As mãos espalmadas se alternam, com as palmas virando para cima e para baixo o tempo todo. Segundo os mais velhos, as palmas voltadas para cima significam a vida e a cura. Para baixo, a doença e a morte. A saga do livro "Um defeito de cor" começa no Daomé. (2/5)
Omolu foi o Rei dos Tapas que chegou ao território Mahi (no Daomé) para viver e reinar. O opanijé da Portela me parece um pedido de licença ao rei, para que a saga de Kehinde seja contada. Não resisto, porém, a imaginar que o opanijé tem um sentido que talvez nem a Portela (3/5)
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Jan 6
Vocês sabiam que o Dia de Santos Reis está na origem do Bafo da Onça, instituição das mais importantes na história do carnaval da cidade? Aliás, o carnaval carioca, oficialmente, deveria começar hoje por causa do Bafo. Segue o fio.
O Bafo foi fundado dentro de um botequim do Catumbi, pertinho da Marquês de Sapucaí, em 1956. Seu principal fundador foi um carpinteiro chamado Tião Maria; sujeito que, no carnaval, formava um bloco do eu sozinho e costumava sair pelas ruas do bairro fantasiado de onça. (+)
Seu Tião tinha o hábito, depois de um período contrito, de começar a tomar umas biritas no Dia de Reis. Para ele, devoto dos Santos Reis a data marcava o fim do Natal e o início de fato do carnaval. Os trabalhos só eram encerrados na Quarta-feira de Cinzas. (+)
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Jan 4
Digo há muito tempo o seguinte: há um preconceito contra cantores e compositores de samba de enredo na música popular brasileira e, inclusive, na historiografia do samba. É como se o samba de enredo fosse um gênero à parte, circunstancial aos desfiles, menor. (segue)
Durante os anos de pesquisa para o livro Samba de enredo: História e arte (com Alberto Mussa), cansei de ver em jornais de época Silas de Oliveira definido como "grande compositor DE SAMBA DE ENREDO". Nunca como "um grande compositor da música brasileira". Por quê? (+)
Exemplifico. Dominguinhos do Estácio era definido com grande cantor de samba de enredo. Sim, mas Dominguinhos era um grande cantor. Ponto. O samba de enredo é um gênero maior da música popular urbana do mundo. Épico, quando o padrão da música urbana é o lírico. (+)
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Nov 21, 2023
Amizades, um fio sobre a proibição do jogo do bicho. Como estou mofando no aeroporto, dá pra consultar minha anotações e fazer.
A proibição se concretiza pelo Decreto n° 113, de abril de 1895; menos de três anos depois do início da atividade no zoológico de Vila Isabel. (+)
De jogo lícito, criado no zoológico com autorização da Intendência Municipal, o sorteio passou a ser muito rapidamente visto como um sintoma de degeneração dos costumes, vício destruidor de famílias e coisas do tipo. (+)
Descrito inicialmente como uma diversão das melhores famílias cariocas em um jardim dedicado ao embelezamento da cidade, logo passou a ser descrito como um vício capaz de transformar o zoológico num “valhacouto de desclassificados” e “antro da jogatina”. (+)
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Nov 6, 2023
Me perguntaram aqui, por conta da série "Vale o escrito: a guerra do jogo do bicho", como funciona o jogo propriamente dito. Não é tão simples, mas dá para explicar o básico. Segue o fio. (+)
São 25 bichos. Cada um representa um grupo com 4 dezenas, de 00 a 99. O avestruz é grupo 1, dezenas 01,02,03,04. A águia é grupo 2, dezenas 05, 06,07,08. O grupo 3 é do burro, dezenas 09,10,11,12. A borboleta é grupo 4, dezenas 13,14,15,16. Por aí vai, até o gr 25 (vaca). (+)
E a centena? É só adicionar um número de 0 a 9 antes das dezenas. Se 13 é dezena da borboleta, 813 é centena da borboleta. Se 12 é dezena do burro, 712 é centena do burro. O milhar segue o mesmo padrão, com a diferença de que é preciso acrescentar dois números, de 00 a 99. (+)
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