Thread by @FernandoHortaOf

Em 2018 eu participei de alguns seminários nos EUA que tentavam entender o que tinha acontecido em New Orleans. A grande tragédia dos EUA que encontrou pouca ou nenhuma ação emergencial do Estado para salvar vidas ou mesmo minorar danos. +

A pergunta era como no país mais rico do mundo, com acesso a toda infraestrutura, satélites de pesquisa, monitoramento e o maior exército do mundo, a tragédia do furacão Katrina tinha sido tão devastadora.
A causa apontada eram falhas nas políticas públicas. Em quatro áreas. +

a primeira área apontada foi a gestão da informação. Tanto as informações antes do ocorrido, como as informações durante e depois. Tanto informações para a população (também referencial no tempo: antes, durante e depois) como informações para os tomadores de decisão e no campo. +

A segunda área apontada com falha tinha sido uma lacuna de ferramentas de ação e cooperação entre os entes federativos. União, Estados e municípios simplesmente não tinham - nos EUA - até aquele momento padrões de ação, decisão e trabalho conjunto.

Ao fim e ao cabo, não sabiam o que fazer com os recursos. Ninguém agia por falta de visão clara do que fazer e quem coordenava o quê. A democracia é reconhecidamente lenta para tomar decisões e ninguém havia se programado para criar formas mais rápidas.

O terceiro ponto de problema era a própria divisão do federalismo norteamericano e a enorme autonomia que têm os territórios (sejam condados, municipalidades ou estado) frente aos entes federais. Era preciso criar um mecanismo de federalização das ações? ou fortalecer os estados?

O quarto ponto era interessante. A microgestão dos recursos. E é aqui que acho que deveríamos aprender. Do ponto de vista do Estado só existem duas avaliações para as coisas: está apto ou não apto ao uso. De bombas, ruas, esgotos ou qualquer coisa. +

Para o Estado não há motivo intermediário de interdição do recurso. Exemplo: se eu tenho uma bomba para retirar água, ela está "apta" se está em condição de uso em momento de tragédia ou "não apta" caso contrário. Não importa se está "em licitação", "aguardando tal coisa" ...

E é aí o problema ... pq o estado neoliberal, cada recurso tem uma infinidade de condições a depender do preço. Porque as vidas das pessoas são precificadas (e frequentemente valem pouco) e daí o governante neoliberal sempre "mede" o custo das coisas não usando essa microgestão.

No caso do RS, por exemplo, o DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgoto) teve superávit no ano passado, na ordem de centenas de milhões de reais. Na contabilidade pode parecer um "estado bem administrado". Mas isso esconde o fato de que não investiram no básico para segurança

Agora, o governador e o prefeito aparecem para dar desculpas do "custo" de se colocar bombas hidráulicas blindadas, de se manter um departamento de estudos climáticos (como era a SEMA, acabada em 2019) ou na manutenção das comportas da Mauá.
Tudo era "muito caro".

Desde a crise de 2008, passando pela pandemia de 2020-2022 até agora a crise climática, fica claro que o neoliberalismo não serve para administrar nada. Qual o preço das vidas perdidas em Nova Orleans? E em Porto Alegre? Qual o preço da cidade destruída?

O livro do meu orientador nos EUA "ReNew Orleans" () advoga exatamente isso. E mostra que a reconstrução de New Orleans foi ainda mais terrível para as pessoas mais pobres. Um aviso importante para porto alegre e arredores. O neoliberalismo não descansa.amazon.com.br/Renew-Orleans-…

Espero que já tenhamos bravos e corajosos membros dos Ministérios Públicos Estaduais e Federais verificando as contas de TODOS OS PREFEITOS e governadores do Brasil para que se aprenda com Porto Alegre. E que o prefeito Melo e o governador Leite sejam processados criminalmente.

Espero também que o presidente Lula ordene uma força tarefa de verificação das mesmas coisas imediatamente. Obrigando aos administradores investir em pesquisa, previsão e prevenção de desastres em todo o Brasil. +

O neoliberalismo do corte de gastos não pode sobreviver com tanta gente morta, afogada, alagada e desamparada por conta exatamente das escolhas e das políticas de governantes irresponsáveis.
Antes da solidariedade, vem a responsabilidade.