Há algumas semanas vinha dizendo que a retirada de cena de Biden era fundamental para que os Democratas mantivessem os caminhos abertos nas corridas para a Casa Branca e o Congresso.
A nomeação de JD Vance como vice e a parafernália da convenção do Partido Republicano haviam reposto os holofotes em Trump em momento delicadíssimo.
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Ao contrário do que diziam nas “análises” brasileiras, enfatizei que o campo ainda estava muito aberto, mas que a janela iria se fechar caso permanecessem na inércia, perpetuando o impasse entre Biden e a cúpula do partido. Alertei que a cúpula Democrata estava ciente de que a coalizão que elegeu Biden em 2020—a inusitada união entre distintas camadas da sociedade—estava prestes a ruir.
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Por outro lado, argumentei que os Democratas teriam uma oportunidade única logo que terminasse a convenção do Partido Republicano: caso Biden anunciasse sua saída no último domingo, os Democratas voltariam a dominar o noticiário por um bom motivo. Enfatizei que precisavam disso para retirar de Trump-Vance o controle da narrativa política.
Foi o que aconteceu, sob a influência e liderança de Nancy Pelosi, o nome mais influente do Partido Democrata e o pesadelo de Trump desde que ele ocupou a Casa Branca.
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Ao sair e passar o bastão para Kamala Harris, Biden preserva o seu legado político de várias décadas, entrega o Partido para uma nova geração, e reabre completamente o jogo, tirando de Trump o controle que parecia ter conquistado.
Timing é tudo em matéria de política. O atentado contra Trump já está de lado, a novidade da convenção Republicana é notícia velha.
Fatos políticos mudam rapidamente com o fato histórico da saída de Biden, como assistiremos nas próximas semanas.
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Os Republicanos agora jogam com um Rei coroado em franco desgaste e com o engodo que é Vance. Dois homens tentando reanimar uma narrativa de retrocessos tendo como alvo de suas investidas as mulheres e as minorias.
Para vencer precisam conquistar eleitores fora da base MAGA que encabeçam.
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Do outro lado, Kamala Harris recém-endossada por Biden (e apoiada por Pelosi) surge em cena como a ex-promotora de língua afiada—uma mulher não-branca com características semelhantes às da esposa de Vance.
Ela personaliza a narrativa da luta contra os retrocessos de Trump e do Projeto 2025 abraçado por Vance.
Mais que isso…
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Harris reinjeta a dose de entusiasmo necessária entre um eleitorado que gosta de Biden, mas reconhece sua fragilidade.
Sem entusiasmo não se vence uma eleição tão polarizada.
Com entusiasmo, os esforços de Stacey Abrams e outros para reconstruir a coalizão de 2020 renderão bastante.
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Tenho 2 “calls”:
1. Harris será a nomeada, inclusive para garantir a saída honrosa de Biden.
2. A aula de política e de timing político dos Democratas nesse último domingo muda o jogo e merece destaque especial. No ato, comunicam a unidade partidária, a sanha por vencer, a renovação do Partido, e a ousadia de rechaçar o que poderia ter sido um engessamento desastroso.
Tudo isso foi analisado em 5 lives que fiz no meu canal do YT e na conversa com @KennedyAlencar e @zerotoledo.
Apertem os cintos porque a eleição norte-americana será eletrizante até novembro.
Deixo essa análise até meu retorno em meados de agosto.
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Após 1 dia de campanha Harris ganha dos delegados/representantes na convenção votos suficientes para sua nomeação.
Mark Kelly, Senador pelo Arizona, surge como possível VP. Kamala precisa de alguém dos estados em disputa na sua chapa para solidificar a coalizão Democrata. São esses estados: Pennsylvania, Arizona, Michigan, Georgia. Contudo, a leitura é de que ela precisa de um homem branco na chapa…
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Amanhã (quarta), a comissão dos Democratas dará início ao “roll call”, a chamada virtual de votos para a candidatura de Kamala. Essa chamada havia sido adiada para agosto enquanto Biden era ainda candidato. A adesão a Kamala a tornará “presumptive nominee” para que possa iniciar formalmente sua própria campanha com a estrutura montada para Biden.
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Desde a saída de Biden milhões e milhões de dólares foram doados para Kamala.
Muita gente esquece que a Política se faz com entusiasmo. Na falta dele, a Política se faz com indignação. Trump se move no campo da indignação; Kamala no do entusiasmo.
A corrida presidencial norte-americana virou o que deveria ser: o embate entre entusiasmo e indignação.
Devo estar com @KennedyAlencar e @zerotoledo hoje às 13h30m do Brasil (18h30m p/ mim).
What happened yesterday was nothing short of expected. Anyone who is an avid follower of politics, especially of Latin American newcomers like Bolsonaro back in 2018 and Milei in 2023, would have seen the writing on the wall.
A newly-elected president with the slimmest presence in Congress tries his hand at a "Reform Everything" approach without a sniff of negotiation.
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This is Argentina, the land of powerful provincial governors who will not be undercut no matter how exuberant the presidential sideburns. An experienced politician would have known to at least have a mate with some of them. Not Milei. They're "La Casta," and that's that.
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Well, La Casta, if it even exists, is getting hammered by "La hiper" -- hyperinflation, the exterminator of pocketbooks and livelihoods. To be blind to the political economy of hyperinflation is to seal one's own fate as the political leader of one of the most complicated countries on the planet.