Sabemos que o SARS-CoV-2 (vírus da Covid-19) pode levar a sequelas que prejudicam o próprio sistema imunológico.
Mas, recentemente, um artigo alegou que o vírus pode estar causando um tipo de imunodeficiência adquirida. Isso seria AIDS?
O fio 🧶
Para quem tá sem tempo de ler:
- AIDS é uma síndrome provocada pelo agravo da infecção pelo HIV (vírus da imunodeficiência adquirida)
- Até o momento, as complicações graves da Covid-19 sobre o sistema imune parecem se valer de outros mecanismos
- Não se deve minimizar a Covid-19
Um pouco de contexto: desde o SARS-CoV (que causou um grande surto entre 2002 e 2004), sabemos da potencialidade que vírus como estes tem de interagir com células imunológicas como linfócitos, e causar prejuízos (como baixa contagem, ou linfopenia) .pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/12816821/#:~:t…
E alguns pacientes com Covid-19 também podem apresentar linfopenia (além de outras alterações no sistema imunológico), o que (somado a outros fatores) facilita a persistência do vírus no organismo, trazendo riscos para agravos e sequelas nature.com/articles/s4159…
Paralelo a isso, a linfopenia (sobretudo a baixa contagem de linfócitos T CD4 ou auxiliares) é uma consequência importante da infecção pelo HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e que pode levar a AIDS, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
Bom, mas se a Covid-19 pode causar linfopenia...
E o HIV pode causar linfopenia... e isso pode levar a AIDS...
Então a Covid-19... pode levar a AIDS?
Calma, é um pulo muito grande e eu te explico nos próximos tuítes
Antes de tudo: o artigo usa abordagens por inteligência artificial para buscar relações entre alguns genes presentes no SARS-CoV-2 com proteínas implicadas na manifestação clínica da imunodeficiência. Ou seja, não tem poder ou desenho experimental para fazer relações causais
Segundo, AIDS é uma síndrome associada a infecção pelo HIV. E ela vai além da linfopenia, trazendo um conjunto de sintomas/condições definidoras. A Covid-19 pode levar a danos graves sobre o sistema imune, mas parece que por mecanismos diferentes da AIDS mayoclinic.org/diseases-condi…
Alguns mecanismos foram propostos para prejuízos imunológicos pela Covid-19, e que podem também levar a sequelas, são: 1. Sinais de disfunção e exaustão imunológica; 2. Ativação persistente de células imunológicas; 3. Produção de anticorpos autoimunes;
Nesse fio por exemplo, falo das alterações imunológicas que a infecção pode induzir no organismo, mesmo que essa infecção tenha acontecido há muito tempo, a partir dos autoanticorpos de pacientes com Covid longa
O artigo em questão assume coisas a partir de análises computacionais, mas que precisam ser confirmadas por ensaios. E reforço: isso não é minimizar danos que esse vírus causa no organismo. Eu devo falar sobre isso todo mês desde 2020.
Outra alegação: "como observamos durante +2 anos de vacinação c/ proteína S, pessoas com altos títulos de anticorpos contra ela estão sendo hospitalizadas c/ linfopenia" não se sustenta.
Eu quero reforçar mais uma vez: Covid longa é algo extremamente sério e precisa de mais estudos, visibilidade e políticas públicas
Não podemos seguir minimizando os riscos da Covid-19
Mas também não podemos cair em alegações que não tem fundamento/validação.
Nós temos que seguir trazendo visibilidade e nos posicionando contra a inércia em políticas públicas para a Covid longa a partir de dados com qualidade, robustez, validação e fundamento. Se não fizermos isso, enfraquece essa importante e necessária luta.
E ficam questionamentos: sabendo que as sequelas podem ser graves e tendo uma medida de saúde pública que soma dados mostrando benefício:
- por que não ampliamos a vacinação para todos?
- por que não estamos melhorando a qualidade do ar?
- por que não estamos falando mais disso?
A @anitadash fez um fio alertando para esses vários prejuízos que a COVID traz e acho muito sensato relembrar a todos: a pandemia não acabou, ainda que as atitudes atuais façam parecer que sim.
Precisamos de ações concretas sobre a COVID longa
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Existe um vírus que se espalha fácil, traz risco tanto durante a infecção (e especialmente com comorbidades, ex: asma), quanto traz risco para sequelas em diferentes tecidos, por tempo indeterminado
O que vimos abaixo é a coroação da banalização da COVID-19.
Se tu achou absurdo um atleta competir nessas condições, te digo que a situação no mundo é muito complicada também.
Não estamos testando adequadamente, não estamos vacinando suficientemente (e não falo só o fato da vacinação não ser universal - o que é uma preocupação)
Não estamos encarando a COVID-19 como ela é: uma pandemia.
Se a situação acima causa revolta e preocupação com a situação do atleta, ela é um produto da banalização de uma doença séria, que segue entre nós e que fingir o contrário não fará ela sumir.
Estudos com imunoterapias para câncer vem crescendo no mundo, aumentando as possibilidades de controle e até remissão de diversos tipos de câncer
Hoje falarei da CIMAvax, uma vacina voltada para tratar um dos cânceres mais comuns: câncer de pulmão de células não pequenas 🔻
O câncer de pulmão de células não pequenas é o tipo mais comum dos cânceres de pulmão, os quais lideram entre os cânceres de maior ocorrência de casos e óbitos nos últimos anos
Este câncer surge a partir de células anormais nos pulmões, que acumulam mutações que permitem se reproduzir rapidamente e fora de controle. Suas causas são múltiplas, mas entre os fatores de riscos modificáveis, o tabagismo é o principal.
Brasil confirma mortes por febre do Oropouche, algo ainda não registrado* no mundo
2 mortes (mulheres abaixo dos 30 anos, sem comorbidades) foram registradas na Bahia. Em 2024, tivemos mais de 7 mil casos em 20 estados do país, e esse número pode ser maior, nos próximos anos 🔻
* é importante fazer o adendo: apesar do registro ter sido detectado agora, não quer dizer que não houve outros casos anteriores, de fato. Subnotificação, sobreposição de sintomas com outras doenças (ex.: Dengue) e baixa testagem dificultam o registro correto das causas
Fiz um fio comentando sobre a doença, como é transmitida, sintomas e a relação que a febre do Oropouche tem com a crise climática neste fio abaixo.
A testagem para o vírus (OROV) foi ampliada em 2023, e isso pode ter dado mais visão da realidade do país
É uma questão de tempo até um surto maior ocorrer.
O @CDCgov confirmou, essa semana, 4 casos humanos de gripe aviária (H5N1) no Colorado🇺🇸, com a possibilidade de um 5º caso que ainda será confirmado, após exposição a aves infectadas em granja 🔻
Segundo o @CDCgov "todos os trabalhadores que testaram positivo relataram doença leve. Os trabalhadores relataram conjuntivite e lacrimejamento, além de sintomas mais típicos da gripe, como febre, calafrios, tosse e dor de garganta/coriza"
Porém, H5N1 é um vírus perigoso...
Primeiro, a partir dos dados que temos dos últimos anos, sua letalidade é alta.
Segundo, o H5N1 é capaz de infectar o encéfalo🧠 e parece fazer isso com mais frequência que outros influenza
Gripe aviária: novos dados apontam que o vírus H5N1 responsável pelo surto em bovinos nos EUA apresenta adaptações capazes de facilitar a infecção e transmissão em mamíferos.
Já passou da hora de reconhecermos o crescente risco pra saúde pública dessa doença - fio🔻
RESUMO DOS ACHADOS:
1⃣a cepa de H5N1 que infectou bovinos (🐄-H5N1) pode induzir doença grave após ingestão oral ou infecção respiratória;
2⃣em ambos os casos, pode levar à disseminação sistêmica do vírus para diferentes tecidos do corpo
3⃣🐄-H5N1 pode ser transmitido de roedoras lactantes para seus filhotes, mas não para animais adultos com os quais tenham contato direto
4⃣uma possível explicação: em furões, o ➡️🐄-H5N1 não foi capaz de se transmitir de forma eficiente pela via respiratória (gotículas)
Em 2024, o Brasil viu uma epidemia de dengue sem precedentes na sua história. As regiões das Américas concentraram a maioria dos casos, com destaque para o Brasil, com mais de 80% dos casos registrados
O que nos levou a isso? Fio do dia 🔻
O dado acima foi compartilhado pelo @ECDC_EU reforçando a grande ameaça à saúde pública que as arboviroses (vírus transmitidos por insetos) trazem, com riscos para grandes epidemias, impactos socioeconômicos e sobre o sistema de saúde
Até abril de 2024, a @WHO registrou mais de 7,6 milhões de casos suspeitos de dengue em todo o mundo, com mais de 3 mil óbitos. Aumento ocorreu especialmente na região das américas (90% dos casos notificados), com destaque para o Brasil (+80% dos casos)