Nesta terça-feira, o mundo conhecerá o resultado das eleições americanas de 2024. E este é um guia com tudo o que você precisa saber para acompanhar a disputa.
1. Se você acabou de acordar de um coma, tome nota: os americanos escolherão o próximo presidente e vice-presidente do país.
Tecnicamente, há diversos candidatos concorrendo – como Jill Stein, do Partido Verde, Claudia De la Cruz, do Partido pelo Socialismo e Libertação, Chase Oliver, do Partido Libertário ou Cornel West, que concorre como independente – mas os únicos candidatos com condições de vencer são: Donald Trump, do Partido Republicano, e Kamala Harris, do Partido Democrata. Toda cobertura da imprensa é dedicada aos dois.
Tim Walz, governador de Minnesota, é o candidato a vice de Kamala. JD Vance, senador por Ohio, é o candidato a vice de Trump.
2. Não vencerá a eleição quem ganhar no voto popular. Vencerá quem ganhar no Colégio Eleitoral.
As eleições presidenciais americanas são únicas porque, embora o presidente seja escolhido para governar o país, a eleição é estadual. Cada estado organiza as suas próprias votações e define as regras para o processo.
Isso acontece num sistema conhecido como Colégio Eleitoral. De uma forma bastante resumida:
- Os candidatos disputam os 538 pontos do Colégio Eleitoral (na verdade são "delegados", mas vou chamar de “pontos” para não causar confusão).
- Cada estado tem um número de pontos proporcional ao tamanho da sua população.
- A regra é: ganha os pontos do estado quem for o mais votado nele. Venceu na California? Ganhou os 54 pontos do estado. Foi o mais votado na Florida? Fez 30. E assim por diante.
- Há duas exceções: Maine e Nebraska. Nesses estados, a distribuição dos pontos é diferente. O Maine oferece 4 pontos no Colégio Eleitoral (2 ao vencedor geral do estado e outros 2 para os seus dois distritos congressionais). O Nebraska oferece 5 pontos, num sistema semelhante (2 ao vencedor geral do estado, e os outros 3 para os seus três distritos congressionais).
- É eleito presidente quem somar pelo menos 270 pontos no Colégio Eleitoral.
3. As pessoas já estão votando, e nós podemos prever com precisão o que acontecerá na imensa maioria dos estados.
Nos Estados Unidos é possível votar antecipadamente de forma presencial ou por correio. A eleição presidencial deste ano já tem dezenas de milhões de votos contabilizados. Os primeiros estados que permitiram os primeiros votos antecipados foram Minnesota, South Dakota e Virginia – e eles começaram a votação no dia 20 de setembro.
É altamente provável que Kamala Harris vença nesses estados (o número ao lado representa a quantidade de pontos no Colégio Eleitoral que cada um deles gerará):
Esses estados darão 226 pontos no Colégio Eleitoral para Kamala Harris.
É altamente provável que Donald Trump vença nesses estados (o número ao lado representa a quantidade de pontos no Colégio Eleitoral que cada um deles gerará):
Nos últimos meses, Trump e Kamala concentraram as suas campanhas nesses estados. Vencer neles é indispensável para se tornar presidente.
**Se você reparou, há dois asteriscos em Iowa. Iowa é um estado vermelho. Trump ganhou em Iowa em 2016 com 10 pontos percentuais de diferença, e em 2020, com 8. Nesse sábado, o instituto de pesquisa mais conceituado do estado – o que tem a melhor média de acerto nas eleições (Selzer & Co, da pesquisadora Ann Selzer) – publicou a sua pesquisa final no jornal Des Moines Register, sinalizando vitória para Kamala Harris em Iowa (47x44). Essa é uma previsão extremamente inesperada porque, até então, Iowa sequer estava sendo considerado um swing state (qualquer resultado abaixo de +5 para Trump é uma notícia ruim para os republicanos).
A pesquisa é tão fora da curva que, se Trump confirmar a vitória em Iowa, Ann Selzer corre o risco de jogar na lama a sua reputação – ela é bastante respeitada nesse mercado (já foi considerada a melhor pesquisadora dos Estados Unidos pelo 538, e elogiada pelo próprio Donald Trump). Se Selzer estiver certa, essa é uma notícia muito ruim para Trump: como o eleitorado de Iowa tem um perfil demográfico e socioeconômico relativamente parecido com o de swing states vizinhos como Pennsylvania, Michigan e Wisconsin (longas áreas rurais, muitas indústrias tradicionais e uma população predominantemente branca da classe trabalhadora), uma vitória em Iowa indica uma tendência de vitória democrata nesses swing states. De qualquer forma, certa ou errada, recomendo olhar com atenção para os números de Iowa na terça-feira.
4. Kamala Harris sabe qual é o caminho da vitória. E ele é bastante factível.
Se Harris vencer na Pennsylvania, no Michigan e em Wisconsin, ela será eleita. A conta é simples:
226 pontos dos estados tradicionalmente democratas
+ 19 pontos da Pennsylvania
+ 15 pontos do Michigan
+ 10 pontos de Wisconsin
= 270 pontos
Neste momento, as pesquisas indicam que Kamala tem uma pequena vantagem no Michigan e em Wisconsin (dentro da margem de erro), e que há um empate na Pennsylvania.
Todas as atenções estarão voltadas para a Pennsylvania, onde há 19 pontos em jogo. Elon Musk se mudou para o estado para fazer campanha para Trump porque entende que este é o lugar mais importante da disputa.
Há uma curiosidade sobre estes estados: a última vez que os eleitores da Pennsylvania, do Michigan e de Wisconsin elegeram candidatos presidenciais diferentes foi em 1988 (quando George H.W. Bush venceu na Pennsylvania e no Michigan, mas perdeu em Wisconsin). Desde então, esses três estados têm votado consistentemente no mesmo candidato: os candidatos democratas. A exceção foi a eleição de 2016, quando Donald Trump venceu nos 3. Os democratas voltaram a conquistá-los em 2020, na eleição de Joe Biden.
Há ainda outras combinações possíveis para Harris ser eleita. Vou dar um exemplo factível (segundo as pesquisas):
226 pontos dos estados tradicionalmente democratas
+ 16 pontos de North Carolina
+ 15 pontos do Michigan
+ 10 pontos de Wisconsin
+ 6 pontos de Nevada
= 273 pontos
Como disse anteriormente, neste momento, as pesquisas indicam que Kamala Harris está vencendo por uma margem apertada no Michigan e em Wisconsin. Elas também dizem que a eleição está empatada em Nevada, e que Trump está vencendo por uma margem apertada em North Carolina.
5. Donald Trump sabe qual é o caminho da vitória. E ele também é bastante factível.
Segundo as pesquisas, Trump está liderando no Arizona por mais de 3 pontos percentuais. Ele também vence por uma margem de 1 ponto em North Carolina e na Georgia. A eleição está empatada em Nevada e na Pennsylvania. Tudo dentro da margem de erro.
Se Trump vencer nos estados de Georgia + Arizona + North Carolina, ele provavelmente fará 262 pontos.
Se Trump vencer nos estados de Georgia + Arizona + Pennsylvania, ele provavelmente fará 265 pontos.
Se Trump vencer nos estados de North Carolina + Georgia + Arizona + Nevada, ele provavelmente fará 268 pontos.
Todas essas combinações são insuficientes para torná-lo presidente.
Considerando os cenários possíveis apontados pelas pesquisas, Trump terá que vencer nessas combinações para conquistar o mínimo necessário de pontos para ser eleito:
Pennsylvania + North Carolina + Georgia = 270 pontos
Pennsylvania + Georgia + Arizona + Nevada = 271 pontos
Pennsylvania + North Carolina + Arizona + Nevada = 271 pontos
Trump também poderá alcançar o mínimo necessário para ser eleito, sem precisar ganhar na Pennsylvania, vencendo em estados onde as pesquisas apontam uma vitória apertada de Kamala. Por exemplo:
North Carolina + Georgia + Arizona + Wisconsin = 272 pontos
North Carolina + Georgia + Arizona + Michigan = 277 pontos
Todas essas, segundo as pesquisas, são vitórias bastante factíveis.
6. Esta é uma eleição em que o perfil educacional dos eleitores poderá decidir o presidente eleito.
Os eleitores americanos estão divididos de inúmeras maneiras – homens e mulheres, brancos e negros, idosos e jovens, moradores do interior e das metrópoles. Mas dá para dizer que a disparidade educacional é o fator mais marcante da política americana.
A melhor maneira de prever como alguém votará na eleição deste ano é pelo nível de educação. A base de apoio do partido Republicano não é apenas a de eleitores homens, brancos, cristãos, que vivem no interior, mas sobretudo de eleitores sem acesso a um diploma universitário.
Em 2020, Trump obteve o apoio de cerca de 2/3 dos eleitores brancos sem diploma universitário, mas perdeu entre os eleitores brancos com ensino superior.
Em geral, estados com maior número de eleitores com ensino superior tendem a ser democratas e estados com menor número de eleitores com ensino superior tendem a ser republicanos.
Nos Estados Unidos, o grupo de pessoas com graduação universitária controla cerca de 3/4 da riqueza do país, mas representa apenas 40% da população.
Isso ajuda a entender por que, em linhas gerais, os eleitores de maior renda votam nos democratas. Em estados azuis, como Massachusetts e Maryland, a renda média anual das famílias ultrapassa os US$ 100 mil. Em estados vermelhos, como Mississippi e Louisiana, a renda média anual das famílias está abaixo da média nacional (US$ 81 mil), entre US$ 55 mil e US$ 60 mil anuais.
Não espanta que Pennsylvania, Michigan, Wisconsin, Georgia, North Carolina e Arizona sejam swing states: os eleitores destes estados estão muito próximos da média educacional americana. Entre os swing states, a exceção é Nevada, com um nível educacional abaixo da média nacional.
Se os eleitores com diploma universitário decidirem votar numa proporção maior do que em 2020, Kamala Harris provavelmente será eleita. Se mais eleitores sem diploma universitário se engajarem em votar, maiores são as chances de Donald Trump ser eleito.
7. Esta é uma eleição em que a participação das mulheres poderá decidir o vencedor.
O voto não é obrigatório nos Estados Unidos. Por conta disso, convencer os eleitores a participar do processo eleitoral é o primeiro desafio dos partidos políticos.
Segundo as pesquisas eleitorais, Donald Trump lidera (com folga) entre os homens, e Kamala Harris lidera (com folga) entre as mulheres. Mas é preciso convencer esses grupos a votarem para que essa diferença tenha efeito.
Esse é o cenário nos swing states, segundo a mais recente pesquisa Quinnipiac (não há pesquisa nos estados de Arizona e em Nevada):
Até este momento, 74 milhões de americanos votaram antecipadamente nas eleições de 2024. O número é equivalente a 47% do total de votos antecipados em 2020, mas é importante lembrar que em 2020 houve uma alta participação do voto antecipado por causa da pandemia.
Em 2020, cerca de 60% dos democratas e 32% dos republicanos votaram pelo correio. Isso aconteceu, em parte, porque os democratas estavam mais presentes nas grandes cidades e assumiam evitar aglomerações por causa da pandemia.
Como a eleição de 2020 foi atípica, o melhor exemplo recente é a eleição de 2016, quando houve 58 milhões de votos antecipados (16 milhões a menos do que até aqui, em 2024).
Nessa eleição, até este momento, as mulheres estão mais engajadas em votar que os homens.
Na Pennsylvania, no Michigan, na Georgia e em North Carolina, há uma diferença de pelo menos 10 pontos percentuais entre homens e mulheres na votação antecipada. A maior diferença está acontecendo na Pennsylvania, onde, até quinta-feira, as mulheres representavam 56% da votação antecipada, contra 43% dos homens.
Se os resultados apontados pelas pesquisas não forem capazes de capturar uma maior participação feminina nessa eleição, Kamala Harris provavelmente vencerá a eleição impulsionada por esse voto. Se as mulheres votarem numa proporção menor que em 2020, e os homens comparecerem em massa no dia 5, Trump provavelmente será eleito.
Na reta final, a campanha democrata está concentrando as suas atenções no público feminino. E isso pode fazer efeito. Se lembra da pesquisa da Ann Selzer, publicada nesse sábado, dando vitória para Kamala em Iowa? Ela diz que isso está acontencendo graças ao voto das mulheres independentes (nem republicanas, nem democratas) que estão declarando apoio à Kamala no estado por uma margem de 28 pontos sobre Trump. Falarei mais sobre esse fenômeno no tópico a seguir.
8. Haverá outras eleições em jogo nesse terça-feira. E essas eleições paralelas poderão ajudar indiretamente a definir o presidente.
Os americanos não estão votando apenas para escolher o seu próximo presidente. Há também votações para todas as 435 cadeiras na Câmara dos Representantes e votações para 34 das 100 cadeiras no Senado.
Hoje, o Partido Republicano tem maioria na Câmara dos Representante (220 x 212) e o Partido Democrata tem maioria no Senado (51 x 49).
Quais são as previsões para as eleições legislativas de 2024?
Segundo as pesquisas, os republicanos são favoritos a ganhar as duas casas (a chance, de acordo com o 538, é de 90 em 100 disso acontecer no Senado e de 52 em 100 disso acontecer na Câmara dos Representantes).
Haverá ainda outras eleições em jogo nessa terça-feira – para governadores, juízes, procuradores, etc – além de referendos (serão 147 referendos, sobre os mais diversos assuntos – de maconha à imigração). Dez estados estão organizando referendos sobre um dos assuntos mais relevantes desta eleição: a regulação do aborto (Arizona, Colorado, Florida, Maryland, Missouri, Nebraska, Nevada, New York, Montana e South Dakota).
A campanha democrata está acreditando que os referendos sobre aborto podem impulsionar mais mulheres a participarem das eleições do Arizona e de Nevada. E se isso acontecer, Kamala poderá se sair melhor do que as pesquisas indicam.
Entre 17% e 24% dos eleitores dos swing states dizem que o aborto é a questão com maior peso na definição do seu voto nessa eleição. A questão do aborto só está atrás da economia (36% a 42%) em importância para os eleitores americanos. 1/4 das mulheres dos swing states consideram esse o assunto mais importante.
53% dos americanos dizem que se inclinam para a posição democrata sobre o aborto, em comparação com 36% que se inclinam para a posição republicana.
Se em 2020, as pesquisas de opinião superestimaram o voto presidencial democrata, em 2022, nas eleições de meio de mandato, muitas pesquisas de opinião superestimaram o voto republicano. Trump disse que o Partido Republicano performou abaixo do esperado em 2022 por causa da posição de muitos dos seus membros sobre o aborto. Ele escreveu isso na sua rede social, Truth Social:
“Não foi minha culpa que os republicanos não corresponderam às expectativas nas eleições de meio de mandato… Foi a 'questão do aborto', mal conduzida por muitos republicanos, especialmente aqueles que insistiram firmemente em Nenhuma Exceção, mesmo no caso de Estupro, Incesto ou Vida da Mãe, que fez com que muitos eleitores perdessem.”
Trump sustenta uma posição bastante ambígua sobre o aborto – e já foi criticado pela postura pelos republicanos. Ele defende que a questão seja decidida pelos estados, mas já declarou todo tipo de posição sobre o assunto ao longo dos anos (a favor e contra) e o evitou ao máximo nessa campanha. A sua esposa, Melania Trump, publicou um livro há poucas semanas onde defendeu o direito ao aborto – e foi defendida por Trump pela coragem de declarar a sua posição.
9. O resultado provavelmente não será definido tão rápido como no Brasil.
A previsão é que a contagem de votos se estenda para além da terça-feira, dia 5.
É importante entender que os votos enviados pelo correio geralmente demandam mais tempo para serem contados. Esse processo costuma causar uma diferença nas tendências de divulgação dos primeiros resultados divulgados nos estados em que os votos presenciais (que tendem a favorecer candidatos republicanos) são contados primeiro, e os votos enviados pelo correio (que tendem a favorecer candidatos democratas) são adicionados com o tempo.
A tendência é:
- Os resultados finais da Georgia serem divulgados relativamente rápidos (a taxa de votos por correio é pequena no estado).
- Os resultados finais de North Carolina serem divulgados relativamente rápidos (a taxa de votos por correio é pequena no estado).
- Os resultados finais da Pennsylvania demorem mais que a Georgia e North Carolina para serem divulgados (já que quem trabalha na eleição não tem permissão para começar a processar as cédulas de correio até o dia da eleição).
- Os resultados finais em Wisconsin serem divulgados na quarta-feira (em 2020, o resultado só foi sacramentado no início da tarde do dia seguinte).
- Os resultados finais do Michigan serem divulgados de maneira mais rápida do que em 2020 (houve mudanças na contagem do estado, mas cabe lembrar que o vencedor presidencial, em 2020, só foi conhecido no final da tarde do dia seguinte à eleição).
- Os resultados finais em Nevada demorarem alguns dias para serem sacramentados (boa parte dos eleitores vota pelo correio; em 2020, a contagem levou 4 dias).
- Os resultados finais no Arizona demorarem alguns dias para serem sacramentados (boa parte dos eleitores vota pelo correio; em 2020, a contagem demorou 9 dias).
Cabe lembrar que mais pessoas votaram pelo correio em 2020 do que nesse ano, então o peso será menor em 2024. Além disso, muitos desses estados realizaram reformas para acelerar a contagem desses votos.
10. Há uma chance razoável das pesquisas estarem erradas e o resultado ser bem diferente do que as pessoas esperam.
Tanto em 2016 quanto em 2020, as pesquisas subestimaram o apoio popular a Donald Trump. Em 2022, na contramão, muitas pesquisas superestimaram o apoio ao Partido Republicano nas midterms.
Os institutos de pesquisa têm imensa dificuldade em capturar o engajamento eleitoral nos Estados Unidos (Trump foi subestimado nas eleições anteriores, entre outros motivos, porque, além do apoio dos seus eleitores engajados, também recebeu o apoio de eleitores não-engajados, que não apresentavam alto grau de comparecimento nas midterms). É verdade que a maioria dos institutos mudaram de metodologia nos últimos anos – e alguns dizem ter encontrado maneiras de driblar essa deficiência – mas até a revelação do resultado, ninguém está colocando a mão no fogo por eles.
Além disso, há diferentes níveis de confiança nos institutos, e alguns agregadores não fazem um bom trabalho filtrando bons e maus pesquisadores. Há muita gente ruim trabalhando nessa indústria, e muita pesquisa partidária.
Como os melhores institutos sinalizam empate na ampla maioria dos swing states, ou vontagens dentro da margem de erro, essa é uma eleição bastante imprevisível e o resultado poderá ser bem diferente do que as pessoas esperam.
Tanto pode haver uma onda vermelha, liderada por eleitores silenciosos, como uma onda azul – liderada por uma participação maior de mulheres, negros e latinos. Só saberemos isso nos próximos dias.
Bônus. Há uma chance extremamente remota da eleição presidencial terminar empatada.
Este é apenas um exercício de curiosidade. Imagine essa combinação para Kamala Harris:
Pennsylvania + Michigan + Wisconsin = 270 votos
Esta é a combinação necessária para ela ser eleita.
Mas se lembra de quando eu falei das regras do Maine e do Nebraska? Vamos voltar a elas.
As pesquisas apontam que Kamala Harris será a mais votada no Maine. Apesar disso, os republicanos costumam vencer em um distrito congressional do estado (a previsão é que Kamala faça 3 pontos no estado, contra 1 de Trump).
Da mesma forma, as pesquisas apontam que Trump é o favorito a vencer em Nebraska, mas os democratas também costumam vencer em um distrito congressional do estado. Se isso se confirmar, Trump fará 4 pontos no Nebraska e Kamala somará 1.
Mas se Kamala confirmasse o seu favoritismo na muralha azul, vencesse nos estados de Pennsylvania + Michigan + Wisconsin, e perdesse a eleição no 2º distrito congressional de Nebraska (que fica na região metropolitana de Omaha, com menos de 1 milhão de habitantes), a eleição terminaria empatada: 269 x 269.
A probabilidade de Kamala perder este voto em Nebraska é absurdamente remota. Mas o exercício é bom para entender o quão heterodoxo é o modelo eleitoral americano.
O que aconteceria com um empate no Colégio Eleitoral? Uma bagunça. A eleição provavelmente seria judicializada. Mas tecnicamente, nesse caso, seria papel da Câmara dos Representantes escolher o presidente. E a regra é: cada delegação estadual tem direito a um voto (isso mesmo, 1 voto para a California – um estado com quase 40 milhões de habitantes – 1 voto para Wyoming – um estado com 500 mil habitantes – e assim por diante).
Para complicar ainda mais, é papel do Senado escolher o vice. Mas no Senado, o voto não é por estado (há dois senadores por estado), mas individual. Quem tiver mais votos dos senadores vira vice-presidente.
Ou seja: nesse cenário absurdo e extremamente remoto, haveria a possibilidade de termos uma chapa republicana/democrata governando os Estados Unidos.
63% dos americanos dizem que prefeririam que o vencedor da eleição presidencial fosse o candidato que ganhasse mais votos nacionalmente. Apenas 35% dos americanos são a favor de manter o sistema do Colégio Eleitoral.
8 em cada 10 democratas (e independentes com inclinação democrata) são a favor da substituição do Colégio Eleitoral por um sistema de voto popular.
53% dos republicanos (e dos independentes com inclinação republicana) são a favor de manter o Colégio Eleitoral, enquanto 46% prefeririam substituí-lo.
O apoio republicano ao Colégio Eleitoral vem desabando (de 69% em 2016 para 61% em 2020, e 53% agora). Se essa tendência se confirmar nos próximos anos, há uma boa possibilidade de uma reforma no Colégio Eleitoral entrar no debate nacional americano.
Nesse caso, aumentam as chances de textos como esse não serem mais necessários.
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Se você não está em coma, deve ter visto alguns vídeos por aqui, nos últimos dias, com o pau quebrando na Geórgia 🇬🇪.
Preparei essa thread contando o que você precisa saber sobre esse assunto, e por que ele também diz respeito a você:
A princípio, você nunca pararia para ler sobre esse país.
Com os seus 3,7 milhões de habitantes, a Geórgia tem uma população menor que o estado do Espírito Santo.
Mas eu convido você a prestar atenção nessa história.
A Geórgia está no Cáucaso.
O Cáucaso tem esse nome por causa dessa cordilheira aqui: a Cordilheira do Cáucaso.
A Geórgia liga a Europa ao Oriente Médio. Mesmo pequena, está numa posição privilegiada para as rotas comerciais e militares entre o Mar Negro e o Mar Cáspio.
Sim, o pau também está quebrando na Coreia do Sul 🇰🇷.
Essa é a história:
Esse sujeito aqui se chama Yoon Suk Yeol. Ele é o presidente da Coreia do Sul.
Agora há pouco, Suk Yeol declarou lei marcial no país. Ele está acusando o principal partido de oposição do país de simpatizar com a Coreia do Norte 🇰🇵 e de promover atividades antiestatais.
Yoon Suk Yeol não entrou em detalhes sobre quais medidas seriam tomadas.
Mas isso é o que lei marcial significa na Coreia do Sul:
1. A restrição do direito de protestar e se expressar.
2. Restrições ao movimento de civis podem ser impostas para manter a ordem.
3. Os militares podem ocupar áreas estratégicas e atuar como força policial.
4. O governo pode censurar informações para evitar “desinformação” ou agitação.
5. No lugar de tribunais civis, os crimes podem ser julgados por tribunais militares.
Preparei essa thread para você que está perdido sobre o que está acontecendo no país.
Prepare o estômago:
Essa aqui é a Síria.
A Síria está na encruzilhada da Ásia, Europa e África, e faz fronteira com Turquia 🇹🇷, Iraque 🇮🇶, Jordânia 🇯🇴, Israel 🇮🇱 e Líbano 🇱🇧.
A maior parte da população desse lugar é árabe, mas a Síria também abriga curdos, armênios, turcomenos e assírios.
Esse aqui é o ditador da Síria. Ele se chama Bashar al-Assad.
Assad está no poder na Síria desde 2000, quando sucedeu o pai, Hafez al-Assad, que governou a Síria por 3 décadas – o que significa dizer que esta família governa este país há mais de meio século.
Como a Rússia está usando uma rede social chinesa para tentar um golpe na terra do Conde Drácula – e por que essa história revela o quanto a nossa geração está bem mais fodi#% do que imagina.
A thread:
Esta aqui é a Romênia, a terra do Conde Drácula.
A Romênia é um país no sudeste da Europa, na região dos Bálcãs. Ela faz fronteira com cinco países:
Além disso, possui uma costa de 245 quilômetros no Mar Negro.
Os Bálcãs estão na encruzilhada do Oriente e o Ocidente, no centro de uma competição eterna entre grandes potências.
Por décadas, no seu período comunista, a Romênia foi aliada de Moscou. Mas desde a execução do ditador Ceaușescu, no Natal de 1989, este é um país pró-Ocidente.
Há alguns dias, Matt Gaetz foi indicado por Trump para ser o novo chefe do Departamento de Justiça dos EUA. Hoje, ele renunciou à indicação por estar envolvido em escândalos sexuais.
Gaetz não é o único indicado por Trump a enfrentar esse problema.
Essa é a história:
Quando foi indicado por Trump para ser Attorney General, Matt Gaetz era um congressista da Flórida.
Gaetz vinha sendo investigado pelo Comitê de Ética da Câmara por acusações de má conduta sexual.
Duas mulheres testemunharam no Congresso americano que Gaetz as pagou “por sexo”, e que as suas festas eram regadas por maconha e ecstasy.
Uma delas diz que viu Gaetz transando, numa dessas festas, com uma menina menor de idade.
As duas mulheres foram apresentadas a Gaetz por Joel Greenberg.
Em 2022, Greenberg foi condenado a 11 anos de prisão por tráfico sexual de menores e diversos outros crimes. Ele se declarou culpado.