Trump acaba de anunciar Tulsi Gabbard como Diretora de Inteligência Nacional.
A partir de 2025, Gabbard será a chefe executiva da Comunidade de Inteligência dos Estados Unidos, o mais alto cargo na estrutura da inteligência americana.
Mas quem é ela?
Você irá se surpreender.
Tulsi Gabbard tem 43 anos, nasceu na Samoa Americana e entre 2013 e 2021 esteve na Câmara dos Representantes, em Washington, representando o Havaí.
Por todo esse tempo, Gabbard foi membro do Partido Democrata. Mas dá para dizer que os democratas nunca gostaram muito dela. Tulsi Gabbard é aquilo que nós chamamos de DINO, “Democrat in name only”. Só é democrata no nome.
Ou melhor, era. Conto como isso aconteceu aqui embaixo.
Há anos, Gabbard vem sendo acusada de trabalhar para a Rússia na política americana. E há bons motivos para acreditar nisso.
Hillary Clinton foi a primeira liderança do Partido Democrata associada a essa acusação, ainda em 2019. Nessa época, Gabbard era pré-candidata à presidente pelo Partido Democrata e foi prontamente defendida por Donald Trump.
Enquanto esteve entre os democratas, Gabbard sustentou um longo histórico de críticas ao partido, sobretudo nas plataformas conservadoras americanas, como a Fox News.
Por isso não é difícil entender por que a sua pré-campanha presidencial, em 2020, recebeu o apoio de David Duke (ex-grande mago dos Cavaleiros da Ku Klux Klan) e Richard B. Spencer (o neonazista americano que diz que a Rússia é a “única potência branca do mundo”, por anos casado com a russa Nina Kouprianova, tradutora de Aleksandr Dugin).
Dá para dizer que a pré-campanha de Tulsi Gabbard à presidência, em 2020, foi toda construída em torno de atacar a política externa do Partido Democrata.
No debate democrata para as eleições presidenciais de 2020, organizado pela MSNBC, esse foi o seu grande discurso:
“Nossa atual Partido Democrata, infelizmente, não é o partido que é do povo, pelo povo e para o povo. É um partido que foi e continua a ser influenciado pelo establishment de política externa em Washington, representado por Hillary Clinton e outros, pela política externa, pelo complexo industrial militar e por outros interesses corporativos gananciosos.
Estou concorrendo à presidência para ser a candidata democrata que reconstrói o nosso Partido Democrata, que o tira das mãos deles e realmente o coloca nas mãos do povo deste país. Um partido que de fato ouve as vozes dos americanos que estão lutando em todo o país, e coloca o partido nas mãos dos veteranos e dos compatriotas que clamam pelo fim dessa doutrina de política externa Bush-Clinton-Trump de guerras de mudança de regime; de derrubar ditadores em outros países; de enviar desnecessariamente meus irmãos e irmãs de farda para perigosas missões em guerras que, na verdade, minam a nossa segurança nacional e nos custaram milhares de vidas americanas.
Essas são guerras que nos custaram, como contribuintes americanos, trilhões de dólares desde o 11 de setembro. Dólares que saíram dos nossos bolsos, dos nossos hospitais, das nossas escolas e das nossas necessidades de infraestrutura. Como presidente, acabarei com essa política externa, com essas mudanças de regime e trabalharei para acabar com esta nova Guerra Fria e corrida armamentista, e em vez disso investirei os dólares suados dos contribuintes diretamente para atender às necessidades do povo americano aqui em casa.”
Kamala Harris, então pré-candidata à presidente, respondeu à provocação:
“Acho lamentável que tenhamos alguém neste palco que esteja tentando ser a candidata democrata à presidência dos Estados Unidos, que durante o governo Obama passou quatro anos em tempo integral na Fox News criticando o presidente Obama; que tem criticado constantemente as pessoas neste palco, associadas ao Partido Democrata; quando Donald Trump foi eleito [em 2016], antes mesmo de assumir o cargo, se aproximou de Steve Bannon para conseguir uma reunião com Donald Trump na Trump Tower; não consegue chamar um criminoso de guerra pelo que ele é, um criminoso de guerra; e depois passa a campanha inteira, novamente, criticando o Partido Democrata.”
Gabbard respondeu que Kamala espalhava “mentiras, difamações e insinuações”. Mas Kamala tinha razão.
Em outubro de 2022, Tulsi Gabbard anunciou a saída do Partido Democrata dizendo que os seus membros eram “woke” demais, promoviam “racismo antibranco”, eram “hostis às pessoas de fé” e estavam “nos arrastando cada vez mais para perto de uma guerra nuclear”.
Ela escolheu o programa de Tucker Carlson, na Fox News, para contar a novidade.
No mês seguinte, Gabbard assinou um contrato para ser comentarista da Fox News e atuou como apresentadora substituta do próprio programa de Tucker Carlson na emissora.
Tulsi Gabbard tem um longo histórico de reproduzir a visão de política externa da Rússia nos Estados Unidos, e por conta disso, aparece com frequência na televisão estatal russa.
Ela chegou a entrar na lista oficial de propagandistas russos feita pelo governo da Ucrânia (com outras figuras do debate público americano, como o comentarista político Glenn Greenwald).
Na televisão estatal russa, Gabbard é chamada de “nossa amiga” pelos propagandistas.
Em 2022, num programa do maior canal de tv da Rússia, o propagandista Vitaly Tretyakov, impressionado com a defesa de Tulsi Gabbard dos interesses russos, chegou a questionar no ar:
“Ela é algum tipo de agente russa?”
O apresentador do programa, Vladimir Solovyov, respondeu em tom de risada que “sim”.
Nos últimos anos, a suspeita de que Gabbard trabalha para a Rússia foi uma preocupação bipartidária nos Estados Unidos.
Em 2022, Alexander Vindman, ex-Diretor para Assuntos Europeus do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, também acusou Gabbard disso:
“Você é uma mentirosa @TulsiGabbard. Você mente para obter notoriedade e autopromoção. Pior ainda, como uma agente de desinformação russa, você promove a agressão russa e coloca a América em perigo. Você escolheu um lado. O seu lado é a Rússia e o autoritarismo.”
O ex-congressista republicano Adam Kinzinger pensa parecido. Em 2022, ele acusou Gabbard de ser uma “traidora” que espalha “propaganda russa” e “deveria se mudar para a Rússia”.
O republicano Mitt Romney também acredita nisso. Ele acusa Gabbard de “espalhar propaganda russa” e diz que as “suas mentiras traiçoeiras podem custar vidas”.
Em 2020, na pré-campanha à presidência, Gabbard recebeu uma ajuda dos russos para aumentar a sua projeção política.
No período, ela recebeu mais destaque na imprensa estatal russa (RT, Sputnik) do que Joe Biden e Bernie Sanders. Gabbard era frequentemente retratada como uma “heroína rebelde” que iria "abalar" o establishment político-militar em Washington.
Desde então, ela nem tenta esconder a sua inclinação pró-Rússia. Nos últimos anos, Tulsi Gabbard foi uma das grandes propagadoras da teoria conspiratória russa de que há de 25 a 30 laboratórios financiados por Washington na Ucrânia com armas biológicas, como a Covid-19. forbes.com/sites/dereksau…
Para defender os direitos humanos na Rússia, Gabbard também diz que os Estados Unidos não “são tão diferentes” da Rússia em matéria de liberdade de expressão. independent.co.uk/news/world/ame…
Assim que a Rússia invadiu a Ucrânia, em larga escala, em 2022, Gabbard saiu em defesa do Kremlin e culpou os Estados Unidos pela invasão.
Nos últimos anos, Tulsi Gabbard também promoveu propaganda nos Estados Unidos para o governo da Síria.
Bashar al-Assad, o ditador da Síria, é o maior aliado de Vladimir Putin no Oriente Médio, e costuma receber o apoio dos propagandistas russos no Ocidente.
Em 2017, Gabbard se encontrou com Assad numa viagem à Síria. A reunião foi organizada em segredo, sem que o Partido Democrata ou o Congresso americano fossem avisados.
O então congressista republicano Adam Kinzinger chamou o encontro de “uma vergonha e uma desgraça”.
“De forma alguma, nenhum membro do Congresso, nenhum funcionário do governo, deveria viajar para se encontrar com um sujeito que matou 500 mil pessoas e 50 mil crianças.”
Em fevereiro de 2023, Tulsi Gabbard foi uma das estrelas da manifestação Rage Against The War Machine, em Washington.
Essas foram as principais reivindicações do evento:
- Fim do apoio à Ucrânia
- Dissolução da OTAN
- Abolição da CIA
- Abolição “do Império”
- Perdão a Julian Assange
O evento reuniu inúmeros defensores da Rússia nos Estados Unidos (e saudosistas da União Soviética) à direita e à esquerda.
Nick Brana, um dos organizadores do evento, celebrou a Rússia dizendo que Putin “não está apenas vencendo a guerra, ele está unindo o mundo contra a hegemonia americana”.
Cercada de bandeiras da Rússia por todos os lados, Tulsi Gabbard disse ao público presente que era hora de deixar de lado a diferença entre eles:
“Devemos deixar de lado nossas diferenças, trabalhar juntos para demitir aqueles políticos belicistas de ambos os partidos que servem aos seus senhores no complexo industrial-militar, em vez de servir ao povo.”
O evento foi uma celebração a Vladimir Putin.
Jackson Hinkle foi outra estrela do evento. Hinkle é um propagandista com mais de 2,8 milhões de seguidores aqui no X, e chegou a ser um dos perfis com mais engajamento no mundo.
Ele é adepto daquilo que chama de “MAGA comunismo”, uma ideologia que une trumpismo com marxismo-leninismo.
Em julho de 2024, falando com a sua base de seguidores pró-Trump, ele anunciou o lançamento do Partido Comunista Americano.
Jackson Hinkle é um dos grandes propagadores da filosofia de Aleksandr Dugin nos Estados Unidos, e uma figura carimbada nos eventos organizados pelos governos de Rússia, China, Irã e Venezuela. Ele também é próximo de figuras como Tucker Carlson e Alex Jones. theguardian.com/us-news/articl…
Em fevereiro de 2024, Trump se reuniu com Gabbard para conversar sobre política externa e entender como o Departamento de Defesa deveria ser administrado.
Nos últimos meses, Gabbard atuou com tamanho destaque na campanha republicana que, em agosto, Trump anunciou que, caso eleito, RFK Jr e ela serviriam como co-presidentes honorários da equipe de transição de governo, junto com os filhos de Trump e o seu companheiro de chapa, JD Vance.
Ontem, Donald Trump anunciou Robert F. Kennedy Jr o escolhido para liderar o Departamento de Saúde dos Estados Unidos no seu governo.
Não importa de onde você seja, essa decisão impactará a sua vida.
Conto aqui embaixo o tamanho do problema – e quem está por trás dele:
RFK Jr é um advogado que tem dedicado parte da vida a falar sobre “ciência”.
Antes de abordar suas ideias, faço um disclaimer: fanáticos, bots e trolls têm o hábito de atacar mensageiros. As declarações abaixo não são minhas. As fontes estão em anexo.
Não alimente os trolls.
Robert F. Kennedy Jr é um exemplo de almanaque daquilo que nós chamamos de conspiracionista.
Por exemplo: ele até insiste que não é antivacina, mas mente até nisso. Como você confirmará na sequência, Robert é um sujeito com imensos problemas em encarar a verdade.
Ele é um dos líderes da Children's Health Defense, um dos maiores centros de desinformação sobre vacina no mundo. E já declarou textualmente:
"Não há nenhuma vacina que seja, você sabe, segura e eficaz".
Sim, existe um movimento nos Estados Unidos chamado MAGA Comunismo.
Trump + Marx.
Conto aqui embaixo como é esse movimento, onde surgiu e como ele está conseguindo fazer bastante barulho nesta rede social, impulsionado por gente como Tucker Carlson e Alex Jones:
Esse sujeito aqui se chama Jackson Hinkle.
Jackson nasceu na Califórnia e tem 25 anos.
Essa foto foi tirada em 2018. Nessa época, ele era um típico ativista de esquerda: eleitor de Bernie Sanders, ambientalista, democrata, líder de greves estudantis contra o porte de armas.
Nos últimos anos, Jackson Hinkle passou por uma transformação muito parecida com a dessa moça aqui – Tulsi Gabbard. Ambos saíram do círculo de Bernie Sanders para o círculo de Donald Trump.
A mudança pode parecer estranha. Mas ambos continuam defendendo as mesmas coisas.
Essa é uma thread para você que diz ser conservador, de direita, anti-comunista.
Não, eu não falarei sobre homens trans no esporte, o cancelamento de humoristas ou a indústria woke em Hollywood – esses assuntos que vocês tanto gostam.
Esse é um tema um pouco mais sério:
Essa aqui é a Rússia.
A Rússia é o maior país do mundo. 11% de toda a área terrestre do planeta pertence à Rússia – a mesma área da superfície de Plutão. Quando o sol nasce no leste da Rússia, se põe no oeste.
Mas este país nem sempre teve esse tamanho.
Nos seus primeiros séculos, a Rússia possuía um território de 1,3 milhão de km², o equivalente ao estado do Pará.
No auge da União Soviética, esse espaço chegou a atingir 22,4 milhões de km².
Como isso aconteceu? A resposta parece estar no solo desse lugar.
No passado distante, os primeiros eslavos que se estabeleceram na Rússia encontraram terra fértil para a agricultura, mas tiveram que enfrentar um problema bastante sério: as invasões.
A Rússia foi fundada numa região da Europa sem grandes rios, montanhas e desertos, em que a média de altitude é de míseros 170 metros. Nós chamamos essa região de Planície Europeia Oriental, e ela se estende da França até os Montes Urais.
Dá uma olhada no mapa topográfico da Europa. O leste deste continente é plano.
A galera do @siteptbr publicou esse tweet mais cedo. E eu decidi explicar como funciona a eleição americana de um jeito tão fácil que mesmo o pessoal do @siteptbr conseguirá entender.
Segue a thread:
Pense na eleição americana como se fosse um jogo de tabuleiro.
Imagine que o mapa dos EUA seja esse tabuleiro, com os seus 50 estados.
Os dois jogadores que estão na disputa – ou seja, os candidatos a presidente – tentarão conquistar esses estados. Mas cada estado tem um peso diferente.
Ganhou a Flórida? 30 pontos pra você. Levou o Texas? Soma mais 40.
Como fazer pra ganhar os pontos dos estados?
Imagine que, nesse jogo de tabuleiro imaginário, você dispute cada estado recorrendo às cartas de um baralho.
Exceto em dois estados (o Maine e o Nebraska), nos demais, se você tiver uma carta maior que o seu oponente, você ganha todos os pontos disponíveis no estado. É o que a gente chama de “o vencedor leva tudo”.
Se a sua carta for muito maior que a do seu adversário, ou pouco maior, pouco importa. Se você venceu, você leva todos os pontos. O seu oponente fica com nada.
No final, considerando todas as disputas em todos os estados, quem conseguir reunir pelo menos 270 pontos, vence.
A Bolívia está sofrendo uma tentativa de golpe de história.
Conto aqui embaixo por que essa é a sina da América Latina (e o que está acontecendo na Bolívia):
Foi como uma onda.
Desde a eleição de Hugo Chávez, em 1998, a América Latina viu a ascensão de inúmeros líderes da esquerda socialista – um período chamado pela própria esquerda de pós-neoliberalismo.
Num curto intervalo, os socialistas foram capazes de eleger presidentes no Brasil 🇧🇷, na Argentina 🇦🇷, na Bolívia 🇧🇴, no Equador 🇪🇨, no Chile 🇨🇱, na Costa Rica 🇨🇷, em El Salvador 🇸🇻, na Guatemala 🇬🇹, em Honduras 🇭🇳, na Nicarágua 🇳🇮, no Paraguai 🇵🇾, na República Dominicana 🇩🇴 e no Uruguai 🇺🇾.
Quase todos os presidentes eleitos nesses países têm algo em comum: o Foro de São Paulo.
O Foro de São Paulo é uma conferência de partidos e grupos de esquerda da América Latina e do Caribe.
Ao contrário do que possa parecer, não há nada secreto ou conspiratório a seu respeito. O Foro tem um site oficial, eventos públicos e ampla cobertura da imprensa.
A organização foi fundada em 1990 por iniciativa do Partido dos Trabalhadores, em conjunto com o Partido da Revolução Sandinista, da Nicarágua, o Partido Comunista de Cuba e outros grupos políticos da região.
O principal objetivo do Foro de São Paulo é reunir forças de esquerda da América Latina para debater estratégias e ações conjuntas, e alcançar o poder.
O Foro surgiu em um contexto de queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética, eventos que forçaram uma reconfiguração das forças políticas de esquerda em todo o mundo. Na América Latina não foi diferente.
Ao longo dos anos, o Foro de São Paulo tem sido alvo de críticas e controvérsias.
Enquanto alguns veem a organização como uma plataforma importante de articulação da esquerda latino-americana, outros a criticam pela promoção de agendas populistas e autoritárias.
O que não dá pra negar é que o Foro tem desempenhado um papel significativo na política da América Latina nas últimas décadas.
Esses são os membros mais importantes da organização:
- o Partido dos Trabalhadores, do Brasil;
- o Movimento para o Socialismo, da Bolívia;
- o Partido Comunista de Cuba;
- a Frente Sandinista de Libertação Nacional, da Nicarágua;
- o Movimento Regeneração Nacional, do México;
- a Frente Ampla, do Uruguai;
- o Partido Socialista Unido da Venezuela;
- o Partido Liberdade e Refundação, de Honduras;
- o Partido Revolucionário Moderno, da República Dominicana;
- o Partido Revolucionário Democrático, do Panamá
- o Partido Trabalhista de Santa Lúcia.
Todos esses partidos governaram os seus países nessa década. Muitos estão no poder nesse momento.
Todos comungam de uma rejeição à influência dos Estados Unidos na América Latina.
Nos primeiros anos do século 20, os Estados Unidos promoveram um capítulo da história conhecido como Guerra das Bananas. Washington interviu diretamente na política de inúmeros países da América Central – muitas vezes militarmente – para defender os seus interesses.
Muitos dos países da região são chamados até hoje de República das Bananas porque, nesse tempo, parte importante da economia deles dependia da produção de banana.
Esse modelo de intervenção ficou conhecido como Big Stick – grande porrete, em inglês – e teve o presidente Theodore Roosevelt (1901-1909) como principal expoente.
Num curto intervalo de tempo, tropas americanas desembarcaram no México, no Haiti, na República Dominicana, em Cuba, no Panamá e na Nicarágua.
Essas intervenções geraram imensa antipatia a Washington na região.
A política do Big Stick durou três décadas e só foi encerrada em 1933 quando outro Roosevelt, o presidente Franklin Delano Roosevelt (1933-1945), inaugurou a Good Neighbor Policy – ou seja, a Política da Boa Vizinhança – acabando com o modelo de intervenção direta na região.
Mas não se engane: essa decisão não afastou os Estados Unidos de participarem de outros golpes de estado na América Latina.
Na Guerra Fria, Washington travou uma batalha violenta no nosso continente contra os russos.
Em 1954, na Guatemala, a CIA orquestrou um golpe que derrubou o presidente Jacobo Árbenz, um coronel acusado de ter laços com os soviéticos.
Sete anos depois, em Cuba, os americanos patrocinaram a invasão da Baía dos Porcos: uma tentativa fracassada de derrubar o governo do ditador Fidel Castro.
Em 1973, no Chile, Washington apoiou o golpe militar que derrubou o presidente Salvador Allende e levou Augusto Pinochet ao poder.
Países do bloco socialista também têm a sua dose de influência no continente: dos sandinistas da Nicarágua aos chavistas na Venezuela, dos fidelistas cubanos ao Sendero Luminoso no Peru. Muito sangue já foi derramado no continente motivado pela promessa de uma revolução da classe trabalhadora.
Três notícias dos últimos dias que escancaram a hipocrisia ideológica:
1.
Nessa semana, viralizou um vídeo de apoio de pastores evangélicos a Nicolás Maduro.
Maduro está transformando a Venezuela numa espécie de Evangelistão da América do Sul.
O ditador venezuelano diz que, ao contrário dos católicos, os evangélicos são “a verdadeira igreja de Deus”, e está transformando a religião num braço do Estado.
Em 2023, ele chegou a lançar um programa de governo chamado Mi Iglesia Bien Equipada, para prestar suporte financeiro aos pastores do país. elpais.com/internacional/…
O governo venezuelano é hoje o mais terrivelmente evangélico da América Latina.
Nos últimos anos, Maduro instituiu o dia 15 de janeiro como o Dia do Pastor, e o 15 de junho como o Dia do Arrependimento e da Esperança em Cristo.
Há algum tempo, os evangélicos são consultados em qualquer iniciativa legislativa que envolva a família tradicional.
No mês passado, Maduro chegou a receber da comunidade evangélica o título de “Protetor da Família”, reconhecendo “o seu compromisso com a defesa da unidade familiar como força vital da sociedade”. oglobo.globo.com/mundo/noticia/…