Que história é essa que a Rússia está ameaçando cortar a internet global?
Conto aqui:
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Esse aqui é o mapa dos cabos submarinos espalhados pelo mundo.
Esses cabos são projetados para transmitir dados – não só para a internet, mas toda comunicação digital: chamadas telefônicas, transmissões de tv, operações financeiras, comunicações corporativas.
Esses cabos são projetados para transmitir dados – não só para a internet, mas toda comunicação digital: chamadas telefônicas, transmissões de tv, operações financeiras, comunicações corporativas.
Nesse momento há 485 cabos submarinos transportando mais de 95% do tráfego internacional de dados e voz. O comprimento total desses cabos ultrapassa 1,5 milhão de quilômetros.
O primeiro cabo submarino foi instalado no longínquo ano de 1858, e conectava a Irlanda e o Canadá.
O primeiro cabo submarino foi instalado no longínquo ano de 1858, e conectava a Irlanda e o Canadá.
A história da sabotagem a essa estrutura é quase tão antiga quanto ela própria.
Por exemplo: na Primeira Guerra Mundial, Londres cortou cabos submarinos alemães, forçando Berlim a usar canais de comunicação menos seguros.
Mas esses episódios estão mais quentes do que nunca.
Por exemplo: na Primeira Guerra Mundial, Londres cortou cabos submarinos alemães, forçando Berlim a usar canais de comunicação menos seguros.
Mas esses episódios estão mais quentes do que nunca.
Em abril do ano passado, uma investigação conjunta das emissoras públicas da Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia denunciou que a Rússia tem uma frota com navios espiões operando no norte da Europa visando sabotar os cabos submarinos da região.
edition.cnn.com/2023/04/19/eur…
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Em abril desse ano, Bélgica, Holanda, Alemanha, Noruega, Reino Unido e Dinamarca assinaram um acordo para compartilhar informações operacionais para proteger os cabos submarinos no Norte da Europa contra a sabotagem russa.
politico.eu/article/6-euro…
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Em junho, o Conselho dos Estados Bálticos se reuniu para condenar as ameaças da Rússia no Mar Báltico.
cbss.org/about-us/minis…
Em setembro, os EUA denunciaram o aumento do risco de sabotagem de cabos submarinos por parte da unidade militar russa GUGI.
edition.cnn.com/2024/09/06/pol…
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Em setembro, os EUA denunciaram o aumento do risco de sabotagem de cabos submarinos por parte da unidade militar russa GUGI.
edition.cnn.com/2024/09/06/pol…
No mesmo mês, os chefes da CIA e do MI6 acusaram a Rússia de se envolver em uma campanha generalizada de sabotagem por toda Europa.
news.sky.com/story/mi6-and-…
Por conta dessas ameaças, a OTAN criou um grupo de coordenação de infraestrutura submarina.
foreignpolicy.com/2024/06/24/nat…
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Por conta dessas ameaças, a OTAN criou um grupo de coordenação de infraestrutura submarina.
foreignpolicy.com/2024/06/24/nat…
Esse aqui é o Báltico.
O Báltico é formado por três países vizinhos à Rússia: a Estônia, a Letônia e a Lituânia.
Os países do Báltico fazem fronteira com a Rússia e a Bielorrússia (governada pelo ditador Aleksandr Lukashenko, um fantoche do Kremlin).
O Báltico é formado por três países vizinhos à Rússia: a Estônia, a Letônia e a Lituânia.
Os países do Báltico fazem fronteira com a Rússia e a Bielorrússia (governada pelo ditador Aleksandr Lukashenko, um fantoche do Kremlin).
Se você reparar, embaixo da Lituânia está Kaliningrado, um exclave russo.
Um enclave é um território que está completamente cercado pelo território de outro país (como Lesoto, dentro da África do Sul). Um exclave é uma parte do território de um país que está separada do resto do país pelo território de outro país. É o caso de Kaliningrado.
Por quase toda a sua história, Kaliningrado não pertenceu à Rússia. Na verdade, por longos 690 anos, desde a sua fundação, essa região se chamava Königsberg, em homenagem ao Rei Ottokar II da Boêmia.
Esse território só foi transferido da Alemanha para a União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando Moscou o tomou como compensação pelos custos do conflito. Em 1946, Königsberg virou Kaliningrado em homenagem ao revolucionário bolchevique Mikhail Kalinin, e a população alemã que residia na região foi expulsa pelo Exército Vermelho para que a área fosse repovoada por russos.
Um enclave é um território que está completamente cercado pelo território de outro país (como Lesoto, dentro da África do Sul). Um exclave é uma parte do território de um país que está separada do resto do país pelo território de outro país. É o caso de Kaliningrado.
Por quase toda a sua história, Kaliningrado não pertenceu à Rússia. Na verdade, por longos 690 anos, desde a sua fundação, essa região se chamava Königsberg, em homenagem ao Rei Ottokar II da Boêmia.
Esse território só foi transferido da Alemanha para a União Soviética após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando Moscou o tomou como compensação pelos custos do conflito. Em 1946, Königsberg virou Kaliningrado em homenagem ao revolucionário bolchevique Mikhail Kalinin, e a população alemã que residia na região foi expulsa pelo Exército Vermelho para que a área fosse repovoada por russos.
A princípio, Kaliningrado não chama atenção, com os seus míseros 224 km² perdidos na vastidão do continente europeu.
Mas não dá para subestimar esse lugar: o oblast funciona como uma base militar estratégica para a Rússia, uma bomba-relógio no coração da Europa, cercada de inimigos da OTAN. E por estar no Mar Báltico, ainda permite que a Rússia exerça poder naval numa região indispensável para a estabilidade europeia.
Essa região é tão tensa que há até quem chame o corredor que liga a Bielorrússia a Kaliningrado – conhecido como Corredor de Suwałki, na divisa da Polônia com a Lituânia – de “lugar mais perigoso do mundo”.
Se essa faixa de terra cair no controle do exército russo, Estônia, Letônia e Lituânia ficarão isoladas do restante da Europa.
Todos esses países estão na OTAN. Mas não é difícil entender por que eles são tão neuróticos com a Rússia.
Imagine que numa distopia, um líder americano trabalhe para rachar a OTAN e, com isso, fazer a organização perder o sentido. Nesse caso, os países do Báltico poderiam facilmente cair no colo do Kremlin.
Ainda bem que essa chance não existe, não é mesmo?
Mas não dá para subestimar esse lugar: o oblast funciona como uma base militar estratégica para a Rússia, uma bomba-relógio no coração da Europa, cercada de inimigos da OTAN. E por estar no Mar Báltico, ainda permite que a Rússia exerça poder naval numa região indispensável para a estabilidade europeia.
Essa região é tão tensa que há até quem chame o corredor que liga a Bielorrússia a Kaliningrado – conhecido como Corredor de Suwałki, na divisa da Polônia com a Lituânia – de “lugar mais perigoso do mundo”.
Se essa faixa de terra cair no controle do exército russo, Estônia, Letônia e Lituânia ficarão isoladas do restante da Europa.
Todos esses países estão na OTAN. Mas não é difícil entender por que eles são tão neuróticos com a Rússia.
Imagine que numa distopia, um líder americano trabalhe para rachar a OTAN e, com isso, fazer a organização perder o sentido. Nesse caso, os países do Báltico poderiam facilmente cair no colo do Kremlin.
Ainda bem que essa chance não existe, não é mesmo?
Há poucos dias, a Rússia gerou apreensão no Ocidente ao acusar os EUA e o Reino Unido de planejarem sabotar cabos submarinos.
Você já ouviu a máxima: acuse-os do que você faz, chame-os do que você é. A Rússia costuma anunciar os seus planos dessa forma.
newsweek.com/russia-pipelin…
Você já ouviu a máxima: acuse-os do que você faz, chame-os do que você é. A Rússia costuma anunciar os seus planos dessa forma.
newsweek.com/russia-pipelin…
Na última sexta-feira, Portugal protestou contra a presença de navios russos na costa do país – os militares portugueses dizem que dos nove navios russos que navegaram em mares lusitanos nos dias anteriores, pelo menos um era um navio-espião.
publico.pt/2024/11/15/pol…
publico.pt/2024/11/15/pol…
No sábado, um navio-espião russo foi escoltado para fora do Mar da Irlanda, após entrar em águas controladas pela Irlanda.
A presença desses navios chamou atenção para o risco da Rússia cortar os cabos de comunicação da Irlanda com o Reino Unido.
theguardian.com/world/2024/nov…
A presença desses navios chamou atenção para o risco da Rússia cortar os cabos de comunicação da Irlanda com o Reino Unido.
theguardian.com/world/2024/nov…
Ontem, a Rússia foi acusada de estar por trás da sabotagem de dois cabos submarinos no Mar Báltico.
Primeiro, o corte de um cabo entre a Lituânia e a Suécia no domingo. E então, na segunda, o corte de um cabo que conecta a Finlândia e a Alemanha.
edition.cnn.com/2024/11/19/eur…
Primeiro, o corte de um cabo entre a Lituânia e a Suécia no domingo. E então, na segunda, o corte de um cabo que conecta a Finlândia e a Alemanha.
edition.cnn.com/2024/11/19/eur…
Também há a suspeita de que a China esteja nessa operação.
Agora à noite, o Financial Times revelou que o navio chinês Yi Peng 3, que estava a caminho da Rússia, passou próximo dos cabos sueco-lituano e finlandês-alemão.
ft.com/content/383516…
Agora à noite, o Financial Times revelou que o navio chinês Yi Peng 3, que estava a caminho da Rússia, passou próximo dos cabos sueco-lituano e finlandês-alemão.
ft.com/content/383516…
Os EUA acusam a China de participar ativamente da Guerra na Ucrânia, em apoio à Rússia.
ft.com/content/017e21…
Na semana passada, a estoniana Kaja Kallas, chefe de política externa da União Europeia, criticou a China pelo apoio militar a Moscou.
theguardian.com/world/2024/nov…
ft.com/content/017e21…
Na semana passada, a estoniana Kaja Kallas, chefe de política externa da União Europeia, criticou a China pelo apoio militar a Moscou.
theguardian.com/world/2024/nov…
O objetivo da Rússia é criar pânico.
Ela faz o que nós chamamos de guerra híbrida – um conjunto de ações para espalhar desinformação, medo e isolamento nos países inimigos.
Em meio a isso, Moscou também almeja danificar a estrutura básica ocidental.
wsj.com/world/europe/r…
Ela faz o que nós chamamos de guerra híbrida – um conjunto de ações para espalhar desinformação, medo e isolamento nos países inimigos.
Em meio a isso, Moscou também almeja danificar a estrutura básica ocidental.
wsj.com/world/europe/r…
As redes globais de comunicação são projetadas com redundância – ou seja: mesmo que alguns cabos sejam cortados, o tráfego de dados pode ser redirecionado por rotas alternativas.
O exercício militar que Moscou precisaria desempenhar para destruir todos esses cabos beira o impossível.
Nos próximos meses, Moscou provavelmente dedicará todos os esforços necessários para atingir a estrutura sensível dos seus adversários. E a internet de alguns desses lugares pode estar sob ameaça.
A internet global, no entanto, não sairá do ar, apesar de todos os esforços russos em fazer o Ocidente temer esse risco.
Mas isso não altera o problema central dessa história: a Rússia não está em guerra com a Ucrânia; ela está num conflito aberto contra o Ocidente – manipulando as nossas eleições, sabotando estruturas sensíveis, ameaçando uma escalada nuclear, corrompendo a atividade política.
É dever das democracias ocidentais enfrentar esse monstro, antes que ele fique grande demais para cair.
A sabotagem já está acontecendo. E não é apenas nas profundezas do oceano.
Ninguém poderá dizer que não havia informação disponível.
O exercício militar que Moscou precisaria desempenhar para destruir todos esses cabos beira o impossível.
Nos próximos meses, Moscou provavelmente dedicará todos os esforços necessários para atingir a estrutura sensível dos seus adversários. E a internet de alguns desses lugares pode estar sob ameaça.
A internet global, no entanto, não sairá do ar, apesar de todos os esforços russos em fazer o Ocidente temer esse risco.
Mas isso não altera o problema central dessa história: a Rússia não está em guerra com a Ucrânia; ela está num conflito aberto contra o Ocidente – manipulando as nossas eleições, sabotando estruturas sensíveis, ameaçando uma escalada nuclear, corrompendo a atividade política.
É dever das democracias ocidentais enfrentar esse monstro, antes que ele fique grande demais para cair.
A sabotagem já está acontecendo. E não é apenas nas profundezas do oceano.
Ninguém poderá dizer que não havia informação disponível.
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