Não faço ideia do que vai acontecer amanhã, quanto mais do que vai acontecer nas próximas eleições. Mas quando penso nelas, ocorrem-me algumas coisas. (1)
A primeira é que suspeitas de falhas éticas por parte dos políticos, ou para irmos mais longe, até de corrupção (ainda mais grave do que aquilo que para já está a ser alegado sobre o PM), têm um efeito eleitoral menor do que poderíamos pensar. (2)
Uns eleitores olham para a informação disponível com lentes partidárias, aceitando-a apenas quando é congruente com as suas preferências. Outros acham que, no fundo "são todos iguais". Outros que, apesar de tudo, "ele/a faz". Etc. (3)
Certo é que, quando se olha para o conjunto dos estudos, uma conclusão torna-se inevitável. É eleitoralmente benéfico ser-se acusado de falhas éticas? Não. É danoso? Não necessariamente. "More often than not corruption goes unpunished at the ballot box." (4)
Depois, uma trivialidade sobre a economia e voto. O contexto económico em Portugal é este. (5)
Em Portugal, a investigação mostra que a aprovação do primeiro-ministro é mais prejudicada por uma má situação económica do que beneficiada por uma economia favorável, ou seja, que o efeito da economia é assimétrico. Mas a situação atual prejudica? Não prejudica. (6)
A última coisa que me ocorre é que o pior inimigo dos governos é o tempo. Quanto mais tempo passa, pior as pessoas pensam deles. Parece temos uma tendência para dar mais importância ao que corre mal do que ao que corre bem e, ao longo do tempo, a acumulação de desilusões pesa.(7)
O "cost of ruling" é um fenómeno quase universal, que aparece desde os primeiros estudos "modernos" sobre os Estados Unidos e que em Portugal aparece desde os trabalhos pioneiros da Linda Veiga. E desse ponto de vista, só um ano de governo é melhor que dois ou três (8).
Em suma: não sei o que vai acontecer amanhã, e que mais saberemos sobre a Spinumviva ou outros assuntos que possam estar relacionados com o PM. Mas à partida, olhando para o que é mais "estrutural", o governo não parte em más condições para esta eleição (fim).
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Random notes about the Portuguese election in this thread throughout the next few days. Let's start with a look at how fast the radical right Chega has grown in comparison with its existing Southern European counterparts. (1)
We get a sense of how the party system has changed when we realize that the center-right won yesterday's election while obtaining its worst election result 𝐞𝐯𝐞𝐫. (2)
And a deeper sense of change is obtained when we realize the best the Socialists could do yesterday was to match the score they had in 2011 while incumbents in country that had to be bailed out by the IMF/EU/ECB. (3)
Ao longo dos últimos 20 anos, as atitudes dos portugueses em relação à imigração mudaram significativamente, no sentido de maior abertura. Vejam-se, por exemplo os dados do European Social Survey (1). passda.pt/webwp/wp-conte…
Ou, aqui, Anthony Heath e Lindsay Richards a fazerem o mesmo diagnóstico num relatório para a OCDE: (2) oecd-ilibrary.org/social-issues-…
Mas eu receio que 2023 possa vir a ser ser lembrado como o ano em que isto voltou a mudar. Há algum tempo, falei aqui dos resultados do Transatlantic Trends sobre o assunto. (3)
A julgar pelas últimas sondagens, e mesmo tomando em conta que votos e intenções de voto são bichos diferentes, parece claro que o PS perdeu muito apoio no último ano e meio. Qualquer coisa entre 10 e 15 pontos, dependendo das sondagens. (1)
O PS de Sócrates precisou de 6 anos e um resgate para perder 17 pontos. PSD e CDS perderam 12 pontos de 2011 para 2015. 10-15 pontos num ano e meio é muito ponto. Onde estão a acontecer estas perdas? (2)
Nos gráficos seguintes, recorro à sondagem à boca das urnas da Pitagórica () e à última @sond_ics_iscte de maio/junho para decompor essas perdas por segmentos sociais, definidos por sexo, idade e instrução. (3)pedro-magalhaes.org/bases-sociais-…
Uma micro-história de como acabámos com esta forma de eleger juízes do Tribunal Constitucional (13 juízes, 10 designados pelo parlamento e 3 cooptados por estes, de entre juízes dos restantes tribunais. (1)
Em maio de 1982, dá-se uma cimeira entre os líderes do PSD, do PS e do CDS para resolver os assuntos ainda pendentes da revisão constitucional: a "transição para o socialismo", o poder do PR demitir o governo e a composição do TC. Este último foi curiosamente o mais difícil (2)
A AD queria ao mesmo tempo evitar a "esquerdização" do TC e limitar a influência de Eanes. Logo, para além de eliminar a fiscalização preventiva (arma relevante do PR), tinha proposto que a maioria dos juízes viesse do STJ e do STA, com o PSTJ a presidir (3).
In the meantime, Russia is getting ready to approve a decree on the "Foundations of the State Policy for the Preservation and Strengthening of Traditional Russian Spiritual and Moral Values". A few highlights (1) memri.org/reports/russia…
"Urgent measures to protect traditional Russian spiritual and moral values" are required, given the threat posed by "extremist and terrorist organizations, the actions of the United States and its allies, transnational corporations, and foreign nonprofit organizations". (2)
Ideas and values "alien to the Russian people" include "cult of selfishness, permissiveness, immorality, denial of the ideals of patriotism, service to the Fatherland, procreation, creative work, the positive contribution of Russia to the world history and culture." (3)
Amavelmente, a Pitagórica deu-nos — a mim e ao @joaoc — acesso aos dados micro da boca das urnas que realizaram no dia 30. Como mediram não apenas o voto mas também sexo, idade e instrução de TODOS os que inquiriram, isto permite uma análise fina das bases sociais do voto (1)
Escrevemos um texto sobre o assunto, que está aqui: pedro-magalhaes.org/bases-sociais-…. Resumo: Portugal não tinha o que se chama o "modern gender gap" no voto. Mas agora já tem: mulheres mais à esquerda, homens mais à direita. (2)
Isto produz composições muito diferentes dos grupos de votantes em cada partido. Nos extremos, quase 2/3 dos que votaram Chega são homens; mais de 2/3 das que votaram PAN são mulheres. E relativamente forte feminização do PS e do BE também (3)