Cristiano Xavier Profile picture
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Sep 22 5 tweets 9 min read
1. "A primeira coisa que você perde é o senso da dimensão, e ao perder o senso da dimensão você esquece este imenso paradoxo, que é a diferença entre a pequenez física do homem e o fato de que ele seja capaz de se comunicar diretamente com a presença do Ser. A presença do Ser só existe para o ser humano. Para os animais ela não existe. Os animais estão dentro do ser, mas não estão diante do ser. Só o ser humano tem essa experiência consciente da presença do Ser. Os outros animais têm apenas a consciência do ambiente deles, daquilo que o biólogo Jakob von Uexküll chamava de "umwelt", o “mundo em torno”. Cada animal tem o seu “mundo em torno”, e ele só sabe daquele mundo, não do resto. Existem espécies animais que, mesmo sendo vizinhas, nunca tiveram notícia da existência uma da outra. Uma não sabe que a outra existe, e elas não vão se perceber nem se você juntá-las. Uma minhoca sabe que existem ursos? Um peixe sabe que existe gente? Eles não sabem. "welt", em Alemão, quer dizer "mundo", e "umwelt" o "mundo em torno". O bicho só sabe do mundo em torno, do "umwelt", mas ele não sabe que existe um mundo, um "welt". A presença do Ser só existe para o ser humano.
Você ser capaz de pegar a presença do Ser diferencia você de todas as espécies animais de maneira infinita, porque é a diferença que existe entre um ambiente animal, e o que nós chamamos de universo. A diferença entre ser humano e bicho é imensurável. Claro que se você olhar só do ponto de vista genético, por exemplo, você vai encontrar só os famosos 3% de diferença entre você e o macaco, o que significa que a genética não é capaz de captar este assunto aqui. Isto não existe para a genética. A genética está, para o mundo real, como o peixe está para o ser humano. O mundo da genética é finito, mas o mundo que transcende a genética é infinito, e então a genética não pode captar o infinito, mas nós podemos.
Na hora em que você perdeu a experiência da presença do Ser, você perdeu, primeiro, o senso da realidade física do mundo. E na hora em que você perde o senso da realidade física do mundo você começa a dizer coisas como as que esses geneticistas dizem, de que a diferença entre o homem e um macaco é de apenas 3% — que é uma coisa que se verifica, experimentalmente, na pessoa deles. Você esperar que a genética possa esclarecer as diferenças e semelhanças entre o homem e os animais é inteiramente absurdo. Toda ciência, como diziam os escolásticos, tem um "objeto material", que é a coletânea dos objetos que ela estuda; tem um "objeto formal", que é por onde ela enfoca esses objetos; e tem um "objeto formal terminativo", que é a pergunta que ela tem de responder no fim. Tudo isso é altamente seletivo: uma ciência pega apenas um grupo de objetos (não o universo inteiro); desse grupo de objetos, ela pega apenas um ângulo; e, deste ângulo, ela pretende responder apenas uma pergunta. Isso quer dizer que nenhuma ciência está habilitada a fazer comparação entre o homem e nenhum animal. Está habilitada apenas a fazer comparações sob certos aspectos. Mas quantos aspectos existem? Infinitos. Isso quer dizer que mesmo que você juntasse todas as ciências e tudo aquilo que elas sabem a respeito dos seres humanos e os animais, isso não bastaria ainda para fazer uma comparação. Porque o número de ciências é finito, e o número de aspectos é infinito. Esse é um ponto simples de metodologia, e qualquer estudante de biologia deveria aprender isso na primeira semana. Aprender que a biologia não estuda o mundo, não estuda o universo, não estuda o Ser, mas faz só três ou quatro perguntas e tenta respondê-las, e isso já dá um trabalho miserável e a gente freqüentemente erra. E a genética? Faz menos perguntas ainda. De todo o conjunto da biologia, ela pergunta um pedacinho.
A autoridade das “ciências” — e, aliás, nós temos sempre de usar a palavra “ciência” entre aspas, porque chamar esse tipo de conhecimento de ciência é um abuso; nós temos de inventar um outro nome. 2. "Você esperar que essas ciências respondam essas perguntas é uma coisa de uma burrice fora do comum, e o sujeito nem sabe o que está fazendo. Ele está exercendo ciência como um macaco que se você ensinar a dirigir um ônibus, o macaco até dirige, mas ele não vai ter consciência de lei de trânsito, ou de qualquer outra coisa.
Na hora em que você perde a experiência da presença do Ser, você perde, primeiramente, o senso da dimensão do universo material. Você pode até saber qual é o tamanho do universo, mas você perde o senso da tensão entre esses dois pólos que são, por um lado, o tamanho infinitesimal do homem dentro do conjunto e, por outro, este privilégio de que ele é o único que tem a presença do Ser. O homem é uma criatura enormemente elástica: por um lado ele não é nada e por outro, ele é o único que pode falar a palavra “tudo”. Ele é o único para o qual existe “tudo”, e de certo modo ele é a única testemunha do tamanho do universo. Isso não quer dizer, como no princípio entrópico, que o universo precise que a gente saiba algo dele. O universo lamentavelmente não precisa, nós é que precisamos.
Mas essa tensão que aparece no Salmo, e está maravilhosamente explicada nele (“O que é o homem, para que Deus preste atenção nele?”), dá a medida real do tamanho do homem, e esse tamanho tem de ser medido em duas direções: no da sua pequenez física, e na sua consciência da presença do Ser. Essas duas coisas são elementos permanentes do ser humano. Só que são elementos permanentes do ser humano enquanto espécie. O indivíduo pode se afastar disso completamente.
Isso significa que a maior parte dos indivíduos hoje está abaixo do potencial da espécie, e isso não acontece com nenhuma outra espécie animal. Se você pegar o cavalo mais capenga do mundo, ele ainda é capaz de carregar um homem nas costas; se ele não for mais capaz, cinco minutos depois ele morre. Um leão, se não for capaz de caçar, não continua vivendo indefinidamente abaixo do potencial da espécie. Ou ele está no potencial da espécie ou ele morre. O único bicho que vive e sobrevive por longo tempo muito abaixo do potencial da espécie é o ser humano, que cria essa espécie de sub-humanidade que tem que viver sendo carregada pelos outros. São um bando de irresponsáveis, um bando de moleques, que deviam é levar umas boas palmadas na bunda. Ou seja, eles não arcam com a responsabilidade humana, mas querem ter todos os privilégios da humanidade. Por que nós temos de aceitar isso? Não temos de aceitar, nós nunca podemos aceitar que alguém faça isso. Se você está buscando a consciência do Ser, e viver alerta para a realidade, onde você está ao mesmo tempo sabendo a proporção física entre você e o universo, e ao mesmo tempo está sabendo o outro lado da tensão, você tem de exigir que os outros saibam da mesma coisa. Agora, por que elas não fazem isso?
Porque o aprendizado da cultura e da linguagem é muito complicado, e os problemas de adaptação social também são muito complicados, e elas acabam concentrando tudo nisso. Isso, para elas, se torna o tudo. E pior, elas chamam isso de realidade, quando é apenas um delírio coletivo. Nesse delírio coletivo, é possível que as pessoas se afastem tanto da tensão central da existência, que elas tenham de construir personalidades inteiramente artificiais e, feliz ou infelizmente, não faltam fábricas de personalidades artificiais. Um partido político, por exemplo, que cria um conjunto de valores, de sentimentos, de reações padronizadas, e todo mundo veste a camiseta, sente as mesmas coisas, e se sente integrado naquela comunidade, e isso dá a eles uma ilusão de existência. Claro que essas pessoas estão vivendo uma vida sub-humana, elas estão abaixo do potencial humano. Elas, comparadas a um ser humano que está consciente da tensão, são como uma sombra comparada a um corpo; e é por isso que essas pessoas são tão insignificantes.
May 13 4 tweets 8 min read
1. Dentre as obrigações de hoje, inclui esta aqui: ler este ensaio do Olavo para entender a raiz de uma das grandes mazelas deste país impregnada em nosso "ethos". Isto aqui vai no núcleo.
🤠💀🚬.

"Repetidamente um fenômeno tem chamado a atenção de professores estrangeiros que vêem lecionar no Brasil: por que nossas crianças estão entre as mais inteligentes do mundo e nossos universitários entre os mais burros? Como é possível que um ser humano dotado se transforme, decorridos quinze anos, num oligofrênico incapaz de montar uma frase com sujeito e verbo? É fácil lançar a culpa no governo e armar em torno do assunto mais um falatório destinado a terminar, como todos, em uma nova extorsão de verbas oficiais.
Difícil é admitir que um problema tão geral deve ter causas também gerais, isto é, que não pertence àquela classe de obstáculos que podem ser removidos pela ação oficial, mas àquela outra que só nós mesmos, o povo, a “sociedade civil”, estamos à altura de enfrentar, não mediante mobilizações públicas de entusiasmo epidérmico, e sim mediante a convergência lenta e teimosa de milhões de ações anônimas, longe dos olhos turvos da nossa vã sociologia.
Ora, a condição mais óbvia para o desenvolvimento da inteligência é a organização do saber. Nossas energias intelectuais mobilizam-se mais facilmente em torno de uns poucos núcleos de interesse fortemente hierarquizados do que numa dispersão de focos de atenção espalhados no ar como mosquitos. Discernir o importante do irrelevante é o ato inicial da inteligência, sem o qual o raciocínio nada pode senão patinar em falso em cima de equívocos. Se, porém, cada homem tivesse de realizar por suas forças essa operação, reduzindo a um esquema quintessencial de sua própria invenção a totalidade dos dados disponíveis no ambiente físico, milhões de vidas não bastariam para que ele chegasse a obter um começo de orientação no mundo. A cultura, impregnada na sociedade em torno e resultado de sucessivas filtragens da experiência acumulada, dá pronto a cada ser humano um quadro dos ângulos de interesse essencial, de modo que não resta ao indivíduo senão operar nesse mostruário um segundo recorte, em conformidade com os seus interesses pessoais.
Quando digo que a cultura está impregnada na sociedade em torno, isto significa que a seleção dos pontos importantes transparece na organização das cidades, nos monumentos públicos, no estilo arquitetônico, nos museus, nos cartazes dos teatros, na imprensa, nos debates entre as pessoas letradas, nos giros da linguagem corrente, nas estantes das livrarias e, "last not least", nos programas de ensino.
Quem quer que desembarque num país qualquer da Europa ou em alguns da Ásia já obtém, por um primeiro exame desse mostruário, uma visão bem clara dos pontos de interesse mais permanente, que constituem uma espécie de fundo de referência cultural, bem distinto dos focos de atenção mais atual e momentânea que se recortam sobre esse fundo sem encobri-lo.
Só de andar pelas ruas, o cidadão aí pode enxergar os marcos que o situam num lugar preciso do mapa histórico, desde o qual ele pode medir quanto tempo as coisas duraram e qual a sua importância maior ou menor para a vida humana.
Se ele olha para os cartazes dos teatros, nota que certas peças estão sendo reencenadas este ano porque são reencenadas todos os anos, ao passo que outras, que fizeram algum sucesso no ano passado, desapareceram do repertório. Basta isto para que ele adquira um senso da diferença entre o que importa e o que não importa.
Ao entrar em qualquer livraria, o contraste entre as estantes onde estão sempre expostos os mesmos títulos essenciais e aquelas onde os lançamentos mais recentes se revezam mostra-lhe a diferença entre o patrimônio escrito de valor permanente e o comércio livreiro de alta rotatividade. 2. "Na escola, ele sabe que vai aprender certas coisas que seus pais, avós e bisavós também aprenderam, e outras que são novidade e que talvez terão desaparecido do currículo na geração seguinte.
Tudo, em suma, no ambiente plástico e verbal contribui para que o indivíduo adquira, sem esforço consciente, um senso de hierarquia e de orientação no tempo histórico, na cultura, na humanidade.
No Brasil isso não existe. O ambiente visual urbano é caótico e disforme, a divulgação cultural parece calculada para tornar o essencial indiscernível do irrelevante, o que surgiu ontem para desaparecer amanhã assume o peso das realidades milenares, os programas educacionais oferecem como verdade definitiva opiniões que vieram com a moda e desaparecerão com ela. Tudo é uma agitação superficial infinitamente confusa onde o efêmero parece eterno e o irrelevante ocupa o centro do mundo. Nenhum ser humano, mesmo genial, pode atravessar essa "selva selvaggia" e sair intelectualmente ileso do outro lado. Largado no meio de um caos de valores e contravalores indiscerníveis, ele se perde numa densa malha de dúvidas ociosas e equívocos elementares, forçado a reinventar a roda e a redescobrir a pólvora mil vezes antes de poder passar ao item seguinte, que não chega nunca.
Nesse ambiente, a difusão das novidades intelectuais, em vez de fomentar discussões inteligentes, só pode atuar como força entrópica e dispersante. Não há nada mais consternador do que uma inteligência sem cultura, despreparada, nua e selvagem que se nutre do último "vient-de-paraîte" e arrota uma sucessão de perguntas cretinas onde a sofisticação pedante do raciocínio se apóia na mais grosseira ignorância dos fundamentos do assunto. Acrescente-se a esses ingredientes a arrogância juvenil estimulada pelas lisonjas demagógicas da mídia, e tem-se a fórmula média do estudante universitário brasileiro. É impossível discutir com ele. Quando a mente assim deformada entra a produzir objeções numa discussão, seu interlocutor culto e bem intencionado, se não é muito enérgico no emprego da vara-de-marmelo, leva desvantagem necessariamente: quem pode vencer um debatedor tenaz que, confiante na aparente correção formal do seu raciocínio, está protegido pela própria ignorância contra a percepção da falsidade das premissas? Com um sujeito assim não cabe a gente argumentar. Cabe apenas transmitir-lhe as informações faltantes — educá-lo, em suma. Mas, precisamente, ele não vai deixar você educá-lo, porque a ideologia de rebelde posudo que lhe incutiram desde pequeno o faz pensar que é mais bonito humilhar um professor do que aprender com ele. Eis como o menino inteligente se transforma num debatedor idiota, vacinado para todo o sempre contra qualquer conhecimento do assunto em debate.
As objeções cretinas nascem, decerto, de um impulso saudável. Não há mais notório sinal de inteligência filosófica do que a capacidade de perceber contradições, a sensibilidade para a presença de problemas. O brasileiro tem isso até demais. Contrariando o lugar-comum que afirma a nossa falta de vocação para a filosofia, eu diria que somos o povo mais filosófico do planeta. A prova disso é o nosso senso de humor. O engraçado nasce, como as perguntas filosóficas, da percepção de incongruências lógicas ou existenciais.
Mas que destino terá o jovem pensador que, a braços com o debate filosófico, se veja privado de uma perspectiva histórica, de uma visão da evolução das discussões, de um conhecimento enfim, do status quaestionis? Mesmo na doce hipótese de que por natural instinto de comedimento ele se recuse ao bate-boca estéril e prefira trancar-se em casa para raciocinar a sós, ele não passará nunca de um especulador maluco, de um novo Brás Cubas a rebuscar em vão soluções já mil vezes encontradas, a polemizar com as sombras de seus próprios enganos, a esgotar-se em perguntas estéreis e em tentativas de provar o impossível.
Apr 28 5 tweets 10 min read
1. Isto aqui é profundamente muito bom. 🎯💊

🤠💀🚬

"No livro esplêndido que publicou sob o título “Roads to Modernity: The British, French and American Enlightenments” (New York, Vintage Books, 2005), Gertrude Himmelfarb mostrou que o iluminismo inglês, tão influente sobre a Revolução Americana, não foi um movimento simples e unilinear, mas um conflito insanável entre duas correntes de pensamento, uma nascida com John Locke (1632-1704), Bernard Mandeville (1670-1733) e Jeremy Bentham (1748-1832), a outra com Anthony Ashley Cooper, conde de Shaftesbury (1671-1713), Joseph Butler, bispo de Durham (1692-1752), Francis Hutcheson (1694-1746), Thomas Reid (1710-1796), George Berkeley (1685-1753), Adam Smith (1723-1790) e Edmund Burke (1729-1797). O filósofo David Hume (1711-1776) e o historiador Edward Gibbon (1737-1794) ficaram em cima do muro. A primeira das duas correntes teve repercussão mais espetacular no mundo em geral, mas a segunda foi mais determinante na prática política anglo-americana. A primeira, através do materialismo do século XIX, desembocaria em Ayn Rand; a segunda nos pais intelectuais do atual movimento conservador americano, Russel Kirk e Irving Kristol, este casado com a própria Himmelfarb.
A diferença entre as duas filosofias começa numa questão de teoria do conhecimento e desemboca em concepções opostas e irredutíveis da sociedade política. Vale a pena estudar o caso, pois essa divergência — e não a mera oposição entre intervencionismo estatal e livre mercado — marca hoje algumas das mais decisivas fronteiras entre as forças que disputam o poder nos EUA e no mundo.
Segundo Locke, a mente humana, ao nascer, é uma folha em branco. Todos os conteúdos lhe vêm de fora, através das impressões sensíveis. Sendo assim, as idéias morais não podem aparecer nela senão como resultado da acumulação de estímulos sensoriais positivos e negativos que se condensam em preferências e repulsas através das sensações de prazer e dor.
Para Shaftesbury, Hutcheson, Reid e sua prole intelectual, as sensações de prazer e dor, por si, não têm nenhum significado moral. Por mais que se somassem, não ensinariam ninguém a distinguir entre o bem e o mal, só entre o interesse próprio e o alheio. O introjeção das regras da moralidade seria impossível se o ser humano não tivesse um órgão específico para apreendê-las. Há um instinto do bem e do mal, que pode ser aperfeiçoado (ou pervertido) pelo ensino e prática mas é natural e inato em todo ser humano. Os filósofos dessa escola variam muito ao conceituar esse instinto, mas são unânimes em proclamar que ele está por trás da universal tendência humana para a vida em sociedade, a qual seria impossível se baseada só no interesse próprio e sem a presença de sentimentos básicos como a benevolência, a caridade e o amor ao próximo. O ser humano, em suma, não pode ser reduzido a um bichinho colecionador de impressões: a capacidade para um tipo de conhecimento que transcende a mera natureza corporal tem de estar presente nele desde o início, ou o salto da sensorialidade para a moralidade é inviável.
Um ponto que Himmelfarb não menciona, mas que é importante para a compreensão do assunto, é o seguinte: embora nenhuma influência escolástica seja visível nas obras desses filósofos, e embora eles não fossem religiosos de maneira alguma (com exceção de Butler e Berkeley), não é possível deixar de perceber a perfeita concordância entre a sua noção do instinto moral e o conceito escolástico da sindérese, a capacidade inata do ser humano para apreender os princípios da moralidade.
(...)
A liberdade é um mero preceito formal, sem conteúdo identificável a não ser mediante a enumeração dos seus limites. As virtudes, ao contrário, são princípios substantivos, que contêm na sua própria definição o desenho explícito dos limites de cada qual, bem como o perfil de suas relações com as demais virtudes. 2. "A liberdade baseada nas virtudes e emoldurada por elas não necessita de uma definição precisa para tornar-se numa prática concreta de todos os dias. Erigida ela própria em princípio, como aconteceu na França, o resultado é a tirania nos “amigos da liberdade” contra seus supostos “inimigos”. A diferença entre uma filosofia política fundada no conhecimento substantivo da natureza humana e uma baseada em preceitos formais imantados de atrativos retóricos já se mostra aí com toda imensidão das suas conseqüências práticas. Quando o conde de Shaftesbury disse pela primeira vez que o amável e moderado John Locke era ainda mais perigoso do que o cínico “linha dura” Thomas Hobbes, todos acharam que era um exagero. Quase um século depois, os acontecimentos na França mostraram que a liberdade abstrata podia mesmo ser ainda mais tirânica do que a monarquia absoluta.

Pouco importa, é claro, que cada participante do debate público se nomeie a si próprio como “liberal” ou “conservador”; o que interessa é saber a posição de cada um no confronto entre o substantivismo tradicional e o formalismo moderno. Do ponto de vista da economia, a diferença é mínima, pois ambos defendem a economia de mercado. A diferença aparece é em tudo o mais. Ora, desde que a influência de Lukács, da Escola de Franckfurt e de Antônio Gramsci adquiriu predomínio na formulação estratégica do movimento esquerdista internacional, foi justamente esse “tudo o mais” que veio para o centro da luta política, enquanto a socialização dos meios de produção era deixada para o dia de são nunca. Isso aconteceu, porque, de um lado, o fracasso econômico do socialismo se tornou demasiado evidente para que mesmo os esquerdistas mais fanáticos pudessem negá-lo; e, de outro lado, o sucesso cultural do esquerdismo era garantido pela própria expansão capitalista, que, abrindo a mais e mais pessoas a oportunidade de acesso ao ensino superior e à participação na política, fazia crescer ilimitadamente a classe revolucionária por excelência, isto é, a “intelectualidade”, no sentido elástico e não-qualitativo que Antônio Gramsci dá ao termo. É justamente essa imensa transformação da esquerda mundial que, hoje, obriga os seus opositores a tomar posição antes em função da guerra cultural do que das questões econômicas. E aí o formalismo liberal, por mais que se proclame inimigo do comunismo, se torna um instrumento da estratégia esquerdista através do apoio que presta a slogans e bandeiras que lhe pareçam “ampliar a democracia” por meio do aumento das liberdades e direitos concedidos a cada novo grupo militante e reivindicante. Como essa expansão dos direitos se faz através de novas legislações, e a aplicação delas exige a criação de novos órgãos jurídico-administrativos especializados, o resultado é a intervenção cada vez maior do Estado na vida dos cidadãos. Uma vez mais, a liberdade vazia é a parteira da ditadura.

Esse processo, coexistindo às vezes com a retração do intervencionismo estatal em economia, pode levar a algumas situações aparentemente paradoxais. A administração Reagan, por exemplo, restaurou o sentido dos valores tradicionais na política e acertou um golpe mortal no coração do movimento comunista. Para fazê-lo, no entanto, aumentou barbaramente o orçamento estatal, que sua plataforma “classic liberal” prometia diminuir. Já o governo Clinton, que foi recordista de privatizações, campeão do “enxugamento do Estado”, impôs ao mesmo tempo, no campo jurídico, moral e cultural, inúmeras novidades “politicamente corretas” que ampliaram formidavelmente a margem de intervenção do Estado na vida privada (escrevi sobre isso em “O Jardim das Aflições” no instante mesmo em que a coisa estava acontecendo). Incentivando o comércio com a China, sob o pretexto de que a liberalização da economia traria automaticamente a da política (típico raciocínio liberal-formalista),
Apr 27 4 tweets 7 min read
1. Sobre o poder expansionista do Islã e a reação mínima e tardia (quase meio milênio apos) das Cruzadas, descrevi neste ensaio antigo (a quem quiser lê-lo inteiro, deixo aqui abaixo). Abaixo extraio deste ensaio tudo o que o Islã fez até a 1ª Cruzada.
arierbos.medium.com/a-jihad-que-an… 2. Eia a cronologia de eventos dos muçulmanos e suas invasões e dominações até vir a Primeira Cruzada (esta organizada pelo Papa).

"Século VII (d.C.)

632: Maomé morre em 8 de junho em Medina.
633: Mesopotâmia cai face à invasão muçulmana. Segue-se a queda de todo o Império Persa para as tribos árabes maometanas, começando pela derrota na Batalha de Cadésia (ou Batalha de al-Qadisiyya), em 636, até a fuga do Imperador Yazdegerd III, para os confins do Império Sassânida, em Sogdiana, no atual Uzbequistão, onde foi assassinado em 651.
635: Damasco cai.
638: Jerusalém é capitulada pelos muçulmanos do Califa Omar ibn al-Khattab.
643: Alexandria cai, decretando assim a morte de mais de mil anos de civilização helênica que enriqueceu todo o Oriente Próximo com suas bolsas de estudos e cultura.
648: Chipre é atacado.
649: Chipre cai.
653: Rodes cai.
673: Constantinopla é atacada.
698: Todo o Norte da África é tomado pelos muçulmanos. São apagados os vestígios de cultura romana e a Hispânia (atual Espanha) é a próxima nos planos da Jihad. 

Século VIII (d.C.)

711: Hispânia (dentro do Império Visigodo) é atacada por muçulmanos de Tânger que navegaram pelos 13 km de largura do Estreito de Gibraltar até Celta (sul da Espanha). O Reino Visigodo (Portugal central e meridional, quase toda a Espanha e parte ocidental da França) colapsa.
717: Os muçulmanos do Califa Solimão ibne Abdal Malique atacam Constantinopla de novo e são repelidos pelo Imperador bizantino, Leão III.
720: Narbona (sudoeste da França) cai.
721: Saragoça cai (nordeste da Espanha). Avistamentos de muçulmanos na França.
732: Bordéus (Bordeaux no sudoeste da França) é atacada e as suas igrejas são queimadas por Abdul Rahman Al Ghafiqi. Uma basílica fora das muralhas de Poitiers foi destruída e Abdul al-Rahman dirigiu-se para Tours que encerrava o corpo de São Martinho de Tours (316-397), apóstolo e santo padroeiro dos francos. Carlos Martel e o seu exército detêm os muçulmanos (destaque para Batalha de Poitiers contra o exército do Califado de Córdova, na Espanha que já tinha sido tomada pelos muçulmanos) e mata Abdul Rahman Al Ghafiqi, em outubro de 732. Os ataques na França continuam.
734: Avignon (França austral) capturada por uma expedição muçulmana.
743: Lyon (centro-leste da França) é saqueada.
759: Os árabes são expulsos de Narbona (depois de 39 anos sob o domínio islâmico). A Itália (região meridional) será a próxima nas guerras, saques e invasões muçulmanas do século seguinte.

Século IX (d.C.)

800: Começam as incursões muçulmanas na península itálica. As ilhas de Ponza e Ísquia (oeste de Nápoles da Itália) são saqueadas.
813: Civitavecchia, o porto de Roma construído pelo Imperador Trajano (53-117), é saqueado.
826: Creta (a maior ilha grega, ao sul da Grécia) cai perante as forças muçulmanas (que serviu de base para os muçulmanos até 961; quase 150 anos de controle).
827: Os muçulmanos começam a atacar a Sicília (sul da península itálica).
837: Nápoles (oeste da Itália) repele um ataque muçulmano.
838: Marselha (França meridional) saqueada e conquistada.
840: Bari (sudoeste da Itália e banhado pelo mar Adriático e lar das relíquias de São Nicolau de Mira (meados do século III-350), o original "Papai Noel"), caiu para o chefe dos piratas berberes, Khalfun, que depois saqueou o Santuário do Monte de São Miguel Arcanjo.
842: Messina (no sudoeste da Itália) capturada e o estreito de Messina (entre a ilha da Sicília e o continente italiano) controlado pelos muçulmanos.
Apr 17 20 tweets 4 min read
1. A capacidade de síntese e de expressão da realidade que o Olavo tinha é absurda. Aqui ele sintetiza quase três séculos de Socialismo — e explicando o que é isto em essência — em um punhado de parágrafos.
🤠💀🚬

"O socialismo matou mais de 100 milhões de dissidentes e espalhou 2. "o terror, a miséria e a fome por um quarto da superfície da Terra. Todos os terremotos, furacões, epidemias, tiranias e guerras dos últimos quatro séculos, somados, não produziram resultados tão devastadores. Isto é um fato puro e simples, ao alcance de qualquer pessoa
Apr 11 6 tweets 6 min read
1. Uma pequena amostra das violações dos STF + TSE


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2. Uma pequena amostra das violações dos STF + TSE


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Apr 11 18 tweets 3 min read
1. Pela Última Vez, Prometo

Não é possível não ver o absurdo da defesa de uma idéia brutalmente injusta e pró-impunidade (para justificar inações covardes) de que não adiantar punir um juiz que comete crimes porque não vai "resolver" a criminalidade, mas vamos lá. 2. Pela última vez, agora fazendo uma moderna maiêutica socrática:

1) Violar CF e Leis é crime ou não?
R: Sim.

2) Um juiz do STF violar CF e Leis para perseguir, interferir, censurar, prender inimigos é crime ou não?
R: Sim.
Apr 3 8 tweets 2 min read
1. É este tipo de gente que compunha a Assembleia Nacional da Revolução Francesa em sua origem; uma porrada de celerados, cheios de ideologias de merda na cabeça, e que pareciam parasitas de DCE de facul de Extrema-Humanas. Deu muita merda (até hoje) e não foi à toa.💀🇫🇷 2. "Assim, superexcitados, não sabem de manhã o que farão à tarde e ficam à mercê de qualquer surpresa. Quando são tomados por esses acessos de entusiasmo, a paixão se espalha por todas as bancadas; a prudência cede, toda a previsão desaparece e toda objeção é abafada.
Mar 30 5 tweets 1 min read
1. "O famoso filme "A Paixão de Cristo" apresenta uma cena em que um personagem misterioso aparece carregando um bebê, enquanto Jesus é punido fisicamente. O significado da cena que poucos conseguem entender é que Jesus Cristo está sendo açoitado e Satanás aparece com “um bebê” Image 2." para mostrar a Jesus que até mesmo “o Diabo” cuida de seu filho, enquanto Deus permite que ele seja cruelmente humilhado. Quem carrega o Filho Mais Velho é Lúcifer e tem uma aparência andrógina, já que os Anjos não têm gênero."

Maria do Carmo Godinho
Mar 5 14 tweets 3 min read
1. Adivinha quem avisou que isto já estava acontecendo e pioraria, e isto lá em 1999 (na verdade desde o início da década de 1990)? Isto mesmo, o Olavão...
🤠💀🚬

"Na década de 70, o romancista Osman Lins fez um exame da nossa literatura didática e encontrou um panorama 2. "de desoladora estupidez. Na época, foi fácil atribuir ao governo militar a culpa das enormidades que esse material escrito impingia às nossas crianças. Mas as hordas esquerdistas que, com a redemocratização, tomaram de assalto todos os órgãos educacionais,
Feb 11 14 tweets 2 min read
1. "O idiota presunçoso, isto é, o tipo mais representativo de qualquer profissão hoje em dia, incluindo as letras, o ensino e o jornalismo, forma opinião de maneira imediata e espontânea, com base numa quantidade ínfima ou nula de conhecimentos, 2. "e se apega a seu julgamento com a tenacidade de quem defende um tesouro maior que a vida. A rigor, não tem propriamente opiniões. Tem apenas impressões difusas que não podendo, é claro, encontrar expressão adequada,
Jan 31 5 tweets 1 min read
1. O Positivismo Do Brasileiro

O problema do Positivismo e da sua cria servil, o Juspositivismo, não está só em militares, advogados, funcionários públicos e afins, mas já no "ethos" nacional. O brasileiro já é positivista e juspositivista em sua cosmovisão 2. e horizonte de consciência.

Uma vez aprovada uma lei, por mais absurda, vil, injusta que seja, o brasileiro em geral automaticamente tende a se conformar com ela e se adequar a ela, podendo, no máximo, reclamar (obedientemente)
Jan 19 18 tweets 3 min read
1. Os Indícios Da Estupidificação Generalizada E Emburrecimento Crônico

Quando comecei a reparar nisto? Bem, os primeiros indícios que me alertaram para a grotesca estupidificação generalizada e emburrecimento crônico das pessoas que estamos atravessando há gerações — 2. e piorando exponencialmente nas últimas décadas — foran extraídos do meu dia-a-dia testemunhando inúmeros casos de gente, em vários lugares distintos, em diversas situações diferentes não conseguindo mais juntar patentes lés com crés do que perceberam ou viveram,
Jan 14 11 tweets 2 min read
1. 👉🇧🇷🙌

"A versão da soberania popular posta em prática nas ruas de Paris era muito diferente da que era articulada sob o mesmo rótulo pelos políticos. Para eles, a soberania popular significava que os representantes do povo em nível nacional detinham poder absoluto. 2. "Para os parisienses, menos preocupados com sutilezas constitucionais, significava não raro que uma multidão ou uma audiência podia exigir que se passasse à ação ou tomar a ação em suas próprias mãos, sob a alegação de que constituía "o povo",
Jan 4 15 tweets 3 min read
1. Tem QI Para Pesquisar Que O QI Abaixou Exclusivamente No Brasil?

No artigo "One Century of Global IQ Gains: A Formal Meta-Analysis of the Flynn Effect (1909-2013)", de 19 de abril de 2013, (que serviu de base para um gráfico gerado no "Our World in Data", 2. que passou a circular em 2017, quando ainda constava este trabalho científico no banco de dados do sito) os pesquisadores Jakob Pietschnig e Martin Voracek da Universidade de Viena indicaram que dos 31 países analisados por dezenas de estudos feitos
Dec 30, 2023 10 tweets 2 min read
1. É assim que age os que detêm o poder de dar ou manipular o poder alheio; é assim que, das penumbras e sombras, agem as potestades que mandam nos que a maioria esmagadora acha que mandam.

"No início dos anos de 1970, durante a criação da Comissão Trilateral, David Rockefeller 2. "gastou muito do seu tempo viajando ao redor do mundo, em seu avião particular — modelo Grumman Gulfstream —, para visitar líderes mundiais e aconselhá-los. Sua agenda pessoal contava com 35.000 "amigos pessoais" ocupantes de altos cargos pelo mundo.
Dec 15, 2023 7 tweets 2 min read
1. 🤠💀🚬

Olavo, digo São Olavo, lá em 1999 já destrinchando, explicando, desenhando a hegemonia esquerdista e comunista que ele já havia exposto em 1993, o que pessoas só perceberam no fim de 2023 com um comunista no STF.🤷

"No Brasil de hoje só existem, a rigor, 2. "duas correntes politicas: os social-democratas que estão no governo, os comunistas que estão na oposição. Os poucos liberais que restam só sobrevivem graças a uma aliança aviltante com os social-democratas, dos quais se tornaram serviçais. Não há um partido conservador,
Dec 10, 2023 12 tweets 2 min read
1. 🤠💀🚬

A veia cômica, debochada do Olavo para escrachar tantas anomalias que proliferavam na insalubridade de Banânia é única, hilária e permanentemente inspiradora.

"Adepto da filosofia realista, segundo a qual os cinco sentidos nos mostram a realidade objetiva, há fatos, 2. "no entanto, que me fazem duvidar da existência do mundo exterior e me põem em angustiantes dúvidas metafísicas. Um deles é ouvir os governantes do estado do Rio anunciarem que vão reprimir os assaltantes pelo método de desarmar suas vítimas.
Inútil exclamar,
Dec 1, 2023 24 tweets 5 min read
1. A Minhoca E O Basilisco

Quantas e quantas vezes se a alertou — não só agora, não só no Brasil: mas pela História inteira, em coleções de paisagens, em variedades de civilizações — que a Injustiça é uma besta perigosa, que sofre mutações físicas e mudanças de apetite, Image 2. mesmo quando parece já adulta, mesmo quando ainda devora a vítima que já não lhe apetece mais?

Mas sempre surgem aqueles tiranos, loucos por poder, que querem criar, ressuscitar, moldar e domar uma Injustiça voraz capaz de, a seus comandos e belprazer,
Nov 29, 2023 11 tweets 2 min read
Brasil Indo Inferno Abaixo

Casa dia mais é sufocante viver neste país de bestas crescentes, em que injustiças são celebradas com desfaçatez, traições a favor dos maus confessadas com bazófia, a impunidade normalizada com cinismo, e criminosos, mentirosos, incompetentes 2. e canalhas vão dando metástases no poder e na sociedade por seus tumores crescentes em torno de nós. Este país já se tornou um antro que progressivamente se assemelha a um Vestíbulo do Inferno em que os recordes de aberrações imorais, de violências grotescas
Nov 19, 2023 17 tweets 3 min read
1. Mesmo já tendo lido o Corão (de suas fontes e registrado cada sura importante) e uma penca de livros historiográficos, de comentaristas e de críticas ao Islã, prefiro deixar São Tomás de Aquino (1225-1274) dizer sobre o que leu e examinou. 2. "Tão maravilhosa conversão do mundo para a fé cristã é de tal modo certíssimo indício dos sinais havidos no passado, que eles não precisaram ser reiterados no futuro, visto que os seus efeitos os evidenciavam.