O time de Abel se resume a levar a bola para a extremidade, explorar alguma vantagem para ter tempo e espaço para cruzar a bola na área por baixo ou por cima, e depois ganhar a 2ª bola. Foram Estêvão e Endrick, com suas transgressões, que o salvaram da monotonia nos últimos anos.

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O antológico gol de Endrick contra o Botafogo não teria ocorrido se ele tivesse passado a bola, chutado ou cruzado após o primeiro drible, e o Palmeiras não teria sido campeão brasileiro. Na declaração está implícita a ideia de que driblar não é uma "coisa", não tem importância.

Esse artigo de Jonathan Northcroft aborda um dos pontos que afirmo desde 2018, a homogeneização do jogo a partir de Guardiola (estilo, tática e padrões semelhantes), e alude a outro (a contradição entre o guardiolismo e o entretenimento do jogo):

thetimes.com/article/c813b2… O autor começa com uma hipótese: a impressão de que todos os times e todos os jogos da PL parecem os mesmos. Ele vai aos dados testar essa hipótese e descobre que, sim, há um processo acelerado de homogeneização da PL.

GUERRA CONTRA O LOSANGO É IDEOLÓGICA

Não vão te contar que o gol de Yuri contra o Bahia só ocorreu porque o Corinthians defendia em 4312, mas muita gente vai culpar o losango por cada chute ao gol do adversário. Contudo, tática é escolha, e cada escolha traz perdas e ganhos.
Aparentemente, por jogar sem pontas, o 4312 teria uma deficiência para marcar os lados do campo, mas é o oposto. Como os volantes pelo lado precisam fazer o balanço para ajudar o lateral na marcação, é o centro do campo, a entrada da área que fica desguarnecida.

RAMÓN DÍAZ

Desde a sua chegada, o Corinthians tem uma das 5 melhores campanhas do Brasileirão e tornou-se, com a bola, um dos times mais agradáveis de assistir. A explicação está numa velha fórmula: um enganche e dois atacantes. Aproximar os melhores seja no 4312 ou no 3412. Sistemas sem pontas caíram em desuso, mas continuaram vencedores. O Flamengo vence a Libertadores atacando e defendendo no 4312. A Argentina campeã da Copa, na maioria das vezes, defende no 442, e ataca no 4312. O Real de Ancelotti, idem.

SUJEITO SEM OBJETO

Dorival fala em reaproximação com o povo. Marquinhos pede para não ser abandonado. Para além da retórica e dos pedidos sentimentais, o que está sendo feito? O que é se reaproximar? O que queremos da seleção brasileira? 1. Para nós, a seleção brasileira sempre foi sinônimo da união de jogadores geniais desfilando suas qualidades com autonomia.

Zito, Didi, Pelé, Garrincha.
Gerson, Riva, Pelé, Jair e Tostão.
Cerezo, Riva, Zico, Dinamite, Reinaldo.
Cerezo, Falcão, Sócrates, Zico, Éder.

TRÊS CRENÇAS são muito marcantes no novo futebol brasileiro:

1ª crença: O futebol é apenas business, devendo ser estritamente objetivo e previsível. Tomado assim, o futebol torna-se uma ilha de negócios, sem qualquer ligação profunda com as dinâmicas socio-culturais. Fazer futebol seria algo tão técnico como construir um prédio. E torcer para um clube não é algo muito diferente de torcer, por exemplo, para a XP.

A seleção brasileira, antes símbolo maior do povo brasileiro, virou a coisa mais mixuruca, mixe, insignificante desse país.

Não é possível mais fazer poesia depois disso. No fundo, o resultado acaba sendo irrelevante. Simplesmente não nos reconhecemos mais no que vemos em campo. Não nos desperta grandes afetos, mas só resmungos rotineiros, como os de um trabalhador cansado e absorvido com o seu serviço.

O jornalismo esportivo acabou. Vedetes da direção do Flamengo passaram para frente a história que Gabigol estava afastado devido a Filipe Luis, mas não fizeram a pergunta básica da profissão antes de soltar a história: Filipe Luis pediu o afastamento?

https://twitter.com/fla_infos/status/1856740043819221315

Se Filipe não pediu, então Gabriel não foi afastado por desavença com o técnico. A direção usou qualquer ruído, sempre presente na comunicação humana, como desculpa para o afastamento. Afastou e jogou no colo do técnico. A imprensa informou antes de usar o senso crítico.

Bom moço, não tem tatuagem, fair play e classe, não contesta, não insulta, não provoca, só uma brincadeirinha boba.

Quando vocês vão entender que não é o comportamento de Vinicius, como antes não era o de Dibu, mas uma luta para matar aquele futebol que expressa o que somos?

https://twitter.com/futebol_info/status/1851307750392762792

Sou a favor da Bola de Ouro voltar a ser apenas uma nota de rodapé (e olhe lá) no noticiário brasileiro. Status social não faz nenhum jogador melhor ou pior. Chancela de prêmio europeu, idem. Todavia, muito me interessa os argumentos que estão sendo dados sobre comportamento.

Em 2019, o Brasil ganhou a Copa América. Defendi ao fim do torneio que a Argentina ganhou algo mais importante, um futuro. Anos depois, venceram a Copa a partir dessa semente. O caminho da Argentina nos ajuda a compreender que a crise de identidade da seleção é sociocultural.🧶

https://twitter.com/Jozsef_Bozsik/status/1195416132762644483

A Argentina começa a Copa América 2019 num 442 posicional e simétrico, buscando o jogo exterior com pontas claros. Perde para Colômbia, empata para o Paraguai. Poderiam ser eliminados na 1ª fase. Então, Scaloni muda tudo.

ZAGALLO FUNDOU O FUTEBOL BRASILEIRO

Um lateral subindo por vez, meias/atacantes que jogam por dentro e pelos dois lados, o desenvolvimento das funções ou dos papeis sociais (o 2º volante infiltrador, por ex.),tudo que reconhecemos por décadas como parte do jogo veio de Zagallo🧶 1. OS "CINCO CAMISAS 10"

No final da década de 60, o futebol brasileiro já havia incorporado plenamente as diagonais de Flávio Costa e a presença do falso-ponta. Todos os melhores times jogavam com um meia na ponta, criando um quarteto com os 2 volantes e o ponta-de-lança.

30 ANOS DO TETRA: DERRUBANDO OS MITOS

Após tantas eliminações traumáticas, o Brasil conseguia finalmente o Tetra. Contudo, aquela seleção é cercada de controvérsias. Vários mitos persistem até hoje. Esses mitos desviam o nosso olhar do ocorrido. Está na hora de derrubá-los. 🧶 MITO 1: TIME DEFENSIVO, DE CONTRAGOLPE E QUE JOGAVA POR UMA BOLA

Você já deve ter escutado que a seleção de 94 era defensiva, retranqueira, jogava no erro do adversário e que apostava nos contragolpes com Bebeto e Romário. É justamente o inverso.

Passado o som e a fúria da semana, é momento de pensarmos nos raciocínios lineares e nos transtornos em torno da seleção brasileira: 1) O raciocínio linear primevo: “se não ganharmos da Venezuela, não ganharemos da França”.

Se o futebol fosse assim, a Argentina, que perdeu p/ Arábia, não teria triunfado depois contra Holanda, Croácia e França. A Espanha, que perdeu para Suíça, não teria vencido a Holanda.

TUDO É PERIGOSO. TUDO É DIVINO MARAVILHOSO

O menino leva a bola debaixo do braço. Todos os sonhos passam por ela. A glória do gol decisivo ou apenas para sair da miséria. A bola entrelaça entre os pés a cada sopro de vida. Chega a vida adulta e o profissionalismo, e esse menino é assolado por cobranças: não erre, repita o mecanismo, faça isso, não corra o risco, não perca a bola. O "jogar" perde certa naturalidade. Vira repetição e banalidade. A responsabilidade deixa de ser remédio e vira veneno.

O ponto principal, para além das nomenclaturas, é que o futebol não é uma ilha. Ele está inserido na cultura, na sociedade, no imaginário, nas mentalidades, etc. Global ou local não é uma escolha, mas uma relação, uma dialética se preferirem.

https://twitter.com/carlosemansur/status/1713020042101555463

Há um enorme debate de séculos sobre a formação do país, do povo brasileiro, das desigualdades, etc. Nesse contexto, o futebol foi assunto direto para muitos autores como Mário Filho, Nelson Rodrigues, Freyre, Lins do Rego, Wisnik, DaMatta, e centenas de teses na universidade.

ENTRE OS TÉCNICOS DISPONÍVEIS, TITE É O MELHOR NOME PARA O FLAMENGO.

Se estiver disposto a se adaptar às características dos melhores jogadores, Tite é o melhor nome para o Flamengo entre os técnicos sem clube.

Segue o fio 🧶 Em 2015, no Corinthians, Tite montou um sistema funcional com Jadson partindo da direita e atravessando o campo, reunindo-se com Elias e Renato no setor da bola, explorando tabelas, criatividade, progredindo a partir do "chegar e não estar" com muita gente partindo de trás.

No último ciclo, muitos problemas da seleção ficaram escondidos por vitórias curtas, ou baseadas na imposição física, ou fruto de bola parada. A vitória de hoje não pode esconder algumas questões que são importantes para aprimorar e encaixar melhor as coisas adiante: 1) Já está claro que o estilo do Diniz vai favorecer muito os nossos 3 melhores jogadores: Neymar, Vinicius e Rodrygo. Mas é preciso tirar vários vícios de raciocínio de outros jogadores;

OS JOGADORES DO FLAMENGO SÃO INDOLENTES?

Em 1954, João Lyra Filho chefiava a delegação brasileira na Copa do Mundo. Lyra era um jurista percusor do direito esportivo no Brasil e figura mais influente na área durante o Estado Novo.

Segue o fio 🧶 Após a derrota para a Hungria nas quartas, cabia a João Lyra explicar num relatório as causas do fracasso. Como em 1950 com o perseguido Barbosa, Lyra recorreu ao racismo e às explicações raciais. Para ele, a mestiçagem era a grande culpada do fracasso brasileiro na Copa.

Ranking dos gastos dos clubes brasileiros em contratações nos últimos três anos (em milhões de euros):

1- Flamengo: 84,95
2- Bragantino: 51,19
3- Palmeiras: 38,7
4- Atlético-MG: 31,57
5- Athletico: 29,85
6- Santos: 28,45
7- Botafogo: 24,52
8- Vasco: 23,79
9- Grêmio: 23,65 10- Bahia: 22,02
11- São Paulo: 19,94
12- Internacional: 18,03
13- Corinthians: 12,15
14- Fortaleza: 10,21
15- Cruzeiro: 9,08
16- Coritiba: 8,61
17- Fluminense: 7,65
18- América-MG: 3,72
19- Cuiabá: 2,65
20- Goiás: 0,39

Por que um país subdesenvolvido conseguiu ser o maior campeão e despertar o afeto mundial no esporte que é o preferido do mundo rico europeu?

Por que esse mesmo país não está só de novo 24 anos sem ganhar uma Copa, mas, dessa vez, perdeu a admiração e as paixões que despertava? Sem partir das perguntas certas, só teremos respostas desencontradas. O período entre 1970 e 94 é diferente do de hoje. Não só pela seca de gênios. Em 94, uma seleção tão difamada por setores da imprensa, chega na Copa despertando admiração em Cruyff e na imprensa internacional.

FALSO-PONTA

Em 1967, Telê começava sua carreira de treinador nos juniores do Fluminense. Ele morava na Vila da Penha e tinha uma sorveteria. Um dos seus empregados era um jovem vizinho, Vanderlei Luxemburgo. Vinte e sete anos depois, eram os técnicos dos melhores times do mundo. No ano seguinte, Luxemburgo começava sua carreira de jogador nos juniores do Botafogo. Ele era um "falso-ponta". Desde os anos 50, o futebol brasileiro recuava um ponta para se juntar aos dois médios e ao ponta-de-lança e formar um quadrado assimétrico com e sem a bola.