Marcelo Backes 🚩 Profile picture
Escritor, tradutor e jornalista. Doutor em Germanística e Romanística pela Universidade de Freiburg, com bolsa do governo alemão. Prêmio Nacional da Áustria.
Feb 21, 2023 17 tweets 3 min read
Aos indignados com a figura demoníaca apresentada pelo Salgueiro na Sapucaí, eu respondo com o poema “Hino a Satã” do Nobel de Literatura italiano Giosuè Carducci. O poema mostra um satã iluminista, absolutamente necessário em meio ao atraso obscurantista da Igreja. O poema é 🧶 Image longo, maravilhoso e fiz:

HINO  A  SATÃ
Giosuè Carducci

A Ti, imenso princípio do Ser, Matéria e
         Espírito, Razão e Sentimento.

Quando cintila o vinho no copo como a
         Alma brilha no fundo da pupila,
Quando correm a Terra e o Sol e trocam 🧶
Feb 20, 2022 4 tweets 1 min read
O agro bolsonarento envenena e mata e o MST é o maior produtor de orgânicos do Brasil. O retrato do interior caubói de São Paulo, desenhado por Oswald de Andrade no Capítulo 59 de “Memórias Sentimentais de João Miramar” é hoje ainda mais atual do que à época da publicação (…) 🧶 do livro, em 1924. E alcançou o Brasil inteiro na esteira do bolsoagrarismo sórdido e do sertanojo colonialista. O relâmpago do capítulo deste livro fragmentário e inovador é preciso, iluminador. Oswald escreve:

“59. FAR-WEST
Chapelões e revolvers de último modelo saíam (…)
Feb 18, 2022 5 tweets 1 min read
Ah, “A Montanha Mágica” de Thomas Mann. Hans Castorp está à espera de madame Chauchat, à espera de que algo aconteça, e tenta degustar a espera, enquanto Thomas Mann delineia um dos mais perfeitos e poéticos conceitos da literatura universal sobre… 🧶 a espera. E escreve. "Pode-se dizer que ele gastava a semana aguardando durante sete dias a volta de uma mesma hora - e aguardar significa adiantar-se, significa sentir o tempo e o presente não como uma dádiva, mas como mero obstáculo, significa negar e aniquilar o seu valor (…)
Feb 9, 2022 9 tweets 2 min read
Thomas Mann defende a tese da culpa coletiva da Alemanha em relação ao nazismo e declarou que todos os alemães tinham de pagar. E aí vem um ignorante, um imbecil, um safado como esse Kim Kataguiri, dizer que os alemães erraram ao proibir o nazismo? Thomas Mann publicou (…) 🧶 “A Montanha Mágica” em 1924. O romance se passa entre 1907 e 1914 e nele um homem, nitidamente professando a fé nazista, já lê “A Tocha Ariana”. Em discurso de 1930 (o nazismo chegaria ao poder apenas em 1933), Thomas Mann escreveu que o nazismo era “uma onda gigantesca (…)
Feb 9, 2022 7 tweets 2 min read
“Mefisto” é um romance de Klaus Mann, filho de Thomas Mann. Publicado em 1936 na Holanda (o nazismo matou toda e qualquer expressão de arte aceitável), o romance mostra que Klaus já percebia o que energúmenos e protonazistas ainda hoje se recusam a ver ou então minimizam. (…) 🧶 E a Alemanha ainda não havia anexado a Áustria, não havia invadido a Polônia; e muitos líderes no mundo ainda pensavam que era possível negociar com Hitler. Klaus escreve, a certa altura, em palavras visionárias, sangrentas e precisas: (…)
Nov 9, 2021 8 tweets 2 min read
(1) Capital e Trabalho em Eça de Queirós

“A Cidade e as Serras" é o último livro de Eça de Queirós, publicado um ano após sua morte, em 1901. O romance é um divertissement, que aborda as diferenças entre vida rural e vida urbana e não tem as pretensões mais abrangentes e 🧶 (2) fundamentadas de "Os Maias", por exemplo. Mas em determinado momento, quando assume a crítica à desigualdade do mundo, Eça chega a operar com as categorias marxianas de Capital e Trabalho para mostrar a injustiça que impera no capitalismo parisiense. A paulada é 🧶
Aug 21, 2021 5 tweets 1 min read
Eu leio “Guerra e Paz” de Tolstói e encontro esta preciosidade sobre a classe militar; e olha que os russos estavam em guerra contra Napoleão. O trecho está no início da Parte 4 do Tomo II, longe demais para que bolsominions e militares tenham fôlego para alcançá-lo: (…) 🧶 “A tradição bíblica diz que a ausência de trabalho — o ócio — era a condição da beatitude do primeiro homem, até a sua queda. O amor ao ócio permaneceu o mesmo no homem decaído, mas a maldição continua a pesar sobre o homem, e não só porque precisamos ganhar o nosso pão (…)
Sep 15, 2020 19 tweets 4 min read
O assunto é Victor Hugo, também porque a miséria voltou ao Brasil com Bolsonaro, e só não é pior porque a oposição lutou pelo auxílio emergencial. Um dos romances mais grandiosos de Victor Hugo é "O homem que ri" (1869). A história do homem que foi mutilado por um rei (1) e é obrigado a rir eternamente porque lhe cortaram a boca e o desfiguraram, é tão grandiosa que serviu de inspiração à criação bem mais tardia do Coringa, de cuja versão mais recente se aproxima muito. Na retórica de Victor Hugo, a sabedoria na maior parte das vezes aparece (2)