Há exatos 40 anos era realizado, na Praça da Sé, o maior ato pelas Diretas no Brasil. Foi a esta imagem que o empresário Luciano Hang recentemente recorreu para denunciar: "Sempre estiveram do mesmo lado..,PSB, PSDB, PT, MDB…Nos enganaram durante décadas. Teatro das tesouras". Era junho de 2022 e a oposição preparava uma reedição da "Carta aos brasileiros", originalmente redigida em 1977 para denunciar a ilegitimidade do regime militar, mas que agora tinha como alvo a escalada retórica do então presidente Jair Bolsonaro contra o sistema eleitoral.

Há exatos 60 anos tinha início o governo Castelo Branco, o primeiro dos cinco militares que presidiram o país durante o regime. Iniciada a partir do mandato de Ernesto Geisel, uma “operação abafa” o converteu de ditador a democrata na memória social do período 🧶 De acordo com os manuais mais esquemáticos de história e especialmente jornalismo sobre a ditadura, as Forças Armadas seriam divididas em duas linhas: moderada e linha dura. A 1ª seria mais próxima do espírito da “revolução” de março, representada por Castelo, Geisel e Figueiredo

[60 anos de 1964] Afinal, o golpe militar de 31 de março abortou uma articulação revolucionária do comunismo internacional no Brasil?

A resposta mais fácil é: não. Moscou teria reagido na primeira hora. A mais difícil precisa de uma breve contextualização 🧶 O revisionismo ideológico mais recente da direita costuma tomar como prova inconteste da iminência de um golpe comunista no Brasil o conteúdo de documentos encontrados nos arquivos do serviço secreto tcheco, liberados para consulta após o fim do regime.

Ontem vieram a público informações de que a profa Chang Chung Yu Dorea, da UnB, consta na lista de alvos ilegalmente monitorados pela Abin. Antes, um agente do órgão já tinha sido descoberto lá como vigilante. Não é a 1ª vez que a universidade pública esteve sob espionagem 🧶 Em janeiro de 1971, o regime militar instituiu as famigeradas Assessorias Especiais de Segurança e Informações (Aesis, mais tarde denominadas ASI), subordinadas às Divisões de Informações e Segurança (DSI), sob o comando geral do Sistema Nacional de Informações (SNI).

Carnaval e cancioneiro popular brasileiro: o dia em que Ary Barroso cortou relações com Heitor Villa-Lobos por 15 anos 🧶 Não é segredo pra ninguém que durante um bom tempo a música brasileira virou praticamente sinônimo de música de carnaval. Nem sempre foi assim, no entanto. Foi lá em 1899 que Chiquinha Gonzaga compôs "Ô, Abre Alas" inspirada pelo Cordão Rosa de Ouro

Muito bom o documentário da Folha sobre o 8 de Janeiro. Mas eu queria chamar atenção pra uma declaração do ministro Barroso: “Esse episódio ressuscitou um fantasma, um defunto que a gente achava que já estava enterrado, que é esse defunto do golpismo”. Um pequeno fio sobre isso: Através de uma metáfora com o mar, o historiador Fernand Braudel dividia o tempo histórico em três: o dos eventos, simbolizado pelas espumas das ondas, mais rico em interesse humano e mais superficial (no sentido de visível);

Essa série de catarses provocadas por boatos de decretação de estado de sítio, comprovação de fraude nas urnas, prisão de Alexandre de Moraes e intervenção federal/militar não deixa de ser parte da realização de uma velha utopia olavista🧵 que, desde os anos 1990, busca suplantar a hegemonia cultural da esquerda, num constante jogo de denúncia e espelho. Espelho porque, como argutamente diagnosticou o professor @alvarobianchi, trata-se de um "antigramsciano gramsciano". Mais do que denunciar, a ideia é copiar.

Parece que está rolando um spin off acéfalo do bolsonarismo. Muitas lideranças locais se acotovelando pra chamar atenção do grupo. Consequência lógica é a insubmissão ao pedido de desobstrução, seja pelo início de uma desidentificação, seja pela crença num plano oculto de golpe Meus sinceros parabéns pra quem achou essa era apenas mais uma energia política que, se passasse do ponto, as instituições controlariam. Agora temos um contingente substancial da população em pleno transe, completamente imerso numa realidade paralela e disposto a tudo pra vencer

Uma coisa que deveria ficar clara é que Bolsonaro está usando seus seguidores mais emocionalmente afetados pra colocar em marcha um plano macabro win-win pra 2022. A utopia maior é o golpe. Mas, se ele não vier, tem outro igualmente vantajoso, mas mais factível: a acomodação Já disse e repito: Bolsonaro é um bon vivant, tem alergia ao trabalho. Tudo que quer é passear de lancha, dar umas declarações abjetas aqui e ali e continuar elegendo a prole sem ser incomodado além da conta. A essa altura, ele já sabe que vai perder a reeleição

A BOMBA
O dia em que a extrema-direita foi explodir uma exposição em São Cristóvão

Nesta quinta-feira, 19 de maio, completam-se exatos 60 anos de um dos eventos mais emblemáticos da história da república brasileira: a bomba na Exposição Soviética de Indústria e Comércio Tudo começou com um corre-corre por volta das 21h no Pavilhão de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, onde duas semanas antes havia sido inaugurada a exposição. O que se sabia, até então, é que uma bomba-relógio estava numa de suas salas.

Há exatamente 1 ano, em 6 de março de 2021, uma comitiva do governo brasileiro embarcava pra Israel no jato VC-99 da FAB com técnicos, ministros, assessores e deputados pra verificar in loco o spray nasal EXO-CD 24, desenvolvido pela OBCTCCD24 LTDA pra tratamento da covid-19 Em vídeo publicado no YouTube, o deputado Eduardo Bolsonaro chamou a viagem de "missão científica": . O presidente anunciou a expedição com entusiasmo: "O que é esse spray? Não sei. Mas [...] parece que é um produto milagroso. Parece", disse na época

Olavo de Carvalho é um fenômeno que só foi possível graças a 3 outros na Nova República: a revolução digital; o que eu chamaria de editorialização do extremismo; e a degradação institucional brasileira Até o início dos anos 2000, apesar do trânsito histórico em grandes jornais do país, ele só tinha publicado em editoras menores. “A nova era e a revolução cultural: Frijtof Capra e Antonio Gramsci” saiu em 1994 pela modesta editora do Instituto de Artes Liberais & Stella Caymmi

Nos anos 1980, a historiografia brasileira da escravidão passou por um processo de transformações que de alguma forma pode ajudar a iluminar a questão que quase monopolizou o debate público da última semana. Essa tradição emergiu como uma 3ª corrente de interpretação sobre o labor escravo no país. Com Freyre, rejeitou-se o paradigma racista oitocentista; foi reconhecida a importância africana para a formação nacional; e a miscigenação deixou de ser vista como um problema.