Rodrigo Nunes Profile picture
Philosophy, PUC-Rio. Neither Vertical Nor Horizontal: A Theory of Political Organisation @versobooks: https://t.co/GlY2v3pfRx. Bylines @revistapiaui etc.
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May 25, 2023 16 tweets 3 min read
Que o governo sofra derrotas num Congresso dominado por uma coalizão de fisiologismo e capitalismo predatório não é supresa: é o jogo que tem para os próximos anos. O que preocupa é menos isso do que ver a rapidez com que o governismo e seus apoiadores retorn a velhos hábitos. Primeiro, claro, está a própria natureza da derrota. Mesmo supondo que toda a base do governo seja pró-agenda ambiental e indígena (improvável) e que a mutilação da MP foi aceita como mal menor, resta a questão de porque é sempre *essa* parte do programa que se aceita negociar.
Jan 8, 2023 17 tweets 3 min read
Nada do que segue tem por fim minimizar a gravidade do que aconteceu agora em Brasília. Mas apontar as diferenças entre o 6/01/2021 em Washington e o 8/01/2023 em Brasília me parece lançar alguma luz sobre o que está acontecendo. A diferença mais importante é o timing. A invasão do Capitólio tinha o objetivo claro de impedir a diplomação de Biden, de modo a evitar que sua vitória virasse um fato consumado. No Brasil, todos os prazos (anúncio do resultado, diplomação, posse) foram perdidos.
Oct 11, 2022 12 tweets 3 min read
Ótima coluna do @mat_alencastro hoje. De fato, essa eleição aponta para um realinhamento de longo prazo da política brasileira: não é apenas a consolidação da extrema direita, mas de uma aliança que representa a ascendência do campo sobre a cidade.
tinyurl.com/kdpvyp95 Isso me ajuda a retomar um ponto da entrevista para o @diplobrasil. Como aponta a coluna, essa ascensão do interior (Centrão, agronegócio) sobre o litoral não vem de agora, mas começa para valer em 2015-6, quando os setores que mais tinham ganho sob o PT resolvem abandonar Dilma.
Sep 30, 2022 9 tweets 2 min read
Uma reflexão atrasada sobre o debate (especificamente uma troca entre Dávila e Soraya) e o que aconteceu esta semana no Reino Unido:
É fácil demais, depois de quatro décadas de dominação total do neoliberalismo no debate público, parecer ser sensato em economia. > Basta ligar o automático e fazer os ruídos apropriados sobre “reformas”, “desregulamentar”, “abrir a economia”, "o setor privado é mais eficiente"; não é preciso a menor ideia de como as coisas funcionam.
O problema é que isso gerou uma situação em que, há quarenta anos,
Sep 5, 2022 11 tweets 3 min read
O derrotismo instintivo de muita gente fatalmente interpretará o fracasso do Apruebo no referendo chileno como sinal de que a onda progressista refluiu, que ela tirou a direita do armário, de que foi um erro tentar ir contra um suposto conservadorismo natural da população.
Calma. Por tudo que tenho podido acompanhar, a derrota combina uma série de fatores: a frustração com o governo, que apostou tudo no Apruebo; a desinformação violenta em cima de alguns pontos que foram pouco discutidos com a população; dúvidas legítimas em relação a outros pontos;
Sep 2, 2022 10 tweets 3 min read
Quando se diz que o bolsonarismo continuará existindo após Bolsonaro, é também por conta dos efeitos indiretos que ele e processeos semelhantes são capazes de produzir –– como provavelmente é o caso do brasileiro que tentou matar @CFKArgentina.
Desde a Al Qaeda já se sabe que, num mundo hiperconectado e cheio de sofrimento mental, uma força política não preciso necessariamente ter uma estrutura organizacional capaz de executar certos atos. Basta criar um clima de urgência, plantar a ideia de que alguém precisa agir, e alguma hora a coisa acontece.
Mar 3, 2022 14 tweets 3 min read
Talvez seja uma boa oportunidade para lembrar que o contexto de origem desse enquadramento de "guerras híbridas" que se popularizou entre parte da esquerda no Brasil é a resposta do Estado russo ao levante de 2013 na Ucrânia, e seu autor é um nó na rede de propaganda de Putin. O conceito de guerra híbrida é um pouco mais antigo e, francamente, meio banal: a ideia é que, num mundo de détente nuclear e atores não-estatais, a guerra deixou de ser enfrentamento militar convencional para se dar em várias outras arenas (propaganda, disrupção informacional).
Jan 25, 2022 10 tweets 2 min read
Olavo de Carvalho morreu, mas o estrago que ele deixou vai durar muito tempo. Pode ser que em breve seja difícil lembrar como um fenômeno tão bizarro –– um Rasputin de chapéu cowboy, um Beato Salú com YouTube nomeando ministros –– pôde acontecer, então é bom deixar registrado. Houve um momento no governo Lula em que a vida de todo mundo estava melhor e os únicos ângulos de ataque abertos à oposição eram o pânico moral em torno dos costumes (movido por lideranças evangélicas) e o fantasma da ameaça comunista (alimentado pela mídia, Gabeiras, FHCs...).
Jan 4, 2022 20 tweets 3 min read
Sobre universalismo e "identitarismos" (a propósito da declaração infeliz do diretor da Fundação Perseu Abramo):
Há uma tensão intrínseca a todo universal, que é o fato de que quem o invoca é sempre um particular: quem diz "o Humano”, por exemplo, é sempre um humano concreto, em circunstâncias concretas que o determinam de modo particular.
Isto cria uma dúvida quanto à contaminação do universal pelo particular: até que ponto a universalidade que identifico não é decalcada das condições concretas em que vivo, e portanto parte de minha particularidade?
Oct 15, 2021 9 tweets 2 min read
Meu artigo para a @revistapiaui de outubro está aberto no site a partir de hoje, então aqui vai um fio curto a respeito.
O texto na verdade nasceu de um outro fio, meses atrás, sobre a necessidade de pensar o bolsonarismo como fênomeno empreendorístico.
piaui.folha.uol.com.br/materia/pequen… O bolsonarismo se reivindica defensor dos empreendedores –– e isto tem apelo social amplo porque a ideologia do empreendorismo é muito difundida, mas tb porque ela funciona mais na base da identificação que da realidade: basta •querer• empreender para se ver como empreendedor.
Sep 20, 2021 25 tweets 4 min read
Dez anos de Occupy Wall Street e centenário de Paulo Freire: o que tem a ver?
Tende-se hoje a recordar Paulo Freire como alguém que tinha uma lição política sobre a pedagogia. Mas isso esquece outro aspecto de seu pensamento: que ele tinha uma lição pedagógica sobre a política. A primeira lição era que, se a emancipação é tratada como transmissão de um conjunto de conteúdos, ela não emancipa verdadeiramente, antes reproduz a ideia de uma divisão entre aqueles que sabem e aqueles que não sabem. Emancipar é despertar a capacidade de pensar por si mesmx.
Jun 30, 2021 11 tweets 3 min read
Cada um saberá (ou não) como lidar com os eleitores de Bolsonaro em sua vida.
Agora, uma coisa que não dá para deixar passar, por conta do valor pedagógico, é dizer claro e sem rodeios para quem embarcou nessa por ingenuidade: você foi passado para trás, foi feito de otário. Um problema central da nossa vida democrática é que, alimentada por uma mídia e sistema político interessados em manter essa fantasia, grande parte do eleitorado está sempre oscilando entre dois modos de pensar contraditórios: "eles são todos iguais", "mas esse aí é diferente".
Mar 19, 2021 9 tweets 2 min read
Há um erro em ver a trajetória política do Major Olímpio, do centro à extrema direita, como simples sintoma de uma guinada geral à direita da população brasileira. O sintoma, neste caso, é também a causa: o fato de haver um eleitorado para líderes de extrema direita é inseparável do fato de que, ao longo de anos, políticos como ele usaram a radicalização retórica para ir construindo um nicho político, ajudados por mídia e políticos de centro para quem qualquer coisa valia contanto que tirasse casquinha do PT.
Mar 18, 2021 6 tweets 2 min read
Já está aberto no site meu artigo para a última @revistapiaui sobre aquilo que talvez estejamos nos negando a ver a respeito do negacionismo. Minha sugestão é que, mais que meros efeitos da saturação do ecossistema informacional por fake news (o que obviamente também são), esses discursos possuem uma força de interpelação que precisa ser pensada. O que faz com que algumas das pessoas mais diretamente afetadas pelo discurso governamental que reduz a resposta à pandemia a uma escolha inevitável entre a economia e a vida
Jan 27, 2021 17 tweets 3 min read
Que as pesquisas indiquem que o maior apoio a Bolsonaro é entre os empresários diz muito sobre a composição de classe do bolsonarismo; mas diz mais ainda, me parece, sobre as relações entre bolsonarismo e empreendedorismo –– que também aparecem, agora, no Leite Moçolão. Por um lado, esse apoio confirma que, ao contrário do que às vezes ainda se pinta por aí, o bolsonarismo convicto e ativo (diferente do apoio passivo ou do mero eleitor) não é um fenômeno popular, mas interclasse, e com presença marcante das classes média e alta.
Jan 14, 2021 12 tweets 2 min read
Quando este pesadelo passar, será difícil superar o desprezo por aqueles que viram ele acontecer e deram de ombros, fizeram piada, abraçaram as lorotas mais toscas para negá-lo.

Uma dívida dos sobreviventes para com os que estão morrendo será jamais esconder este desprezo. Quando Trump ganhou em 2016, ouvi de vários amigos americanos a mesma coisa: os únicos que não estavam surpresos eram os negros e latinos. Foi só na campanha de 2018 que a ficha do que isso significava me caiu por completo, e entendi o que isso tinha a ver com uma discussão
Jan 12, 2021 7 tweets 3 min read
Fascinating piece by @zeithistoriker and @willcallison. In Brazil, it’s maybe too early for this stuff to be fully discernible as an independent strand in the far right, but what they say tallies with my observations.
I’ve noticed that, because my
piece @PublicBooks said that Bolsonaro made inroads with the poorest (until then fairly refractory) during the pandemic, some people have interpreted it as saying that his strongest base was the poor. But the situation is closer to what they describe here.
Dec 17, 2020 24 tweets 5 min read
A great exchange, this one. Since @BueRubner mentioned my work, here are some thoughts:
My impression is that the problem Bue points out lies not in the use @endnotesjournal make of the concept of "non-movements" as such, but in the grammar this concept supposes and reinforces. This is a grammar in which something is either a movement or not a movement because (this ultimately being the relevant feature) it is either organised or not organised. The question is then, what must we suppose in order to think that? I’d say at least two things:
Nov 4, 2020 7 tweets 2 min read
Isso é só um lembrete de que este sistema eleitoral bizantino existe em parte porque os estados do sul precisavam compensar o fato de que possuíam menos eleitores (=homens brancos) do que os do norte –– dado que aproximadamente 40% de sua população era de escravos. Verdade seja dita, a maioria dos Pais Fundadores era bastante desconfiada com a eleição direta, e outras soluções que não essa poderiam ter servido ao mesmo fim. Mas este cálculo político dos estados sulistas foi explicitado com todas as letras por James Madison durante
Aug 4, 2020 16 tweets 3 min read
O artigo na @folha deste domingo afirmando que é intelectualmente desonesto relacionar o liberalismo ao fascismo ou está supondo uma noção extremamente ingênua do que são conceitos ou, sinto dizer, está sendo desonesto. O argumento é basicamente o seguinte: eis o conceito de liberalismo; eis o conceito de fascismo; há elementos do conceito de liberalismo que estão em contradição com o conceito de fascismo; logo, não pode haver qualquer relação entre os dois.
Jul 30, 2020 21 tweets 5 min read
Para quem gosta de passar raiva, o artigo do Robert Brenner na última @NewLeftReview é imperdível. Através de uma análise do pacote de resgate aprovado nos EUA, ele confirma algo que Philip Mirowski já tinha sugerido: se é verdade que a dimensão e natureza (sanitária) desta crise provocou uma resposta fiscal muito maior que qualquer coisa vista em 2008, por outro lado estamos vendo basicamente um replay de 2008, no qual a única diferença importante é a escala. Para dar uma ideia dessa diferença: em março deste ano o Banco Central norte-americano estava