Alerta piscante: a direita acadêmica cumpre agenda de Olavo

A editora Camelot lançou edição exclusiva do Manifesto Comunista. Para espanto de muitos, a exclusividade se dá mais pela escolha do prefácio do que pelos bônus da edição: verbetes biográficos e linha do tempo. É de Luiz Felipe Pondé, filósofo liberal, a escrita do texto. Trata-se de autor de ampla produção panfletária, inspirada em Nelson Rodrigues, Nietzsche, Freud – com pitadas de literatura russa (influências indicadas por ele mesmo).

Ouvi uma mãe, na fila da padaria, dizendo que as suas crianças "não olham desenhos animados, pois substituíram pelo TikTok". Para essa mãe, "tá tudo bem", pois entende que é uma substituição natural. "Coisas da época". Pois bem, vamos explicar o óbvio. O desenho animado é, grosso modo, o primeiro contato da criança com um enredo animado (televisivo). Sim, o desenho traz começo, meio e fim. Além disso, a criança constrói a percepção do simbólico.

O país está rachado. Não há possibilidade de paz e calmaria diante de um resultado parelho. Já foi assim quando da vitória de Dilma. É evidente que o lado perdedor - quando significativo em números - vai tensionar as relações na esfera pública. Alguém esperava algo diferente? As bolhas estão mobilizadas. Ao longo dos últimos anos, grosso modo desde 2013, os conceitos políticos consagrados pela literatura foram ressignificados e apropriados. Conceitos como democracia, fascismo, comunismo, liberdade de expressão, etc., ganharam vestes à lá "1984".

Da necessária pluralidade
(ou como se formam os [des]afetos)

A capacidade de articular relações, para além de incompatibilidades teóricas e de método, é a razão primeira de uma estrutura plural constituída a partir de encaixes e ajustes das próprias relações. Ou seja, sem uma articulação justa, coesa e transparente não há possibilidade de manter relações diferentes das pré-estabelecidas por símbolos, signos e significados domésticos ou de reprodução doméstica.

O bate-cast volta dia 16 com uma terceira temporada melhor do que as duas iniciais. Finalizamos a segunda com nomes de peso como Nassif, Lênio Streck, Sônia Guajajara, Hique Gomez, Leoni, Carlos Simon, Beto Ribeiro, Mary Del Priore, Fernando Drummond, entre outros. Aproveito para agradecer de forma pública ao incansável @fcatani, pois sem ele nada disso seria possível. Tivemos também uma ótima audiência nas colunas do @nietzsche4speed de quem eu dispenso comentários.

Racismo é um sistema de opressão. Proteger um negro de um acidente não faz de alguém não racista. Gostar (sentir desejo) por pessoas pretas não absolve ninguém de racismo. Contratar pessoas negras não faz de ninguém antirracista. O racismo, enquanto manifestação do preconceito racial (forma internalizada, definidora de comportamento e percepção), habita para além de práticas amenizadoras - que estão mais para a definição de "negros de estimação" ou, simplesmente, álibis diante da torpeza de um pensamento.

Dizer que um estado, ou comunidade bairrista é cosmopolita, não só é uma inverdade, como faz parte do próprio bairrismo no sentido de capilarização do orgulho e da vaidade do indivíduo contaminado pelo sentimento. Aqui é importante destacar uma inversão de sentimentos e percepção: a comunidade bairrista se entende superior em ordem de importância em relação às demais comunidades, e cordial e gentil para todos aqueles que, na consciência e percepção do bairrista, valorizam sua comunidade.

Criminosos impunes
(Da falácia da injúria racial)
O brasileiro médio afirma que "agora tudo é racismo", pois ele efetivamente naturalizou e normatizou a "democracia racial", de tal modo que para ele nada é racismo. A definição de injúria racial acabou por tornar branda a discriminação, sobretudo em caráter punitivo, pois tipifica posturas e impulsos de ordem comportamental a ponto de vulgarizar a própria prática racista.

O presidente da República passou TODA a pandemia desmerecendo a ciência, dizendo que defenderia o direito de quem não quisesse vacina, ridicularizou a eficácia, falou em "mudança de dna" como risco da vacina e agora diz que não é contra vacina. Presidente, o senhor é um crápula. O presidente fez propaganda para remédios sem eficácia comprovada, disse que os mesmos "não têm efeito colateral" e que "não custa experimentar". O presidente não comprou vacina porque NÃO QUIS e agora vem dizer que não é contra vacina. Presidente, o senhor é um genocida.

Cara gente branca, um prospero ano novo!

Enquanto seres brancos, ditos e anunciados “não racistas”, não pegarem junto na luta contra a discriminação étnico-racial, pedindo de forma efetiva um basta, não chegaremos a lugar algum nessa luta. Fica muito fácil e, sobretudo cômodo, aplaudir a militância antirracista, olhando de longe na perspectiva do berço esplêndido de seus privilégios sentindo-se favorável à desconstrução do preconceito, mas nada fazendo para de fato alterar a roda e seu modo de girar.

A partir dos anos 1980 e, sobretudo, dos 1990 movimentos identitários ganharam força. Isso gerou postura refratária por parte do cidadão médio brasileiro. Motivos óbvios: mulheres independentes, negros dividindo espaços e gays com manifestação pública de afeto. Porém, a falta de candidatos reais de identificação contrária às pautas identitárias e na onda da ineficácia da esquerda no que tange a uma educação para a diversidade tivemos apenas a criação de uma imensa espiral do silêncio.

A crença de que mais de 50 milhões votaram em candidatos progressistas por serem também progressistas é de uma ingenuidade constrangedora. Reacionários, liberais e fascistas votaram, por anos, na centro-esquerda. Os motivos são óbvios e por isso a ingenuidade constrange. Todo aquele que vive sob a égide e na sombra do individualismo, além de ter concepções rígidas de ordem moral, pensa em si. E em pensando em si, vota em quem melhores condições dará para ele.

Querido diário, cansado.

A necessidade de explicar as abstrações e subjetividades de uma sociedade composta por medíocres e inaptos se dá pela recusa de seus próprios atores em aceitarem que a sociedade é o que é. Se tal aceitação existisse, não haveria o porquê de explicar, pois a divisão de condições, ingressos e interesses estaria posta tanto de forma tácita como formal. Mas não, todos querem o que não podem e o impossível passa a ser objeto de estudo.

O monstro

Pele.
Nervos.
Boca, cabelo
e tronco.

Desejo.
Devaneio.
Suspiro.
Respiro.
O tolo.
O monstro.

Unha.
Fúria
que
arranha
a nuca.
Grito.
Gemido.
Boca
molhada
de grunhido
sustenido.
O monstro. O dorso
estendido.
O cheiro.
O gosto.
Sabor cítrico.
A pele
nervosa.
A língua
sedosa.
A força
do aviso.

Passos.
Água.
Chuva.
Respingo.
Grito.
Muitos gritos.
Tapas.
Ruídos.
Barulhos.
Gemidos.
O monstro.

Orgulho gaúcho

Nada me incomoda mais, nas críticas à comemoração farroupilha, do que a afirmação de que "comemoram uma guerra que perderam". Ninguém é proibido de comemorar algo que perdeu, pois a comemoração está nos motivos da guerra e não no resultado. Ninguém é proibido de comemorar derrota. Times de futebol - perdão pela analogia rosca - não raro são aplaudidos em derrotas quando a torcida reconhece a bravura e a entrega.

Diário de um pessimista

A pós-verdade é, sobretudo, cômoda. Cômoda pelo [e no] descarte do compromisso com a pesquisa. A pós-verdade é sintoma, não é causa. Sintoma de uma sociedade alicerçada em pilares de angústia desenfreada, má administração de concepções naturais e históricas e carência de afeto por parte de ressentidos que não sabem o que querem nem para onde vão.

Admirável exagero novo

Não raro, textos de grande valia e combatividade são execrados e defenestrados diante de meros e pequenos tropeços linguísticos de um autor. Grosso modo, preocupa-se mais com o fato do autor ter deslizado ao longo do texto, ao usar um termo errado (opção sexual, mulato, etc), do que com a contribuição de sua produção em si.

Dormi à tarde e sonhei com uma sociedade sem governos, onde regimes democráticos eram objetos de estudo demarcados em capítulos de "história pré-evoluída". Nesta realidade distópica, não havia o Estado e tudo era comandado por grandes empresas, tendo a presença de CEO's por regiões.

Existe algo muito errado na indicação de livros clássicos para pessoas que não leem. O mesmo ocorre na indicação de teorias herméticas.

Achar que recomendar Dostoiévski ou Bourdieu, para quem nunca foi além de panfletos da grande mídia, vai ajudar, é ingenuidade ou arrogância. Quem vê Matrix e não entende nada além de efeitos especiais e entretenimento ficcional, não vai captar o subtexto de uma discussão teórica nem entenderá a complexidade de um conceito.

Cá com meus botões

Uma das maiores mentiras presentes nas cláusulas pós-modernas do que podemos chamar de reescrita do nosso contrato social é a tentativa brega de agradar a todos a todo instante. Quem agrada a todo mundo, mente. E eu não tenho a menor dúvida. Mas não deixa de ser uma característica de uma sociedade que retira o indivíduo do coletivo e o coloca como piloto de sua própria existência em uma tentativa, também mentirosa, de ser dono de seus atos sem que antes se combine com os russos.

O motorista do Uber disse dias desses que o fato de um cientista ser cientista não significa que devamos acreditar em sua explicação científica para algo ligado à ciência. Logo, para ele, órgãos mundiais de saúde não possuem propriedade para falar em nome da saúde. E seguiu dizendo que nada faz ele crer que cientistas possam falar em nome da ciência, pois todo mundo sabe que a sabedoria vem dos antigos e não dos cientistas. Estes, por sinal, são apenas arrogantes que usam diplomas para enganar a população.