Não somos apenas um corpo.

Existem, para nós, demandas materiais de alimentação, vestuário e habitação, mas também necessidades espirituais.

Temos fome e sede de verdade, bondade e beleza. Quando não encontramos um espaço para elas, sentimos que algo nos falta, ainda que muitas vezes não saibamos identificar o problema, já que ninguém nos falou a seu respeito.

Hoje, ou trabalhamos ou nos entorpecemos - com notícias irrelevantes, seriados ou música ruim.

Como dizia Aristóteles, “o homem é um animal político”.

Isso não quer dizer que ele tenha que se filiar a um partido ou se envolver em uma eleição, mas que é um ser que só se realiza ao se colocar em doação, em comunidade. Eis o fundamental: o ser humano, que, como entendiam os gregos, nem é um deus nem um animal selvagem, é dotado de uma fragilidade constitutiva - que o impede de ser autônomo e autossuficiente – mas também de potências que só podem se atualizar quando se encontra em relação.

O diário espiritual do padre Reus é talvez o texto de espiritualidade católica escrito no Brasil.

Por obediência, no que chamou de maior humilhação de sua vida, durante seus últimos 10 anos, ele escreveu, no diário, sobre todas as experiências místicas que teve. Acontece que, tendo dedicado sua vida à oração, quando começa o diário, quase aos 70 anos, padre Reus já é um místico de sexta ou sétima morada.

E, de fato, quando lemos passagens do diário, vemos que sua profundidade espiritual não deixa nada a dever aos grandes santos.

A base da educação grega, como indicou Platão nos primeiros livros da República, era ginastica e música: primeiro, treinar o corpo, torná-lo forte e capaz.

Depois, fazer o mesmo com a alma, através mousiké, que não é bem o que hoje entendemos por música. O termo indicava “o que era relativo às musas”, ou seja, às divindades protetoras da cultura.

Ele dizia respeito à arte dos sons, mas também da performance de poemas, muitos deles cantados com o acompanhamento do áulos ou da lira.

Thread com bons cursos de Literatura em português disponíveis no Youtube.

Por causa do EAD durante a pandemia, muitos professores disponibilizaram suas aulas online para um público mais amplo.

Tem muita coisa interessante. Aqui vão alguns exemplos:

bhaz.com.br/professores-am… Guilherme Gontijo Flores - Lírica Antiga

O Guilherme é um dos mais interessantes professores de Clássicas da nova geração e o seu trabalho com a lírica (e com a lira, já que ele canta os poemas) é fenomenal.

youtube.com/playlist?list=…

Minha thread dos cursos gratuitos da internet, os que fiz e gostei ou que pretendo fazer.

Todos eles de Humanidades (Letras, História, Filosofia) e passíveis de serem ouvidos somente - no trânsito, na caminhada matinal ou lavando louça).

https://twitter.com/buellerba/status/1430030480624300044

O curso de História da Grécia Antiga do Donald Kagan é fabuloso.

Especialmente interessantes são suas considerações sobre a transformação dos métodos de guerra e sua influência na cultura helênica (até a democracia vem daí) .

youtube.com/playlist?list=…

Nos acostumamos a julgar toda a literatura a partir dos moldes do romance burguês do séc. XIX ou experimentalismo do séc. XX.

Narrativas heroicas só são permitidas se anteriores a Camões ou então são vistas como uma literatura menor, infanto-juvenil. A figura do herói somente parece viável para a literatura séria se aparece como um anti-herói, o que, aliás, diz muito sobre o estado de nossa cultura e sua visão das possibilidades do humano.

A minha hipótese:

como foram os militares que proclamaram a república, eles tomaram para si o poder moderador, exercendo-o em maior ou menor grau até o regime militar.

A república brasileira, até os anos 80, foi uma república militar.

https://twitter.com/sugamosto1/status/1369387860932128781

Mas o regime durou tempo demais e saiu desgastado. A nova república foi formada como um repúdio a ele.

O Brasil seguiu então uma tendência presente em todo o mundo desde a II Guerra, de transição de poder, dos militares aos burocratas, como prenunciou James Burhnam.

Como já disse aqui, meu poeta contemporâneo preferido é Rumi, na tradução do Coleman Barks.

De modo semelhante, o poeta inglês do séc. XIX que mais gosto é Omar Khayyan, que, na clássica tradução de Edward FitzGerald, tomou contornos de um sábio estoico vitoriano. O Omar Khayyam original viveu na Pérsia entre os séc. X-XI e escreveu textos de matemática, astronomia e metafísica.

Mas tudo indica que o Khayyam poeta é uma persona utilizada por vários autores no decorrer dos séculos para veicular um certo tipo de visão de mundo.

Por que Tolkien é grande (thread):

Vou entrar na treta do Tolkien reconhecendo primeiro a força do outro lado.

Até 2016, concordaria com o post do Tiago. Tolkien, para mim, como em geral para o pessoal da Letras, era só literatura de entretenimento.

https://twitter.com/TiagoCavaco7/status/1357764073098731526

Por que?

Porque nos acostumamos a julgar as obras a partir do modelo do romance burguês do séc. XIX ou do experimentalismo do séc. XX.

Se não se parece com Flaubert, Dostoievski ou Joyce, não pode ser bom. Narrativas heróicas só são permitidas se anteriores a Camões.

Sobre a crise na educação:

A educação clássica buscava moldar a personalidade por meio do cultivo da virtude. Era o bastião último da liberdade contra a barbárie e a tirania.

Foi substituída por uma formação dedicada a capacitar os indivíduos a servirem a seus desejos. Não se fala mais em sabedoria e virtude, mas em domínio técnico (ciências exatas) e crítica da opressão (ciências humanas).

E quanto mais técnicos e contestadores formamos, menos sabemos o que fazer com nossa vida e com o mundo.

Minha entrevista para o perfil no instagram da @Esc_Filosofia:

1. Por que ler a poesia grega da Antiguidade?

Porque é uma poesia ainda muito próxima da música. O melhor modo de entendê-la é tentando cantá-la. A partir daí, todo um novo mundo se abre. 2. Alguns historiadores salientam a formação a influência da poesia na formação da filosofia grega. Como avalia esta consideração?

Como dizem, não existe nada na filosofia que não apareça antes na literatura (...)

Eis aqui uma tradução minha de uns fragmentos de Anacreonte (séc. VI-V a.C).

Natural de Téos, na Ásia menor, ele frequentou a corte de Polícrates, em Samos, e, quando este foi assassinado em 522, mudou-se para Atenas, onde participou da corte do tirano Hiparco. Máximo de Tiro dizia que até mesmo as crianças o amavam por suas palavras doces e cantos graciosos.

Ateneu, que toda sua arte dependia da intoxicação. E Antípater da Sidônia, que era devoto das musas, Éros e Dioniso.

A posse de ontem pareceu indicar que o liberalismo está vivo e passa bem.

Mas, como disse @PatrickDeneen em seu Why Liberalism Failed, é por ter sido bem-sucedido que o liberalismo fracassou.

Aqui estão 10 coisas que aprendi com esse excelente livro: 1 - Três ideologias marcaram a história contemporânea: o fascismo, o comunismo e o liberalismo.

A mais antiga delas, última a resistir, é o liberalismo.

Por sua onipresença atual, ele se tornou quase invisível, como as paredes da caverna de Platão para seus prisioneiros.

Saiu minha resenha sobre o Tirania do Mérito, do Michael Sandel.

Aproveito para fazer uma síntese aqui:

1 - A pandemia mostrou a profundidade da crise política. É necessário uma renovação moral a partir de uma visão do bem comum.

gazetadopovo.com.br/opiniao/artigo… 2 - As causas da crise:

- A tecnocracia liberal, que domina o discurso público e trata questões ideologicamente contestáveis como problemas de eficiência.

- A retórica do mérito, usada para justificar a desigualdade crescente e a cada vez menor mobilidade social.

A ação política é sempre refém de uma filosofia.

Desde Maquiavel, a política é pensada como arena de disputa pelo poder.

Em uma perspectiva mais refinada, como o espaço no qual grupos podem negociar seus interesses para alcançar algum compromisso. É uma noção pobre de política, fruto do apagamento da noção de bem comum.

É certo que o conflito e a negociação são inescapáveis. Mas quando a política se reduz a isso, vai aos poucos promovendo o sectarismo e levando a sociedade à desagregação.

Quatro princípios para a vida intelectual que aprendi com alguns dos meus filósofos preferidos:

1 - Com Sócrates: distinguir entre o que sabemos e o que não sabemos, entre conhecimento e opinião. 2 - Com Aristóteles: saber definir os termos, mas ter consciência de que eles adquirem sentidos diferentes em diferentes contextos.

Um exemplo: esquerda e direita, termos de sentido fluido e uso retórico.

Muitas vezes, brigamos não por ideias, mas por palavras.

Diante dos debates desta última semana, é oportuno relembrarmos dos dissidentes tchecos do séc. XX e de sua noção de pólis paralela.

Tudo começou em janeiro de 1977, com a prisão de integrantes da banda Plastic People of the Universe. Por causa dela, dissidentes publicaram um manifesto, a Carta 77, que acabaria por dar origem a um grupo de resistência com o mesmo nome.

Nos anos 70, o Estado tcheco passava por uma fase de aprofundamento do totalitarismo e da hiperburocratização.

Lendo o The Discarded Image de C. S. Lewis, me chamou a atenção a passagem na qual ele afirma que o universo medieval não era escuro, mas iluminado pelo Sol, e não era silencioso.

Ele tinha ali em mente a noção de musica universalis, a harmonia das esferas. A ideia remonta, segundo as fontes antigas, a Pitágoras.

Plínio, o velho dizia que ele chamava a distância da Terra à Lua de tom, da Lua à Mercúrio de semitom (também a de Mercúrio a Vênus), de Vênus ao Sol de um tom e meio.