Uns anos atrás eu postei um texto sobre como alguns amigos e conhecidos que passaram a se interessar por política na esteira da Lava Jato haviam se tornado bolsonaristas. Se eu fosse escrever o mesmo texto hoje eu diria que eles estão num estado ainda pior. Esses caras colecionaram TODOS os clichês e mentiras da extrema-direita de 2014 até aqui: a defesa dos ricos, a ideia de que os EUA são o país mais livre do mundo, a COVID como mentira, as vacinas que causam autismo, as besteiras sobre "ideologia de gênero" etc etc.

Uns vagabundos nazistas estão incendiando o Reino Unido com a ajuda preciosa do rato que é dono dessa rede social.

https://twitter.com/lowles_nick/status/1820088494758449248

Estão ameaçando incendiar um local que abriga refugiados.

https://twitter.com/UrbanNathalia/status/1820096622736310288

Vou pegar esse fio da meada aqui pra comentar essa sensação do nerdola de que "a lacração destruiu/piorou/arruinou a vida dele". Essa é uma reclamação absurdamente comum nesse universo masculino dos caras que estão hoje na faixa dos 30-40 anos.

https://twitter.com/NerdBoomer/status/1816510108009943208

Esse tipo de opinião é um combustível incrível para uma "indústria do ultraje" que alimenta canais nas redes sociais e gera muito dinheiro pra gente que se presume a comentar cultura pop - e frequentemente estão ligados ao universo mais amplo das direitas na internet.

Resumo: o cara que atirou no Trump era um jovem, de classe média, tímido, filiado ao partido republicano, descrito pelos colegas como conservador e obcecado por armas e que foi expulso do clube de tiro do colégio (pois é) por ser ruim - e também por colocar os colegas em risco. É o perfil do maluco que volta e meia entra armado na escola e assassina crianças e adolescentes a sangue frio. E cada vez que alguém aponta que isso é um problema de saúde e segurança pública vem alguém choramingar sobre "liberdades".

A memória da gente não anda lá essas coisas, mas eu sabia que conhecia esse deputado trumpista, o Jim Jordan, de algum lugar.

O cara é acusado de encobrir um escândalo de abuso sexual na Universidade de Ohio, quando era técnico de um time de luta livre.

en.wikipedia.org/wiki/Ohio_Stat… O médico do time abusou sexualmente de mais de 100 alunos durante vinte anos e vários funcionários do time de esportes da universidade, inclusive o conservador Jim Jordan são acusados de encobrir os abusos e proteger o médico.
abcnews.go.com/US/rep-jim-jor…

Eu devo parecer disco quebrado mas vamos lá: existe uma gramática na grande imprensa que continua diluindo o que a extrema-direita faz. A extrema-direita não está conjecturando sobre os limites da democracia liberal, ou sobre as ações do judiciário ou coisa que o valha. Os caras estão AVISANDO, para quem quiser ouvir, que VÃO DAR UM GOLPE DE ESTADO. E quem não quiser ouvir pode ASSISTIR ÀS AÇÕES deles em diversos momentos. Só não conseguiram porque não houve adesão massiva da caserna e embarque dos EUA.

Uma das coisas mais incríveis na normalização da extrema-direita é como a imprensa hegemonica frequentemente relativza o literal, o óbvio e o explícito. Bolsonaro fala em "dar golpe" desde a década de 1990. Bananinha falou que ia fechar o STF em 2018 num ambiente público. As ações da claque bolsonarista para que um regime de exceção seja implantado no Brasil foram públicas notórias. As faixas, as falas e as manifestações mostaram isso. A reação às políticas sanitárias durante a pandemia foi clara, cristalina e com consequencias nefastas.

Ano passado o Kiko do Foguete fez EXATAMENTE A MESMA coisa nos EUA. Chamou algum otário formado em jornalismo para apurar discussões entre funcionários do Twitter no slack da cia. A ideia era a mesma: vender a narrativa de "perseguição" aos conservadores dos EUA. Musk mentiu INÚMERAS vezes sobre a real natureza do que ele pagou gente para expor. Inventou que as eleições de 2020 nos EUA teriam sido fraudadas e, na sua exposição, omitiu que a maioria dos pedidos de retirada de conteúdo eram nudes do filho do Biden...
nymag.com/intelligencer/…

Tem uma coisa interessante nesse esquema de espionagem articulada pelo cabeça de Funko Pop: as hipóteses levantadas na espionagem de autoridades públicas e figuras da oposição parecem super fantasiosas e absurdas. Cabe pensar se a ideia não seria criar uns "fatos alternativos". Os caras estavam grampeando telefone e vigiando mais de 30 mil pessoas. Além das inúmeras vantagens da espionagem, inclusive na campanha eleitoral, se tinha material ali para inventar qualquer coisa. Aí vêm as perguntas: esse esquema foi suporte para perseguição de jornalistas?

As grandes cidades brasileiras foram abandonadas, sua infraestrutura loteada pelo empresariado parasitário, a população abandonada, a criminalidade narco-miliciana de mãos dadas com as direitas. Esse esforço pra levar as eleições municipais pra mentiras e pânico moral tem método. As direitas conseguiram em pouquíssimos anos destruir as poucas coisas que funcionavam, sucateando e privatizando a torto e à direito pra agradar os amigos mamateiros. Não tem UMA grande cidade gerida pelas direitas nos últimos anos que pode apontar qualquer melhoria.

De todas as "análises acertadas" sobre o 8 de Janeiro, definitivamente a mais burra é essa de que é diferente do ataque ao Capitólio por "não ter objetivo". Todo mundo assistiu aos bolsonaristas organizados, junto a militares e empresários pra tentar anular as eleições. Toda a campanha de desinformação envolvendo voto eletrônico foi organizada visando permitir que Bolsonaro fraudasse o processo e, em último caso, evitasse a legitimação da vitória de Lula.

Dá pra escrever um livro inteiro só sobre essa espécie de arrogância de um certo liberalismo contemporâneo. Os caras traçam toda a discussão em princípios políticos abstratos, sem qualquer assentamento na realidade. O Brasil, como quase todo país da América Latina, tem uma elite agrária extremamente violenta. Os massacres de camponeses e indígenas são frequentes e marcam nossa história. Essa elite agrária gosta de se misturar ao "produtor" mas enriquece através do roubo de terras.

Sobre 2013.

Eu vivia no interior na época. Não frequentei nenhuma grande manifestação e acompanhei a maioria do que aconteceu através de posts de amigos, políticos e ativistas no Facebook. O que eu vou escrever a seguir é uma análise bastante pessoal. Eu cresci acreditando que grandes manifestações de rua era muito importantes. Fui muito entusiasta do Movimento por Justiça Global que ia botar pra quebrar a cada reunião do Fórum Econômico Mundial. Minha visão política foi muito moldada pelo anarquismo/autonomismo dessa época.

Nayib Bukele destruiu a independência judicial e Estado de Direito em El Salvador. Quer concorrer à reeleição consecutiva, apesar de existir uma proibição constitucional clara. Prendeu opositores e aparelhou a Suprema Corte do País. Ele é descrito pela imprensa nacional assim: Eduardo Bolsonaro elogiou o autogolpe de Bukele como modelo para o que a família queria implementar no Brasil. Como Bukele não defende nenhuma política que parece ameaçadora ao patronato e as elites brasileiras sobram palavras doces e inocentes pra descrevê-lo por aí...

Muitas opiniões de 1 milhão de reais sobre o que aconteceu ontem e tem umas tão ruins que eu resolvi oferecer meus dois centavos. Vamos começar pelo óbvio: a agenda anti-indígena e anti-ambiental é um reflexo de um Congresso cada vez mais conservador. As bancadas BBB (Boi, Bala e Bíblia) funcionam em sinergia desde pelo menos o primeiro governo Dilma e, desde então, ganharam em influência, poder, dinheiro e votos. Bolsonaro foi um ídolo pra ele porque vocalizava todo seu atraso e funcionava quase como um garoto propaganda.

Essa lição aqui também é muito importante. Na União Europeia não há esse jogo desonesto como estamos vendo no caso brasileiro. Ali eles dialogam com o Estado e Governo. Aqui se aliaram a quem tentou fraudar eleições e dar golpe.

https://twitter.com/fabianolacombe/status/1653167800477708290

E agora a gente tem que ler o pessoal da "análise acertada" associando o projeto ao PT e ao governo Lula como se tivesse sido ma iniciativa do governo e do partido e não um projeto de lei escrito e emendado por um monte de gente.

A essa altura do campeonato, depois dos acontecimentos dos últimos dias, alguém acha que as maiores empresas de informação do mundo estão "participando de um debate"? 🤡 Claro que a empresa pode ser contra qualquer coisa e deixar isso claro. O que tá acontecendo é algo muitíssimo diferente. Estão burlando as próprias regras e fazendo um lobby abusivo contra um projeto de lei que, basicamente, vai fazer com que elas precisem ter moderação efetiva.

Pra uma coisa essa última semana serviu bem: mostrar como a "ideologia californiana" das BIG TECHS é perfeitamente alinhada com os interesses da extrema-direita e das bancadas mais retrógradas do mundo.

A maneira como elas se juntaram para mentir sobre o PL 2630 foi didática. Também serviu para mostrar como, ao fim ao cabo, são os diminutos bilionários do Vale do Silício os responsáveis por comandar o que você vai ou não vai saber. Se é verdade ou se é mentira pouco importa, desde de que coloque mais dinheiro no bolso dessa casta.

Dois centavos sobre "o caso da capivara": tá cheio de gente usando vídeo de animal selvagem, inclusive traficado, pra render cliques e fazer dinheiro. É um problema real e uma discussão em vários países. Não é sobre um cara da roça que criou uma capivara contra o IBAMA não. Existem organizações sérias que abrigam animais que não são capazes de se readaptar na natureza e são tocadas por voluntários e gente que entende do riscado. Se você gosta de ver vídeos de animais, várias delas produzem conteúdo.

Steven Crowder foi durante muito tempo o influenciador mais popular da direita americana. Fez milhões de dólares perseguindo minorias e berrando contra feministas no seu canal. Aqui ele aparece berrando contra sua mulher grávida porque ela quer usar o carro pra fazer compras.

https://twitter.com/IntelDankWeb/status/1651665770613469209

É quase como se esses malucos que ficam esperneando a favor da "família tradicional" estivessem advogando em prol de um poder que permite abusar de mulheres e crianças com total impunidade.

"A crítica à objetividade jornalística não se refere ao abandono de métodos e técnicas, mas sim a como esses métodos e técnicas foram usurpados, inclusive para ameaçar a democracia."
intercept.com.br/2023/04/26/mil… "A Folha aborda os perigos da direita populista para o jornalismo, cita Trump e Bolsonaro e mostra como ambos fustigaram “pontos basilares da democracia”, como a soberania do voto popular e o respeito às minorias."