Meus 2 centavos sobre Le Pen e o rótulo de extrema direita.
Na verdade nāo meus, mas de um dos mais respeitados estudiosos do tema, Cas Mudde.
Entendo que a origem da confusāo é que nos falta (em português e francês) uma traduçāo para diferenciar "far right" e "extreme right"👇 Primeira coisa a entender é que, como acontece com frequência nas ciências sociais, os termos são contestados e não há absoluto consenso. Nāo estamos falando de ciências exatas. Além disso, tais conceitos são sujeitos a um contexto histórico específico, e portanto, mutáveis.

Um fio sobre a gradual perda de civilidade em debates nos 🇺🇸: sempre foi costume os candidatos se cumprimentarem com um aperto de mão antes dos debates. A última vez que isso aconteceu, porém, foi no 1o debate entre Hillary e Trump em 2016. Depois disso foi ladeira abaixo 👇 No primeiro debate entre Hillary e Trump, ambos ainda seguem a norma consagrada de demonstrar civilidade e fazem o tradicional aperto de mão, mesmo com o histórico de ofensas que já marcava o estilo Trump de fazer política. Hillary manda um “how are you, Donald?”

Com a popularização da inteligência artificial, os programas "anti-plágio" não funcionam mais.
Torna-se fundamental uma ferramenta que seja capaz de detectar se um texto foi gerado por inteligencia artificial, como o ChatGPT.
Felizmente, ja existem algumas. Anote ai agora: Uma que tenho usado e aprovado é o "GPT detector" do writefull, que pode ser acessado aqui:
x.writefull.com/gpt-detector
O programa busca por padroes de escrita utilizados por I.A. e dá uma estimativa se o texto foi ou não criado artificialmente.

🤖 Estou preparando uma aula para amanhã inteiramente baseada em como usar o ChatGPT como uma ferramenta de pesquisa.
Quanto antes nós professores lidarmos com essa questão, melhor. Abaixo darei um breve exemplo de como potencializar essa ferramenta. É revolucionário. Vou usar como exemplo esse artigo que eu e o @jpnicogabriel publicamos no ano passado. academic.oup.com/fpa/article-ab…

Vou pedir para o ChatGPT me fazer em português, um "resumo do resumo" do artigo, que está em inglês.

“Querido Bill”
Assim começava a carta que Bill Clinton encontrou no salão oval em janeiro de 1993, deixada pelo seu predecessor que perdera a reeleição, George Bush.
Nesses tempos, vale reler na íntegra👇 “Quando entrei neste escritório agora, senti a mesma sensação de admiração e respeito que senti há quatro anos. Eu sei que você vai sentir isso também.
Desejo-lhe muita felicidade aqui. Nunca senti a solidão que alguns presidentes descreveram”

Breve resumo do processo de auto-destruição do PSDB.
Foram 5 derrotas em pleitos presidenciais. Perder é normal, mas o PSDB foi perdendo junto a dignidade, deixou de se posicionar como alternativa e abriu espaço para surgimento de uma oposição neandertal. Começando em 2002.👇 Com FHC impopular, Serra acha q conseguiria vencer se descolando do presidente. O slogan era "o Brasil pode mais". Ora, então pq o eleitor votaria no partido q já estava no poder? Ao invés de defender o legado tucano e se preparar p/ o longo prazo, perdeu o poder e o discurso.

Li a entrevista do Papa sobre a guerra na Ucrânia que está sendo deturpada por aí.
O que diz Bergoglio sobre a guerra? Primeiro, exala um pessimismo realista: "não há vontade para a paz".
O Papa é intelugente: não simplifica um tema tão complexo. 👇 Quanto ao trecho mais citado, ele faz uma reflexão em certo momento afirmando que os "latidos da OTAN na porta da Rússia" podem ter feito Putin reagir mal, provocando - ou facilitando - sua ira. E só.
Em nenhum momento diz que a expansão da OTAN justificaria a invasão.

Pesquisa divulgada hj pelo @washingtonpost é a melhor p/ Biden em muito tempo. Pela 1ª vez em meses ele vê uma melhora na aprovação, de 37% para 42%. Em ano de eleiçoes legislativas, isso pode ser a diferença entre perder/manter maioria no Congresso. Há outros dados importantes👇 O dado mais animador para Democratas é que, após meses atrás dos Republicanos nas preferências para o Congresso, agora recuperaram o terreno e estão virtualmente empatados, com leve vantagem.

Última parte desse breve estudo sobre características do putinismo.
Já falei do recurso a teorias da conspiração, a noção de "russofobia" e agora tratarei do terceiro e último aspecto, que no caso da Ucrânia é especialmente central: a instrumentalização do nazismo.

https://twitter.com/cgpoggio/status/1514298904027844610

"Nazistas", reais ou imaginários, aparecem com frequência entre os principais inimigos que todos os dias acordam pensando em destruir a Rússia, junto com os russófobos, o Departamento de Estado dos EUA e o serviço secreto britânico.

Como prometido, vou tratar agora do segundo aspecto do putinismo nas relações internacionais. O primeiro, tratei no fio abaixo: o uso sistemático de teorias da conspiração.
Hoje vou falar do segundo aspecto: a noção de "russofobia".

https://twitter.com/cgpoggio/status/1514298949322035213

Para esse aspecto, vou me basear no livro "Plots Against Russia: Conspiracy and Fantasy After Socialism" de 2019. Há um cap. inteiro sobre a questão da russofobia.
amazon.com.br/Plots-Against-…

1/Uma questão que se confunde no debate da guerra na Ucrânia é a diferença entre motivação e objetivo. Uma coisa é examinar quais foram os motivos que levaram Putin a invadir a Ucrânia.
Outra é avaliar se a guerra foi a melhor escolha para os objetivos políticos dele. 2/Vamos deixar de lado as motivações de Putin, por enquanto. Qual o objetivo de uma guerra? Na famosa frase do estrategista britânico Basil Liddell Hart o objetivo da guerra é "conseguir uma paz melhor".
A guerra não é um esporte, ou passatempo.
amazon.com.br/Strategy-Basil…

O último presidente americano a mencionar a possibilidade de a Ucrânia fazer parte da OTAN foi George W. Bush. Desde então, isso estava longe de ser uma prioridade para 🇺🇸. O doc. de defesa da administração Obama em 2014, nem menciona Ucrânia. Trump nunca falou disso. Nem Biden. Muitos que começaram a acompanhar essas coisas recentemente e compram a narrativa russa, dão a impressão que a Ucrânia poderia entrar na OTAN a qualquer momento. Nunca foi o caso.

1/Uma questão central p/ avaliar qualquer "plano de paz" é entender quais os objetivos políticos reais da Rússia. Da forma que a guerra está evoluindo, objetivos como "desnazificação" e "neutralidade" são cortina de fumaça. Isso não valeria o custo dessa guerra. O q quer Putin? 2/Uma forma de refletirmos sobre isso é examinando outras invasões russas a seus vizinhos. Por ex., q há em comum entre as invasões da Hungria em 1848 e 1956, e da Tchecoslováquia em 1968? O receio de q os ideais liberais q inspiraram revoluções nesses países contaminasse a 🇷🇺

Me desculpem os otimistas, mas não acredito em acordo de paz na Ucrânia no curto prazo. Um acordo, se acontecer, vai servir apenas para ambos os lados ganharem tempo. Do ponto de vista de Zelensky, seria um acordo para garantir a existência da Ucrânia enquanto país, enquanto se reconstrói e se prepara para a próxima intervenção russa.

Por que outras ditaduras não recebem o mesmo tratamento dado à Rússia? Porque a questão obviamente não é essa. A Rússia não está sendo punida por ser uma ditadura em guerra, mas por representar uma ameaça à ordem internacional liberal. Não é o caso da Arábia Saudita, por exemplo. Veja que a punição dada à Rússia tem sido basicamente no sentido de desconectar o país dessa ordem. A mais recente, é a iniciativa de tirar da 🇷🇺 o status de "nação-mais-favorecida".
🇺🇸e 🇪🇺 estão dizendo a Putin q, se ele ñ está satisfeito com a ordem atual, q se vire sem ela.

1/ Falei hoje em sala de aula e reforço aqui: independente do que aconteça com a Ucrânia agora, algumas mudanças são permanentes, e a maior delas é a mudança no senso de segurança europeu. Como já apontado, a guerra da Ucrânia é o 11/09/2001 da Europa. 2/ O que mudou em 11/09/2001 nos EUA não foi o fato de que as torres gêmeas caíram. O que mudou foi o senso de segurança dos americanos. E isso guiou as ações do país pela próxima década. Veremos o mesmo agora na Europa. A Ucrânia é o World Trade Center dos europeus.

Muito que bem. Ainda sobre meus últimos tweets acerca da OTAN, vou postar aqui algumas respostas aos comentários recebidos. Vou começar primeiro com a noção de "mocinho X bandido" nesse contexto. (Já aviso q acabou ficando mais longo q imaginava)👇 Nenhuma análise política através do prisma mocinho X bandido deve ser levada à sério. Esses não são conceitos da CIÊNCIA política, mas são usados retoricamente em disputas políticas. Ou seja, não é CIÊNCIA, é POLÍTICA. Em ciência política e RI, pensamos em atores e interesses.

Ontem eu coloquei aqui um fato concreto, e muita gente brigou com o fato. O fato é que os 🇺🇸 não têm base militar no Leste Europeu.
"Ah, mas OTAN e EUA é a mesma coisa", alguns alegaram. E dá-lhe mapinha indicando de forma ameaçadora bases da OTAN. Vamos lá: Antes 2 poréns: Há uma base militar americana no Kosovo e há bases militares conjuntas na Bulgária, porém sob bandeira e controle Búlgaro. Tirando isso, há 0 (zero) bases americanas para leste da Alemanha. Mas vamos à OTAN.

1/ Durante a guerra do Vietnã, Nixon criou a "Teoria do Louco". Ele a definia assim:
"Quero que os norte vietnamitas acreditem que eu chegaria ao ponto de fazer qualquer coisa para acabar com a guerra. Iremos somente dizer algumas palavras...." 2/ "....pelo amor de Deus, vocês sabem que Nixon está obcecado com o comunismo. Não poderemos contê-lo quando ficar com raiva — e ele tem a mão sobre o botão nuclear" e Ho Chi Minh estaria em Paris em dois dias implorando por paz."

A Ucrânia é o único país do mundo q abriu mão de suas armas nucleares. Isso foi feito através do chamado "Memorando de Budapeste", de 1994. Nesse tratado, Rússia, EUA e Reino Unido concordaram em "Respeitar a independência e soberania da Ucrânia nas fronteiras existentes" Ou seja, ao invadir a Ucrânia, Putin viola não apenas os princípios básicos da Carta da ONU, organização da qual é membro permanente, como o próprio acordo que havia firmado com a Ucrânia para dar garantias de segurança para q o país abandonasse suas armas nucleares.

Digo mais - Para quem começa a se debruçar sobre o tema agora, é importante entender o contexto de criação da OTAN em 1949: foram os EUROPEUS q insistiram pela presença militar na Europa.
Os EUA tinha uma tradição de não fazer alianças na Europa. A OTAN rompeu isso.👇

https://twitter.com/cgpoggio/status/1497200621639933957

O primeiro Secretário-Geral da OTAN resumiu de forma clara isso quando falou que a organização serviria para: "keep the Russians out, the Americans in, and the Germans down". AMERICANS IN era central para as outras duas metas.