Hoje Paulo Vanzolini, o gigante da academia e do samba brasileiros, faria 100 anos. Sintomaticamente, contei um total de 0 linhas dedicadas à data nos cadernos de cultura e ciências dos jornalões paulistas. Vanzolini foi fazer doutorado em Harvard muito antes de estudar fora ser lugar comum para a elite brasileira (em Cambridge, compos o lindo "Longe de Casa Eu Choro")

Bastante gente qualificada (Pessoa, JRMB, @NPTO) nos jornais de hoje animada com o plano fiscal do Haddad. Normalmente sou um otimista, mas, desta vez, não consegui. O único cenário em que o plano pára de pé é com um crescimento forte de receitas. Oficialmente, estão fazendo isso contando com uma ideia de "taxar os ricos" que tanto é meio hipócrita (com os grandes vespeiros, tipo Simples e ZFM, ninguém quer mexer) quanto ingênua ("achar" algo como 1% do PIB em elisão e setores que ainda não são taxados).

A escolha do próximo governo deveria ser entre praticar o mínimo de disciplina fiscal para não atrapalhar a queda de juros que estaria contratada com a queda da inflação ou ignorar os sinais do mercado e ter que continuar rolando a dívida a mais de 13% aa. Dado o tamanho da dívida e quanto a queda de juros economizaria, é espantoso que se considere o outro caminho (que, além disso, levaria a câmbio mais desvalorizado, mais inflação, etc.).

Sobre previsões de resultado da eleição: muito está se falando das pesquisas, por gente muito mais competente que eu, então não vou nem tratar (muito) disso. Meu ponto aqui é que a diferença grande na média das pesquisas não batia com outros modelos... ... -- eu, particularmente, dei o benefício da dúvida para as pesquisas e achei que a corrida presidencial terminaria no primeiro turno. Sobre esses outros modelos:

Deixar o Bolsa Família fora do teto (e sem valor definido) não resolve um problema fundamental para o mercado: sinalizar qual vai ser o déficit publico este ano e a trajetória da dívida. Só chuta a lata para 2022 (e ninguém vai querer cortar gasto social en ano de eleição). Ajuste fiscal devido agora é algumas vezes mais fácil que o de 2015-16: custos de financiamento estão (estavam) muito mais baixos, ambiente externo é favorável, não há problema de endividamento de estatais...

De dois anos pra cá, o real perdeu 30% do seu valor. Não contra o dólar: contra uma cesta de outras moedas de emergentes. Viramos o saco de pancadas do mundo. Não tem adiantado mais nem rezar para um novo ciclo de commodities: desde o início da pandemia, commodities foram para um lado e o real, para outro.

Tem muita gente (liberais/progressistas) já dizendo que a vitória do Biden já tem gosto de derrota, por não ter sido lavada, provavelmente com o congresso dividido, etc. Eu não poderia discordar mais. Biden ganhou contra o viés republicano do colégio eleitoral, economia forte com governo fazendo a maior distribuição de cheques da história, com uma vice mulher e negra. Trump perdeu para o covid e para ele mesmo.

Conta de padaria para ficar menos (ou mais) nervoso durante o dia: quantos % Biden precisa dos votos ainda serem contados para virar quatro estados-chave onde Trump está na frente. *ainda a serem contados

Por que a prioridade #1 da política econômica deveria ser trazer de volta a dívida para uma trajetória sustentável? (1/n) -- aviso: esta thread virou um monstro enquanto fui escrevendo. Cabe, primeiro, definir o que é sustentável. Essa definição é meio etérea e envolve muito de expectativas e outras definições -- este artiguinho do FMI é uma boa introdução: imf.org/external/pubs/… (2/n)

Problema não é sugerir financiar gasto social atrasando pagamento de precatório e dando volta na emenda do teto. É mais uma entre tantas ideias ruins que, provavelmente, logo vai pro lixo (ainda mais depois da reação do mercado). Problema é o Presidente querer milagres (aumentar gasto social sem mexer com as regras fiscais atuais ou aumentar impostos) e isso levar o Ministro da Economia a desistir de fazer política econômica. Isso dá espaço para ideias ruins, sem nenhuma coordenação de objetivos.

"Mais de 95% dos 150 milhões de alunos da América Latina estão em casa." Só 2 países -- Uruguai e Nicarágua -- reabriram escolas.

economist.com/the-americas/2… Incrível ver como essa falha de liderança grotesca atravessa fronteiras. Não se trata aqui de abrir escolas a qualquer custo, mas criar condições para que isso seja possível. Todos esses países tiveram meses para se preparar para isso, e, aparentemente, pouco fizeram.

Charlie Parker faria 100 anos hoje! Minhas 5 gravações favoritas do gigante:

5. Just Friends, com cordas:

4. Tico-Tico no Fubá:

Aquela olhada semanal nos dados de mortes por covid no Brasil. A notícia boa, tudo considerado, é que a média móvel de mortes reportadas está abaixo de 1000 há 9 dias. Isso não acontecia desde o início de junho. O último dado (975 mortes/dia em 7 dias) é similar ao de 2 de junho. Nesse período, estados diminuíram/somaram ~393 mortes ao total.

Atualizando os gráficos da semana passada. Contribuições maiores dos dois lados (estados com quedas/altas nas mortes). Minas e Santa Catarina, na ponta. têm as curvas mais inclinadas do Brasil.

Brasil está há quase dois meses contando ~1000 mortes de covid por dia -- média de mortes reportadas nos 7 dias até ontem é praticamente igual à do começo de junho. Muita coisa mudou entre os estados, porém: Aqui as curvas dos estados que mais tiveram aumentos de mortes:

Estava olhando pros dados do artigo do Michael Spence & Chen Long que postei mais cedo (project-syndicate.org/commentary/cov…) e resolvi olhar para o equivalente no Brasil (via o excelente Brasil.io - brasil.io/dataset/covid1…). Subiu uma pontinha de otimismo (1/n) Spence & Long consideram a epidemia sob controle num país/região quando o número de dias para dobrar os casos reportados é maior que 19. (2/n)

Descobri, por acaso, mais uma historinha de governo militar manipulando dados de saúde pública no Brasil e prejudicando a vida de milhares. Envolve ninguém menos que o doutor Albert Sabin, criador da "gotinha". Como não vi em nenhum outro lugar, conto aqui: (1/n) O dr. Sabin começou a visitar o Brasil em 1961, promovendo campanhas de vacinação contra a poliomielite. Em 1972, ele se casou com uma brasileira. Em 1973, leu um relatório da OMS dizendo que o Brasil havia reduzido a incidência da doença em 86%. (2/n)

Para quem achava que militares estavam em um plano moral distinto do do PR, aí está: ministério comandado por um general escondendo dados de saúde pública no pior momento de uma pandemia no país. E um bilionário, que gosta de aparecer como abnegado salvador de vidas, endossa essa insanidade. Brasil não para de cavar o poço.

Sobre câmbio: nas últimas semanas, o real devolveu o desempenho horroroso de abril e maio (e o rali foi acompanhado por outro, menor de outras moedas de emergentes). No ano, real ainda está muito (quase 20%) para trás, também comparando com outros emergentes.

Dia 838635525 da quarentena (via @honkshu) #1 (indicação de retardo)

Juros no Brasil devem ir para perto do piso entre os países de rating piorzinho. Não à toa o real tem sido (e deve continuar sendo) saco de pancadas. Aqui dá para ver melhor. Filipinas (BBB+) tem juros parecidos com os do Brasil; México, Indonésia (BBB), Rússia, Índia, Colômbia (BBB-), China (A+), todos mais altos.