Parte da construção do pânico em torno da questão dos direitos reprodutivos e do aborto passam pela linguagem. Ela é bem importante pra toda a argumentação - e estudos são feitos sobre o tema em diferentes lugares no mundo. Os termos empregados têm, portanto, relevância. É comum q se ouça falar de "mãe" e "bebê" qdo se fala de "gestante" e "feto". O fato de uma mulher estar gestante não implica que ela vá ser mãe. E o fato de um embrião ter sido gerado, não implica que ele se tornará feto, depois, um recém-nascido e, finalmente, um bebê.

ATENÇÃO: ESTE FIO NÃO É SOBRE A ASSESSORA DEMITIDA DA MINISTRA ANIELLE FRANCO

No dia em que surgiu a "matéria" do Estado sobre a viagem da ministra, eu me surpreendi porque, no final das contas, é permitido fazer uso dos aviões da FAB pelos ministros. e eles o fazem. Fizeram até uma certa comparação "moral" com o ministro Silvio, que não usou o avião, e foi de voo comercial (e um monte de gente caiu nessa pilha e agradeceu o ministro pela postura (?)).

Atenção para o verbo "evita" aqui. Ele "desviou" dela? Houve mal estar?

Minha mãe de 79 anos, fumante, está perdendo dentes. Um dentista fez um implante porco, sem nunca mencionar que, em fumantes, implantes podem dar problemas. O dente implantado não ficou legal.

Procuramos outros dentistas da cidade, por termos achado o trabalho do primeiro ruim. Acontece que todos os outros dentistas falaram em fazer diversos implantes, passaram orçamentos caríssimos, nunca falaram na possibilidade da dentadura, mas nunca NUNCA falar que implantes funcionam muito mal em fumantes.

Gente, uma dica: sempre se pergunte de onde vem esses argumentos de autoridade. “Estudiosos da Linguística orientam que não se diga mais isso ou aquilo”. De onde está vindo a informação? Quem são os estudiosos? Qual o embasamento para aquela argumentação? Desde ontem eu venho recebendo prints variados sobre não usar o termo “bolsonarismo” e os argumentos são rasos e simplistas. Uma leitura crítica do mundo passa por buscarmos compreender de onde vem as informações, analisar o momento da história em que vivemos+

Vivemos um momento da história em que parece que estamos mais atentos às palavras que usamos. Ou, ao menos, várias das discussões em torno do uso de determinadas palavras se intensificaram e chegou a um número maior de pessoas - o que é ótimo, evidente. O problema está quando, tão focados em olhar pra palavra, nos esquecemos do que acontece em volta dela, no contexto da conversa em que essa palavra está inserida. No tal reality, uma discussão em torno da palavra tr*v*c*, q é péssima, “ignorou” a piada q a acompanhou.

Eu lendo um artigo acadêmico pra elaborar um roteiro e o autor me lança essa:

"O desejo de aparecer, ou mesmo a falta do que fazer,"

Mas, gente, que argumentação é essa? rs hahah mas, ai, a visão de língua dos membros da ABL...

"(...) são elementos que não podem ser descartados nesse lamentável processo de desconstrução do nosso idioma."

Deixem-me trazer meus dois segundos pra esse meme que agitou o dia aqui no Twitter: A interpretação desejada para o tuíte seria pensar que apenas a medida de uso de máscaras pff2/pff3 não é suficiente para resolver o problema da pandemia, e que o negacionismo, a galera aglomerando e tudo o mais são um problemão que a máscara, sozinha, não resolve. Certo?

VINTE E OITO PEDIDOS DE SOCORRO

Uma coisa q me impressionou qdo me mudei pra Salvador (adianto q esta é uma realidade brasileira) é q td apto q eu visitava pra alugar tinha quarto de empregada. Não importava o tamanho do apê. Mas vc pode imaginar o tamanho do quarto...

https://twitter.com/correio24horas/status/1380835404362960896

Lembro de estar no ponto de ônibus pra voltar pra casa e um homem me abordar perguntando se eu não precisava de empregada. Ele estava abordando as pessoas no ponto. Eu não entendi. Ele disse q “mandava trazer do interior”, “menina nova q fica na casa”, “gente de confiança”.

Há dias vi que foi retomada, nas redes, a discussão sobre a questão do gênero neutro. Digo retomada porque vi que voltou a pipocar de várias pessoas falando sobre a questão do emprego de algumas estruturas para marcar o gênero neutro. Algumas dessas conversas me causam incômodo. E me causam incômodo porque passam ora pela questão da norma ora pela questão do que os leitores são capazes de fazer. A primeira conclusão a que se chega desses argumentos é que ninguém deveria usar mais o "dxs", porque a forma não é do português e pq o aplicativo não lê.

De quantos produtores de conteúdo que vc conhece vc já ouviu/leu "desculpe o sumiço, está corrido postar, mas voltei"?

Já parou pra pensar o que é que isso significa e por que isso acontece? Tentar manter-se relevante, acompanhar o que está acontecendo, fazer conteúdo que atenda às expectativas da audiência, que tenha qualidade. Entender as necessidades técnicas, promover o canal, fazê-lo crescer. Defender um ponto de vista, estudar para isso. E muito mais.

* Sobre discursos e as desculpas *

Eu estava acompanhando desde de manhã o episódio com a gamer que teria feito um comentário gravíssimo e, por isso, vinha sendo muito criticada, tendo sofrido, inclusive ameaças de morte.

Eu então pensei: "nossa, o que será que ela disse?" Pois é, eu assumi que, já q vinha sendo criticada, algo ela devia ter dito de grave. Foi então q vi o comentário, que era "homem é lixo e os que não são, são exceções".

Toda msg, dentro e fora do Twitter, vem acompanhada de contexto. O contexto dessa mensagem é o mundo gamer.+

QUANTO VALE O MEU TRABALHO?

Fui chamada para dar uma palestra em um evento de uma empresa grande. Essa empresa fará um evento para várias empresas grandes, endinheiradas, e o tema tem a ver com a (baixa) presença da mulher no mercado de trabalho. Eu faria uma palestra pensada para esse público especificamente. Tudo desenhado para o evento. Entendi a temática na primeira reunião e faria o orçamento para encaminhar para essa empresa, minha mais nova possível cliente.

Encaminhado o orçamento, tardei em receber um retorno.

Deixe-me trazer p/ vocês um exemplo absurdo, mas tão presente na nossa sociedade, e q tem tudo a ver com a manifestação explícita de preconceitos pela linguagem.

Esse exemplo não é brasileiro, mas tem a mma lógica de negar o q está posto, o q está dado na comunicação. Um senhor branco, num voo que ia da Espanha para a Inglaterra, começou a brigar c/ uma senhora negra. E, na briga, sabe o que ele disse para ela? Dentre outras frases criminosas, ele disse: