João Carlos Filho Profile picture
Docente IFRJ-Campus Pinheiral. Interesses: Currículo, Educação Básica e Tecnológica, Ensino de História, Historiografia Pública e Educação em Direitos Humanos.
Oct 5, 2023 18 tweets 7 min read
Como algumas pessoas passaram a admirar a Rachel Sheherazade a partir de A Fazenda, acho que vale a pena revisitar algumas coisas que ela escreveu em 2022.

Especialmente para quem acha que, de alguma forma, ela mudou do campo reacionário ao progressista. Image 1) Naturalização da tese que minimiza o impacto do golpe civil-militar de 1964 em nome de um suposto (e, diz ela, "provável") golpe comunista que João Goulart iria dar.

Spoiler: isso é só justificativa golpista para o próprio golpismo.
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Nov 30, 2022 7 tweets 2 min read
Tenho pra mim que qualquer esforço para salvar a alma da juventude do nazismo, do negacionismo e afins é batalha perdida se não levamos a sério, REALMENTE a sério, a posição do Luiz Rufino, para quem a função primordial da escola no BR é a descolonização. Pode uma escola ainda majoritariamente produzida para reprodução de estruturas de colonização ter chance de criar a não-repetição da barbárie?

Temos chance de enfrentamento sem repensar a fundo os pilares que sustentam toda nossa visão hegemônica sobre "qualidade"?
Nov 29, 2022 5 tweets 1 min read
Diria Benjamin: ñ há nada que me indique que a defesa da ditadura ñ combine com 2022, senão uma concepção problemática de tempo histórico.

Nosso presente é atravessado por n temporalidades, q por sua vez são objeto de disputa política.

E o tempo do estado de exceção ñ cessou. Diria Gramsci: o senso comum do nosso presente carrega consigo todas essas camadas de temporalidade passadas.

Se a da defesa da ditadura salta hj, é porque certa hegemonia da Nova República que a continha entrou em crise.

Na crise, todas as baratas podem sair da toca.
Sep 25, 2022 8 tweets 2 min read
Quem lidera pesquisa pode decidir ñ ir eventualmente a um debate. É estratégia. Faz parte.

Quem tá perdendo nas pesquisas lamenta e critica quando o líder ñ vai ao debate. É do jogo tb. Tudo certo.

Quem faz debate quer audiência e chola quando perde debatedor. Ok.

Agora: não dá é pra analista ficar repetindo a BOBAGEM de que esses debates televisivos são "essenciais para a democracia".

Se contei bem, ontem foram umas 3 perguntas sobre aborto (de um candidato que não chega nem a traço na pesquisa) e UMA sobre educação (pessimamente respondida).
Oct 8, 2021 9 tweets 2 min read
Como diz um amigo, Magnoli segue com 100% de aproveitamento zero.

Para ele, a escravidão no Brasil pode ser separada da questão de cor.

Os "pretos cativos" dos registros de batismo do século 18 devem ser erro de arquivo. Certamente há o livro dos "brancos cativos" também. "Ah, mas ele se refere à motivação para a escravidão. Não foi ligada à questão da cor."

Deve ser por isso, então, que no BR colonial vinham levas de escravizados da África e das razias bandeirantes tanto quanto do sul da Alemanha ou da Inglaterra, né?
Oct 7, 2021 4 tweets 1 min read
Esse editorial é um deboche.

Todos (TODOS!) os principais nomes da disseminação de fake news no Brasil, com exceção talvez do Alan dos Panos, escreve ou escreveu na mídia tradicional, ou participa de canais de rádio tradicionais.

E a questão é puramente a rede social? Não vimos até ontem Alexandre Garcia e Caio Coppola disseminar Fake News com apoio da CNN? E a Jovem Pan? E a Gazeta do Povo? Tem mídia mais representativa do empresarial tradicional?

E Narloch na Folha? E todo o histórico da Globo?

Aliás, Estadão, e a "ditabranda", heim?
Oct 6, 2021 9 tweets 2 min read
Para além do fio já demolidor do @ThiagoKrause2 , me choca certa visão sobre a escravidão na qual "ser protagonista do destino" é deixar de ser escravizado e virar... senhor de escravizados!

O próprio Narloch, em seu Guia Incorreto, minimiza a figura de Zumbi. Para ele, (...) Zumbi não deveria ser símbolo do movimento negro porque, supostamente, teria escravizados...

É curioso que, pro Narloch, quilombola não sirva como referência de "protagonismo na escravidão", mas senhoras de escravizados, sim, sirvam.

Há razões para isso.
Sep 5, 2021 12 tweets 3 min read
Um dos maiores problemas de certa visão liberal idealista do passado, presente em textos como o da Economist dessa semana, que o @Estadao traduziu hoje, é considerar a história como resultado de forças puras em disputa. Assim, a vitória de uma sobre a outra faria avançar o tempo. O problema dessa visão é ignorar completamente o quanto o processo de disputa muda profundamente as próprias forças em conflito, a ponto de, em certos casos, as características ao final acabarem significativamente diferentes das iniciais.

Como foi o próprio liberalismo político.
Aug 29, 2021 5 tweets 1 min read
O mais interessante no texto é a mistura de ato falho com ingenuidade. A começar pelo fato de que os desdobramentos do Rubicão atravessado por César levaram justamentr à... queda da República e instauração do Império.

Não deu muito certo a contenção romana, né? Mas há mais. 1) a inspiração na República imperialista romana, dominada por um Senado oligárquico e baseada numa pesada expropriação dos subalternizados, como exemplo de "normalidade institucional" diz muito de a que nossas "instituições" aspiram quando pensam em "normalidade".
Aug 2, 2021 13 tweets 3 min read
Só agora fui ver a fala da Mary del Priore no Fantástico. É mais absurda ainda do que eu imaginara.

Primeiro pois desloca os sentidos do anacronismo. Sim, falar em "direitos humanos" no período colonial é "anacrônico". Mas não nos anos 1950-60, quando a estátua foi erguida. Acho curioso como os "anacronismos" são mobilizados sempre em favor dos poderosos, nunca contra seu poder. Ler a história "nos seus termos", assim, não passa de vocalização no presente das experiências hegemônicas pretéritas.
Mar 9, 2021 20 tweets 5 min read
Pequeno fio sobre Rodrigo Constantino, um dos maiores símbolos de como a intelectualidade liberal pode descambar pro reacionarismo.

Quem conhece de agora talvez não saiba, mas Constantino já defendeu liberação das drogas e direito ao aborto. Sobre aborto, em 2007, escreveu:

"Os “anti-aborto” tentam monopolizar a virtude, como se apenas aqueles que condenam o aborto defendessem a vida humana. Não posso deixar de perguntar uma vez mais: qual vida humana eles defendem? Pois entre a vida de uma mulher adulta (...)
Mar 9, 2021 12 tweets 2 min read
Qualquer pesquisa acadêmica sobre Lula e o PT vai mostrar como os discursos e práticas foram se "moderando" dos anos 80 ao governo.

Da mesma forma, qualquer pesquisa sobre o antipetismo vai mostrar, desde a origem, como sempre se acusou o partido de "radical" e "extremista". Procurem no youtube o debate pro governo de SP de 1982. A primeira aparição de Lula como candidato a um cargo no executivo.
Mar 6, 2021 10 tweets 3 min read
Difícil fixar um marco para o início destes nossos tempos de uso da mentira e desinformação para construção de visões políticas.

Bom candidato, porém, é a entrevista abaixo, de @Haddad_Fernando a @VillaMarcovilla , @veramagalhaes e outros, na Jovem Pan.

Por que um bom candidato a marco?

Porque ali estão os principais fios de uma produção argumentativa anti-PT mais preocupada em desmontar qualquer possibilidade de continuidade política em São Paulo do que em construir uma teia sólida de informações aos ouvintes.
Sep 7, 2020 16 tweets 3 min read
O 7 de setembro sintetiza perfeitamente as contradições e os esquecimentos que atravessaram o processo de Independência do Brasil. Seguem abaixo algumas delas. Lembrá-las deveria ser parte inseparável de qualquer reflexão digna do nome. Ainda mais tão proximamente dos 200 anos. 1) Nossa independência teve à frente do processo o filho do rei do país contra o qual buscava-se a libertação. Alguns anos depois, esse filho voltaria a Portugal para brigar contra o irmão pelo trono do falecido pai contra o qual havia liderado a Independência.
Oct 1, 2019 12 tweets 2 min read
Toda vez que discussões acaloradas sobre história acontecem nas redes, só consigo pensar em como essa disputa pode adentrar as salas de aula do país.

A historiografia sempre será uma parte ínfima da história-passado. Mas a história escolar é parte ínfima da historiografia. Ou seja: como alcançar sínteses suficientemente historiográficas para atender às exigências de uma educação crítica, reflexiva e emancipatória?

Começa o pepino pelo currículo oficial centrado na biografia da nação e pelo currículo oculto centrado na lógica da aprendizagem.
Jul 17, 2019 12 tweets 2 min read
Longa thread do "Future-se", a partir da apresentação do Mec:

1) Universidades vão ganhar mais dinheiro na medida em que consigam vender mais seus produtos, patentes, saberes etc. É a morte da produção pública: Ifes agora virarão base formativa plena para o mercado. 2) O que não for tecnologia ou inovação (99% dos exemplos dados pelo Mec) está fadado à Lei Rouanet e publicidade. Humanidades vão alimentar o "capitalismo social" (expressão deles) das grandes empresas.