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Mar 25 • 10 tweets • 2 min read
Braga Netto e Richard Nunes tinham divergências práticas que, com o tempo, cresceram e se tornaram políticas. O jogo de empurra pela indicação de Rivaldo Barbosa para a chefia da Polícia Civil na véspera do assassinato de Marielle parece ser o ápice dessa rivalidade entre os dois
A coisa teve início com divergências práticas, do tipo: colocar blindados no calçadão da praia. Netto pensava em projeção de força da intervenção, enquanto Nunes ponderava sobre o ridículo de não ter o que fazer com um blindado e um canhão caso alguém roubasse um celular.
Jan 30 • 9 tweets • 2 min read
Se confirmada a info de que membros das IDF usaram disfarces médicos para entrar com fuzis dentro de um hospital da Cisjordânia e matar um membro do Hamas, teremos um caso clássico, didático, redondo, irretocável, do crime de perfídia.
A perfídia consiste no uso indevido da proteção outorgada aos serviços médicos para conduzir operações militares ofensivas contra um inimigo. É, vulgarmente, uma enganação, um disfarce, algo terminantemente proibido pelas leis da guerra.
Jan 12 • 5 tweets • 1 min read
A carta do Lafer ao Amorim está fazendo barulho. Noves fora as rusgas políticas, não entendi o argumento do Lafer que a questão é de jus in bello, não de genocídio. Uma coisa não exclui a outra: o genocídio pode ser uma violação do jus in bello. Não é uma coisa ou outra.
Jus in bello é o nome chique do direito internacional humanitário, conjunto de normas criadas a partir de 1864 para colocar limites nos conflitos armados e proteger certas categorias de pessoas, como os civis. São as Convenções de Genebra e mais um punhado de coisas.
Jan 9 • 7 tweets • 2 min read
O Equador declarou a existência de um conflito armado interno. Isso significa o emprego das Forças Armadas em perfil beligerante, militar, de guerra, não mais em perfil de Garantia da Lei e da Ordem. Vários direitos humanos podem ser legalmente suprimidos. Segue:
Liberdades de expressão, de associação e de movimento são tremendamente restringidas. Passa-se a aplicar dispositivos do Direito Internacional Humanitário aplicável a conflitos armados não internacionais, como o Protocolo Adicional II de 1977 às Convenções de Genebra de 1949 ...
Nov 4, 2023 • 15 tweets • 3 min read
Ontem Israel atacou um comboio de ambulâncias em Gaza. Além de chocadas, muitas pessoas ficam também perdidas em relação aos argumentos expostos por Israel: e se essas ambulâncias estavam mesmo sendo usadas pelo Hamas? Então, vou tentar explicar o que a lei diz sobre isso:
Começando pelo mais simples: as ambulâncias, os hospitais e o pessoal sanitário (de saúde) gozam de total proteção dos efeitos do conflito armado. Em 1864, a 1ª Convenção de Genebra convencionou o uso de um emblema, a cruz vermelha sob fundo branco, para identificar essa proteção
Oct 14, 2023 • 4 tweets • 1 min read
Combatentes do Hamas são alvos militares legítimos, assim como suas instalações, depósitos de armas e de munições. Isso é líquido e certo no Direito Internacional Humanitário. Combatentes engajados ativamente nas hostilidade não têm garantia de vida, a menos que …
… a menos que se rendam, sejam capturador ou feridos. O mesmo vale para os militares israelenses: são alvos legítimos em Gaza, desde que não estejam rendidos, feridos, enfermos ou capturados. O que muita gente não entende é que a lei da guerra é isso: para a guerra, ñ para a paz
May 9, 2023 • 12 tweets • 2 min read
Passe um café que essa história é boa. No sábado, 600 manifestantes neonazistas marcharam pelas ruas do 6º distrito de Paris, uma zona nobre e central da capital francesa. O fato desatou um rico debate sobre os limites da liberdade de expressão no mudo real, não nas redes.
O pessoal que marchou pertencia a um grupo chamado Comitê 9 de Maio. Vestindo roupas pretas e acendendo sinalizadores, eles marcharam para rememorar um fato ocorrido há 29 anos, em 94: a morte de um ativista do setor, Sébastien Deyzieu, que caiu de um prédio, ao fugir da polícia.
Apr 17, 2023 • 22 tweets • 4 min read
As falas de Lula sobre a guerra na Ucrânia provocaram um debate interessante no Twitter. As pessoas tentam embasar logicamente suas preferências favoráveis e contrárias ao que disse o presidente. Vou arriscar minha opinião:
Vejo dois jeitos de encarar a questão: o primeiro é o jeito principista, segundo o qual as coisas são certas ou erradas em si mesmas. Por exemplo: essa guerra é justa ou injusta? A Rússia está certa ou está errada?
Oct 26, 2022 • 9 tweets • 2 min read
Há um detalhe paralelo interessante na questão do uso de granadas por Roberto Jefferson contra a Polícia Federal: a ideia de que os agentes tenham sido feridos por estilhaços dessas granadas, pois, teoricamente, essas granadas não podem projetar estilhaços.
Granadas de gás lacrimogêneo, de luz e de som não armas menos letais. Elas têm um invólucro de borracha maleável, que se dilacera na detonação, liberando o conteúdo. Não são como granadas de fragmentação, feitas de gomos de metal - essas sim feitas para matar ou mutilar.
Oct 7, 2022 • 10 tweets • 2 min read
A maioria das pessoas, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, entendem a democracia como o regime de governo da maioria. "Se a maioria está por nós, quem será contra nós?". Então, se a maioria quiser acabar com o STF, a imprensa e os institutos de pesquisa, qual o problema?
A pergunta é legítima. Afinal, muitos de nós aprendemos na escola que a democracia é o regime da maioria. Então, botavam a gente para votar, levantando a mão, na sala de aula, e isso era democracia. Não precisava de mais nada. Era legítimo o bastante. Foi assim que nos criamos.
Oct 3, 2022 • 11 tweets • 2 min read
Eu concluiria essa jornada dizendo que, pra mim, a explicação para o Brasil atual e para o relativo sucesso eleitoral do bolsonarismo está num livro de Nietzsche chamado “O Anticristo”. Ninguém tem paciência pra esse papo, eu sei, mas tá lá, bem descrito e explicado.
Para Nietzsche, o cristianismo acerta quando acolhe uma alma fragilizada. Porém, exagera quando passa a não apenas acolher, mas a enaltecer o que ele chama de anemia da alma; quando promete o reino dos céus aos mais miseráveis, pobres, anêmicos, aos menos competitivos.
Sep 29, 2022 • 4 tweets • 1 min read
Sobre o Neymar, é isso: joga muito, mas vota Bolsonaro. Só quem vive blindado numa bolha não consegue lidar com essas coisas. Eu tive sogra, cunhado, sobrinhas, gente muito querida que, no Chile, amenizava pro Pinochet. A outra metade da família era comunista. Todos na mesma mesa
O amigo mais comunista que eu já tive, um ex-ALN, guerrilheiro em Moçambique, era um historiador de formação que se divertiu levando um fascista para visitar pontos históricos ligados à história de Mussolini em Milão. Ficou de guia. Ele gargalhava quando contava.
Sep 14, 2022 • 9 tweets • 2 min read
Uma opinião: a pressão dos EUA foi decisiva para desinflar o balão golpista da família Bolsonaro e dos poucos generais da reserva que acalentavam ideias de balbúrdia no Brasil. Mensagem simples, curta e grossa, sem ambiguidades. Bateu onde tinha de bater e foi bem compreendida.
Eu estava em Washington e vi como deputados e senadores americanos receberam representantes de organizações brasileiras que foram ao Capitólio em julho alertar para o risco de que Bolsonaro emule Trump em outubro. Tive a sorte de estar presente, de ver, dentro dos gabinetes.
Sep 5, 2022 • 7 tweets • 2 min read
O rechaço à nova Constituição chilena só surpreende os mal informados. Durante todo o processo, o comparecimento não foi alto. Houve um forte engajamento da vanguarda de esquerda, mas o grosso da população estava com a cabeça em outro lugar. Cumpri um papel que por vezes …
… foi um papel antipático, de fazer ponderações realistas, que limitavam o mundo de sonhos em que a torcida, dentro e fora do Chile, se encontrava. Para explicar meu pressentimento, hoje confirmado, embora tido por crica, eu recorri muitas vezes a uma frase de Che Guevara:
Jul 29, 2022 • 5 tweets • 1 min read
Por causa do trabalho que estou fazendo, estive hoje em Washington numa reunião com Raskin, da CPI da invasão do Capitólio. Está interessado em investigar os vínculos da família Bolsonaro com a turma do 6/1. Disse que é hora de avançar sobre a internacionalização desses vínculos.
"Eu estou muito preocupado com o que está acontecendo no Brasil porque é algo que pode se tornar muito similar ao que nós vivemos no 6 de janeiro [nos EUA]. Bolsonaro é um grande admirador de Donald Trump e dos amigos dele."
Jul 18, 2022 • 8 tweets • 2 min read
Bolsonaro usa três técnicas de comunicação política para propagar mensagens antidemocráticas e de violência sem correr o risco de ser acusado diretamente por isso e sem ser processado. Quem destrinchou esses três passo foi @neisser, nesta conversa. nexojornal.com.br/entrevista/202…
1ª técnica, do 'vai-volta': "Bolsonaro faz afirmações contundentes e, dias depois, se for necessário, ele volta atrás, diz que não foi bem aquilo, diz que sua fala foi deturpada de má-fé pela imprensa, diz que que não entenderam o que ele quis dizer."
Jul 13, 2022 • 5 tweets • 1 min read
A coisa do Bolton é o seguinte: não é da cabeça dele. Os EUA têm manuais de golpe de Estado. Numa boa. Em abril de 2019, por exemplo, veio a público um desses manuais, feito pela Universidade de Operações Especiais Conjuntas dos EUA. Tim-tim-por-tim-tim nexojornal.com.br/expresso/2019/…
O doc trata de uma série de táticas e estratégias para influenciar o curso da política em países estrangeiros – alguns em clara violação do direito internacional. Esses métodos são classificados como “método de guerra política” (political warfare).
Jul 11, 2022 • 7 tweets • 2 min read
Pesquisando casos de violência político-eleitoral nas eleições de 2018: chama a atenção o pudor em caracterizar os fatos como parte de uma violência coordenada e dirigida a partir de um centro político de extrema direita. Nem sequer o termo "extrema direita" era usado.
Foi uma luta para caracterizar Bolsonaro como parte de um movimento de extrema direita violento. Havia relutância. O uso do termo era questionado. Isso não ocorreu só no jornalismo. Quem resume bem o assunto é o historiador e deputado português @ruitavares, com quem falei na 5ª:
Apr 6, 2021 • 9 tweets • 2 min read
Saiu o discurso de posse do novo chanceler, Carlos Alberto Franco França. Minhas observações:
1. Frio com seu antecessor, Ernesto Araújo, ao qual apenas agradeceu pelo "apoio na transição". Ponto.
Apr 6, 2021 • 8 tweets • 2 min read
Na semana passada dei uma palestra sobre jornalismo a alunos da Universidade de Lyon, na França. A certa altura me fizeram uma pergunta inusitada, que eu acho que vale a pena comentar aqui: como lido pessoalmente com o volume de notícias deprimentes?
De forma simples: eu lido de frente. Leio, ouço, presto atenção de verdade. Mas, uma vez que entendi a informação, eu largo ela. E acho que essa é uma grande diferença entre quem lida com as notícias de modo profissional, como os jornalistas, e os que lidam de forma só pessoal.
Mar 31, 2021 • 13 tweets • 2 min read
Fico meio sem jeito de fazer longas threads aqui, porque a coisa acaba tendo um tom pedante e professoral, mas talvez seja importante correr esse risco para explicar que há um ponto possível de convergência entre os que discordam sobre o que aconteceu em 1964.
Esse ponto de convergência se chama DIH (Direito Internacional Humanitário). Também é conhecido no meio militar como Dica (Direito Internacional dos Conflitos Armados), ou você também encontra como simplesmente Direito da Guerra. O que é isso?