Fernando Pureza Profile picture
"É com a cabeça enterrada no esterco que as sociedades moribundas soltam o seu canto do cisne". (Aimé Césaire) Professor. Pai do Pedro.
10 subscribers
Mar 1 16 tweets 6 min read
Dormi mal ontem por causa do horror do que houve ontem em Gaza, do massacre de civis que buscavam alimentos.

Parece que segundo os monopolizadores da memória do holocausto, não se pode fazer comparações com o nazismo.

Beleza. Vou lembrar do que houve na Índia, em 1919. Image Nesse ano, os ingleses praticamente sepultaram todas as conversas com os líderes indianos para um plano de independência. E, tão logo a 1ª GM acabou, os ingleses promulgaram o Rowlatt Act, uma lei que permitia que o governo colonial britânico prendesse qualquer pessoa... Image
Jan 23 19 tweets 4 min read
É preciso que se diga uma coisa sobre negacionismo do holocausto.

Um dos maiores nomes críticos a esse negacionismo foi um historiador francês e judeu chamado Pierre Vidal-Naqet. Image Vidal-Naqet escreveu, em 1987, um livro chamado "Os assassinos da memória", onde desfere duras críticas a acadêmicos e a imprensa por darem palco aos chamados intelectuais negacionistas. Image
Nov 6, 2023 7 tweets 3 min read
Por ocasião do conflito, tenho tentado retomar leituras sobre movimentos israelenses e palestinos que lutaram contra o sionismo ao longo do século XX.

Um dos mais interessantes foi o Matzpen: Durante a Guerra dos Seis Dias, o Matzpen se aliou com grupos palestinos para denunciar a guerra e exigir a "des-sionização" de Israel. A defesa era da criação de um Estado único e secular para árabes e israelenses. Image
Oct 22, 2023 6 tweets 2 min read
Crianças palestinas detidas nas prisões de Israel.

Mas vamos tornar essa informação mais real: Segundo a ONG Save the Children, a cada ano, de 500 a 1.000 crianças palestinas são presas pelo Estado de Israel.

86% delas são agredidas.
69% delas são revistadas completamente nuas.
42% delas são presas com ferimentos.

.reliefweb.int/report/occupie…
Oct 16, 2023 17 tweets 7 min read
Ontem eu postei um mapa que o Irgun divulgava sobre o projeto de Erez Israel, na década de 1930 - e que manteve-se fiel a ele em 1940.

Fui acusado de antissemitismo por isso. Mas antes de dar processo a rodo, vou dar aula de história. Image A história do Irgun remete ao sionismo revisionista de Ze'ev Jabotinsky. Na formação do sionismo político israelense após 1917, Jabotisnky liderou um grupo de sionistas que contestava o pragmatismo de líderes como Ben Gurion.

Para eles, a Palestina deveria ser conquistada... Image
Oct 11, 2023 8 tweets 3 min read
Coloquei na outra rede, mas coloco aqui também.

7 livros que fundamentaram as minhas concepções sobre a questão Palestina: 1) "A questão da Palestina", de Edward Said. Um livro inescapável. A partir da história da colonização israelense na Palestina durante os anos do mandato britânico, o autor mostra como a identidade palestina se construiu num "não-direito" à terra. Image
Jul 31, 2023 8 tweets 2 min read
Então, parte do problema dessa defesa da ciência é que ela não acompanha o mínimo de discussão sobre metodologia e suas diversidades.

Supondo que a dúvida do professor seja sincera, puxa, como eu gostaria de trabalhar aí um Thomas Kuhn só pra gente começar a falar de ciência. Se não for sincera, se ela for só ironia, então fica bem chato, porque dentro de uma universidade ele terá de conviver e lidar com gente de áreas que sim, trabalha com relatos (sem aspas) como documento, como evidência.
Jun 26, 2023 17 tweets 6 min read
É muito doido quando alguém vem dizer que Ocidente e Oriente podem ser divididos pelo meridiano de Greenwich. A gente aprende isso lá pelo sexto ano, mas via de regra o profe vai dizer que essa é uma convenção.

E aí tá o segredo pra mostrar que isso não é natural. No século XVIII, ingleses e franceses começaram a disputar o "marco zero" do tempo. É nesse século que os impérios coloniais passam a se converter em impérios globais e, portanto, o controle do tempo passa a ser central.
May 16, 2023 25 tweets 7 min read
Eu acabei comentando no outro tweet, mas acho legal tentar posicionar onde me situo nessa história se a China é uma civilização milenar, ou não.

E a resposta curta é: não.
A resposta longa, contudo, é que depende. A reivindicação de que uma civilização é milenar pode estar balizada por duas lógicas: uma, que é a do atraso. Se os parâmetros de uma cultura são considerados os mesmos ao longo do tempo e a modernidade envolve a aceleração do tempo, então uma cultura milenar é...atrasada.
May 16, 2023 5 tweets 1 min read
Me incomoda essa ideia porque pressupõe:

A) que os princípios iluministas estão restritos aos filósofos do contrato social e;
B) que é a mesma civilização chinesa desde os primeiros assentamentos no rio Yang-Tsé. Quer dizer, se é ridículo explicar a França hoje pela coroação de Clóvis no século V dC, por que a gente acha de boa explicar a China pelas obras de Confúcio mil anos antes?
Jan 31, 2023 21 tweets 8 min read
Um fio sobre crimes do colonialismo - ou quando a Legião Estrangeira decapitou crianças...

Por conta de um projeto, passei a ler alguma coisa sobre a história da Legião Estrangeira Francesa. E tem umas histórias assombrosas. Não deve surpreender as pessoas o fato de que a Legião Estrangeira era a tropa avançada do colonialismo francês. Você já viu isso em desenhos e filmes. Os valentes legionários contra beduínos, tuaregues e demais nativos, sempre retratados como selvagens.

dailymotion.com/video/x57d984
Jan 30, 2023 6 tweets 1 min read
Tô aqui pensando nesse lance da organização política defender a abstinência de álcool e drogas como plataforma para a militância.

Engraçado que pra mim, militância era outra parada. Que envolvia inclusive o bar como espaço de composição política. "Ah, mas isso não faz revolução".

Então, verdade. Mas abstinência também não. E eu nem acho que o bar (ou, de forma mais ampla, álcool e outras drogas) é um espaço privilegiado de militância, não.

Mas é um espaço de sociabilidade.
Jan 3, 2023 15 tweets 6 min read
Tem uma forma simplória de explicar isso, mas que a rigor, está correta: diferente da Europa, a China nunca precisou colonizar nenhum país para se desenvolver.

A China, nas dinastias Ming e Qing, nunca apostou no colonialismo para superar seus impasses internos. Não quer dizer que ambas as dinastias não tenham apostado na ideia de subjugar os outros. Entre os séculos XIV e XIX, a China expandiu o chamado "sistema Cefeng", ou sistema tributário.

Nele, os países do mundo pagariam tributo a corte imperial (kowtow) para os chineses.
Jan 2, 2023 5 tweets 2 min read
Não surpreende, mas é sintomático que nem a @folha e nem o @Estadao esperaram o cadáver político do Jair esfriar pra já meterem manchetes com conteúdo "saudades do meu ex". O primeiro é engraçado porque junta, na mesma frase que Lula fala aos seus e defende a democracia.

Como exercício de interpretação, alguém diria que o outro lado, ao falar com seus, defenderia a democracia?

Porque né... não ocorreu nada assim nos últimos 4 anos. 🤷
Dec 14, 2022 23 tweets 9 min read
Um dos motivos que torna o jogo de França x Marrocos tão potente é a história entre eles.

Entre 1907 a 1956 a França ocupou militarmente o país africano. Foram quase 50 anos de domínio colonial - direto e indireto. Alguns deles, marcados por crimes contra a humanidade. Image O mais famoso desses crimes talvez tenha sido na Guerra do Rif (1921-1926), onde rebeldes da região de Rif enfrentaram primeiro os espanhóis e depois os franceses. O uso sistemático de tanques, bombardeios e armas químicas pelos europeus marcou o conflito.

Mas isso tem história. Image
Dec 12, 2022 6 tweets 2 min read
Ainda sobre Marrocos, fico com a citação de um colega da época do doutorado...

(ASSUMPÇÃO, Jorge Euzébio. "África: uma história a ser reescrita". IN: MACEDO, José Rivair (org.). Desvendando a História da África. Coleção Diversidades. Porto Alegre: Ed. UFRGS , 2008). Image Em 2019 ainda assisti um palestra do professor Rivair, organizador do livro, medievalista de primeira linha e que se tornou um dos maiores africanistas da última década.

Boa parte da fala dele foi sobre o comércio transsaariano no chamado "medievo".
Dec 5, 2022 8 tweets 2 min read
Eu tenho uma outra hipótese, bem menos "objetiva".

A real é que a conversão do futebol em mercadoria esvaziou algumas narrativas míticas. Uma delas é a ideia de amor pelo futebol. Amor pelo futebol, vejam bem, é real. Tá lá na infância e vai crescendo, se bem alimentado.

Mas né, foi encapsulado pela ideia da profissionalização da bola. O amador, tal como existia no passado, não existe mais. Entrou em campo o profissional, que tem do futebol uma profissão.
Nov 29, 2022 22 tweets 4 min read
Estou em alguns grupos de Whatsapp com colegas historiadores. Muitos desolados com a quantidade de notícias sobre pichações de suásticas em escolas - combinadas com o terrível atentado em Aracruz.

Muita gente boa já falou aqui, mas vou dar um pitaco também: O nazismo é uma ideologia odienta. Ponto. Nada, absolutamente nada, que o nazismo apregoa, merece ser tratado com razoabilidade, ou dúvida, correndo o risco de simplesmente relativizarmos um dos maiores horrores da história.

Mas por que jovens se interessam por isso?
Nov 28, 2022 6 tweets 1 min read
Tá rolando uns lances bizarríssimos na China e tem muita gente já dizendo que a história de Urumqi e os movimentos anti-lockdown são estratégia da direita.

As famosas guerras híbridas. E pode ser isso mesmo. Mas tem um adendo que eu sempre faço, que não diz respeito especificamente à China.

É um alerta pra socialistas.

Sempre que o capital se multiplica em uma determinada sociedade, ele força ao máximo, por todos os meios possíveis, a transformação das relações sociais.
Nov 26, 2022 11 tweets 2 min read
É preciso dizer: ninguém odeia o Neymar só porque ele votou no Bolsonaro.

Pega essa seleção, tem 26 malucos. Chuto que uns 75% votaram no Jair. Vou cancelar? Nada.

A camiseta é maior do que essa gente. Pessoal quer o hexa, quer 7 jogos, ceva às 10 da matina. Foda-se. Mas Neymar, ah, Neymar contrariou a CBF e foi expressar apoio direto à Jair Bolsonaro. Numa "super live". Que só foi interrompida porque Roberto Jefferson jogou granadas em policiais federais.

Vocês lembram disso?

Porque a imprensa esportiva faz questão de esquecer.
Nov 25, 2022 5 tweets 1 min read
Essa fala do Tite, de que Neymar ainda joga a Copa, me dá a entender que com essa lesão, não joga mais a primeira fase.

Se for isso, pra seleção, é uma perda, mas muito menor do que foi em 2014 (ou do que seria em 2018). Se pegar o jogo de hoje, perde porque Neymar tem sempre marcação especial. Mesmo quando não tá num grande dia, como hoje, puxa marcadores e alivia a pressão sobre os demais.