Algumas palavras sobre liberalismo e identitarismo.

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É gritante que ainda há muitos espaços em que falta diversidade.

E é claro que diversidade importa.

Stuart Mill já dizia: quando postas em contato, a variedade de posições faz bem a todos os envolvidos. Há um processo de enriquecimento que só existe na diversidade.

O contato com a perspectiva diferente impulsiona cada perspectiva em si.

Ao se confrontar com nossos próprios limites, a partir da perspectiva alheia, temos a oportunidade de nos desdobrar em aperfeiçoamentos.

Magazine Luiza decide fazer processo seletivo pra trainee exclusivo com candidatos negros.

“Engenheiros sociais estão estimulando a criação de uma sociedade dividida em raças”.

— Será?!

Bem, a partir de princípios liberais, eu acho que a Magalu deve ser aplaudida.

Vamos lá. Na primeira camada, a resposta fácil é sobre liberdade de associação e iniciativa.

Empresas devem ser livres para contratar de acordo com seus próprios critérios.

Não gosto da ideia de centralizar em algum ente o poder de julgar o que seriam critérios legítimos ou ilegítimos.

É triste ter que ficar dizendo isso, mas pra um liberal ter se iludido com o governo Bolsonaro precisava estar muito querendo se enganar.

Não é uma questão de apontar dedos, mas lições.

Precisamos aprender. Não foi a primeira vez que muitos liberais cometeram esse erro. Não sou superior nem mais liberal que ninguém. Sou um liberal. Não acredito em respostas únicas.

O liberalismo é pluralista, não dogmático.

A razão não tem um único caminho. E o uso que fazemos dela é sempre mediado por nossos sentimentos humanos, valores, medos e esperanças.

Disseram que na live do Livres ontem não havia liberais. Fiquei feliz pelo acusador.

No vocabulário de @biraiorio, liberal mesmo é quem defende censura de gibi, flerta com AI5 e desqualifica interlocutor apelando pra sexualidade.

O governismo servil deturpa o liberalismo. Como esquecer do apreço a liberdade individual de quem reage assim à cena grotesca da polícia invadindo uma feira literária para censurar gibis com conteúdo LGBT?

Ontem no RodaViva, o @felipeneto chamou a meritocracia de ilusão liberal.

A primeira palavra tá certa: quem acha que a posição social de alguém se baseia no mérito é um iludido.

Já a segunda não: o liberalismo não permite uma leitura de que o mundo estaria baseado no mérito. Mesmo na hipótese de um mundo onde as posições sociais fossem definidas pelo mercado, o liberalismo não promete meritocracia.

O mercado se baseia em recompensar sobretudo quem atende a uma demanda do público, não o esforço ou a qualidade do trabalho.

É triste ter que ficar redizendo o óbvio: Liberalismo não é uma doutrina com meia dúzia de receitas econômicas.

Liberalismo é uma forma de ver o mundo, que *necessariamente* inclui ampla diversidade.

Não é novidade. Desde o liberalismo clássico há liberalismoS, no plural. Muito antes de gerar receituários econômicos ou de políticas públicas, o liberalismo se constrói em torno de valores.

O que torna alguém liberal ou não não é a opinião sobre o tamanho do Estado ou o desenho de uma política pública, mas um corpo de valores centrado na liberdade.

A discussão de 1987 expõe como poucas o preconceito regional na mídia brasileira.

Quem defende o Flamengo como campeão basicamente se apoia no orgulho da própria ignorância.

Saber minimamente o contexto esportivo da época acaba com qualquer argumento. Quem questiona a qualidade dos adversários que o Sport enfrentou ignora que:

Guarani (2)
America-RJ (4)
Criciúma (9)
Inter de Limeira (11)

Acabaram o campeonato de 86 na frente do Flamengo (e obviamente não podiam estar na 2a divisão se o Flamengo estivesse na 1a)

Tratar insatisfação dos chilenos como uma contradição dos indicadores econômicos é reduzir a complexidade humana a dinheiro.

Somos muito mais que isso.

Insatisfação pode ter muitas razões. É preciso ouvir os chilenos com profundidade antes de disparar sentenças definitivas. A ciência econômica, como as outras, ajuda a entender melhor a realidade.

É um conhecimento específico, localizado, que não mede todas as dimensões da vida humana.

Achar que protestos a invalidam é como achar que a vivência do tiozão do Zap torna a terra redonda.

Liberalismo clássico.

Um dos termos mais mal tratados no Brasil, inclusive na boca de alguns liberais.

Precisamos recuperar seu sentido.

‘Clássico’, afinal, não quer dizer ‘atrasado’.

Quer dizer ‘pioneiro’.

👇🏽👇🏽 Nos últimos dias, vi tentativas de associar “liberalismo clássico” a um menosprezo pela preocupação com mobilidade social e educação pública.

Seriam questões social-democratas, alheias a ideias de liberdade.

Não sei se é ignorância histórica.

Também pode ser só elitismo mesmo.