Vou explicar pq pra mim é difícil me posicionar sobre Israel/Palestina de forma mais decidida:
- Não conheço a fundo as questões históricas específicas;
- Israel é o resgate de um povo em diáspora que passou por um dos maiores massacres da humanidade;
- Palestina sofre ocupação> >baseada no terror colonial. O estado de Israel é o paradigma da necropolitica
- o antissemitismo árabe pode ser reativo, um ódio anticolonial. Mas a história do antissemitismo não é tão simples
- as forças aliadas de Israel são tb necropoliticas, apoiam Israel mas mantém >

É óbvio q o “Mercado” está com expectativas negativas sobre o governo Lula. Afinal, o “Mercado” tem seu próprio programa. Lula, por sua vez, é um político de esquerda com visão social e ao lado dos trabalhadores. Há um conflito inevitável. O povo não quer o programa do mercado. Os economistas liberais fingem que o “Mercado” é uma entidade politicamente neutra, autointeressada, e maximizadora dos benefícios individuais. A previsibilidade seria o elemento capaz de garantir confiança e, com isso, investimento vitaminado privado.

É incrível como economistas, mesmo os ortodoxos, descrevem o terreno recebido por Lula como uma total bagunça, mas eles e a mídia são incapazes de dizer claramente que a gestão de Paulo Guedes foi uma catástrofe para o Brasil. A economia está destruída. Indústria desapareceu, serviços em queda, juros mais altos do mundo, desonerações de cabresto, desestruturação de toda organização republicana na relação entre políticas públicas e investimento. A gestão Guedes, além disso, produziu austeridade a custo da destruição do Estado.

Um 🧶 resumo da live de ontem:

Não são "bolsonaristas radicais" e nem "uma minoria vândala", mas sim massa de manobra comandada pelo poder colonial brasileiro a fim de manter o caráter extrativista e violento das formações sociais e ocultar os crimes durante o período Bolsonaro. Polícias e Exército não são apenas omissos, são partícipes e formadores do processo como um todo. Provavelmente os policiais e militares inclusive deviam ter grupos de zap paralelos em que recebiam os chamados e participaram ativamente por meio da conivência.

Dissonância cognitiva é um conceito apropriado, mas, como todo cognitivismo, tem como ponto fraco um individualismo metodológico. O fenômeno atual é estrutural e envolve a sobreposição das relações vivas por quantidades numéricas não como ferramentas, mas como realidade última. Que seja necessária a abstração para “escalar” relações é compreensível, até certo ponto positivo. Mas quando os números são transformados em entidades mortas que governam os vivos, aí temos uma doença.

Meus informantes do bolsonarismo sempre foram meus alunos de graduação, 90% na faixa entre 2-5SM. @_pinheira está absolutamente certa. Da pauta moral das últimas eleições a coisa passou para um ecossistema do dinheiro fácil. @AnarcoFino já destacava isso também quando falava em educação financeira. A subjetivação neoliberal mesclada ao capitalismo de plataforma, com o híbrido influencer/bitcoinzeiro, é altamente aderente entre as classes populares.

A ideia de uma “massa descontente” que não encontra guarida nos governos é fraca para entender o que está acontecendo. O que surge é uma nova polarização de nível colonial, que envolve a disputa entre povos (na perspectiva libertária) ou raças (na perspectiva fascista). O renascimento da extrema direita mundial não é uma escolha aleatória de uma população descontente apenas, é uma individuação política pela raça, mesmo que sob o avatar da “nação”. O racismo é a explicação para a nova extrema direita.

Impressionante esse podcast do @naruhodopodcast por causa da extrema qualidade da informação e, ao mesmo tempo, como a ciência de ponta cai, inevitavelmente, na filosofia.

open.spotify.com/episode/3wWQyC… A melhor teoria, segundo o episódio, é a mais filosófica delas. A análise é feita a partir da teoria aristotélica das causas. No final, as questões interessantes aparecem a partir da antropologia.

Pessoas que só passaram pelo ambiente das universidades públicas, seja como alunas, seja como professoras, conhecem pouquíssimo ou quase nada a realidade das universidades privadas - em geral, baseiam-se em casos isolados (elitistas) ou nos piores (chamadas “uniesquinas”). 👇 A realidade dos estudantes de privadas não é uma pilha de burgueses que pagam por um ensino elitizado. Inclusive várias universidades privadas apostaram em captar esse público e estão afundando com a falta de público.

Fico muito impressionado com esses textos de humanas que mimetizam os métodos das ciências naturais, inclusive na redação, estruturando pesquisas digitais, por exemplo, como se fossem testes de laboratório. Duas coisas me passam pela cabeça. Primeiro, a insegurança da área. Na falta de uma convicção sobre as diferenças entre as abordagens e os objetos, refugia-se em um positivismo de segunda classe, basicamente uma cópia de estilo.

Existem basicamente quatro núcleos duríssimos do bolsonarismo cuja desarticulação poderia, sim, produzir um efeito de dispersão de cima para baixo do movimento. Lula certamente não irá executar esse programa, mas seria duro, mas eficaz, intervir sobre eles. 🧶 Um deles é o Exército. O q fazer? Desinvestimento radical, corte de privilégios, demissão de cargos duplicados, exposição de arq sigilosos de espionagem, comissão para julgamento de crimes praticados durante a pandemia, proibição de q quadros da ativa atuem em cargos políticos.

Chegamos em um ponto em q a conciliação liberal parece ter ficado ridícula. A aposta nos militares como "adultos na sala", última cartada, com o contraste entre carreira de Estado e filão governista, soa cômica. Para derrotar o bolsonarismo, militares terão q ser vencidos junto. Muita gente não queria travar essa batalha, tentando isolar o lado ruim do lado bom, mas os próprios militares não dão razão para isso. Assim, teremos que ir para o tudo ou nada: vencer nas urnas e, com a legitimidade política, confrontar qq golpe. Depois, punir os responsáveis.

A ideia de que Le Pen foi vitoriosa pq a extrema direita foi normalizada é muito equivocada. Na verdade, a normalização da extrema direita foi produzida pela tolerância pelo establishment, desde os anos 80, dos seus avanços com o fim de desmoralizar a esquerda social-democrata. No Brasil, vimos tal processo com lupa. Nos anos 00, colunistas hidrófobos que hoje são negacionistas da pandemia e da justiça eleitoral eram tratados com normalidade, como oposição -- às vezes até "genial" -- ao lulismo.

Parece mais ou menos claro que o M não defendeu, muito menos fez apologia, ao nazismo. Ele simplesmente defendeu uma ideia infantiloide de liberalismo que permite tudo, como se isso fosse um fim em si mesmo. Mas foi assim, na piada e no vale tudo, que começou o bolsonarismo. Portanto, o fato de ele não defender explicitamente ideias nazistas, nem me parece o caso mesmo, não significa que os nazistas não podem se aproveitar dos espaços deixados pelo "humor" infantiloide, típico de adolescente homem branco ressentido, e caminhar por essa brecha.