O VOTO PRESIDENCIAL E A ESCOLHA DO MENOS RUIM

Nassim Taleb, um dos maiores pensadores da atualidade, demonstra como os intolerantes, e não os tolerantes, tendem a vencer as disputas em que participam. Ele ilustra esse fato com uma alegoria instrutiva.
1/ Se 4 pessoas querem sair para jantar, mas uma delas é alérgica a camarões e outra é vegetariana, pode saber que o restaurante escolhido será vegetariano - e que os pratos não terão frutos do mar. Os que têm gostos mais restritivos, de fato, impõem sua escolha aos demais. 2/

MILL, John Stuart. On Liberty. Ao homem pode ser exigido que realize um ato que não lhe beneficie, mas que traga benefícios a todos: o serviço militar, o depoimento em juízo, ou salvar a vida alheia. Está aí. Estou esperando os oráculos do liberalismo no Twitter cancelarem Mill. Recusa à vacina pode ser chamada de egoísmo extremo, de narcisismo, de misantropia, de solipsismo, pode ser chamada de quase tudo, menos de liberalismo. Então nem tentem.

Só os randianos mais extremados para, em meio à pandemia, sugerir uma dessas. Talvez nem eles.

É 2020, Jair Bolsonaro é Presidente, o país está no meio de uma pandemia que ainda não acabou, 66% não têm acesso a saneamento básico, o STF deforma a ordem jurídica por canetadas, atletas perderam o direito à livre manifestação, e a pauta é... pureza ideológica no liberalismo. A sério, as bolhas de rede social têm causado um dano extraordinário à humanidade. Não só pelas fake news, não só pelo viés de confirmação, não só pela agressividade brutal na comunicação, mas especial e principalmente pela completa perda de noção da importância das coisas.

"Rachadinha" é o apelido meio carinhoso, meio pornográfico, para um crime tipificado no Código Penal brasileiro, o art. 312 (peculato). É quando o funcionário público, nesse caso o detentor do cargo, toma para si dinheiro público, em razão do cargo, de modo contrário à lei. A pena pode ir a até 12 anos de prisão, o que mostra não ser prática trivial, uma irregularidade comparável a pagar por fora uma diarista, como disse um arremedo de comentarista.

No entanto, é a corrupção favorita do baixo clero, porque fácil de fazer e também de ocultar.

Deixa eu explicar em termos mais simples, para que seja possível compreender a questão em dados objetivos.

Imagine que uma pessoa está sendo investigada por lesão corporal contra um acusado. Esse sujeito tem porte de arma. Vem uma decisão judicial e determina a entrega da arma. Isso é polêmico? Controverso? Não. É uma medida cautelar que determina a remoção do meio de execução do crime, e assim previne ocorrências futuras.

Por que há polêmica ou controvérsia quando se retira o uso de perfis de Internet de quem os usa para cometer crimes reiterados?

Hoje se deflagrou mais uma operação do DPF, dessa vez decorrente do inquérito das fake news, ou inquérito do fim do mundo, conduzido pelo Min. Alexandre de Moraes, para apurar fatos genéricos contra a honra dos ministros do STF. (1/28) Muitos perfis comentam, com um certo grau de schadenfreude, que os alvos foram bem escolhidos, mas que o feito é maculado pela origem e pelo modo de condução. Há certa verdade nisso, mas nem toda a verdade. (2/28)