Tive uma professora de psicanálise que curiosamente sempre recomendava que lêssemos “Confissões” de Santo Agostinho. Na época eu não entendia nada, afinal, porque era importante ler um teólogo numa formação em psicologia. Achava bizarro. Algum tempo depois, me deparei com um paralelo que o Foucault fazia entre a prática clínica/psicoterapêutica e as assim chamadas “práticas confessionais”. Claro que ele não iguala as duas coisas, mas traça uma certa genealogia da psicoterapia a partir dessas práticas.

docs.google.com/forms/d/e/1FAI…

Comecei a ler o Psicologia de Massas do Fascismo do Reich, e, de fato, é uma obra tão incontornável quanto atual. No geral, a tese dele sobre a centralidade da repressão sexual, sobretudo o papel da igreja e da família nesse processo, me parece bastante certeira. Também acho correta a análise que ele faz sobre o papel da classe média, como uma classe que internaliza a ideologia burguesa e quer se distanciar do proletariado. De fato, é uma análise bem concreta, não apenas descritiva e aparente.

No atual governo, presenciamos os maiores retrocessos na saúde mental desde a Lei 10.216. Investimento em comunidades terapêuticas, retorno dos manicômios, desinvestimento da RAPS, etc.

Eleger Lula presidente é defender a reforma psiquiátrica e a saúde mental brasileira! Durante a Pandemia, a OMS orientou que os países investissem em políticas públicas de saúde mental. Em vez disso, Bolsonaro não apenas cortou investimentos da RAPS como ameaçou a saúde mental brasileira com um projeto que ficou conhecido como revogaço:
conselho.saude.gov.br/ultimas-notici…

Uma coisa boa de conhecer Basaglia e o movimento anti-institucional é que eles nos ensinam algumas coisas simples que as vezes a gente esquece:

1) Nem todo espaço deve ser disputado. Alguns devem ser abolidos e negados. 2) A instituição determina a dinâmica, a forma e o conteúdo. Nenhuma instituição é neutra. Ela carrega em si os elementos da política que ela objetiva reproduzir e perpetuar.

Tá gente. Vamos lá, com calma. Eu sei que falar sobre saúde mental de forma não hegemônica é sempre uma treta, mas vou tentar minimamente apresentar alguns pontos. Primeiro, é importante saber que o campo da saúde mental é repleto de disputas e que não há problema nenhum nisso. Não há problema porque, enfim, debate científico é isso mesmo. Mas é importante não ter medo de falar sobre e dizer que os debates que proponho aqui não são do nada. Existe uma vasta literatura que orienta esse tipo de discussão e perspectiva em saúde mental.

Quando a gente diz que a posição de classe da pessoa determina a constituição do psiquismo muita gente entende que isso se resume a se preocupar com as contas, com o aluguel, etc — não que isso seja pouca coisa. Mas a questão é muito mais profunda. Muitas vezes essa determinação se traduz, por exemplo, num sentimento profundo de "não merecimento" (termo péssimo, mas vou manter porque é didático). Trata-se de um sentimento enraizado de "isso não é pra mim", "eu não posso ter isso".

Uma coisa que faço questão de pontuar sempre que tenho oportunidade é que as estratégias de encarceramento não são um mero sintoma do capitalismo. Na verdade, o aprisionamento é uma tecnologia social estruturante do modo de produção capitalista. Foi com "a assim chamada acumulação primitiva" que se deu início ao aprisionamento sistemático de todos aqueles que não se adequavam à nova disciplina do trabalho imposta pelo modo de trabalho assalariado.

Esse negócio de achar que os jovens não estão tirando o título de eleitor por preguiça ou desatenção só mostra o quanto ninguém tem entendido as juventudes atualmente. Especialmente as políticas públicas. Pessoal ainda tá fixado numa ideia de adolescente de décadas atrás. A título de exemplo. Esses dias participei de algumas reuniões intersetoriais pra discutir ações de escolarização e profissionalização de jovens. O discurso ainda é: "a gente oferece o curso, a oportunidade, mas os jovens não querem saber disso. Não se dedicam mais aos cursos".

Muito se fala sobre o Franco Basaglia (com razão, convenhamos). Mas uma figura importantíssima da psiquiatria democrática italiana é a Franca Basaglia, uma grande militante feminista e anti-institucional. Franca Basaglia participou ativamente dos processos de desinstitucionalização na Itália. Era uma profunda conhecedora das experiências de reforma ao redor do mundo e ajudou a pôr em prática o projeto de desmantelamento dos manicômios, sendo central na construção da Lei 180.

Uma coisa importante de ressaltar do movimento antimanicomial é que ele sempre foi responsável por alargar os limites da ciência de seu tempo. Cada experiência de reforma mostrava os limites históricos das ciências, e foi esse tensionamento que fez o debate científico avançar. Nunca se tratou de ignorar a ciência, mas de amplia-la e de ter visão crítica sobre ela. Por isso as grandes experiências de reforma se deram essencialmente pela via da praxis, não pelo debate científico encastelado.

Ser crítico à patologização não significa, necessariamente, desconsiderar a importância prática de um diagnóstico. Eu por exemplo sou crítico a compreensões específicas do diagnóstico, mas não reivindico uma abolição dos diagnósticos ou modos de classificar e nomear o sofrimento. Também nunca vi nenhum crítico sério à patologização dizer que não é importante nomear o sofrimento. Nem o Basaglia dizia isso. Aliás, Basaglia dizia que o diagnóstico devia ficar entre parênteses, mas nunca defendeu o fim do diagnóstico.

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CURSO DE ACOMPANHAMENTO TERAPÊUTICO

Módulo I: princípios éticos e políticos. Este é o cronograma das aulas do módulo I, “Princípios éticos e políticos”, que terá início em 30/04.

As aulas ocorrerão aos sábados pela manhã, de 9h às 11:30h, exceto a primeira e a última aula que serão até às 12h. A carga horária desse módulo é de 16 horas.

"O número de [diagnóstico] não aumentou porque as pessoas estão se tornando mais [diagnóstico], mas sim porque a detecção hoje é mais sofisticada que no passado e há uma maior conscientização sobre o [diagnóstico]"

Sobre isso: Tem uma discussão muito boa sobre isso em "Carta de Nova York", de Franco Basaglia. No texto, Basaglia aborda o problema da Psiquiatria Preventiva dos EUA, que prometia justamente ampliar o potencial de diagnósticos e identificar com antecedência "problemas" de saúde mental.

Fetichismo da mercadoria e a psicoterapia como forma-mercadoria.

Segue o fio 🧶 Não importa o quão complexo, plurideterminado, multifatorial seja o problema, a solução parece ser sempre uma: #FaçaTerapia

Gente, na moral, vocês já moraram em lugar barulhento? Porque só quem já viveu isso sabe o inferno que é. Até hoje sofro com isso e desenvolvi uma hipersensibilidade ao som justamente porque morei em um lugar que tinha som alto 24 hrs por dia. Quem precisou de terapia fui eu.

https://twitter.com/lpedrettil/status/1496440786984050690

E não tem nada a ver com puritanismo não, tem a ver com o quão não faz sentido submeter pessoas a esse tipo de estresse. Você não consegue estudar, não consegue descansar, não consegue dormir. Qualquer barulho, mínimo que seja, passa a incomodar e a irritar.

Trecho de Realismo Capitalista, de Mark Fisher: "A ontologia hoje dominante nega a possibilidade de que enfermidades psicológicas tenham uma possível origem de natureza social. Obviamente, a "bio-quimicalização" dos distúrbios mentais é estritamente proporcional à sua despolitização.

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Sendo justo, com todas as limitações, o governo Lula manteve em suas políticas públicas de saúde uma tradição sanitarista bem forte. Óbvio que foi um sanitarismo reformista, mas, ainda assim, alguns dos melhores programas do SUS aconteceram durante sua gestão. A questão é que o cenário atual, em uma eventual vitória eleitoral de Lula, será muito diferente de quando ele assumiu a presidência. Em 1° lugar, caso Lula não revogue o "teto de gastos" nada, absolutamente nada poderá ser feito. O SUS continuará sucateado e subfinanciado.

Eu amo a Silvia Federici, mas acho que às vezes ela insiste em umas caricaturas de Marx pra sustentar o ponto dela. No Calibã e a Bruxa ela repete muito uma ideia simplista de que Marx desconsiderava a exploração da mulher via trabalho reprodutivo, quando, na verdade, Marx e Engels sempre reforçaram que a exploração da mulher antecedeu a exploração de classe (mulher como propriedade).

Descobriram que Bolsonaro não tem empatia. Daí, a conclusão lógica que tiraram é que ele é "psicopata", não que isso faz parte do seu projeto de governo. Ignoram, porém, que ele não toca esse projeto sozinho e tem apoio de ministros, militares, burguesia. Todos são psicopatas? É fácil demais dizer que o problema é única e exclusivamente uma questão psicológica do Bolsonaro. Só que isso não responde nada, não ajuda em nada e só despolitiza a questão.

Esses dias uma pessoa comentou em um post meu "criticar é fácil. Quero saber o que você faria" (contexto: era um post crítico às CT's). O comentário foi tão ridículo que na hora só respondi que eu não era ministro da saúde nem coordenava nenhuma pasta na saúde kkkkk
+ Depois fiquei pensando: taí, seria um bom exercício pensar em uma política de saúde mental sob uma perspectiva revolucionária. Guardei essa ideia, mas acho que em 2022 bem que poderia haver uma organização pra construir uma proposta de programa antimanicomial coletivo.