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Divulgação de história, arqueologia e antropologia das Américas Pré-Colombianas. @precolombismos

Mar 28, 2021, 18 tweets

Os andenes de #Moray.

O design desse sítio arqueológico, a princípio, lembra um anfiteatro, mas seu formato circular e terraços de ‘andenes’, no entanto, são amplamente aceitos como ruínas que serviram como uma espécie de laboratório experimental agrícola usado pelos Incas.

Moray está localizada aproximadamente 50 km a noroeste de Cusco, em um planalto de cerca de 3.500m de altitude e logo a 7 km a oeste da vila de Maras.

O local consiste em andenes circulares de terraços, a maior das quais tem aproximadamente 30m de profundidade.

A palavra ‘Moray’ teria origens diferentes na língua Quechua, seu nome provavelmente vem da palavra ‘Amoray’, que significa algo como ‘a colheita do milho’, que geralmente acontecia no mês correspondente à maio no calendário gregoriano.

Antes do império Inca, esta parte do Vale Sagrado era habitada pelos ‘Maras’ e ‘Ayarmacas’, comunidades de grupos étnicos que ocupavam grande parte do atual território do Vale Sagrado.

Foi após a conquista Inca que se iniciou a construção dessas plataformas de andenes no local.

Mas o que são andenes?

‘Andenes’ são terraços de plataformas para muitos fins agrícolas, como aumentar a quantidade de terra cultivável e nivelar áreas de plantio.

O termo é comumente usado para se referir aos
terraços construídos por culturas Pré-Colombianas nos Andes.

Os terraços concêntricos de Moray são divididos por várias plataformas que se estendem para cima e permitem que as pessoas andem de cima para baixo da estrutura.

Outros terraços, em elipses, ao invés de círculos concêntricos, circundam o centro do local e cobrem o sítio.

Acredita-se que os terraços circulares de Moray tenham sido usados como uma estação de pesquisa agrícola, funcionando como um laboratório experimental.

Seu design, profundidade e orientação em relação ao sol e ao vento são um dos sinais indicadores desse propósito específico.

Cada nível dos terraços de Moray apresenta um microclima, com uma diferença de temperatura de 15ºC do topo até a base.

Acredita-se que os Incas usavam esses terraços e as suas diferentes temperaturas para testar as colheitas e fazer experiências com elas.

Os diferentes microclimas nos terraços permitiram com que estudassem as condições climáticas da vegetação e usassem da hibridização e modificação para adaptar as safras e torna-las mais adequadas ao consumo humano.

Não por acaso, as diferenças de temperatura nos terraços agrícolas de Moray correspondem às temperaturas nas terras agrícolas costeiras ao nível do mar e também à temperatura nos terraços agrícolas montanhosos andinos, chegando a mais de 1.000 metros acima do nível do mar.

Essas análises puderam ser compreendidas através de estudos com base na palinologia, ciência botânica que estuda os grãos de pólen, esporos e etc, que comprovou que solos de diferentes regiões do Tawantinsuyu (império Inca) foram importados para cada um dos terraços circulares.

De acordo com pesquisas, Moray foi responsável por produzir 60% do total de espécies vegetais no Tawantinsuyu, bem como mais de 3.000 variedades, incluindo milho e batata, dois alimentos muito característicos e sagrados nos andes, e muitas outras espécies.

A principal espécie de planta cultivada em Moray era a folha de coca, nativa das regiões quentes das florestas de Cusco.

Entre outros produtos trabalhados em Moray, destacam-se a quinoa, a kiwicha, a abóbora, o algodão e diversos vegetais e ervas de uso medicinal.

Os Incas armazenavam seus produtos agrícolas em silos chamados ‘qullqa’ nas quais canais de drenagem e pisos de cascalho ajudavam a manter os alimentos secos e podendo ser armazenados por até dois anos nesses locais antes de estragar devido à ventilação e drenagem.

Outro ponto interessante a se notar sobre Moray é que o sítio e seu nível mais baixo nunca ficam inundados, mesmo durante a época das chuvas incessantes, o que levanta questões de como funcionava a drenagem da água no local.

Sugere-se que deve haver canais e aquedutos subterrâneos construídos no fundo das depressões permitindo o escoamento da água.

Também é argumentado que o fundo está sobre uma formação rochosa natural muito porosa que permite a filtragem da água em direção ao interior da terra.

Atualmente, todo outubro, centenas de pessoas comparecem às plataformas circulares para celebrar o ‘Moray Raymi’, festa de origem indígena que inclui danças e rituais tradicionais relacionadas à terra, produção e colheita, entre outras manifestações religiosas e artísticas.

Fontes: Arqueología Del Peru, Perú Conócelo, Arqueohistoria Andina, Machu Picchu org.

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