O design desse sítio arqueológico, a princípio, lembra um anfiteatro, mas seu formato circular e terraços de ‘andenes’, no entanto, são amplamente aceitos como ruínas que serviram como uma espécie de laboratório experimental agrícola usado pelos Incas.
Moray está localizada aproximadamente 50 km a noroeste de Cusco, em um planalto de cerca de 3.500m de altitude e logo a 7 km a oeste da vila de Maras.
O local consiste em andenes circulares de terraços, a maior das quais tem aproximadamente 30m de profundidade.
A palavra ‘Moray’ teria origens diferentes na língua Quechua, seu nome provavelmente vem da palavra ‘Amoray’, que significa algo como ‘a colheita do milho’, que geralmente acontecia no mês correspondente à maio no calendário gregoriano.
Antes do império Inca, esta parte do Vale Sagrado era habitada pelos ‘Maras’ e ‘Ayarmacas’, comunidades de grupos étnicos que ocupavam grande parte do atual território do Vale Sagrado.
Foi após a conquista Inca que se iniciou a construção dessas plataformas de andenes no local.
Mas o que são andenes?
‘Andenes’ são terraços de plataformas para muitos fins agrícolas, como aumentar a quantidade de terra cultivável e nivelar áreas de plantio.
O termo é comumente usado para se referir aos
terraços construídos por culturas Pré-Colombianas nos Andes.
Os terraços concêntricos de Moray são divididos por várias plataformas que se estendem para cima e permitem que as pessoas andem de cima para baixo da estrutura.
Outros terraços, em elipses, ao invés de círculos concêntricos, circundam o centro do local e cobrem o sítio.
Acredita-se que os terraços circulares de Moray tenham sido usados como uma estação de pesquisa agrícola, funcionando como um laboratório experimental.
Seu design, profundidade e orientação em relação ao sol e ao vento são um dos sinais indicadores desse propósito específico.
Cada nível dos terraços de Moray apresenta um microclima, com uma diferença de temperatura de 15ºC do topo até a base.
Acredita-se que os Incas usavam esses terraços e as suas diferentes temperaturas para testar as colheitas e fazer experiências com elas.
Os diferentes microclimas nos terraços permitiram com que estudassem as condições climáticas da vegetação e usassem da hibridização e modificação para adaptar as safras e torna-las mais adequadas ao consumo humano.
Não por acaso, as diferenças de temperatura nos terraços agrícolas de Moray correspondem às temperaturas nas terras agrícolas costeiras ao nível do mar e também à temperatura nos terraços agrícolas montanhosos andinos, chegando a mais de 1.000 metros acima do nível do mar.
Essas análises puderam ser compreendidas através de estudos com base na palinologia, ciência botânica que estuda os grãos de pólen, esporos e etc, que comprovou que solos de diferentes regiões do Tawantinsuyu (império Inca) foram importados para cada um dos terraços circulares.
De acordo com pesquisas, Moray foi responsável por produzir 60% do total de espécies vegetais no Tawantinsuyu, bem como mais de 3.000 variedades, incluindo milho e batata, dois alimentos muito característicos e sagrados nos andes, e muitas outras espécies.
A principal espécie de planta cultivada em Moray era a folha de coca, nativa das regiões quentes das florestas de Cusco.
Entre outros produtos trabalhados em Moray, destacam-se a quinoa, a kiwicha, a abóbora, o algodão e diversos vegetais e ervas de uso medicinal.
Os Incas armazenavam seus produtos agrícolas em silos chamados ‘qullqa’ nas quais canais de drenagem e pisos de cascalho ajudavam a manter os alimentos secos e podendo ser armazenados por até dois anos nesses locais antes de estragar devido à ventilação e drenagem.
Outro ponto interessante a se notar sobre Moray é que o sítio e seu nível mais baixo nunca ficam inundados, mesmo durante a época das chuvas incessantes, o que levanta questões de como funcionava a drenagem da água no local.
Sugere-se que deve haver canais e aquedutos subterrâneos construídos no fundo das depressões permitindo o escoamento da água.
Também é argumentado que o fundo está sobre uma formação rochosa natural muito porosa que permite a filtragem da água em direção ao interior da terra.
Atualmente, todo outubro, centenas de pessoas comparecem às plataformas circulares para celebrar o ‘Moray Raymi’, festa de origem indígena que inclui danças e rituais tradicionais relacionadas à terra, produção e colheita, entre outras manifestações religiosas e artísticas.
Fontes: Arqueología Del Peru, Perú Conócelo, Arqueohistoria Andina, Machu Picchu org.
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Os Mochicas, apesar de serem uma sociedade ágrafa, ou seja, sem escrita, nos deixaram uma certa forma de linguagem que pode ser compreendida através de suas…cerâmicas? 🤔🏺
Segue o fio para entender um pouco sobre o tridimensionalismo Moche!👇🧵
Um dos estilos artísticos mais utilizados nas cerâmicas mochicas ficou conhecido como “pinturas de linha fina” e nelas são retratadas diversas cenas do mundo mitológico, ritual e cotidiano Moche.
Muitas dessas cenas se repetem e são classificadas em grupos de narrativas:
Pela grande quantidade de cerâmicas e o difícil acesso popular às mesmas, Donna McClelland e Christopher B. Donnan, juntos, construíram um importantíssimo arquivo de desenhos reproduzindo tais imagens.
Hoje, todos eles podem ser consultados virtualmente:
Um sistema de centros urbanos Pré-Colombianos foi encontrado no Vale Upano, na Amazônia equatoriana.
Pesquisadores, com a ajuda do LIDAR, revelaram uma paisagem antrópica com aglomerados de plataformas monumentais, praças e ruas seguindo um padrão específico entrelaçado com drenagens e terraços agrícolas, bem como estradas que percorrem grandes distâncias.
A ocupação data de cerca de 500 AEC até entre 300-600 EC, sendo mais antiga do que a grande maioria das sociedades amazônicas.
Escavações no Vale Upano já ocorrem há 30 anos e desde então foram encontrados montes organizados em torno de praças centrais, cerâmicas decoradas com tinta e linhas incisas e grandes jarros contendo restos de chicha, mas com o LIDAR, foi possível ter uma noção geral da região.
A equipe identificou 5 grandes assentamentos e 10 menores em 300 km2 no Vale Upano, cada um densamente repleto de estruturas residenciais e cerimoniais.
As cidades são intercaladas com campos agrícolas retangulares e cercadas por terraços nas encostas onde plantavam safras, incluindo milho, mandioca e batata-doce, encontradas em escavações anteriores.
Estradas largas e retas ligavam as cidades umas às outras e as ruas passavam entre as casas e os bairros dentro de cada povoado.
Esse é mais um dos inúmeros exemplos de que a Amazônia Pré-Colombiana ainda tem muito a nos revelar e que, com novas tecnologias não-hostis, como o LIDAR, tais revelações tem sido, e vão continuar sendo, cada vez mais frequentes.science.org/doi/10.1126/sc…
Conhecidos por suas cerâmicas, os Moche retrataram, em pinturas de linha fina, diversas cenas de humanos, animais e seres mitológicos em atividades que foram categorizadas como temas narrativos.
Segue o fio pra conhecer os principais temas da arte Mochica:
As cerimônias de sacrifício (tema da apresentação) é considerada a principal narrativa, frequentemente aparecendo na arte desta sociedade.
Nela, encontramos personagens recorrentes da cosmologia mochica envolvidos em uma cerimônia que culmina na oferenda de um cálice com sangue.
A narrativa do enterro aparece em diversas cerâmicas de modos diferentes, mas apresentam um padrão de atividades, separadas por linhas paralelas.
Entender tal iconografia nos possibilitou compreender melhor os ritos funerários desta sociedade.
Em 12 de julho de 1562, o frade espanhol Diego de Landa, em um ato único, queimaria livros e artefatos Maias em praça pública na cidade de Maní em uma tentativa de “remover o demônio do coração dos nativos”.
O que o levou ao ato e o que foi perdido?
Segue o fio!👇📖
Diego de Landa nasceu na cidade de Cifuentes, na Espanha, em 1524; em 1541 ele ingressou na Ordem do Frades Menores, uma ordem religiosa e franciscana em Toledo.
Em 1549, de Landa desembarcou em Mérida para trabalhar no convento de San Antonio de Padua em Izamal, Yucatan.
Ele perambulava pelas comunidades a pé e, com isso, aprendeu a língua iucateque e as relações nativas sobre a terra, as pessoas e os costumes, sendo inicialmente acolhido em muitas comunidades, o que o ajudou a compreender melhor o povo e fomentar a sua missão religiosa.
As áreas de floresta amazônica foram conhecidas pelos Incas como ‘Antisuyu’ e, ao contrário do que se é pensado, as regiões andina e amazônica sempre estiveram bastante interligadas.
Como se deu a relação entre os Andes e a Amazônia no período Pré-Colombiano?
Segue o fio!👇🌳
Os Andes e a Amazônia no período Pré-Colonial não foram separados culturalmente, estavam ligados por extensas redes de comércio que também conectavam línguas, costumes e histórias entre diversos grupos sociais nestas regiões, gerando dinâmicas políticas de influência mútua.
Tal influência é vista na cultura Chavín com iconografias típicas da selva tropical (), com os Chachapoyas na divisão geográfica (), com as narrativas de origem do povo Yanesha, no período colonial com o Manuscrito de Huarochirí, etc.
O El Niño é um fenômeno que consiste no aquecimento incomum das águas do Pacífico Equatorial, alterando a temperatura e aumentando o índice pluvial nas regiões costeiras.
Qual foi o impacto deste fenômeno nas sociedades Pré-Hispânicas na Costa Norte do Peru?
Segue o fio!👇🌧
A Costa Norte do Peru é caracterizada por ser um deserto árido, assim como uma planície aluvial, cortada por rios que descem dos Andes e desaguam no Oceano Pacífico.
Há milhares de anos, os povos locais construíram canais para extrair água destes rios e direciona-las aos campos.
Culturas costeiras como a Moche, Chimú, Cupisnique, e etc, dependiam da irrigação para além da subsistência, já que a água canalizada, o milho, o algodão e outras safras desempenhavam papéis importantes, também, na vida social, ritual e econômica destas sociedades.