Isaac Schrarstzhaupt Profile picture
Doutorando em Epidemiologia - FSP/USP; Coordenador - Rede Análise; Tutor no ICEPi; TEDx speaker; Pessoa com autismo; O sobrenome pronuncia CHUÁRTI ZÁUPITI!

Apr 7, 2021, 25 tweets

Oi, pessoal. O que será que nos espera daqui a algumas semanas? Será que temos como descobrir isso olhando para os dados disponíveis? Sigam o fio comigo: 🧶 //1

O que estamos vendo agora, nos locais que restringiram a mobilidade, é uma desaceleração na taxa de crescimento de novos casos, o que é muito bom, mas...o que iremos fazer daqui pra frente com nossa mobilidade? //2

Uma coisa interessante que podemos fazer é analisar os locais que estão "a frente" e ver se conseguimos extrair resultados das escolhas feitas. Um desses locais é o Amazonas. Após um surto pesado em janeiro/2021, tiveram uma queda que está revertendo a tendência. //3

Percebam que a média móvel da taxa de crescimento, que vinha caindo, começou a estabilizar, e a linha de tendência dos casos dos últimos 20 dias deixou de ser aquela queda acentuada e começa a querer estabilizar também. Como está a mobilidade no AM? //4

Ao analisar a mobilidade, vemos como um surto forte afeta a comunidade. Apesar do surto ter sido em janeiro/2021, a mobilidade só está indo para níveis maiores agora em março/2021. E, mesmo assim, níveis de residência estão AGORA iguais ao RS: //5

Então o que vimos? A mobilidade ficou baixa por um bom tempo (vejam a mobilidade de Manaus, o quanto baixou e por quanto tempo ficou em níveis baixos) e isso foi trazendo a taxa de crescimento de casos pra baixo, mas MESMO ASSIM a tendência já quer reverter: //6

Recapitulando: surto iniciado no final de nov/20, pico em jan/21, mobilidade cai drasticamente em jan/21, mesmo em abr/21 (90 dias) ainda não volta aos níveis pré surto. Mesmo assim temos reversão de tendência(com números baixos, justamente por mobilidade baixa por mais tempo)//7

Por que iniciei pelo AM? Pois o outro lugar que teve um surto fortíssimo é o RS, e o RS não está seguindo a mesma história que o AM fez para reduzir bem seus casos. Percebam que a média móvel da taxa de crescimento está apenas iniciando a queda (casos lá em cima ainda): //8

Mobilidade do RS caiu por muito menos tempo do que o AM, e já está querendo voltar ao normal (vejam a categoria locais de trabalho, por exemplo): //9

Para entender o nível da gravidade que ainda estamos, podemos ver alguns gráficos de internações hospitalares. Percebam que o nível ainda está altíssimo, e os leitos começam a ser liberados aos poucos. //10

E aqui entra o meu maior receio. Há um aparente início de reversão de tendência no report de sintomas do Facebook. É recente, mas já me preocupa pois, como vimos, a mobilidade está subindo já (além de não ter caído nem perto a níveis como os do AM): //11

Caso alguém fique com dúvida de como funcionam os dados do Facebook, explico aqui: //12

E sobre a mobilidade, é um dos indicadores que mais nos mostra a chance de suscetíveis estarem em contato com infectados. Aqui o @jasonptodd explica sobre os fatores que impactam o Rt (a taxa de transmissão efetiva): //13

O que eu quero alertar? Que podemos estar levando o estado do RS a um novo surto, rumo ao outono/inverno (outro fator que influencia no comportamento, que por sua vez favorece as infecções). Como estão as cidades do RS que foram atacadas no início, como Gramado e Canela? //14

Notamos que a mobilidade em Gramado e Canela está um pouco "melhor" (mais baixa) do que no estado como um todo. A média móvel da taxa de crescimento de Canela está QUASE ficando negativa (ótimo), mas já está querendo reverter, como Gramado também. //15

Como foram afetadas antes, elas também se beneficiam mais do período extra de mobilidade baixa. Outro fator que pode influenciar é o chamado "isolamento endógeno", onde as pessoas deixam de trafegar por receio, devido a hospitais lotados, notícias ruins de parentes/amigos...//16

Vejam que as hospitalizações em Canela não caíram ainda a níveis como no início do aumento, lá em outubro/novembro, e as hospitalizações do RS como um todo estão assustadoramente altas ainda (72% dos pacientes em UTI são COVID-19!!!) //17

Um outro local interessante de olhar é Araraquara, que fez ótimas medidas de restrição, hoje colhe zero mortos pelo segundo dia consecutivo MAS já está mostrando claríssima reversão de tendência na taxa de crescimento (e nos casos, vejam a tendência dos últimos 20 dias) //18

E quando olhamos para a mobilidade de Araraquara, vemos que logo após o lockdown ela já voltou muito rápido a níveis anteriores (isso ajuda a explicar a reversão de tendência vista no tweet anterior). Se não cuidarem, logo esses novos casos poderão virar internações. //19

Em resumo: deixou subir muito? Vai ter de ficar mais tempo com mobilidade baixa (em restrição) para que a reversão ocorra apenas com níveis baixos de casos. Se ocorrer uma reversão já agora no RS, será (mais) uma tragédia. //20

No AM, a reversão está começando a aparecer, mas em níveis mais administráveis. Quando olhamos a mobilidade, vimos que ela ficou mais baixa por mais tempo lá, e isso ajuda bastante. //21

É muito importante cuidar e tentar gerenciar esse equilíbrio entre a mobilidade e a taxa de crescimento para não transformar uma possível queda em um novo crescimento, ok? Cuidem-se, pois a situação, mesmo com a desaceleração em alguns estados, ainda é CRÍTICA. Não relaxem! //fim

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