Guilherme Casarões Profile picture
📝 Cientista político (prof @FGV_EAESP) 🗣️ Política externa/movimentos de extrema direita (coord @oedbrasil) 💿 Música anos 80 ❤️ Pai de 2 🤫 Opiniões pessoais

Apr 9, 2021, 20 tweets

O novo chanceler fez um bom discurso de posse, pontuou temas urgentes ao 🇧🇷 e ao 🌎, foi pragmático e, acima de tudo, não se rendeu ao léxico conspiratório do antecessor, o ex-Ernesto.

Mas sigo cético. As coisas não ficarão piores, mas dificilmente melhorarão, sabe por quê? 🧵👇

1) A política externa já não é monopólio do Itamaraty há muito tempo. Até os anos 70, todas as relações do Brasil com o mundo passavam pelos diplomatas, até mesmo temas econômicos.

Na queda de braço com os tecnocratas da Fazenda, o MRE frequentemente ganhava. A diplomacia... 👇

2) ...era grande fiadora do projeto nacional-desenvolvimentista, com seus vícios e virtudes.

Nos anos 80, a globalização e a redemocratização vieram mudar esse cenário.

A pressão pela abertura e modernização econômica forçaram governos como @Collor e @FHC a dinamizar... 👇

3) ...a burocracia ligada a comércio exterior, resultando na criação da Camex, a Apex e o MDIC, com agendas e estratégias próprias.

Mais recentemente, o ingresso do 🇧🇷 na OCDE foi agenda tocada primordialmente pela turma do @meirelles.

Essas são só ilustrações de um setor... 👇

4)...fundamental da política externa que saiu (ainda que parcialmente) das mãos do Itamaraty.

Da mesma forma, a redemocratização trouxe desafios à diplomacia: a política externa passou a sofrer pressão da sociedade civil, sindicatos, empresariado, evangélicos.

Aos poucos... 👇

5)...a política externa tornou-se + relevante para a opinião pública e, como consequência, + politizada.

A sobreposição (e concorrência) entre política interna e externa atrapalhou a coerência e linearidade da ação internacional do 🇧🇷.

Outrora criadores de uma narrativa...👇

6)...grandiloquente sobre o lugar do 🇧🇷 no "concerto das nações", a diplomacia passou a reagir à maneira como o noticiário internacional retratava o país.

E o crescente protagonismo presidencial submeteu o MRE, naturalmente, aos interesses pessoais, políticos e partidários...👇

7)...do presidente do momento.

C/o aprofundamento da democracia, a tão celebrada "política de Estado" feita pelos diplomatas foi, aos poucos, normalizando-se em política de governo.

Outros ministérios, agências públicas e governos locais passaram a jogar o jogo internacional 👇

8) De formulador, o Itamaraty passou a ser coordenador da política externa. Foi tragado pelas disputas burocráticas, orçamentárias, legislativas.

No governo @LulaOficial, dividiu espaço com os interesses históricos do PT.

No governo @dilmabr, foi eclipsado pelo desinteresse 👇

9)...presidencial pela política externa, perdendo espaço na Esplanada.

No governo @MichelTemer, o MRE foi inicialmente entregue às ambições eleitorais de @joseserra_.

Sob @jairbolsonaro, a diplomacia foi substituída por uma política externa populista, familiar e conspiratória👇

10) Todas essas transformações inauguraram, na feliz expressão do amigo @dbelemlopes, uma política externa pós-diplomática.

Hoje, a posição (e a imagem) do Brasil no mundo está condicionada cada vez menos ao que fazem os diplomatas, e cada vez mais a como se portam governos 👇

11)...diante dos desafios globais. A política externa é uma política pública cujo sucesso está condicionado a outras políticas públicas.

A digressão foi longa, mas se justifica: a troca do chanceler foi bem-vinda. Mas ela não é suficiente. O novo ministro, sozinho, não mudará 👇

12)...a essência do governo Bolsonaro: a incompetência, o projeto reacionário de destruição institucional, o autoritarismo mambembe e os delírios persecutórios do núcleo famili-ciano do presidente.

Não mudará os sinais terríveis dados pelo governo brasileiro em diversas áreas 👇

13) Não mudará isso aqui:

g1.globo.com/politica/notic…

15) Muito menos isso aqui:

oglobo.globo.com/mundo/museu-do…

16) Isso aqui? Dificilmente.

poder360.com.br/justica/chefe-…

17) Resolverá o desgoverno no enfrentamento da pandemia, com consequências terríveis para os brasileiros e efeitos inesperados para o resto do mundo?

edition.cnn.com/2021/03/20/ame…

18) E não mudará o comportamento inconsequente e assassino do principal responsável pela crise sanitária e pelo abismo moral em que o 🇧🇷 se afundou.

Já podemos falar em crime contra a humanidade? Quem conhece do riscado, como @Deisy_Ventura, diz que sim.

blogs.bmj.com/bmj/2021/04/05…

19) O chanceler terá muito trabalho pra ajudar o 🇧🇷.

Deverá combater as pressões vindas do próprio governo e trabalhar junto a governadores, congressistas e sociedade p/mitigar os efeitos domésticos e globais da nossa catástrofe sanitária e ambiental.

Sorte é o que lhe desejo.

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