Mellanie F. Dutra Profile picture
Biomédica, Neurocientista/Bioquímica, Pesquisadora, Professora e TEDx Speaker | Saúde e Ciências | Ela/Dela | 🇧🇷 | #DefendaoSUS

Apr 20, 2021, 46 tweets

Um dos fatores mais preocupantes dentro da COVID-19 é a transmissão do SARS-CoV-2. A @WHO reconheceu que a principal via é através de aerossóis, o que é relevante para políticas de saúde pública.

Nesse fio, vou explorar um pouco a transmissão de vírus respiratórios! Bora?🧶

Os vírus respiratórios pertencem a diversas famílias de vírus que diferem em suas estruturas e material genético, populações suscetíveis à infecção, gravidade da doença, sazonalidade de circulação, transmissibilidade e modos de transmissão

No entanto, esse conjunto de vírus contribui para morbidade (portadores da doença), mortalidade (mortes registradas) e perdas econômicas substanciais anualmente em todo o mundo. Lidar com esses vírus é uma questão de saúde pública que impacta todas as esferas da sociedade

E daí a relevância de compreender como avaliar a transmissibilidade e as evidências que sustentam os diferentes modos de transmissão, para ajudar no controle da transmissão do vírus respiratório.

Considerando vírus respiratórios, a transmissão pode se dar de 4 formas:
👉Contato direto (físico)
👉Contato indireto (fomite)
👉Gotículas (grandes)
👉Aerossóis (finos)

Segundo o guia do @CDCgov a principal via de transmissão são gotículas e aerossóis

A transmissibilidade é determinada por vários fatores:
🦠Capacidade de infecção do patógeno
🦠O quanto um indivíduo infectado transmite
🦠O quanto o indivíduo é ssuscetível/está exposto
🦠Padrões de contato entre o indivíduo infectado e o indivíduo exposto

🦠Fatores do ambiente que podem influenciar a transmissão do patógeno

Isso irá determinar a escala e a intensidade das medidas de controle necessárias para suprimir a transmissão.

Nesse texto da Rede @analise_covid19 explicamos sobre algumas métricas para analisar transmissibilidade de um agente infeccioso, como o R0 e o Rt, muito falado no início da pandemia. Escritos pela maravilhosa @jugalhardo

R0: redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/07/07/r0-…
Rt: redeaanalisecovid.wordpress.com/2020/07/09/rt-…

Outros conceitos importantes:
👉Taxa de ataque: a % ou proporção de uma população em risco que contrai a doença durante um intervalo de tempo especificado
👉Taxa de ataque secundário: a % ou proporção de infectados entre aqueles suscetíveis em contato com o caso primário

Uma revisão sobre transmissão de vírus respiratórios publciados na @NatureRevMicro traz algumas informações que também são pertinentes. Dados demonstram que o SARS-CoV-2 pode ser encontrado em secreções oculares, por exemplo
nature.com/articles/s4157…

Ainda, estudos demonstraram infecção pelo vírus influenza por exposição ocular, sugerindo que os vírus respiratórios também podem ser transmitidos por exposição aos olhos, ainda que em menor escala para o SARS-CoV-2

É um consenso, para o SARS-CoV-2, a relevância que os aerossóis tem na transmissão desse vírus. Os aerossóis são uma suspensão estável de partículas sólidas e/ou líquidas no ar (~ 30-100 µm). Já as 'gotículas' são partículas líquidas maiores do que aerossóis

Quando essas partículas são liberadas, seu comportamento pode ser modulado pelas condições do ar exalado e do ambiente, como:
🌬️ composição, temperatura, umidade e fluxo de ar, bem como o tamanho da partícula, o que pode influenciar o quão longe ela pode ir

O termo bioaerossol descreve aerossóis de origem biológica, como vírus, bactérias, fungos, esporos de fungos e pólen. Como podem permanecer no ar por um período prolongado e viajar pelo ar por longas distâncias isso potencializa a transmissão de doenças por longas distâncias

Indivíduos que produzem mais bioaerossois podem contribuir para eventos de superespalhamento. Ainda, infecções assintomáticas e pré-sintomáticas podem contribuir para eventos de superespalhamento, pois é um momento em que a pessoa não sabe que está infectada

Ainda, a imunidade pré-existente (indivíduos recuperados ou vacinados) também pode modificar a quantidade de vírus liberado (que é o que estamos estudando atualmente, se pessoas recuperadas ou vacinadas transmitem o vírus).

Dados otimistas para vacinados:

Nessa imagem, temos alguns fatores relacionados ao vírus que podem influenciar na sua sobrevivência e transmissão. São fatores inerentes ao agente infeccioso e entendendo-os podemos orientar as medidas de enfrentamento para combater sua transmissão

Ainda, temos fatores relacionados ao ambiente que são igualmente importantes, e determiná-los é peça-chave para entender ambientes de maior ou menor risco, de acordo com a dinâmica de espalhamento do vírus e os fatores da figura anterior

E para fechar essa tríade, temos os fatores do hospedeiro, que vão também influenciar nesse contágio e na suscetibilidade a esse agente infeccioso (podendi inclusive influenciar nos grupos de risco)

Ou seja, o vírus, o hospedeiro e os fatores ambientais influenciam se uma transmissão bem-sucedida irá ocorrer. Conhecendo grupos de risco e entendendo a dinâmica do vírus e ambientes de risco podemos implementar medidas de enfrentamento adequadas para seu combate.

Para vírus de RNA, as taxas de mutação são mais altas, dando origem a diversas variantes virais em indivíduos infectados, o que pode permitir uma adaptação mais rápida ao hospedeiro de uma "versão" do vírus que é transmitida de forma mais eficiente - e isso é um problema

Especialmente porque, quanto maior a transmissão e mais hospedeiros diferentes contaminados, mais mutações poderão ser acumuladas e maior será o risco de variantes surgir, dentre elas, alguma de preocupação para nós. cnnbrasil.com.br/saude/2021/04/…

Já os fatores do ambiente podem afetar a transmissibilidade influenciando a sobrevivência e persistência de vírus respiratórios em gotículas respiratórias ou fômites (objetos contaminados) após sua liberação para o meio ambiente

Por outro lado, os fatores do ambiente podem modular a transmissão influenciando os fatores do hospedeiro, como disseminação viral e comportamento humano (e aqui entra o comportamento quanto a adoção de medidas de enfrentamento, como uso de máscaras em ambientes públicos).

[FIO EM CONSTRUÇÃO]

Enquanto isso, bora ouvir uma musiquinha:

A interação disso pode favorecer um modo de transmissão. Ex.: para o vírus da gripe, os fatores ambientais que afetam a sobrevivência são temperatura, umidade, salinidade, pH, o meio/materiais dos objetos/superfícies contaminados, ventilação, fluxo de ar e radiação ultravioleta

Um fato interessante: Comparado com o SARS-CoV, que se replica (cópias de si) principalmente no epitélio alveolar, o SARS-CoV-2 se replica extensivamente no epitélio brônquico e alveolar, o que, junto com outros fatores, pode explicar sua transmissão mais eficiente

Considerando tudo isso, AS MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO são de SUMA RELEVÂNCIA para o enfrentamento de uma pandemia, especialmente de um vírus respiratório. Vimos diversos fatores complexos e o comportamento dos vetores (nós) é decisivo para este enfrentamento

A revisão da @NatureRevMicro traz uma tabela com várias evidências de mecanismo e efetividade de medidas de enfrentamento em diminuir o risco de contágio, transmissão e outros fatores

Para quem queria evidência, é um prato cheio

Spoiler: USA MÁSCARA, MEU ANJO

Além disso, medidas de restrição também se mostram muito efetivas para controlar a transmissão durante uma pandemia. Alguns artigos e conteúdos que valem a leitura: science.sciencemag.org/content/371/65…

E mais um spoiler: tu, gestor, cuidar da saúde da sua população e colocar isso como causa prioritária também estará protegendo a economia:

ourworldindata.org/covid-health-e…

A maravilhosa @melmarkoski recheou o site da Rede @analise_covid19 com textos abordando as máscaras e outras medidas de enfrentamento. Deixando aqui a leitura mais que recomendada e recheada de referências:

redeaanalisecovid.wordpress.com/2021/03/31/mas…

Para terminar, realmente não faltam evidências científicas apontando o imenso benefício não só para a tua saúde, mas como para a saúde da sociedade, sobre o uso de máscaras, realizar distanciamento físico e ter boa higienização, não é?

E temos divulgadores, cientistas e pessoas especializadas fazendo um trabalho LINDO de conscientização sobre isso: @melmarkoski @vitormori @BlogsUnicamp @UPVacina @tdspelasvacinas @obscovid19br @analise_covid19 @luizbento @PFFparaTodos @estoque_pff

Bora seguir esse povo?

Portanto pessoal, para a gente diminuir a transmissão do vírus, precisamos nos vacinar! Vacinando, iremos diminuir a % de pessoas suscetíveis ao vírus na sociedade, e se atingirmos a cobertura vacinal, veremos um impacto tremendo na transmissão

Mas nesse momento, com a velocidade da vacinação ainda por acelerar e tendo doses limitadas, vacinas não vão segurar as pontas sozinhas até chegarmos na cobertura vacinal. Precisamos às medidas de enfrentamento!

Então, qual a minha lista de afazeres, Mell?
👉Tendo a indicação, VACINE-SE
👉Vacinou com a 1ª dose? VOLTE PARA TOMAR A SEGUNDA no intervalo adequado!
👉Use máscaras, bem aderidas ao rosto, de preferência PFF2
👉Distanciamento físico!
👉Higienização adequada!

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