Felipe Meira Profile picture
Eng. Mecânica - UTFPR | Comentarista do @FIAWEC no @bandsports | Membro do Formula UTFPR | 🏈 @Vikings

May 5, 2021, 26 tweets

No último dia 29, fez 20 anos de uma dos maiores vexames da história da CART, o cancelamento da Firestone Firehawk 600 no Texas, o problemas era que os pilotos estavam sendo expostos a Força G humanamente insuportáveis. Conto a história nessa thread:

O Texas Motor Speedway é um oval de 1,5 milha, localizado em Fort Worth, é extremamente rápido, com curvas que chegam a 24° de inclinação. Foi inaugurado na segunda metade dos anos 90. Inicialmente a CART não demonstrou interesse, enquanto NASCAR e IRL assinaram para correr.

É preciso também explicar que na época existiam duas "Indy". A CART e a IRL. Resumidamente a CART surgiu em 1979, pela insatisfação dos donos de equipes que corriam na USAC, a USAC era controlada pela família dona do complexo de Indianapolis.

A USAC ainda mandava na Indianápolis 500, mas só nela. Todo o resto do campeonato era mandado pela CART. Em 1996, Tony George que era então presidente da Indianápolis, colocou sanções na Indy 500, que tornou inviável que os carros da CART corressem.

Ele tinha tido uma briga política e tinha sido removido do conselho da CART. Então fundou a IRL em 1996, que estava, 5 anos depois, crescendo, sua rival, a CART, sem Indianápolis estava dando sinais de desgaste. Ela era tinha custos muito mais elevados que sua rival

Também eram carros com motores turbo, muito mais potentes e ainda com menos downforce. Em Michigan, os carros poderiam ter média próximo aos 390 km/h. Mas faziam anos que a categoria não corria em um circuito com curvas tão inclinada, desde 83, quando correu em Atlanta.

O traçado do Texas é bem parecido com esse circuito, até da para dizer que são praticamente iguais. Já em Dezembro de 2000, o primeiro teste foi realizado no circuito, com Kenny Bräck, ele completou 100 voltas com uma média de 362 km/h.

Foi definido uma pressão do do turbo de 1,35 para 1,25 Bar, todos os carros deviam usar um dispositivo Hanford na asa traseira, que gera um arrasto aerodinâmico e faz com que os carros fiquem mais lentos. Em testes privados em Fevereiro, os carros chegaram a ter média de 363 km/h

Mas o brasileiro Maurício Gugelmin alertou em Março, que os carros estavam muito rápidos e que as configurações das asas não estava adequadas. Outros fatores foram descobertos depois, Bräck não andou no limite nos testes de Dezembro, usados para parametrizar os carros.

Outra coisa que nos testes de Fevereiro, os pilotos reclamaram que a pista estava muito áspera, então a direção do TMS fez um tratamento para tornar a pista mais lisa. Também é necessário ressaltar que os testes foram realizadas em temperaturas baixas.

Na primeira sessão de treinos livres, no dia 27 de Abril, Tony Kanaan fez o tempo mais rápido, com 375,845 km/h de média. Na segunda sessão de treinos, Gugelmin bateu forte, na curva 3, com uma força de 113 g, relatou que desmaiou durante o impacto.

Ele teve várias lesões e ficou impossibilitado de voltar a correr naquele fim de semana. Por curiosidade, tem um chassi igual modelo da Reynard, usado pelo próprio no Museu do Automóvel de Curitiba.

Na mesma sessão, Brack melhorou o tempo de volta com 376,240 km/h. Vários pilotos relataram que a pista era muito divertida, que nunca tinha visto nada igual antes, Nicolas Minassian chegou a relatar que se sentia em uma Montanha-russa.

Tudo parecia bem, mas o médico da CART, Steve Olvey relatou que dois pilotos, possivelmente Zanardi e Kanaan, relataram tonturas com as velocidades tão altas, o corpo humano não é preparado para aguenta tanta força G.

Nos Treino livre de sábado, as velocidades médias chegaram a mais de 380 km/h. Cristiano da Matta bateu, mas saiu do carro sem maiores lesões. Na qualificação, o carro mais rápido foi de foi de Kenny Bräck, com média de 375,697 km/h.

A inspirações para circuitos ovais veio do ciclismo e seus velódromos, na França. A ideia inicial era simples, ter uma "reta infinita". Aonde os pilotos pudessem acelerar no máximo o tempo todo. Esse onboard de Adrián Fernández mostra como isso estava acontecendo no Texas.

Na qualificação, os pilotos estavam sendo expostos a forças de 5G nos 18 dos 23 segundos da volta. Uma reunião com os pilotos foi feita no sábado. Dr. Olvey perguntou se alguém tinha se sentindo tonto e ninguém levantou a mão.

Então ele perguntou se alguém tinha tido um apagão ou estava com muita sede. Então, Castroneves levantou a mão, por ter sentido muita sede. Depois vários pilotos acabaram falando, os relatos foram assustadores, alguns deles falaram que perdiam a consciência entre as curvas 2 e 3.

Olvey contatou seu amigo, que trabalhou na NASA e era professor de medicina na Universidade do Texas, o Dr. Richard Jennings, que levou um susto ao saber disso. A perda de consciência era causada pela Força G, um fenômeno que era mais comum de acontecer com Astronautas.

Sendo que os pilotos conseguiam continuar a fazer o traçado apenas pela memória muscular. Os relatos sobre isso é que é que a exposição a 5G por um período de 30 seg. provocava esse efeito. Então as coisas ficaram mais sérias e o cancelamento da prova chegou a ser levantando.

Mas os donos de equipes e os representantes das fabricantes de motores se recusavam, queriam achar uma solução, várias reuniões foram realizadas. Mas não existia acordo, uns sugeriam colocarem chicane, outros pensavam em diminuir a velocidade dos carros ainda mais.

O grande problema é que os motores da CART eram feitos para andar ao extremo dos seus mais de 900 cv, e diminuir ainda mais a potência poderia fazer com que os motores tivessem falhas. No domingo de manhã, uma reunião adiou o Warm-up.

Joe Heitzler, presidente da CART, teve várias reuniões com pilotos, donos de equipes, representantes da fornecedores de motores, patrocinadores e acabou anunciando o cancelamento, Olvey falou da questão de Força G, e que não seria seguro realizar o evento

O proprietário do TMS processou a CART, alegando que negligência, que poderiam ter sido realizados mais testes antes, o processo na casa dos milhões pedia um ressarcimento das despesas dos proprietários e também reembolso do público.

O acordo fechada em Outubro de 2001 foi secreto, mas estimasse que foi na casa de 5-7 milhões de dólares. Além do cancelamento das provas de 2002 e 2003. A CART não enfrentava um bom momento financeiro e isso ajudou na falência da categoria em 2003.

Share this Scrolly Tale with your friends.

A Scrolly Tale is a new way to read Twitter threads with a more visually immersive experience.
Discover more beautiful Scrolly Tales like this.

Keep scrolling